Como os fachos peruanos buscam se reproduzir na internet ?

Publicado originalmente em espanhol, no Periodico Libertaria, site do coletivo anarquista de compas que residem no território hoje dominado pelo Estado do Peru.

É uma feliz surpresa encontrar anarquistas do continente escrevendo sobre as movimentações e tendências fascistas de seus territórios.

Pela defesa e enraizamento de um ecossistema informacional anarquista e antifascista.

Introdução

Antes de nos aprofundarmos no tema, cabem algumas explicações.

1. O uso da internet em nossa região não engloba a totalidade do território e isso se demonstra pelas campanhas políticas fracassadas nas plataformas digitais e o êxito do conservador, corrupto e assassino Castilho sem a necessidade de “influencers”. No entanto, acreditamos que tais plataformas estão aumentando seu raio de influência em nossa região, algo inevitável já que o maquinário de infraestrutura, muitas vezes financiada pelo capital estrangeiro, e o “progresso” que o Estado deseja impor está associado diretamente com o mundo digital.

2. Os quadros que impulsionam este projeto de “progresso” são em sua maioria de direita, é nessa parte do campo político que as plataformas digitais têm prioridade, e onde podemos observar a quantidade de campanhas à favor de projetos de mineração, propaganda política e até o financiamento de periódicos digitais (vale relembrar que a Odebrecht financiou a publicação de um jornalista medíocre que se diz “livre pensador” , que não é mais que apenas outro neoliberal)…[2].

Em síntese, o que vemos atualmente nas plataformas digitais têm um viés diferente do que se via uns anos trás, por exemplo, aumentou o número de trolls de direita, muitos financiados por empresários-políticos e outros que simplesmente acreditam no lixo neoliberal. Outra novidade repugnante é a escalada de “influencers” de extrema direita e fascistas, há alguns anos era raro de se encontrar uma quantidade tão grande de fãs “militantes” de ditadores e genocidas, o lixo monarquista e de livre mercado, etc…

Existe outra novidade: o financiamento de trolls por parte da esquerda. Castillo e suas tropas tem ativado uma máquina de guerra suja em duas frentes: jornais e trolls. O esquerdista, e o chamamos assim em forma de piada, segue a tática de Comitern de “classe contra classe” mas de trolls, assim com um gene autoritário trata de dar contra a mídia de massa da direita neoliberal [3]. Damos ênfase na novidade já que a direita fascista já tem experiência na com trolls e não se envergonham disso, por exemplo, desde o parlamento fujimorista [4] do período anterior se financiava estes trabalhos… Hoje em dia se sabe que esses trolls mudaram de patrões e andam espalhando suas merdas de extrema direita de algum call center de Lima.

Assim os trolls fazem suas campanhas de propaganda, de “doxx” de seus oponentes, o cyberbulling e infiltração de comunidades digitais. Este último é o ponto ao qual queremos dedicar mais tempo.

O T A K U P E R O N U N C A F A C H O!

Sobre as comunidades digitais peruanas, a infiltração fascista e os jovens militantes.

Exposta a face mais conhecida dos fachos peruanos da internet, passaremos por alguns lugares não tão visíveis para os imigrantes digitais (quer dizer, aqueles que ainda não manejam bem o uso da internet devido a sua idade ou questões econômicas).

Antes, é preciso indicar que ser nativo digital não necessariamente te torna alguém imune a propaganda fascista… Pelo contrário, como nos E.U.A., podes ser até hacker e cair nas redes dessa ideologia lixo (existem casos de ataques de hackers a portais anarquistas e de esquerda, todos com autoria fascista).

Um sociólogo francês do fim do século passado já nos esclarecia sobre as novas formas de socialização dos jovens das chamadas tribos urbanas, não falava de forma pejorativa como alguns idiotas pensam, mas se tratava de analisar e esclarecer o motivo da união dessas pessoas e os valores que os moviam – bons, maus, o que for – por exemplo, são conhecidos os trabalhos sobre punks, metaleitos, torcidas organizadas de futebol, etc.

E por qual motivo falar disso ?

Imagine tudo o que dissemos no parágrafo à cima, acontecendo na internet… É isso!

Sim. Agora falamos de tribos digitais (fãs de memes, otakus, kpopers, gamers, etc.) e de outros subgrupos, com coisas mais específicas (seguidores do moe, jogadores de dota, fãs de vtubers, tiktokers de asmr e o que mais pudermos imaginar).

Dado o panorama, a propaganda fascista no Peru tem maior ressonância em alguns subgrupos, mas antes disso, deve ter quadros que ocupem o papel de formadores de opinião, ou “Influencers”.

Com a chegada da internet o “faça você mesmo” se tornou algo de direita e capitalista. A televisão que nos oferecia lixo, foi a base para as futuras tendências mais utilizadas ndas redes sociais… Se nos primeiros momentos da internet existia uma busca utópica que buscava a socialização total do conhecimento da cultura humana, isso se degradou na busca por lucrar com nossos clicks e a imposição da ditadura do “algoritmo” das grandes empresas (compare a denúncia de pirataria que Metallica fez ao site Napster, com a atual competição do Spotify e YouTube para oferecer música com copyright, os tempos mudaram!).

Retomando, o conteúdo oferecido em nossa região é muito precário, mesmo que haja boas intenções. Por exemplo, existe um youtuber de nossa região que fala sobre “história peruana” e que veio a ser um dos primeiros influencers desse tipo de conteúdo. Até aqui, nenhum problema… Mas acontece que esse tal influencer nunca cita as obras de “história” que ele “lê” para fazer seu conteúdo. Muitas pessoas confundem o “academicismo” ou os “direitos do autor” com a verdadeira natureza das notas e citações, que servem para a ampliação de nossos conhecimentos sobre tópicos que estejam sendo expostos. Assim, este influencer pode nos enganar ou simplesmente estar lendo a Wikipedia (portal não tão seguro pois é modificável por qualquer um) e nós o tornamos popular e no processo enchemos sua carteira (o mesmo pode acontece com os que criam conteúdo de “react” que são simplesmente uma sequência de elogios a um certo país, em busca de views, likes e dinheiro).

E por qual motivo falamos disso ? Somos haters ? É inveja ? NÃO!

Se atacaremos aos influencers fachos também devemos atacar essa atitude que nos fecha num pensamento ignorante onde o conhecimento é recebido por simples auto complacência (“eu consumo isso e me torno melhor que você” ou “me faz formar parte de certa comunidade”).

Assim, o “faça você mesmo” se misturou com a bobagem neoliberal do “empreendedorismo” jogando com as ideias repugnantes de Tv-lixo que assistimos desde pequenos… Só falta adicionar a “liberdade” e o “livre mercado” e teremos a influencer fachos de nossa região; se adicionar “negócio” tens um Coach.

É através desse “economização” da busca do conhecimento (em palavras simples, supostamente saber mais ou de se esforçar para saber mais), que é graças a educação de merda que o estado nos oferece, isto faz da gente de nossa região o público indicado para irradiar lixo de todo tipo. Um exemplo ?

Uma vez, em uma kombi, ia cansada de trabalhar rumo minha casa, quando de repente uma pessoa “xis” subiu, e já com o volume alto se pôs a ver um vídeo no Facebook. Nesse vídeo se falava do “socialismo que mata de fome”, sobre o melhor do “livre mercado”, etc. E logo vieram outros três vídeos mais, um deles sobre os Incas terminou a fascista de Beto Ortizz [5] Sem ser grosseira,pedi para que ele usasse fones de ouvido. Essa pessoa está em busca de conhecimento que nunca pode ter por conta da precariedade econômica e lamnetavelmente o “algoritmo” o devorou, e talvez seja um facho a mais, desses que existem aos montes em Lima.

Esta auto complacência e “economização” da bisca do saber no beneficia apenas a extrema direita, mas também há certos esquerdistas conservadores e xenofóbicos que vomitando seus discursos ultranacionalistas tem repercursão nas redes sociais.

Assim, vemos que é transversal esse fenômeno pois nativos e imigrantes digitais caem nas redes destes medíocres “influencers” e da ditadura do “algoritmo”. Esta seria a forma mais explícita de como as ideias de extrema direita tratam de posicionarem-se na internet, óbvio que também há investimento de dinheiro… Também há o sensacionalismo, também pagam pelo clickbait automatizado (em especial em páginas populares no país).

De gamers a fascistas

Nos protestos fascistas de Lima [leia nosso editorial de emergência] apareceu um certo personagem que transmitiu ao vivo, para um grupo “xis” de gamers, tudo o que aconteceu, pedindo doações e narrando com uma espécie de “humor negro” o que via.

Cobrir protestos fascistas de forma militante é algo que se vê em diferentes partes de nosso planeta, mas o que esse personagem fez foi uma transmissão em busca de algo mórbido. Essa busca de gerar algo politicamente mórbido, seja com haters ou trolls, é a primeira missão para maquiar a propaganda da extrema direita. Tática que é importada do conteúdo mais lixo da internet, vide todos aqueles influencers que através de atos viscerais querem criar tendência.

É conhecida a postura antifeminista e antifuna[NT1] que impregnou parte das comunidades gamers, justificando essas posturas com o rótulo de “humor negro”, este é o contexto em que se germinam mentes autoritárias.

No Peru, devido ao aumento exponencial do uso da internet, a comunidade gamer se ampliou muito, integrando até os chamados “normies” (gente que não é tão interessada em jogos como a comunidade, jogadores casuais).

No Peru, existem comunidades tóxicas conhecidas e emergentes[6], não citaremos o nome, pois o deixariam orgulhosos mas indicaremos sobre qual jogo falam (o mais popular no Peru), os tópicos nos quais engajam e como estão relacionados com a extrema direita.

Todo o chorume antifeminista dessas comunidades serviu como plataforma de “anti progressismo”, um delírio da nova direita ocidental que já está se alastrando pela América Latina.

No Peru, essa postura era minoritária no espaço público e na internet, há alguns anos atrás. Mas agora temos comunidades de gente tóxica, trolls e haters, estes têm servido para transformar em tendência certas posturas dessa extrema direita.

Há comunidades, em específico do dota2, que em seus grupos, passa a ter uma postura mórbida e de “humor negro”, até mesmo uma apologia anti-direitos e delírios fascistas. O impulso da suposta “rebeldia” de direita tomou conta dessa comunidade, onde tradicionalmente se fazia “zuera”[7] do seu streamer favorito (uma espécie de amor e ódio tóxico).

Incentivam o cyberbulling contra pessoas LGBTQ e feministas, racismo, assediam kpopers e por vezes são seduzidos pela esquerda conservadora (as pessoas do Ágora[8] lhes dão uma atenção especial). São pintados como vigilantes ao “desmarcarar” figuras da televisão-lixo mas no fundo o público não chega a compreender o que realmente são.

Nestes grupos e seus anexos, se compartilha material de conteúdo ilegal, se faz apologia à violência de gênero, a pedofilia, se faz doxx (pagando el padrón de la reniec) e sem justifica tudo como sendo “zueira”.

Seus “ídolos” são streamers que desde muito toleram a existência destes grupos de gente tóxica pelo simples fato que conseguem monetizar os chamados “olinhos” (ou seja, a quantidade de pessoas que vê seu conteúdo)

Por serem uma comunidade “zueira” compartilhar conteúdo para polemizar ou gerar sentimentos mórbidos, assim a propaganda política foi entrando fortemente. Houve mesmo candidatos que queriam financiar campanhas publicitárias com streamers.

O político da esquerda conservadora, irmão do corrupto Acuña (empresário amigo de Vargas Llosa) e adorador do facho Antaurro Humala (irmão do ex presidente que está preso e criador de uma ideologia fascista chamada Etnocacerismo e seus membros, em sua maioria ex-soldados, militares inativos, etc.) não teve tanto êxito, diferente do candidato López Aliada, fascista da opus dei (seita católica ultra conservadora), que teve certa recepção nas comunidades gamer mais tóxicas da internet.

Após um princípio de sedução com a esquerda conservadora, os antifeministas, acabaram por aderir à extrema direita. Em seus grupos compartilham conteúdo de “libertários”[9], supostos “debates” onde derrotam a esquerda, vídeos de doutrinamento neoliberal e piadas sobre a “izmierda”. Na prática, essa comunidade aceita ser a caixa amplificadora do lixo que vem dos novos influencers fachos.

Mas também se observam grandes contradições nestas comunidades (durante a campanha de 2021, dentro delas houveram debates intensos entre fujimoristas e antifujimoristas) o que predomina é uma aposta no fascismo, única plataforma que legitima suas ações antifeministas, anti direitos e a total “liberdade” de desfrutar o conteúdo mais criminoso e repugnante da internet.

Com os questionamentos ao Facebook por vender dados a Putin e a chegada das denúncias internacionais sobre o conteúdo ilegal que se compartilhava no Facebook, a resposta de Zuckerberg foi implantar monitoramentos mais intensos em sua rede (obviamente por gente terceirizada do terceiro mundo e mal paga para ver toda essa porcaria), isso afetou as comunidades tóxicas peruanas e as fez migrar para redes mais “seguras” como o telegram.

Os novos militantes da extrema direita se alimentam assim, de uma rota onde se tolera conteúdos fascista: educação peruana militarizada, sociedade decadente e misoginia, exploração neoliberal, comunidades gamers tóxicas e finalmente replicam a propaganda das tendências e dos influencers fascistas peruanos, para terminarem por se tornarem fascistas.

Ainda há tempo de combater essa praga, a internet ainda não é de uso generalizado na nossa região, o que favorece a luta nas ruas. E o fascismo está circunstrito a Lima, o que faz com que a propaganda de nossos compas de outras regiões sejam muito importantes: escutemos!

Nota do tradutor

[NT1] “Funa” é semelhante a “doxx” ou “exposed”, quando alguém, geralmente uma vítima de abuso, conta sua história e dá informações sobre seu suposto abusador, como fotos, telefone, perfil de redes sociais, etc.

[1] Na última campanha eleitoral presidencial (2021) aconteceu algo estranho para os limenhos; um candidato nada conhecido chegou a segundo turno e isso se deu graças a incredulidade da maioria e de uma campanha da esquerda ainda apostando em formatos tradicionais (rádio, tv). Isso pode ser ilustrado por aquela cena no canal de televisão da capital onde o candidato com a maior intenção de voto, aparecia sem foto na divulgação das pesquisas. Além disso, no segundo turno houve um gasto milionário em uma campanha suja contra o presidente, atitudes típicas da direita neoliberal. A indiferença em regiões frente as campanhas políticas digitais também está relacionada com a ausência da internet, tanto em infraestrutura como serviços, e o afastamento do tal “progresso” que o capital trata de impor.

[2] Existem empresas especialistas em áudio visual e marketing que são as favoritas da direita neoliberal. Estas empresas limpam a reputação dos projetos mais vis, e o fazem em meio aos escândalos, ou quando acontecem ações diretas da população em oposição ao empresariado, sobretudo quando se trata dos relacionados a mineradora: Mina Tia Maria (Argentina), Arequipa para os arequipeños, Plus Petrol-Repsol (2022), Empresa de lacteos Gloria, etc. Esta empresa ou conjunto de empresas de marketing tem uma trabalho nas redes sociais e bombardeiam a tv, em busca de anular as opiniões de quem protesta.

[3] A direita peruana, cuja maioria abraçou o fascismo, acusa o atual presidente de ser comunista, chavista, castrista, etc. O usaram inicialmente para evitar que ganhasse as eleições e agora o usam para pedir seu impedimento. O irônico é que o atual presidente é um completo principiante ideológico, é um convidado de um partido corrupto chamado Peru Libre (que diz ser Marxista, Leninista, etc. e no fundo é mais uma corrupção chavista). O estranho é a aparição de jornais amantes de Castillo e Peru Libre, após ele ter chego ao poder, assim como a aparição de trolls nas redes sociais, defendendo a esquerda conservadora.

[4] Fujimorismo; é uma força política encabeçada por Keiko, a filha do ditador e genocida Alberto Fujimori; O uso de trolls foi uma de suas contribuições a política peruana, tanto que, do parlamento financiava pessoas para comandar trolls contra todos aqueles que eram seus antagonistas. Essa forma de fazer política vem de seu pai, que junto de seu assessor Montesinos, que em plena ditadura comprava a oposição ou a destruía nos jornais que criou.

[5] Jornalista fascista que compartilha fake news, ataca aos opositores da extrema direita. Trabalha para o canal mais fascista da televisão peruana: Willax. Esse canal é de um empresário que financiou todas as marchas contra o atual presidente e onde se expõem uma grande quantidade de gente de extrema direita, protofascistas, fascistas, etc. (hispanistas, libertários-ancaps, pór vidas, ultracatólicos, etc.) O mesmo jornalista vive no México pois recebeu denuncias por difamação e publicamente, ainda se discute sua acusação de pedofilia, que até agora não está bem explicado mas há indícios de que tenha usado seu poder pata destruir o caso.

[6] Modelos parecidos com 4chan, LegiònHolk, etc.

[7] A origem do grupo virtual mais tóxico do país, vem de um streamer de dota2 que permitia que as pessoas fizessem bully com ele pois isso lhe dava visibilidade e dinheiro. A “zuera” escapou de seu controle e agora o grupo age de maneira independente a ela. Tanto que roubaram a identidade deste streamer e agora está sendo levado aos tribunais por acusações de fraude e roubo.

[8] O Ágora é um grupo político da esquerda conservadora que reivindica o nacionalismo xenofóbico, suas atividades se limitam a uma praça da capital e também fazem lives através do Facebook. É através dessa plataforma digital que buscam seduzir aos membros dessa comunidade tóxica.

[9] Gente anarcocapitalistas (que grande idiotice) e todo esse lixo ultra neoliberal que vêm dos EUA.

Uma mensagem anárquica vinda do território peruano [24.01.23]

Considerando as distorções de informação que as esquerdas e direitas fazem sobre a rebelião peruana, desejamos compartilhar nossa percepção anarquista do que acontece nas mesmas entranhas desse corrupto e apodrecido estado chamado “Peru”.

Os protestos tem como vanguarda o campesinato, os primeiros a se mobilizarem. Ainda que as exigências sejam de caráter político (novas eleições, assembleia constituinte, etc.) estas passaram para o social e pouco a pouco vão se aderindo diversas reivindicações (que tanto a mídia de massas como a esquerda trata de maquiar como sendo políticas). No início os protestos foram esvaziados mas a repressão indignou o povo a ponto de acontecer um levante geral; o sentido de identidade unificou a nós andinos para lutarmos contra o opressor (quechuas, wanks, aymaras, chankas, etc.)

E agora estamos na etapa onde à força se fará cair a autoritária Dina Boluarte, que está escondida no castelo da extrema direita do Peru: Lima (a capital).

Essa crise desmascarou o que sempre foi maquiado com algo chamado: “democracia representativa”. Assim, a pobreza e a violência estatal extrema nas alturas dos andes, deliberadamente ignoradas pelas instituições do ESTADO e do CAPITAL, têm sido explícitas. O genocídio de Dina Boluarte e seu açougueiro Otarola, são uma pequena mostra do que historicamente se viveu e do que experimentaram nossas famílias e/ou etnias.

Xs assassinados pelas forças repressoras do Estado do PERU não deixam de aumentar, no exato momento em que nos encontramos escrevendo, os policiais e milicos mataram mais de 60 pessoas; crianças ou idosxs todxs faleceram frente os disparos a seus torços e cabeças… enchendo necrotérios e hospitais dos andes e do território do altiplano. Os feridos, detidos e torturados aumentam, a perseguição se aprofunda a ponto de censurar textos e perseguir editoriais e livrarias. Se mete bala ao transeunte e se paga bônus a polícia por seu trabalho de açougueiro.

Em 21 de janeiro a polícia fez operações em espaços autônomos como as universidades (as quais abrigavam manifestantes das províncias dessa região), casa de gente que deu guarida a seus conterrâneos de província, associações e coletivos que oferecem primeiros socorros. A polícia se sente empoderada pela presidenta assassina e apela para a violência para calar a boca de qualquer crítico (não se salva nem o pacifista, o legalista, todxs levam pau por serem “bocones”). E eis que a democracia peruano deu seus frutos, e nos faz viver o “agradável” caráter “legal” dos ESTADOS DE EMERGÊNCIA… momentos no qual as forças repressoras têm total liberdade de assassinar sem nenhuma responsabilidade penal. Enquanto os endinheirados das cidades celebram, aplaudem e beijam os assassinos. Outros são encarceradxs, perseguidxs, torturadxs ou assassinadxs.

Os ESTADOS DE EMERGÊNCIA também significam corrupção, algo que é da genética destas instituições repressoras, já que têm total liberdade de gasto e toda boa vontade do Ministério da Economia (o qual se caracteriza por ser dos mais tecnocratas e discriminatórios, quase um quarto poder).

Saem de Lima: Helicópteros, caminhonetes, ônibus, aviões de guerra, munição, e pessoal (desde a velha polícia de trânsito até o iniciante inexperiente do primeiro ano da escola de policiais). E logo, de acordo com que planejaram os açougueiros, distribuem a polícia nas zonas de bloqueios. As Forças Armadas, graças ao apoio dos EUA, se encontram empoderadas e mandam seus soldados matar na altura dos andes e infiltram suas equipes nas manifestações com o objetivo de ter caguetas, voyueristas e sabotadores.

Ao perceber que a resistência persiste e suas munições estão por acabar, mandam seus lambe-botas a loja de doces com 661 mil 530 dólares para adquirir todo tipo de guloseimas pelas quais são viciados (balas de borracha, gás lacrimogênio, sprays de pimenta, munição, etc.), dão bônus aos policiais e lhes prometem mais dinheiro por sua efetividade (até se financia contramarchas de fascistas, se compra líderes comunitários, etc.). Buscam todo tipo de apoio que seja… mobilizam pessoas dos círculos mais ilógicos (desde udex, trânsito, turismo), disfarçam carros de guerra dos milicos para os tornar democracy friendly, usam a mobilidade e a equipe de serenazgo (espécie de segurança municipal) e logo celebram (O PODER ECONÔMICO-POLÍTICO SEMPRE RECOMPENSA AO AÇOUGUEIRO)

Assim chegamos a uma encruzilhada onde fazer frente a esta loucura sangrenta significa ser um número a mais no necrotério. Onde o limenho racista te considera sub-humano por protestares. Onde te assassinar não trás problemas éticos ou religiosos (ao contrário as forças religiosas o celebram).

Também expomos que a luta que se observa nesta região é diversa, não acreditamos nos meios de comunicação ou influencers que expõem os protestos como “pacíficos”, “civilizados” ou “pela assembleia constituinte”, ou mesmo o delírio de serem “pela liberdade de Pedro Castilho”, não se deixem enganar. Tão pouco se deve dar atenção a propaganda de direita que superdimensiona a atividade de esquerda nos protestos, ao ponto e quererem levar o Peru a uma guerra com a Bolívia (por uma suposta “ingerência política”) ou de forçar uma guerra civil nesta região.

Para concluir; nós, mulheres, trans, machonas, maricones, lesbianas, trakas, não bináries, qhariwarmis, cabrxs, bissexuais e diversidades anarcas marrones, andines, aymaras, precarizadas que não sabemos de “justiça” aqui ou no exterior e sofremos o racismo continuamente… manifestamos que nunca estivemos fora dessa crise, jamais seremos indiferentes ao abuso de quem tem poder. Jamais esqueceremos os assassinatos, balas, golpes e agressões, e vamos devolvê-los. E a toda esquerda conservadora que quer se apropriar da luta como veículo político (Perú Libre, Antauristas, UPP, etc.) e que desejam que nos desapareçam, lhes dizemos: resistiremos e lutaremos pela libertação total!

SAÚDE Y ANARQUIA.

[DE ALGUMA PARTE DOS ANDES DO ESTADO GENOCIDA PERUANO]

O Modelo shac (II de II)

parte I publicada aqui.

O Futuro da SHAC

Apesar dos contratempos e sérios desafios que encontra nos Estados Unidos, a campanha SHAC continua até hoje. Algumas organizações regionais permanecem ativas, e ações autônomas continuam acontecendo, mas não existe organização em termos nacionais, não existem mais newsletters, nem sites confiáveis para publicizar alvos e reportar ações. Consequentemente existem menos alvos estratégicos e eventos nacionais, o que leva a um menor alcance e dificulta a criação de redes. O ponto positivo é que essa configuração torna mais difícil para as empresas saberem quem precisam intimar judicialmente, mas esse é um ponto positivo bastante limitado.

Esse declínio pode ser atribuído de maneira geral a repressão do governo e de maneira mais específica ao julgamento dos Sete da SHAC. O medo de repercussões legais aumentou ao mesmo tempo em que os principais organizadores foram tirados de ação. Com novas leis locais proibindo piquetes em residências, e o Animal Enterprise Terrorism Act de 2016 tornando ações contra alvos terciários interestaduais ilegais, muitas táticas que antes envolviam baixo risco hoje não são mais viáveis.

Agora que formas mais públicas de organização estão sendo punidas de maneira mais agressiva, parece possível que a próxima geração de ativistas pela libertação animal terá mais foco em táticas clandestinas. Uma das características mais fortes da campanha SHAC era a combinação de abordagens públicas e clandestinas, então essa não é necessariamente uma boa notícia para o movimento.

É bastante surpreendente que a HLS ainda exista; meia década atrás, organizadores da SHAC deviam estar apostando em já ter vencido a essa altura. Quando a Stephens Inc. retirou seu investimento, seus empréstimos eram tudo o que mantinham a HLS em pé; foi apenas outra intervenção do governo britânico que permitiu a HLS negociar um refinanciamento e continuar existindo. Essencialmente, a SHAC venceu, mas teve sua vitória roubada. A mesma situação aconteceu quando a SHAC forçou a Marsh Inc. a retirar sua participação, e HLS foi posta na situação de talvez ter de operar sem os seguros obrigados por lei. Outra vez, o governo britânico interveio, e a HLS obteve uma cobertura sem precedentes pelo Departamento de Comércio e Indústria. Sem a proteção desse bastião do poder, HLS já teria desaparecido há muito tempo, mas é precisamente pra isso que governos existem: para proteger corporações e preservar a tranquilidade do funcionamento do sistema capitalista. Talvez tenha sido inocente acreditar que os governos dos EUA e da Inglaterra permitiriam que mesmo a mais feroz das campanhas de libertação animal pudessem encerrar os negócios de uma empresa influente. Não é possível lutar como se não houvesse amanhã, indefinidamente, e as repetidas vezes que a HLS voltou dos mortos deve ter sido o suficiente para enlouquecer os organizadores mais antigos da SHAC, que deram tudo de si várias vezes no que sempre parecia ser o golpe final. Os participantes não tem acordo sobre quão significante foi o fator da exaustão, mas seria tolice desconsidera-lo. A campanha SHAC tem sido orientada como ativismo em tempo integral desde o começo, a mentalidade sendo, da mesma forma que os funcionários da HLS trabalham todos os dias, seus oponentes deveriam trabalhar no mínimo com o mesmo afinco. Artigos como “Rotina de Exercícios do SHACtivista” indicam uma abordagem com bastante pressão, que provavelmente se correlaciona com o alto nível de exaustão. Por mais difícil que seja, encontrar diferença entre os efeitos da exaustão do medo da repressão, muitos ativistas se afastaram da SHAC não voltaram a se aproximar de outras campanhas. A SHAC continua ativa no continente europeu e na América Latina, e incansável na Inglaterra. A campanha britânica da SHAC talvez ofereça um melhor modelo de como lidar com a repressão federal; parece que os ativistas britânicos já estavam preparados para isso, com pessoal pronto para assumir os postos de organizadores centrais, e mais abertos para o envolvimento de novas pessoas. Mas a Inglaterra é mais densamente populosa que boa parte dos Estados Unidos e tem uma história mais rica de luta pelo direito dos animais , então é injusto comparar tão de perto as duas campanhas.

A SHAC um dia vai conseguir fazer a HLS fechar as portas definitivamente ? É possível, apesar de que parece menos provável do que parecia alguns anos atrás. Alguns ainda acreditam que o mais importante é fechar a HLS custe o que custar, para obter uma vitória que inspiraria ativistas e aterrorizaria executivos pro décadas. Outros pensam que a HLS fechando ou não, a SHAC serviu seu propósito, demonstrando a força e as limitações de um novo modelo de organização anticapitalista.

Características do Modelo SHAC

Quando as pessoas pensam na SHAC, elas pensam em protestos na frente da casas de empregados e investidores; alguns anarquistas não se referem a nada além disso quando citam o “modelo SHAC”. Mas manifestações na frente de residências são uma pequena parte do que permitiu a SHAC aterrorizar a HLS. Para compreender o que fez a campanha efetiva, nós precisamos olhar para a totalidade de suas suas características essenciais.

Alvos secundários e terciários: O objetivo da campanha SHAC era negar a HLS sua estrutura de apoio. Assim como um organismo vivo depende de todo um ecossistema para recursos e relações que o mantém vivo, uma empresa não consegue funcionar sem investidores e parceiros de negócios. Nesses ternos, mais do que em qualquer boicote, destruição de patrimônio, ou campanha pública, a SHAC confrontou a HLS da maneira mais ameaçadora possível para uma empresa. A Starbucks poderia pagar facilmente dez mil vezes o prejuízo das vidraças quebradas pelos blackblocs durante os protestos de Seattle, mas a história seria bem diferente se ninguém repusesse aqueles vidros, ou se os vidros quebrados fossem das casas dos investidores, fazendo com que ninguém quisesse investir na empresa. Os organizadores da SHAC aprenderam as maquinações internas da economia capitalista, assim atacavam de modo mais estratégico.

Alvos secundário e terciários funcionam pois os alvos não tem um interesse tão firme em continuar seu envolvimento com o alvo primário. Existem outros lugares para onde eles podem levar seus serviços, e não há nada que os impeça. Esse é um aspecto vital para o modelo SHAC. Se uma empresa está sendo pressionada, ela irá lutar até a morte, e nada além da força bruta que cada parte é capaz de exercer sobre a outra fará diferença; o que não tende a ser vantajoso para os ativistas, já que empresas podem acionar a polícia e o governo. É por isso, que exceto pelo incidente com os cabos de machado, tão poucos esforços na campanha SHAC foram direcionados a HLS em si. Em algum lugar entre o alvo primário e as empresas associadas que provém sua estrutura de apoio, parece haver um nervo exposto, onde a ação se torna mais efetiva. Pode soar estranho agir contra alvos terciários que não tem conexão direta com os alvos primários, mas incontáveis aliados da HLS cortaram relações após um de seus clientes sofrer algum constrangimento.

• Relação de apoio entre ações públicas e clandestinas: Mais do que qualquer outra campanha de ação direta na história recente, a campanha SHAC alcançou uma simbiose perfeita entre organização públicas e ações clandestinas. Para esse fim, a campanha era caracterizada por um uso bastante sofisticado da tecnologia e networking moderno. Os sites da SHAC disseminavam informações sobre alvos e ofereciam um fórum para relatos de ações para aumentar a moral e as expectativas, permitindo que qualquer um simpático aos objetivos da campanha pudesse contribuir, sem chamar atenção para si.

• Diversidade de táticas: Ao invés de colocar um tipo de tática em oposição a outra, a SHAC integrou todas as táticas possíveis em uma campanha, onde cada abordagem complementava a outra. Isso significava que seus participantes podiam agir dentro de uma gama ilimitada de opções, o que manteve a campanha acessível para um público amplo e preveniu conflitos desnecessários.

• Alvos concretos, motivações concretas: O fato de que haviam animais específicos sofrendo, cujas vidas podiam ser salvas por ação direta específica, tornou essas questões concretas e deu a campanha um senso de urgência que se traduziu em uma vontade de alguns dos participantes de arrancarem a si mesmos de suas zonas de conforto. Do mesmo modo, a cada conjuntura na campanha SHAC, haviam objetivos intermediários que podiam facilmente serem alcançados, assim a tarefa monumental de enfraquecer toda uma empresa nunca pareceu algo grandioso de mais. Isso contrasta drasticamente com o modo como o impulso de certos círculos do anarquismo verde morreu após a virada do século, quando os objetivos e alvos se tornaram muito vastos e abstratos. Até então era fácil para indivíduos motivarem a si mesmos a defender árvores e áreas naturais específicas, mas uma vez que o objetivo de alguns participantes se tornou “destruir a civilização” e qualquer coisa menor que isso fosse mero reformismo, se tornou impossível construir qualquer ação significativa.

Vantagens do Modelo SHAC

Quando o modelo criado pela SHAC é aplicado corretamente, suas vantagens são óbvias. Ela atinge corporações onde elas são mais vulneráveis: empresas não fazem o que fazem por terem compromissos éticos ou para manter certa imagem na opinião pública, seu único objetivo é a busca por lucro, e o modelo SHAC foca exclusivamente em trazer prejuízos a empresa. Se tratando da construção e manutenção de uma campanha de ação direta a longo prazo, o modelo SHAC oferece direção e motivação aos participantes, apresentando um modelo para ações menos abstratas e mais concretas. O modelo SHAC contorna o conflito sobre táticas, oferecendo a oportunidade para ativistas com diferentes capacidades e níveis de conforto trabalharem juntos. Ao estabelecer uma ampla gama de alvos, isso dá aos ativistas a oportunidade de escolher a hora, o lugar e o caráter de suas ações, ao invés de estarem constantemente reagindo ao seus inimigos. Acima de tudo, o modelo SHAC é eficiente: em nenhum momento a SHAC USA teve mais do que umas poucas centenas de participantes ativos.

Em contraste com a maioria das estratégias de organização, o modelo SHAC tem uma abordagem ofensiva. Ela oferece um meio de atacar e derrotar projetos capitalistas bem estabelecidos, tomar iniciativa, mais do que apenas responder ao avanço do poder empresarial. A SHAC não surgiu motivada a impedir a construção de um novo laboratório de testes de animais ou a aprovação de algumas leis, mas para derrotar e destruir uma empresa de testes em animais que já existia há décadas. O modelo SHAC pede e incentiva uma cultura que não apenas celebra a ação direta mas que constantemente age através dela, encorajando os participantes a irem além de seus limites. O que se contrasta drasticamente com os círculos auto intitulados insurrecionarios, onde anarquistas falam muito sobre se rebelar e resistência sem entrar no confronto diário com os poderes que nos oprimem. Ativistas Antiglobalização em Chicago as vezes pediam aos organizadores da SHAC pra puxarem palavras de ordem em seus protestos, por conta da fama que tinham de serem enérgicos e confiantes: os que afiaram seus dentes na campanha SHAC, se não se afastaram totalmente das atividades de ação direta, estão equipados para serem efetivos em um espectro amplo de contextos. Uma vantagem mais discreta do modelo SHAC é que ele deixa nítido as tenções de classe que geralmente estão abaixo do radar nos EUA. Ativistas de classe média baixa, e de contextos trabalhadores podem considerar confortante usar o pixo como maneira de desafiar executivos ricos em seu próprio território. Isso também expõe os ativistas de uma causa só a suas interconecções com a classe dominante. Ao visitar a casa de executivos, é possível descobrir que todas empresas farmaceuticas e de investimentos estão conectadas: todos possuem ações das companhias uns dos outros, eles sentam nas mesmas mesas de diretoria, e vivem e suas idênticas mansões suburbanas em condomínios de muros altos.

Por fim, o modelo SHAC tomou vantagem de oportunidades oferecidas por eventos e comunidades maiores. Os protestos na frente das casas geralmente aconteciam após uma assembleia ou show; o imenso número de potenciais alvos significava que sempre havia algum não muito distante.

Por muitos anos, protestos da SHAC aconteciam durante a National Conference on Organized Resistance em Washington, DC, e também aconteceram após os protestos anti-biotecnologia na Philadelphia e Chicago.

Algumas vezes essa tática causou conflitos com outros organizadores, não é preciso mais do que duas dúzias de pessoas para fazer um protesto efetivo em uma zona domoiiliar, então sempre foi muito fácil criar a situação.

A SHAC em si, tende a criar e repercutir uma subcultura própria, completa com pontos de referência internas e rituais. Em assembleias e eventos maiores, ativistas comparavam anotações sobre investidores, campanhas locais, e problemas judiciais. Cenas musicais simpáticas ajudaram a financiar organizações e a trazer sangue novo para a campanha. Seria difícil imaginar a campanha SHAC nos EUA sem a cena do hardcore das últimas duas décadas, que constantemente serviu como base social para os militantes dos direitos dos animais. Certamente existem pontos negativos em aproximar tanto uma campanha a uma subcultura da juventude, mas é melhor atrair participantes e fôlego de uma comunidade do que de nenhuma.

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Falsas Polêmicas

Alguns anarquistas, impulsivamente acusaram a SHAC de reformismo. Isso é um absurdo: o objetivo da SHAC não é de mudar a maneira como a HLS conduz seus negócios, mas acabar totalmente com a empresa. É mais preciso descrever a SHAC como uma campanha abolicionista: sendo incapaz de acabar com a exploração animal de um só golpe, ela busca alcançar o passo mais ambicioso e plausível dentro deste fim. De forma similar, alguns críticos entediados ridicularizaram os esforços de libertação dos animais com o argumento de que eles seriam “ativistas”, implicando que isso seria algo inerentemente ruim. Os que adotam essa posição deveriam dar uma passo adiante e assumir que eles não se comovem com a opressão de outras criaturas vivas e não enxergam valor em tentativas de encerrar esse sofrimento, o que quer dizer que, eles dificilmente sejam anarquistas.

Desvantagens e Limites

Falsas acusações à parte, o modelo SHAC têm limitações reais, que merecem ser examinadas.

Primeiro, existem alguns pré requisitos sem os quais ela irá falhar. Por exemplo, o modelo SHAC não pode ser bem sucedido fora de um contexto onde a ação direta seja aplicada regularmente. Todo pensamento estratégico do mundo é inútil se ninguém está de fato disposto a agir. Nos círculos dos militantes pelo direitos dos animais, as questões em jogo eram entendidas como concretas e urgentes o suficiente para participantes serem motivados a assumir riscos regularmente; sem essa motivação, a campanha SHAC não teria saído do chão. Do mesmo modo, o modelo SHAC não tem poder contra alvos que não dependam de alvos secundários e terciários, ou que tenha um suprimento infinito deles para escolher. Acima de tudo, os alvos secundários e terciários devem ter outro lugar para onde levar seus negócios, o modelo SHAC depende do resto do mercado capitalista oferecendo melhores opções. Nesse sentido, embora não seja reformista, ela também não oferece uma estratégia para combater frontalmente o capitalismo.

Em segundo lugar, por mais eficazes que sejam em termos puramente econômicos, os alvos secundários e terciários põem o local do confronto longe da causa pela qual os participantes estão lutando. Falando e maneira geral, quanto mais abstrato o objeto da campanha, pior para a moral. Muito vitalidade das lutas por defesa ecológica nos anos 80 e 90 vem da conexão imediata, visceral, que os defensores da floresta experenciaram com a terra que estavam ocupando; quando o ativismo pelo meio ambiente começa a se mover para terrenos mais urbanos uma década atrás, ele perdeu parte de seu ímpeto. Talvez seja específico para a campanha SHAC que os participantes sejam capazes de manter sua revolta e audácia mesmo tão longe do objeto de sua preocupação; é arriscado assumir que isso sempre acontecerá em outros contextos.

Exceto por esses desafios, o modelo SHAC talvez seja inefetivo justamente por sua efetividade. É razoável mirar em fechar empresas poderosas, ou o governa sempre irá interceder ? É possível que por se apresentar como uma ameaça para as empresas, em termos econômicos, que o modelo SHAC compre uma briga que não pode vencer. Uma vez que o governo tenha se envolvido em um conflito, é preciso mais que uma rede de militantes para vencer, é necessário todo um movimento social de larga escala, e a abordagem da SHAC sozinha não é capaz de dar origem a algo assim. Nesse caso, a maior força do modelo SHAC é também sua maior vulnerabilidade.

O tempo dirá se a HLS foi um alvo muito ambicioso; a empresa ainda pode vir a colapsar. Mesmo assim, provavelmente seria inteligente que os próximos a experimentar com o modelo, escolher objetivos menores, e não algo ainda mais ambicioso, já que a campanha SHAC em si, ainda não foi bem sucedida. Talvez um terreno inexplorado aguarde entre fechar lojas de peles específicas e tentar fechar a maior empresa de testes em animais da Europa. Isso não quer dizer que o modelo SHAC é inútil caso não resulte no fechamento de seu alvo. As vezes é válido lutar e perder em uma batalha para desencorajar um oponente de começar outra batalha; em outros momentos, mesmo ao perder, é possível ganhar experiência e aliados valiosos. Ironicamente o modelo SHAC talvez seja mais efetivo em recrutar pessoas para organizar ação direta, do que para seu suposto objetivo, precisamente porque, ao contornar o recrutamento e focar em outros objetivos, isso atrai participantes que são sérios e comprometidos.

Mas se o objetivo for trazer mais pessoas a organização de ação direta ao invés de simplesmente fechar uma única empresa, existem desafios relevantes a serem considerados, por exemplo o alto nível de stress e a propensão ao burnout. Nesse sentido, não é necessariamente uma vantagem que o modelo SHAC ensine ativistas a pensar dentro da mesma lógica que economistas capitalistas (eficiência, economia, cadeia de comando) ao invés de priorizar as habilidades sociais necessárias para construir comunidades de resistência a longo prazo.

Assim como, ao focar em alvos secundários e terciários, o modelo SHAC enfatiza e recompensa uma atitude agressiva que é menos vantajosa em em outras situações. Quais são os efeitos psicológicos de longo prazo nos participantes que passaram metade de uma década ou mais, gritando em um megafone na frente da casa de funcionários ? Que tipo de pessoas são atraídas para uma campanha que consiste primariamente em tornar a vida de outras pessoas um pesadelo ? Não podemos deixar de apontar que alguns anarquistas relataram interações frustrantes com organizadores da SHAC.

Considerando o modelo por uma perspectiva anarquista, com qual intensidade a abordagem da SHAC tende a consolidar ou contestar hierarquias ? A segurança necessária para ações diretas clandestinas podem incentivar um tribalismo que se intensifica conforme aumenta a repressão, impedindo assim a campanha de atrair mais participação justamente quando for mais necessário. Hierarquias informais são um problema em todos tipos de organizações, aqueles que fazem pesquisas geralmente tem uma influência desproporcional sobre a direção da campanha e acabam sendo responsáveis pode tomadas de decisões que tem efeitos no logo prazo.

É possível argumentar que o foco numa só questão e a natureza focada em objetivos práticos da campanha SHAC não age contra outra hierarquia que não a opressão dos animais. Não é segredo que grupos organizados dentro da SHAC foram destruídos por conflitos sobre dinâmicas de gênero e nem todos participantes foram responsabilizados por seus comportamentos. Em uma campanha que enfatiza a sobretudo vitória, isso não é surpreendente, se vencer é o mais importante, é fácil abafar conflitos internos, especialmente com a adição do stress da repressão federal. Inevitavelmente, as pessoas que tiveram más experiências afastam-se da campanha, levando junto as críticas que outros deveriam ouvir.

Essas prioridades questionáveis também se manifestaram em algumas táticas de mau gosto. Em um caso, um alvo que estava lutando para escapar do alcoolismo recebeu uma lata de cerveja com junto com um bilhete; em outro caso a calcinha de uma mulher foi roubada e supostamente posta a venda. Utilizar a assimetria de poder da sociedade patriarcal para atingir aliados de alvos que contribuem para a opressão animal dificilmente serve como exemplo de luta contra todas as dominações.

Existem outras questões éticas sobre utilizar alvos secundários e terciários. É aceitável arriscar aterrorizar ou machucar secretárias, crianças, e outras parte que não estão diretamente envolvidas ? O que separa anarquistas de governos e outros terroristas, se não a recusa de aceitar dano colateral ?

Em essência, a SHAC é um modelo de campanha de coerção, para ser usada em situações em que não há possibilidade de outra forma de resolução de conflito. Isso não entra em conflito com valores anarquistas, quando um opressor se recusa a se responsabilizar por suas ações, é necessário obriga-lo a parar, e isso se estende para aqueles que o auxiliam e incentivam. Mas envolver pessoas que não estão participando diretamente da opressão, é uma área cinza. Quando um organizador expõe um alvo, não há como saber que tipo de ações vão ser tomadas. Talvez encerrar a opressão animal pese mais que esses riscos e custos, mas anarquistas não deveriam ficar muito confortáveis com esse tipo de racionalização.

Outras Aplicações do Modelo SHAC

Muito tem se falado de aplicar o modelo SHAC em outros contextos, mas poucos desses esforços produziram algo comparável com a campanha SHAC. Algumas reflexões são necessárias. É válido apontar que parte do hype sobre as possibilidades de aplicação do modelo SHAC vem direto de declarações da HLS, e por isso deveriam ser tomadas com ceticismo. A HLS não está interessada em promover novos métodos de ação direta, mas sim em criar medo o suficiente para que outros membros da classe dominante venham ajuda-los; assim, quando eles dizem que as táticas da SHAC podem ser usadas efetivamente contra qualquer alvo, isso não necessariamente é real. O mesmo vale para análises sensacionalistas de organizações como Stratfor, cujo objetivo primário para ser aterrorizar o público e faze-lo sentir necessidade de consumir a “inteligência” que a empresa vende.

É possível que por conta da campanha SHAC ter se mantido ativa enquanto outras formas de organização se desmobilizaram, que ela tenha exercido uma influência desproporcional na imaginação dos anarquistas, de tal maneira que muitos tendem a imitar o modelo organizacional do modelo SHAC mesmo quando ele não é estrategicamente efetivo. Falhas podem ser tão instrutivas quanto sucessos; infelizmente, como elas são esquecidas mais rapidamente, tendem a ser repetidas de novo e de novo. Por isso, qualquer consideração sobre o modelo SHAC deve ter em mente o exemplo do Root Force.

Root Force surge dos círculos do Earth First! Anos atrás, com a intenção de promover uma campanha no estilo SHAC, mirando a infraestrutura do capitalismo global, um objetivo exponencialmente mais ambicioso que fechar a HLS. Os organizadores pesquisaram as empresas envolvidas em projetos de infraestrutura sensíveis como rodovias transnacionais e usinas elétricas. Foi criado um site para divulgar essas informações e quaisquer ações que fossem realizadas; eventos foram realizados por todo o país para divulgar o projeto. Parecia que todas as peças estavam em seus devidos lugares, e mesmo assim, nada aconteceu.

No começo de 2008, Root Force publicou uma declaração sob o título de “Uma Estratégia Revisada” na qual reconhecia que seus esforços haviam falhado em produzir uma campanha de ação direta efetiva e descreveu suas dificuldades de tentar inspirar ações contra projetos de infraestrutura localizados a uma distância tão grande que parecem totalmente abstratos.

Root Force não entendeu como campanhas de ação direta ganham fôlego. Tanto a ação quanto a inação, são contagiosos. Se algumas pessoas estão comprometidas o suficiente com uma causa a ponto de arriscarem sua liberdade, outros podem vir a fazer o mesmo; ninguém deseja se isolar, uma estratégia razoável sozinha não é o suficiente para inspirar ações. Uma ação direta séria, devidamente bem publicizado pela Root Force teria valido cem eventos de divulgação.

A campanha da Root Force teve outras falhas. Se o objetivo era simplesmente dar aos participantes algo para fazer, a estratégia foi tão boa quanto qualquer outra; mas se eles tinham esperanças de impedir a construção de qualquer rodovia ou usinas de energia essenciais para a expansão do mercado capitalista, eles teriam de mobilizar muito mais força que a campanha SHAC. Se os alvos que escolheram realmente fossem de importância crítica para os poderosos, o governo teria mobilizado todos seus recursos para os defender. Exagero na escala é o erro número um dos movimentos de resistência: ao invés de optar por objetivos alcançáveis e lentamente construir através de suas vitórias, os organizadores cavam a própria derrota ao pular diretamente para um embate final com o capitalismo global. Nós podemos lutar e vencer batalhas ambiciosas, mas pra isso precisamos reconhecer de forma realista nossas capacidades.

Outras abordagens inspiradas pela SHAC se caracterizaram pela ênfase nos protestos na frente da casa de alvos. Por exemplo, nos últimos anos, manifestantes anti-FMI e o World Bank têm experimentado com protestos na frente77 da casa de executivos e financiadores. Em 2006, enquanto Paul Worfowitz era presidente do World Bank, houve uma série de manifestações na casa de sua namorada; eventualmente ela se mudou. Isso não parece ter impactado o FMI no mesmo nível que levantes antiglobalização ao redor do mundo. Sarcasmo à parte, há pouco a se ganhar ao assediar pessoas como Wolfowitz: diferente dos alvos terciários que a SHAC mirava, eles não vão simplesmente levar seus negócios pra outro lugar.

De maneira similar, durante a Convenção Republicana de 2004, alguns organizadores chamaram por protestos com foco em assediar delegados. O risco dessa abordagem é que ela pode retratar o conflito como uma rixa mesquinha entre os manifestantes e as autoridades, ao invés de um movimento social que é capaz de atrair participação massiva. Assim como Wolfowitz, delegados republicanos dificilmente vão se aposentar porque meia dúzia de manifestantes gritou com eles, e mesmo se alguns se aposentassem, eles seriam substituídos instantâneamente. Uma proposta para os protestos na RNC em 2008 envolvia ativistas mirando empresas que prestavam serviços a convenção. Mirar empresas prestando serviços talvez tivesse ajudado a dar fôlego ao que viria, mas é pouco provável que essas ações fossem capazes de privar uma organização tão podersa como o Partido Republicano, dos recursos necessários. O mesmo vale para propostas de mirar nas empreiteiras do ramo de armamentos, servindo o exército dos EUA, pode ser algo excitante para os manifestantes fazerem, mas ninguém deveria subestimar o que seria necessário para fazer uma corporação como a Boeing cortar laços com os militares dos EUA.

Alguns enxergam a Rising Tide e a Rainforest Action Network como campanhas contra o bank of América como parentes da campanha SHAC; embora sejam descendentes diretas de campanhas ambientais que a precederam, também adotaram assediar alvos secundários. No fim de 2008, num contexto de caos econômico, Bank of America declarou que estaria deixando de financiar empresas que se envolviam majoritariamente com mineração no cume de montanhas. Por mais insincera que essa declaração seja, ela indica que a campanha obrigou o BOA a tomar uma inciativa. Ambientalistas em Indiana obtiveram menos sucesso tentando parar a construção da rodovia I-69 via uma combinação protestos em residências e escritórios, e táticas de ocupação de floresta. Em “A Revised Strategy”, Root Force cita a I-69 como um projeto de infraestrutura essencial; seria interessante ver como o estado responderia caso a luta contra a I-69 tivesse ganho força.

Com tudo isso, não queremos dizer que o modelo SHAC não pode ser aplicado efetivamente, mas enfatizar que ativistas devem ser intencionais e estratégicos sobre onde e como fazê-lo. É provável que existam situações em que o modelo pode alcançar ainda mais do que foi capaz com a SHAC; sem dúvidas existem outros contextos em que ele pode ser contraproducente.

Repetimos, a campanha SHAC nos EUA envolveu apenas umas poucas centenas de participantes; uns poucos milhares possivelmente poderiam enfrentar um adversário maior. Mesmo forçar o governo a resgatar uma empresa da falência, pode ser considerado uma importante vitória. Até hoje, ainda não sabemos onde serão encontradas aplicações eficazes do modelo SHAC para além da campanha onde teve origem.

O Modelo shac (I de II)

Retirado da Anarchist Library, publicado originalmente pela CrimethInc. em primeiro de Setembro de 2008.

Dedico com carinho a todas e todes que pensam e agem contra as grandes empresas que fazem nossa terra e nossas comunidades sangrarem. Morte ao garimpo, morte as mineradoras, morte as madeireiras. Viva o povo auto organizado e a autodefesa popular.


“Nós estamos cientes desses ativistas, mas não sabemos até que ponto eles estão dispostos a ir.”

– Warren Stevens, que apesar de ter jurado não recuar do investimento de 33 milhões de dólares que faria à Huntingdon Life Sciences, desistiu após encarar protestos nos seus escritórios em Little Rock e vandalismo na sua casa.

“O número de ativistas não é grande, mas o impacto que eles possuem é incrível… É preciso compreender que essa é uma ameaça para todas as indústrias. Essas táticas podem se usadas contra qualquer setor da economia.”

– Brian Cass, diretor da HLS

“Onde todos os grupos de bem estar animal e a maioria dos grupos de direitos dos animais insistem em agir dentro da legalidade, abolicionistas da causa animal insistem que estados são irremediavelmente corruptos e que uma abordagem legal sozinha, nunca irá garantir justiça para os animais.”
– ALF

Na última década, Stop Huntington Animal Cruelty – SHAC – sustentou uma campanha internacional de ação direta contra a Huntington Life Science, a maior empresa europeia de testes em animais. Ao mirar em investidores e parceiros de negócio da HLS, a SHAC repetidamente levou a HLS à beira do colapso, e essa precisou de apoio direto do governo britânico e de uma contra-campanha internacional de repressão para manter a empresa funcionando.

Durante a campanha, haviam propostas de aplicar o modelo SHAC em outros contextos, como defesa ambiental e protestos anti guerra. Mas o que é exatamente o modelo SHAC ? Quais são suas forças e limitações ? É de fato um modelo efetivo ? E se sim, para o quê ?


Primeiro, um Glossário

Visto de fora, o círculo dos direitos dos animais pode ser difícil de compreender, mesmo para outros radicais. Por um lado, o foco intenso nessa única problemática pode contribuir para uma mentalidade mais isolada, ou mesmo míope; Por outro lado, existem incontáveis ativistas da causa animal que veem seus esforços como parte de um conflito maior, contra todas as formas de opressão.

Aqueles que não estão familiarizados com o funcionamento interno destes círculos frequentemente confundem as posições de facções opostas. Aceitando o risco de ser simplista, é possível identificar três escolas de pensamento distintas:

Bem-Estar Animal – A ideia de que animais devem ser tratados com piedade e compaixão, especialmente quando são usados para benefício humano como alimento e produção. Por exemplo, alguns ativistas do bem-estar animal fazem lobby no governo para a criação de leis mais humanas para o abate.
Exemplo: a Sociedade Humana dos Estados Unidos (HSUS)

Direitos dos Animais – A ideia de que animais têm seus próprios interesses e merecem uma legislação que os proteja. Aqueles que acreditam nos direitos dos animais comumente são veganos e se opõem ao uso de animais para o entretenimento, experiências, alimentos ou vestimentas. Eventualmente participam de protestos ou desobediência civil, mas geralmente acreditam em trabalhar de dentro do sistema, através de lobby, marketing, e o uso de mídias corporativas.
Exemplo: Pessoas pelo Tratamento Ético aos Animais (PETA)

Libertação Animal – A ideia de que animais não deveriam ser domesticados ou mantidos em cativeiro. Já que isso não é possível dentro da lógica do atual sistema social e econômico, abolicionistas da causa animal normalmente estão alinhados com o anarquismo, e podem quebrar leis para resgatar animais ou preservar seus habitats.
Exemplo: a Frente de Libertação Animal (ALF)[1]

Muitos grupos com foco no bem-estar e nos direitos dos animais criticam aqueles que se engajam em ação direta, argumentando que tais ações ferem a imagem de todos ativistas e afastam possíveis simpatizantes. Também é possível interpretar essas críticas como motivadas pela intenção de se criar uma base de simpatizantes ricos e pelo medo de ser alvo de repressão governamental. Além de não apoiarem ação direta, proibirem seus funcionários de interagirem com quem as faz, e não participar de conferências que incluam palestrantes mais militantes, organizações como a HSUS já agradeceram ao FBI por reprimir ações do campo da libertação animal. Em 2008, HSUS ofereceu uma recompensa de $2500 para qualquer um que desse informações que levassem a prisão das pessoas envolvidas em um incêndio criminoso, que segundo o FBI, possuía conexões com ativistas dos direitos dos animais.

[1] Diferente do HSUS e PETA, a ALF não é oficialmente uma organização, mas sim uma bandeira sob a qual agem células autônomas que não necessariamente têm conexões umas com as outras.


A História da SHAC: Origens do Outro Lado do Oceano

A campanha da SHAC começa no Reino Unido, após uma série de fechamentos de laboratórios de reprodução animal, onde se usou desde táticas de piquete a invasões da ALF, e confrontos com a polícia. Vídeos gravados secretamente dentro das instalações da HLS em 1997 foram exibidos na televisão britânica, mostrando os funcionários chacoalhando, agredindo e gritando com beagles no laboratório da HLS. Em Novembro de 1999, após ser ameaçado de processo, o PETA parou de organizar protestos contra a HLS, e a SHAC ganhou corpo para avançar a campanha.

Huntington Life Sciences era um inimigo mais formidável que qualquer empresário do ramo da criação de animais; a campanha SHAC foi uma escalada no ativismo pelo direitos dos animais no Reino Unido. A ideia era focar especialmente nas finanças da empresa, usando táticas que já haviam funcionado para fechar pequenos negócios, para liquidar toda a corporação. Ativistas agiram para isolar a HLS assediando qualquer um envolvido com qualquer empresa que fizesse negócio com eles. O papel da SHAC como uma organização era simplesmente de distribuir informação sobre potenciais alvos e reportar as ações conforme iam acontecendo.

Em Janeiro de 2000, ativistas britânicos publicaram uma lista dos maiores acionistas da HLS, incluindo aqueles que mantinham ações através de empresas de fachada, para se manterem anônimos; um deles inclusive, era do partido trabalhista britânico. Após duas semanas de manifestações organizadas, muitos acionistas venderam suas ações; finalmente, 32 milhões em ações foram postas na London Stock Exchanges por um penny cada e as ações da HLS despencaram. Nesse caos, o Banco Real da Escócia concedeu um empréstimo de 11.6 milhões de libras por apenas uma libra, na tentativa de se distanciar da empresa, e o governo britânico arranjou uma conta para eles no Banco da Inglaterra, pois nenhum outro banco queria aceita-los. O preço das ações da companhia, que valiam em torno de 300 libras em 1990, caíram para 1.75 em Janeiro de 2000, estabilizando em 3 no meio de 2001.

Em 21 de Dezembro de 2000, HLS foi retirada da Bolsa de Valores de Nova York; três meses depois, perdeu seu lugar na Bolsa de Valores de Londres também. HLS só foi salva da falência quando o seu maior acionista restante, o banco americano de investimentos Stephens, deu a companhia 15 milhões de dólares de empréstimo. Esse capítulo da história se encerra com a HLS movendo seu centro financeiro para os Estado Unidos para tirar vantagem das leis que permitem maior anonimato para os acionistas.

Nos EUA

Enquanto isso, nos EUA, as campanhas contra abate de animais que caracterizaram a maior parte do ativismo pelos direitos dos animais havia estagnado; as táticas de desobediência civil desenvolvidas nessas campanhas haviam chego a um limite, e muitos ativistas estavam em busca de novos alvos e estratégias. Uma facção dos grupos pelos direitos dos animais, exemplificada pela Vegan Outreach e DC Compassion Over Killing, passou a promover o veganismo. Ativistas mais militantes buscavam outras perspectivas. Alguns, como Kevin Kojnaas, que veio a se tornar presidente da SHAC USA, estiveram no Reino Unido nos anos 90, como militantes antiglobalização, e testemunharam o apogeu da campanha da SHAC britânica, e voltaram trazendo histórias inebriantes de ações do Reclaim the Streets.

A campanha da SHAC EUA surgiu do diálogo entre ativistas pelo direito dos animais em diferentes partes do país. Enquanto a campanha pela divulgação do veganismo buscava apelar para o mínimo denominador comum para convencer consumidores, a SHAC atraiu militantes que queriam fazer um uso mais eficiente de seus esforços individuais. Alguns argumentaram que era pouco provável que todo o mercado baseado em exploração animal fosse vencido pelo veganismo, mas praticamente todos concordavam que matar animaizinhos era intolerável.

A SHAC EUA teve início em Janeiro de 2001, no mesmo momento que Stephens Inc. salvou a HLS da falência. Stephens tinha sede em Little Rock, Arkansas, então alguns ativistas foram para lá para se mobilizarem. Em Abril, 14 beagles foram libertos do novo laboratório da HLS em New Jersey; no fim de Outubro, centenas de pessoas se reuniram em Little Rock para um fim de semana de manifestações na casa de Warren Stephen e escritórios da Stephen Inc. Na primavera seguinte, Stephens desligou a HLS, quebrando um contrato de cinco anos, após apenas um ano.

A SHAC se espalhou rapidamente pelos EUA, como uma campanha de tamanho e efetividade sem precedentes. Em parte, graças a seu financiamento superior [2], suas peças de propaganda eram brilhantes e empolgantes, como vídeos de divulgação que intercalavam imagens de violência contra animais com ações inspiradoras com uma trilha sonora de tecno acelerada. A campanha oferecia a seus participantes uma vasta gama de opções, incluindo desobediência civil, ligações, trotes, e rodas de conversa. Em contraste com os melhores dias do movimento antiglobalização, os alvos estavam espalhados, e disponíveis, por todo o mapa dos Estados Unidos. Os objetivos imediatos de forçar investidores específicos e parceiros comerciais de se desligarem da HLS, geralmente eram facilmente atingidos, dando uma sensação de gratificação imediata para os participantes.

Enquanto um indivíduo poderia se sentir insignificante em um protesto anti guerra com milhares de pessoas, se ela fosse uma das dezenas que participaram de um protesto na casa de um investidor que desistiu de apoiar a HLS, ele poderia sentir que conquistou algo concreto. A campanha SHAC ofereceu o tipo de conflito contínuo de baixa intensidade através do qual as pessoas puderam ser radicalizadas e desenvolverem um senso de poder coletivo. Fazer táticas de blacblock com seus amigos, escapar da polícia depois das manifestações, ouvir falas inspiradoras juntos, invadir escritórios gritando com megafones, ler sobre as atividades de outros ativistas na internet, a sensação de estar no lado vencedor de um esforço efetivo de libertação – tudo isso contribuiu para o sentimento de que a campanha SHAC era imparável.

[2] Diferente de muitos movimentos sociais, o movimento pelos direitos dos animais é apoiado por doadores ricos, e nós podemos assumir isso pois alguns deles doaram para a SHAC.

Ação

“A Carr Securities começou a fazer o marketing das ações Huntington Life Sciences. No dia seguinte, o Iate Clube Manhasset Bay, o qual certos executivos da Carr fazem parte, foi vandalizado por ativistas pelo direitos dos animais. Os extremistas enviaram uma nota ao site da SHAC assumindo a responsabilidade, e três dias depois do incidente a Carr encerrou seus negócios com a HLS.”
– John Lewis, Diretor assistente de Monitoramento do FBI do assim chamado “Eco-terrorismo”.

Ação direta contra os parceiros da HLS tomou inúmeras formas, ocasionalmente escalando para incêndios criminosos e violência. Em Fevereiro de 2000, Brian Cass, o diretor da HLS foi hospitalizado após levar uma surra de cabo de machado em sua casa. Em Julho daquele ano, os Piratas Pela Libertação Animal afundaram o iate de um executivo do Banco de Nova York, e o banco logo cortou seus laços com o laboratório. Um ano depois, bombas de fumaça foram lançadas contra os escritórios da Marsh Corp em Seattle, causando a evacuação do arranha-céu e o fim de sua relação com a HLS. No Outono de 2003, um dispositivo incendiário foi deixado nas empresas Chiron e Shaklee, por estarem associadas a HLS. Em 2005, a corretora Canaccord Capital, com sede em Vancouver, anunciou que estava encerrando sua parceria com a Phytopharm PLC, em resposta a uma ataque incendiário ao carro de um executivo da Canaccord, Phytopharm vinha fazendo negócios com HLS. Tudo isso acontecendo em um cenário de constantes ações de menor escala.

Em Dezembro de 2006, HLS foi impedida de ser listada na Bolsa de Valores de Nova York, algo sem precedentes que resultou em uma propaganda de página inteira no The New York Times, mostrando um caricatura de um ativista, de jaqueta de couro e balaclava, declarando “Eu controlo Wall Street”[3]. Em 2007, oito empresas cortaram relações com a HLS, incluindo seus dois maiores investidores, AXA e Wachovia, após protestos na casa de acionistas e visitas da ALF na casa de executivos. Em 2018, dispositivos incendiários foram deixados de baixo de caminhões da Staples e lojas da empresa foram vandalizadas. Ao longo da campanha, cerca de 250 empresas desistiram da HLS, incluindo o Citibank, a maior instituição financeira do mundo; HSBC, o maior banco do mundo; Marsh, a maior seguradora do mundo; e o Bank of America.


Mantendo o Ritmo

É interessante comparar a trajetória da campanha SHAC com o que chamamos de movimento antiglobalização. Os dois começaram no Reino Unido antes de engrenar nos EUA. A SHAC foi fundada na Inglaterra no mesmo mês dos protestos históricos do WTO em Seattle; começou a ganhar aderência na América do Norte no rastro do fim das mobilizações anti-globalização e manteve impulso após a ala antiglobalização do movimento nos EUA colapsar, nos dias que seguiram o 11 de Setembro de 2001.

Como a campanha SHAC foi capaz de manter seu ritmo enquanto praticamente todas as outras campanhas baseadas em ação direta naufragaram ou foram cooptadas por liberais ? Podemos encontrar lições sobre como lidar com crises, baseadas nesse exemplo ?

Ativistas da SHAC se diferenciavam de participantes da maioria dos outros movimentos sociais por não considerarem que precisavam de uma boa imagem na mídia, nem entediam uma cobertura negativa como algo ruim. Seus objetivos eram aterrorizar corporações até desistirem de fazer negócios com a HLS, não converter outras pessoas para a causa da libertação animal. Quanto mais destemidos e malucos eles pareciam ser nos jornais, mais fácil seria intimidar potenciais investidores e parceiros de negócio. Em outros círculos, ativistas temiam que o pânico da Guerra ao Terror facilitasse que o governo os isolasse, se associados ao terrorismo; para SHAC, quanto mais perigosos e extremos parecessem, melhor.

No fim, tudo isso voltou para os assombrar, quando os organizadores mais influentes foram levados a julgamento e a promotoria facilmente os retratou como representantes de uma rede clandestina de terroristas. Nesse sentido, a maior potência da campanha SHAC – a relação entre organização pública e secreta, a temível reputação – também se mostrou como seu calcanhar de Aquiles. A lição parece ser que essa abordagem pode ser efetiva em uma escala pequena, desde que os organizadores não provoquem confrontos com forças muito mais poderosas que eles mesmos. Com relação a cobertura midiática, talvez nos seja instrutivo observar como os organizadores da SHAC abordavam essas questões. Os porta-vozes da SHAC nunca deixaram de enfatizar a necessidade da ação direta para a libertação animal, mesmo quando o resto da nação estava obcecada com a Al Qaeda; a mobilização histórica em Little Rock aconteceu apenas um mês e meio após os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono. Independente do que aconteceu em Nova York ou no Afeganistão, eles enfatizaram que lá, naquele exato momento, haviam animais sofrendo, que poderiam ser poupados, caso as pessoas tomassem umas poucas atitudes concretas. Se organizadores de outros círculos fossem capazes de manter esse foco e urgência, a história poderia ter tomado outros rumos no começo desta década.

É possível também, que com outras formas de organização estando em baixa, a SHAC tenha ganho mais participantes do que em um cenário onde outras campanhas de ação direta tivessem mantido seu ritmo. Em contraste com as massivas ações simbólicas do movimento anti guerra, a campanha SHAC era um caldeirão de experimentações, onde novas táticas eram constantemente testadas. Para entusiastas da ação direta preocupados em maximizar esforços – ou apenas cansados de serem tratados como mais um número na estimativa de participantes da multidão, isso deve ter sido sedutor.

Seja qual for o motivo, a SHAC foi capaz de manter seu fôlego até que a repressão federal finalmente começou a ser um peso. Diferente de muitas campanhas, que desapareceram por atrito ou cooptação, foi necessário todo o maquinário do estado para conter seu avanço.

Repressão

Todas as conquistas da SHAC vieram com um preço. Quanto mais empresas abandonavam seus negócios com a HLS, mais a campanha chamava atenção das agências de repressão e de think tanks da direita. Os organizadores da SHAC, no geral, não eram tipos facilmente intimidáveis; era comum que quem participasse da campanha fizesse piadas sobre todos as acusações haviam acumulado e quão pouco isso importava, pois se fossem processados, não teriam dinheiro algum para ser confiscado.

Os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido elevaram o risco constantemente ao longo dos anos, botando ativistas sob vigilância, atingindo-os com processos, impedindo suas tentativas de levantarem fundos, intimidando organizações como o PETA a não se comunicar com eles, passando novas leis contra manifestações em bairros residenciais, e derrubando seus websites. Nos EUA, isso culminou no julgamento dos chamados “Sete da SHAC”: seis organizadores e a própria organização SHAC USA. Em 26 de Maio de 2004, Lauren Gazzola, Jake Conroy, Josh Harper, Kevin Kjonaas, Andrew Stepanian, e Darius Fullmer foram acusados de vários crimes federais, por seus supostos papéis na campanha. Times de agentes do FBI, com armaduras de combate, invadiram as casas dos acusados nas primeiras horas da manhã, apontando armas e ameaçando a eles e seus animais de estimação, algemando seus familiares. Segundo os documentos do FBI, a investigação que levou as prisões, foi a maior de 2003; as gravações das ligações interceptadas superavam em 5 para 1, o volume do segundo caso mais extenso.

Os acusados foram todos indiciados por violar o Animal Enterprise Protection Act, uma lei controversa que pretendia punir qualquer um que impedisse uma empresa de lucrar com a exploração animal; alguns foram acusados de violar direitos de privacidade e outras contravenções. Os acusados não foram condenados de participar pessoalmente de nenhuma atividade de ameaça; o governo baseou seu caso na ideia que eles deveriam ser responsabilizados por todas as ações ilegais que aconteceram para avançar a campanha SHAC, independente de seu envolvimento. Eles foram julgados culpados em 2 de Março de 2006, sentenciados a prisão com penas variando de um à seis anos, e foram obrigados a pagar quantias absurdas de dinheiro a HLS.

O julgamento dos 7 da SHAC nitidamente pretendia criar um precedente para ser usado contra quem organizasse campanhas públicas que envolvessem ações ilegais; sua repercussão foi sentida até mesmo na Inglaterra. Em 2005, o governo britânico passou o “Serious Organized Crimeand Police Act” criado especialmente pra proteger empresas que pesquisam em animais. Em 1 de Maio de 2007, após uma série de buscas envolvendo 700 policiais na Inglaterra, Holanda e Bélgica, 32 pessoas ligadas a SHAC foram presas, incluindo Heather Nicholson e Greg and Natasha Avery, alguns dos fundadores da SHAC no Reino Unido. Em Janeiro de 2009, sete deles foram sentenciados a prisão, com penas variando de quatro a onze anos de prisão.

Primeira declaração oficial da organização anarquista político-militar do leste do curdistão (Rojhelat)

Publicado originalmente em Anarchism ERA.

“A Organização político-militar Anarquista do Leste do Curdistão (Rojhelat) anuncia oficialmente sua existência hoje, 18 de Novembro de 2022. Nós somos uma organização anarquista ativa no leste do Curdistão e nosso objetivo é criar uma revolução social através da luta nas ruas, quebrando a hegemonia e o monopólio do uso de violência do governo fascista e teocrático do Irã. Essa revolução pertence a classe trabalhadora, as mulheres, pessoas oprimidas e minorias do que é hoje a geografia do chamado Irã.

A resposta que damos é uma bala. Essa conclusão não é apenas uma questão prática, mas também um entendimento de nossa identidade, filosofia e políticas. Somos parte do mesmo movimento que ergueu a bandeira do Exército Negro da Ucrânia, que lutou na Guerra Civil Espanhola, e fez da América Latina um inferno para os imperialistas, o mesmo movimento que nos anos 70, 80 e 90 transformou a Europa em um campo de batalha contra os capitalistas….

Hoje somos nós que nos levantamos pelos oprimidos e iremos transformar o Curdistão no cemitério dos fascistas. Em nossa primeira ação…. Fechamos Sanandaj-Mariwan e Sanandaj- Saqez e atacamos os mercenários do governo seu caminhões transportando bens expropriados. Esse é o começo do caminho, dias melhores virão. Essa declaração pertence ao setor político-social da organização e o setor militar da Organização Anarquista do Leste do Curdistão (Rojhelat) irá anunciar sua existência em breve, em outra declaração para todas as pessoas de luta.”

Alemanha – O caso de Johannes Domhover, ou, Por que jamais devemos tolerar abusadores entre nós

Esse é Johannes Domhover, militante antifascista, notório predador sexual, denunciado em inúmeras ocasiões. Permaneceu circulando neste meio, até ser detido pela polícia. Agora, dentro do programa de proteção a testemunha ele é a principal testemunha (cagueta) em um caso montado pelo estado alemão na tentativa de perseguir e desmobilizar inúmeras organizações. No dia 15 de Juho, policiais conduziram buscas na casa de dois de seus antigos companheiros, além de deter ao menos uma pessoa para recolhimento de material de DNA.

No Brasil, não nos faltam casos de abusadores caminhando livres nos meios radicais, normalmente acolhidos e protegidos por outros homens, mas, como não tenho advogados: Que o caso europeu sirva para repensarmos nossas posturas, dentro das organizações e coletivos que compomos.

Nossas companheiras estão exaustas e furiosas, e com motivos de sobra. Não é de hoje que apontam que não se pode confiar em pessoas que tenham condutas graves como abusadores. Essas pessoas demonstram estar em um estado mental incompatível com o da construção social, são um risco para quem os cerca, e também para as organizações que compõem. Além do irreparável terror que causam em suas vítimas, toda violência causada por abusadores pode e eventualmente será usada pelas forças policias.

Existem suspeitas de que Domhover tenha começado a colaborar com a polícia antes mesmo de ser preso. E militantes locais tem evidências o suficiente para acreditarem que os fascistas da região tem acesso livre as centenas de páginas do processo que ele tem ajudado a montar, revelando dados sensíveis que podem comprometer a segurança de anarquistas e antifascistas de toda Alemanha.

Proteger um abusador, seja por amizade, seja pela suposta importância da pessoa para com o coletivo, é ser cúmplice da opressão patriarcal, é um convite para que outras formas mais institucionalizadas de repressão contra revolucionária venham nos assombrar.

Nas palavras das companheiras da Soli Antifa, uma organização implicada nas denúncias;

“Podemos assumir que Domhöver oferecerá todas as informações que a polícia quiser, sejam elas verdadeiras, exageradas ou completamente fictícias.

O fato de um estuprador ser também, sempre um traidor político, deve estar nítido para todos. Não é a exposição e as denúncias que fazem um estuprador trair os seus companheiros. Elas apenas trazem à tona sua falta de convicção política e seu caráter imundo.”

PELA AUTODEFESA EM TODOS OS NÍVEIS, CONTRA OS AGENTES DO PATRIARCADO

fonte: https://www.soli-antifa-ost.org

“Mobilizando terror, barrando autonomia: redes de infraestrutura nas fronteiras indígenas do Chile”

Publicado originalmente em Global Media, em 22 de Outubro de 2019. Josefina Buschmann é pesquisadora e cineasta, explora as relações entre tecnologia, sociedade e meio ambiente. Seus estudos de sociologia, mídia e cinema sustentam suas pesquisas  colaborativas. Seus projetos recentes incluem o estudo do policiamento preditivo, vigilância por drones, e investigação de bancos de dados de inteligências artificiais. Ela é parte do coletivo de cinema chileno MAFI – Filmic Map of a Country.

Mobilizando o terror, contendo a autonomia: redes de infraestrutura nas fronteiras indígenas no Chile”

por Josefina Buschmann

Em Outubro de 2017, imagens de antenas de telefonia, e mensagens de texto do WhatsApp e Telegram, áudios de conversas, e vídeos de vigilância aérea surgiram nas coberturas de jornais em horário nobre no Chile, mostrando a “visão de dentro” de uma operação da inteligência policial (operación hurracán) [1] criada para vigiar e desmobilizar uma suposta organização terrorista ativa no sul do país. Vários dos oito suspeitos detidos eram importantes líderes de comunidades Mapuche. Essas comunidades se mobilizaram para retomar sua autonomia e terras [2] atualmente ocupadas por empresas agro-florestais e historicamente ocupadas durante a invasão militar do estado chileno e a colonização por colonos europeus no fim do século dezenove [3]. Após sete meses em custódia, sob acusações de associação terrorista ilícita (asociación ilícita terrorrista), os suspeitos foram liberados. A evidência – primariamente baseada em mensagens de Telegram “interceptadas” – era falsa. A operação era uma farsa [4].

Figura 01 – Screenshot do noticiário T13, de cima para baixo: vista aérea da ação policial e uma cerimônia Mapuche, antena telefônica da região, e a recriação de (falsas) mensagens no Telegram. (T13, 2017). Disponíveis em https://www.t13.cl/videos/nacional/video-detalles-operacion-huracan

Apesar da natureza falsa da operação, sua transmissão televisiva revelou o papel que as redes de infraestrutura operam na interdição da autonomia das comunidades Mapuche quando suas práticas não estão alinhadas com o limitado reconhecimento multicultural das políticas neoliberais do estado chileno [5]. Distribuídos entre a terra e o espaço, as redes de infraestrutura permitem processos de mediação [6] que são essenciais para sustentar as operações policiais tais como a captação de informação de “inteligência” por interceptação de conversas por telefone, raqueamento de perfis em mídias sociais, e detecção remota dos terrenos, e as práticas cotidianas envolvidas. Além das capacidades tecnológicas atuais dessas infraestruturas, foram as narrativas ao redor de suas capacidades técnicas, sua aura de neutralidade combinada com a opacidade desses sistemas, que deram conta de legitimar as falsas evidências e manter os líderes Mapuche encarcerados. Mais que evidência, essa Mídia de “inteligência” trabalhou como força afetiva. A polícia intencionalmente enviou para canais de notícias chilenas uma visão “de dentro” da operação assim eles poderiam pôr no ar, e criar uma atmosfera pública inflamada. As operações de notícias na mídia foram tão importantes quanto as “evidências” em si. Através de suas sequências cuidadosamente editadas, canais jornalísticos autenticaram as falsas evidências, e colocaram os Mapuche como alvos legítimos da polícia. Tecnologias de telecomunicação trabalharam como meios de fraude enquanto se posicionavam como ferramentas tecnológicas neutras, tanto na cobertura jornalística nacional quanto no sistema judicial. A farsa pôde se sustentar apenas no contexto de baixa alfabetização digital e opacidade de informações sobre o estado de vigilância. Nas palavras do advogado de defesa de um dos Mapuche acusados: “os juízes e promotores, que estavam chefiando a investigação, deram crédito extra às novas tecnologias, como se fossem ótimas formas de determinar qualquer coisa. E abusando da nossa ignorância em como essas tecnologias funcionam, eles inferiram algo e então, após interiorizarem e analisarem o relatório e o conteúdo da tecnologia, você percebe que a tecnologia não diz muito e o resto é mera especulação” [7].

Como parte da minha tese de doutorado [8], eu examinei o papel central dos processos de mediação têm tanto em produzir imaginários dos Mapuche como “criminosos” e “terroristas”, quanto em apoiar operações policiais especiais que miram, percebem e incriminam pessoas indígenas no contexto de suas mobilizações para retomada de suas terras e autonomia. Essas operações também envolvem uma intersecção com passados coloniais [9], continuidades ditatoriais [10], extrativismo neoliberal do presente [11] e práticas e discursos de segurança global [12]. Embasada em teorias de mídia e estudos de governabilidade, eu apresento o termo atmosferas operacionais (op-atmos) como uma maneira de pensar, levando em conta a composição do aparato do estado de segurança e operações na intersecção vertical (aérea, orbital, e eletromagnética), algorítmica e campos de ações afetivas [12]. Op-atmos são emaranhados de sentimentos, imaginários, e práticas discursivas; tecnologias e técnicas; economias e histórias locais e transnacionais; que formam as logísticas de percepção do estado [13] que são contingentes, parciais e calcadas em processos frágeis de trabalho intensivo, através dos quais passam a existir.

Figura 02 – Diagrama das Operações Atmosféricas. Alguns dos ícones usados foram criados por Gregor Cresner, Datacrafted, Ben Devis, Alvaro Cabrera, Nick Bluth, Abdul Karim, H Alberto Gongora, Viral Faisalovers, Ahmad, Madem Arafat Uddin, Symbolon, Oleksander Panasovskyi, Kid Mountain, glyph faisalovers, Juan Pablo Bravo, ProSymbols, e Jaime Yeo. Disponíveis em The Noun Project (diagrama pela autora, 2019)

Entre Junho de 2018 e Abril de 2019, eu conduzi entrevistas com oficiais da polícia, advogados de defesa Mapuche, ativistas locais, antropologistas, figuras políticas, e especialistas digitais; e visitei três famílias Mapuche que estavam sob vigilância, com quem nós contra-mapeamos os eventos policiais em suas áreas. Também analisei publicações na imprensa, documentos legais, processos judiciais, e investigações do congresso; e examinei artefatos técnicos e operações algorítmicas empregadas pela polícia chilena. Ao longo desse processo de pesquisa, dois objetivos específicos se sobressaíram. Primeiro, a necessidade para uma avaliação pública aberta sobre os sistemas técnicos que formam op-atmos, suas materialidades, capacidades e limitações, para que se possa desmistificar essas tecnologias e sua opacidade. Um dos métodos que empreguei foi o desenvolvimento de visualidades críticas, introduzindo fotos e diagramas com a informação coletada. O segundo propósito foi analisar como esses sistemas são postos para funcionar inseridos em culturas específicas, levando em conta as características diferenciais que elas expressam conforme são cruzadas por classe, raça, gênero e etnicidade. Eu estava particularmente interessada em ir além das práticas de percepção para compreender as práticas de pré-visualização [14] que modal o que é percebido e define quem é identificado como suspeito ou terrorista, quando e onde, como resultado, quem é posto na mira, controlado e mesmo assassinado.

Figura 03 – Diagrama dos sistemas de detecção remota aérea e forças de segurança cidadãs no Chile.

Municipalidades em amarelo, Carabineros (polícia) em verde PDI (investigadores da polícia) em azul, e Forças Militares em vermelho. Falta neste diagrama o satélite Fasat Charlie, orbitando a terra a 620km (baixa órbita terrestre), acumulando imagens multi espectrais de alta resolução. A escala não é proporcional (Diagrama da autora, 2019)

Foquei em especial na análise de sistemas aéreos dado sua presença crescente nos céus locais e seu papel chave no desenvolvimento das atmosferas operacionais. Como aviões espiões, helicópteros e drones com câmeras multi espectrais que sobrevoam sobre terras Mapuche, eles não geram apenas detecções remotas e guiam operações em solo; também produzem terror do [15] e no ar: em seus voos eles provocam medo e tensão nas populações abaixo, e as imagens aéreas gravadas são então transmitidas para dar forma ao medo público. Nesse contexto, a gravação de vigilância aérea de uma cerimônia Mapuche (Figura 01) pode se tornar a imagem de um grupo terrorista; e um vídeo noturno capturado em infravermelho mostrando a assinatura de calor anônima de corpos na floresta pode ser apresentada como Mapuches terroristas responsáveis por incêndios criminosos(Figura 04).

Figura 04 – Imagem térmica de um Flir Star Safire, câmera multi espectro instalada em um avião espião Beechcraft dos Carabineros, seguindo dos alvos (assinaturas de calor) supostamente “suspeitos” de incêndios terroristas em Araucanía, como parte da operacion huracán. Screenshot retirado de matéria sobre a força aérea dos carabineros (24 Horas, 2017)

Essa re-mediação vertical de raça [16] produz novas visualizações do “outro indígena”, que são definidas não pela cor da pele ou aparência étnica mas pela classificação do território e das populações que habitam comunidades Mapuches “radicais”. Essas fronteiras Mapuches são transformadas em espaços de exceção [17] onde se aplicam técnicas e leis especiais, uma condição que continuamente expõe seus habitantes à morte conforme seus corpos são transformados em alvos visíveis. Foi isso que aconteceu em uma tarde de Novembro quando um sargento em um helicoptero – cuja visão parcial o permitia apenas distinguir uma humano de um animal – erroneamente identifcou um suspeito de roubo e levou ao assassinato de Camilo Catrillanca, uma jovem liderança Mapuche.


Figura 5 Screenshot de uma câmera GoPro do sargento Héctor Vásquezno helicoptero que levou ao assassinato de Camilo Catrillanca.  

NOTAS

1  See T13 “Los detalles de la Operación Huracán”  https://www.t13.cl/videos/nacional/video-detalles-operacion-huracan; and 24 Horas “Así fue la Operación Huracán por dentro”  https://www.24horas.cl/nacional/asi-fue-la-operacion-huracan-por-dentro–2514600

2  Lands are particularly significant for the Mapuche, a name that literally means people (che) of or from the land (mapu), for whom “land is actively involved in the making of selves” (Di Giminiani 2016, 888), and there is a profound connection with the place of origin in the creation of selfhood. Contemporary claim for their lands is not only related to this particular ontology – this way of being in the world marked by the connection to their ancestral land -, but also to particular social structures, and a political system of governance, along with a knowing in and from the land, a  kimün  (knowledge). 

3  This historical process is known as “Pacificación de la Araucanía” (Pacification of Araucanía) or, more precisely, the military occupation of Araucanía. 

4  See Nicolás Sepúlveda and Mónica González 2018 “Operación Huracán”: testimonios y confesiones confirman que fue un montaje” Ciper Chile  https://ciperchile.cl/2018/03/13/operacion-huracan-testimonios-y-confesiones-confirman-que-todo-fue-un-montaje/

5  See Hale, Charles R., and Rosamel Millamán. “Cultural Agency and Political Struggle in the Era of the Indio Permitido.” In  Cultural Agency in the Americas, 281–304. Durham and London: Duke University Press, 2006.

6  I understand  mediation  as conceptualized by Sarah Kember and Joanna Zylinska who changed the focus on media from a set of discrete artifacts such as images and screens to an understanding of the continuous processes of mediation, where people’s daily existence is defined by “being in, and becoming with, the technological world, our emergence and ways of intra-acting with it, as well as the acts and processes of temporality stabilizing the world into media, agents, relations, and networks” (xv) (Kember, Sarah, and Joanna Zylinska.  Life after New Media. Mediation as a Vital Process. Cambridge: MIT Press, 2012). 

7  Interview conducted in Temuco, Chile. July 2018.  

8  Buschmann, Josefina. “Operational Atmospheres: Mediating policing in the fight against crime and “rural terrorism” in Chile.” Master’s thesis, Massachusetts Institute of Technology, 2019.  

https://dspace.mit.edu/handle/1721.1/122342?show=full

9  Richards, Patricia. “Of Indians and Terrorists: How the State and Local Elites Construct the Mapuche in Neoliberal Multicultural Chile.”  Journal of Latin American Studies  42, no. 01 (February 2010): 59–90. 

10  Risør, Helene, and Daniela Jacob. “‘Interculturalism as Treason’: Policing, Securitization, and Neoliberal State Formation in Southern Chile.”  Latin American and Caribbean Ethnic Studies  13, no. 3 (September 2, 2018): 237–58.

11  Richards, Patricia.  Race and the Chilean Miracle: Neoliberalism, Democracy, and Indigenous Rights. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 2013. 

12  See Lisa Parks’ notion of  vertical mediation  and  cultural atmospherics; Peter Adey’s  security atmospheres; and Eyal Weizman’s  politics of verticality

13  Virilio, Paul.  War and Cinema: The Logistics of Perception. New York: Verso, 2009.

14  Browne, Simone.  Dark Matters: On the Surveillance of Blackness. Durham and London: Duke University Press, 2015.

15  Sloterdijk, Peter.  Terror from the Air. Cambridge: MIT Press, 2009.

16  Parks, Lisa. “Vertical Mediation and the U.S. Drone War in the Horn of Africa.” In  Life in the Age of Drone Warfare. Durham and London: Duke University Press, 2017.

17  Agamben, Giorgio.  Homo Sacer: Sovereign Power and Bare Life. Bloomington: Stanford University Press, 1998. 

18  Basadre, Pablo. 2019. “Muerte de Catrillanca: la versión falsa de los tripulantes del helicóptero.”  CIPER, January 17, 2019.  https://ciperchile.cl/2019/01/17/muerte-de-catrillanca-la-version-falsa-de-los-tripulantes-del-helicoptero/

19  See T13. 2018. “Gobierno Lamenta Muerte de Comunero Camilo Catrillanca y Anuncia Fiscal Exclusivo.” T13.  https://www.youtube.com/watch?time_continue=1264&v=4Mw9CZH-rqU, and Cámara de Diputados Televisión Chile. 2018.  Comisiones Unidas DD.HH. y  Seguridad Ciudadana 19/11/2018https://www.youtube.com/watch?v=j7otI-ySK5g

20    Mbembé, Achille. “Necropolitics.”  Public Culture  15, no. 1 (2003): 11–40.

21  Mansilla Quiñones, Pablo Arturo, and Miguel Melin Pehuen. “A Struggle for Territory, a Struggle Against Borders.”  NACLA Report on the Americas  51, no. 1 (March 29, 2019): 41–48. 

 

 

Notas sobre Treinamento em Autodefesa Antifascista

Apontamentos em Treinamento em Autodefesa Antifascista

10 Lições da Experiência Antifascista Russa

por Cloudbuster, 14 de Novembro, 2017 [publicado originalmente em CrimeThinc

 

Durante a presidência de Trump testemunhamos uma explosão em atividades de organização fascista e resistência antifascista na América do Norte. Estratégias e táticas originalmente desenvolvidas no contexto europeu espalharam-se pelos EUA. Enquanto isso, na Rússia, tanto a violência nazi quanto atividades antifascistas diminuíram a uma fração do que eram no ápice dos conflitos, entre 2002-2011. No texto que segue, um participante do movimento antifascista compartilha suas experiências sobre como se preparar para confrontos antifascistas. 

Ao publicarmos essa perspectiva, desejamos facilitar o diálogo entre os que lutam contra o fascismo, sob diferentes circunstâncias ao redor do mundo. Acreditamos que é crucial para antifascistas aprenderam através das histórias e experiências de seus pares. Se o modelo de ação antifascista russo chegou aos seus limites por conta de fatores internos, como descrito a baixo, nós devemos tomar cuidado para não reproduzir estes elementos em nossa própria organização. Do mesmo modo, nós encorajamos os leitores a ter em mente as diferenças legais, políticas e sociais entre o contextos russo e estadonidense; a menos que a outra opção fosse ainda pior, você não conseguirá ajudar ninguém caso termine sendo preso acusado de posse de armas, . No longo prazo, o fascismo não será vencido no braço ou por coragem individual, mas através da construção de uma oposição coletiva, movimentos participativos que acessem os problemas sociais e econômicos sobre os quais os fascistas capitalizam para recrutar para suas organizações.

0. Introdução do Autor

Infelizmente, esse texto não servirá para entramos nas minúcias da história do antifascismo russo. Esse texto ainda há de ser escrito.

Existem vários motivos pelos quais tanto o terrorismo fascista e a organização antifascista têm diminuído drasticamente na Rússia durante a última década. Primeiramente, a sociedade russa está menos disfuncional. Durante a crise econômica de 1990, comunidades inteiras foram devastadas pelo crime e as drogas; pessoas nascidas em 1980 estiveram entre as mais afetadas. Quando essa geração atingiu seus vinte anos, na década seguinte, estavam propensos à violência e comportamentos caóticos. Quase todos os terroristas nazis nasceram em 1980. Desde então, a maioria dos que continuam vivos e em liberdade, de alguma maneira, têm levado vidas mais estáveis.

A polícia também tem levado fascistas e antifascistas mais a sério. Uma década atrás, era possível subornar policiais locais para sair de alguma confusão; algumas vezes você podia subornar até agentes da FSB (a sucessora da KGB). Atualmente, policiais locais contatam o Centro de Resposta Contra o Extremismo (E-Center) ou a FSB, e eles já não aceitam propina. O governo também tem reprimido fortemente a subcultura dos hoolingans no futebol, que costumava ser a maior subcultura jovem da Rússia.

Um terceiro motivo é a mudança de estratégia dos fascistas. Fascistas russos tem oscilado entre organizar amplos movimentos de massa e terrorismo clandestino. Em 1990, o partido de Barkashov, o Unidade nacional Russa, agitou milhares de apoiadores; no fim dos anos 2000, não sobrava nada dessa influência e os fascistas estavam se agrupando em células terroristas clandestinas. A mais proeminente dessas foi a Organização Combativa dos Russos Nacionalistas (BORN), que se especializava em assassinatos de figuras importantes, incluindo o antifascistas Ivan Khutorskoy, Fyodor Filatov, Ilya Dzhaparidze, Stanislav Markelov e Anastasia Baburova.

Murais em homenagem aos antifascistas mortos por fascistas

Todos os membros conhecidos da BORN estão mortos ou presos desde 2013; Durante o ciclo de protestos contra a fraude eleitoral de 2011-2012 e a ascensão de Alexei Navalny através de uma plataforma anti corrupção e anti imigração, fascistas redescobriram sua esperança perdida de construir um movimento de massas e se juntaram aos liberais e esquerdistas em protestos massivos – não sem ocasionais brigas entre fascistas e antifascistas. Eventualmente surgiram novos grupos terroristas, como o grupo ao redor de Pavel Vojtov, que assassinou ao menos 15 moradores de rua na área de Moscou entre 2014 e 2015. Mas isso não é nada comparado a situação na década passada.

A última grande investida nazi contra antifascistas foi no verão de 2010, quando um grupo de nazis tentou atacar o show da banda Moscow Death Brigade, e acabou sendo dispersado por disparos de aviso de uma espingarda. A corrida armamentista chegou a sua conclusão lógica; tanto antifascistas quanto fascistas perderam seu interesse em atacar eventos de seus oponentes.

Após o colapso do movimento contra a fraude eleitoral, o movimento fascista estava em crise, da mesma forma que o resto da oposição. A guerra no Donbass (uma região no leste da Ucrânia, devastada por uma insurgência financiada pela Rússia) foi outro golpe devastador, que fez os nazis se desmobilizarem discutindo sobre que lado do conflito apoiar. Eventualmente, tanto nazis e antifascistas acabaram lutando nos dois lados do front. Mesmo anarquistas falharam em chegar a um consenso sobre a guerra no Donbass.

De certo modo, antifascistas russos saíram vitoriosos, já que o movimento sempre esteve organizado em proteger shows, não combater o racismo em toda sociedade russa. Já que os nazis não aparecem mais nos shows, sobrou pouco do antifascismo organizado.

Por conta de todos esses fatores, a violência racista diminuiu drasticamente na Rússia. De acordo com o centro de estatísticas SOVA, houveram 692 incidentes em 2007 e 93 em 2016 – uma diminuição de 86%. Os números verdadeiros podem ser ainda maiores, já que a velocidade da denúncia dos crimes acelera, quando os números diminuem.

Os motivos da ascensão e queda do fascismo e do antifascismo na Rússia são bastante localizados; provavelmente não existem muitas lições universais para serem aprendidas. De todo modo, nós podemos oferecer alguns apontamentos sobre a prática nas ruas.

As sugestões à seguir foram adquiridas através da experiência de todos esses anos na Rússia. O que apresentamos aqui é senso comum básico, mas julgando pelo que tenho lido na internet, algumas pessoas ainda se beneficiariam dessas sugestões.

Perceba que nesse texto, autodefesa também se refere a ataques preemptivos, já que não podemos esperar que a trégua com os fascistas durem para sempre.

1. Quando se trata de confronto físico, existe uma rígida hierarquia de ferramentas

Um porrete quase sempre vence mãos nuas. Uma lâmina quase sempre vence um porrete. Uma arma de fogo sempre vence uma lâmina.

Essa hierarquia de ferramentas é muito mais importante que qualquer diferença em tamanho e força: ela também acaba com a maioria das diferenças de habilidade. Com uma lâmina, você pode facilmente vencer um inimigo desarmado, mesmo que ele tenha duas vezes o seu tamanho. Leve isso em consideração se você for pequeno e fraco.

E saiba que…

2. Não existe uma prática de autodefesa universal

A prática correta de autodefesa depende completamente do contexto legal e cultural.

Por exemplo:

  • No Centro e Leste Europeu, conflitos geralmente envolvem mãos nuas, as vezes alguma arma de contusão. Apesar de eventualmente acontecer, na maioria desses países existe uma aversão cultural ao uso de facas como arma. Armas de fogo quase nunca são usadas, já que a posse é pesadamente regulada.
  • Na Grécia, mesmo a posse de facas pode levar a uma sentença pesada. Por isso, confrontos geralmente envolvem armas de contusão.
  • Na Finlândia, não é incomum que as pessoas andem com facas, e você precisa levar em conta a possibilidade de seu oponente estar carregando uma. Armas de fogo também são mais acessíveis lá, que em outras partes da Europa.
  • Nos EUA, as leis para armas de fogo são mais abertas. É preciso agir levando em consideração a possibilidade que seu oponente pode estar armado.
  • Na Rússia, a a questão cultural é fluida. De acordo com as tradições, conflitos devem ser acertados apenas com os punhos, e a legislação para armas de fogo é bastante restritiva. Mas desde a escalada no conflito de 2002 e 2011, trauma guns e facas substituíram os punhos. Espingardas criaram um equilíbrio através do medo e os confrontos cessaram quase totalmente. Por conta da pressão legal e cultural, esses ciclos se desenrolaram através de muitos anos.

A Antifa nasceu na Alemanha e se espalhou pelo Leste Europeu e Europa Central, mas a prática de lutar de mãos limpas não é aplicável em locais onde a estrutura cultural e legal não mantenha os confrontos dentro desses termos. Não existe motivo para treinar técnicas de autodefesa desarmada se seus oponente provavelmente carrega uma arma de contusão. Não existe motivo para treinar autodefesa com armas de contusão se seu oponente provavelmente carrega uma faca. Se é provável que seu oponente carregue uma arma de fogo, não existe motivo pra treinar autodefesa com facas.

Além da estrutura legal e cultural, os cenários também importam. Li um artigo sobre antifascistas organizando uma academia de power lifting nos EUA, para se prepararem para conflitos contra racistas e sexistas nas ruas e bares. Levantamento de peso é de bem pouco útil se seu objetivo for parar uma manifestação fascista. Se o cenário for sobre confrontar um racista/sexista/homofóbico aleatório na rua ou agir como segurança em um evento, aparentar ser grande talvez resolva o problema sem precisar de violência.

Isso nos leva ao nosso próximo ponto…

3. Entenda Suas Prioridades

Há menos que você seja jovem e tenha planos de se tornar um profissional na autodefesa, considere bem suas prioridades. Você não pode se preparar para todos os cenários; escolha apenas alguns. Mesmo que você não tenha que cuidar dos estudos, emprego ou da sua família agora, é bem provável que você tenha que cuidar dessas coisas nos próximos 10 anos, o tempo que levaria para você se tornar um expert universal.

Você tem uma escolha a ser feita. Se planeja encarar oponentes armados, treine autodefesa de mãos limpas. Se espera encontrar oponentes armados, descubra como sobreviver nesse cenário. Se sua expectativa é de enfrentar assediadores aleatórios ou babacas bêbados em eventos, levantamento de peso deve ajudar. É bem provável que você não vai conseguir se preparar para todos esses cenários. Concentre-se no que tem mais chance de te manter vivo e saudável.

Portanto…

4. Não treine MMA

Caso não tenha planos de trabalhar como segurança, não se concentre em lutas que focam em apenas um oponente. Isso vale pra qualquer luta que leve o oponente ao solo, incluindo wrestling e Jiu-Jitsu Brasileiro.

Se precisar lutar com vários oponentes e for ao solo com um deles, alguém vai chutar sua cabeça ou te esfaquear pelas costas. Se quer continuar vivo, você vai evitar ao máximo ir ao solo, em qualquer situação de conflito. Você deve aprender uma ou outra coisa sobre imobilizações, mas passar anos estudando a complexidade dessa arte não faz sentido se seu objetivo é sobreviver nas ruas.

Sempre me sinto triste quando leio sobre antifascistas treinando MMA. Obviamente, é uma forma de arte muito bonita. Mesmo assim, ela tem pouca relação com o tipo de autodefesa que você pode precisar em confrontos políticos. Sim, torneios antifascistas de MMA tem sido organizados nos territórios da antiga União Soviética desde 2009, mas isso acontece por uma questão cultural que não reflete a realidade das ruas. Puxar uma faca é considerado um ato repreensível; é por isso que as pessoas seguem treinando MMA mesmo quando todo mundo anda com facas ou uma trauma gun [1].

Evite qualquer técnica centenária, chinesa ou japonesa exceto se você tem como objetivo estuda-la pro resto a vida. Essas artes foram desenvolvidas para os propósitos de uma casta especializada de tempos feudais; elas exigem anos de treino dedicado para serem dominadas e envolvem armas nada práticas e ultrapassadas. Se você nasceu na aristocracia, pode se dar ao luxo de se tornar um samurai. Em outros cenários, é pouco provável.

Só você sabe o que fazer da sua vida. Se especializar em manejar o Kwan Dao ou uma Katana pode ser tão fascinante quanto montar miniaturas de estações de trem. Mas nas ruas, as três opções são igualmente inúteis, exceto que você carregue sua Gwan Dao ou Katana pra todo lugar que for.

Se você tem um emprego ou outra tarefa que exige tempo, se não treina artes marciais desde a infância, não tem um talento nato, concentre-se em aprender o essencial e as habilidades mais básicas. Se planeja enfrentar oponentes em combate desarmado, a primeira coisa é aprender como dar socos e chutes. Muay Thai é uma boa opção. Se você vive em uma área em que é mais propenso a se ver numa situação envolvendo armas de contusão e facas, eu recomendo artes marciais filipinas como Kali e Escrima – e nada mais. Se você vive em uma área onde todos carregam uma arma, arranje uma e aprenda como atirar.

E também…

Um vídeo mostrando o primeiro torneio de MMA, No Surrender, em Moscou, em Outubro de 2009.  O chefe de arbitragem, Ivan Khutorskoy, foi assassinado pela BORN um mês depois.

 

5. Esteja preparado para usar sua arma

Mesmo em países onde as normas culturais ou leis contra armas são restritivas, elas permanecem sendo usadas. Paus e pedras estão em todo canto; e se seu oponente vai procurar por eles, se estiver levando a pior. Não existe país em que você deve se concentrar apenas em combate desarmado.

Mesmo que você se prepare apenas para combate desarmado, pense como proteger seus punhos. Você não vai andar pra todo lado com luvas de boxe – e nem deve usar elas em uma briga séria. Mas se você quebrar o pulso no primeiro soco, você tá ferrado. Pense nisso. Sempre esteja preparado pra proteger seus punhos.

E quando treina com armas…

6. Não invista muito tempo estudando técnicas de desarme

O mais provável é que você nunca tenha a oportunidade de usa-las. Tentar desarmar uma pessoa armada com qualquer tipo de arma é sempre extremamente perigoso. Você deveria tentar apenas se seu oponente for estiver nitidamente bêbado ou for inexperiente e não haja nenhum outro oponente ao redor. Exceto por esses cenários, sua melhor opção é usar sua própria arma. Se você não tem uma arma e não existe uma rota de fuga… Você provavelmente tá ferrado.

Por isso, além de treinar…

7. Esteja preparado para usar o que aprendeu

Não faz sentido treinar artes marciais que usam armas se você não anda com sua arma. Treinar sua mira e não andar com a sua arma, torna ela inútil. Uma vez que tenha aprendido a técnica, você deveria portar ela sempre que você suspeitar que pode entrar em um confronto – e as vezes também em lugares onde não suspeita. Se por algum motivo isso não for possível, esteja preparado para entrar em um conflito sem sua arma.

8. E sobre sair correndo ?

Gurus da autodefesa dizem que : “Primeiramente, você deveria tentar escapar”. Geralmente é um bom conselho – mas nem sempre. Primeiro, é sempre mais fácil pegar alguém do que correr, então, só faz sentido se você acredita que é mais rápido e conhece bem a rota de fuga. Segundo, pode ser que você não seja o único com a vida e a integridade física em jogo. E se você conseguir escapar, mas isso significar deixar seu camarada para enfrentar sozinho seus adversários ?

Certamente é uma boa ideia se manter em boa forma e treinar cardio. Quase todo confronto de rua exige fôlego e ao menos um pouco de corrida. Mas você deveria estar preparado para situações em que correr não é uma opção.

Mesmo gurus podem dar maus conselhos, por isso…

9. Sempre treine com profissionais

Ou ao menos estude com instrutores que tenham bastante experiência. É divertido passar um tempo praticando com amigos de forma espontânea, mas para de fato aprender alguma coisa e desenvolver suas habilidades é preciso fazer parte de um grupo comprometido.

Sim, muitos treinadores e pessoas em academias são uns cuzões. Tanto instrutores quanto alunos podem ser hostis, metidos, sexistas, ou insensíveis de algum modo.Ainda assim, as pessoas que você vai encarar em brigas de rua também não serão nada simpáticas.

Não estou dizendo que você deveria pagar para participar de uma aula que seja insuportável. Se as outras pessoas são tão babacas que você não possa se concentrar, então não vale o dinheiro que você gasta. Mas qualquer cidade grande tem um bom número de opções; Se um instrutor ou academia não te agrada, vá atrás de outra. Se não houver outra opção, treinar sozinho ou com amigos.

Por mais que seja melhor treinar com profissionais, um instrutor profissional provavelmente não é a melhor fonte para buscar conselhos. Se você perguntar para o seu treinador como e quanto você deveria treinar, ela ou ele provavelmente vai te dizer que você deveria treinar seis dias por semana, e no sétimo ir competir. Talvez você só queira treinar para ficar seguro nas ruas, ou ao menos sair vivo delas. Nem todo antifascista precisa ser um instrutor ou lutador profissional. Se a luta que você escolheu só vai vir a ser útil depois de você praticar três vezes por semana durante cinco anos, reveja sua escolha. Uma das escolhas mais idiotas que fiz na vida foi treinar vários estilos antiquíssimos de kung-fu por anos. Nunca tive tempo ou habilidade o suficiente para tirar nada de útil.

E por último…

10. Sempre pratique sparring

Apenas sparring pode te preparar para confrontos de verdade. Você pode praticar com regras e cenários diferentes, como uma pessoa contra várias, ou dividir várias pessoas em dois grupos diferentes. Treine como sacar rapidamente sua arma. Faça isso em todo treino, mesmo que seja um iniciante. Se seu instrutor não entende a importância do sparring, mude de instrutor.

Não pegue muito pesado, você não quer ficar com nenhuma sequela permanente. Mas também não pegue muito leve.

— Cloudbuster

Eu gostaria de agradecer a Jew Bear, xAx, e aos agentes da Crimethinc. pelos valiosos comentários.

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Um exemplo de briga ao estilo hooligan. Em 2010, Arsenal Kiev, conhecidos por seus torcedores antifascistas, jogou contra o Karpaty Lviv, que é conhecida por sua torcida fascista. Muitos antifascistas da Rússia saíram em apoio ao Arsenal. Os torcefores do Arsenal foram capazes de defender seu território, mesmo tendo seus númerdos superados por mais de 2 pra 1.

 

[1] “Trauma guns” são um tipo de arma não letal criado e popularizado na Rússia, que atualmente também é parte dos arsenais de policias nos EUA

CONTRA a Quarta e Quinta Revolução Industrial

O texto à seguir, é de autoria do coletivo 325, até onde pude verificar, as influências ideológicas do grupo estão voltadas ao individualismo e ao insurrecionalismo, apesar de considerar essas práticas-ideias como válidas e celebrar a existência dessas pessoas e grupos, não temos (e não precisamos ter) grandes acordos com relação a como projetamos nossa luta na sociedade.

Dito isso, destaco dois pontos principais desse texto, como extremamente instigantes. Primeiro, a análise das Revoluções Industriais como processos de expropriação contra a classe trabalhadora e o papel desses eventos na desassociação do ser humano, com seu meio ambiente, meio social e atualmente, um processo de desligamento do indivíduo com seu próprio corpo.

O segundo ponto, é a capacidade de projeção de um futuro próximo, levando em conta tecnologias emergentes e tendências econômicas políticas. Como pessoas que projetam um mundo diferente, é vital que tenhamos um bom entendimento de pra onde os ventos apontam.

Publicado originalmente em inglês e espanhol em enoughisenough14.

CONTRA A Quarta e Quinta Revolução Industrial

“Uma característica da quarta revolução industrial é que ela não muda o que fazemos, muda a nós mesmos.” Klaus Schwab, excutivo e fundador do Fórum Econômico Mundial, Fórum que instalou um Centro para a Quarta Revolução Industrial em São Francisco, nos Estados Unidos.

Uma revolução industrial é um evento político, social e econômico em que a elite se apodera do que é livre – terra, natureza, talentos, relações sociais, habilidades e sonhos – e os reembala, os transformando em agentes dentro dos mecanismos de lucro e poder. Para fazer isso, eles privam a maior parte da população de autonomia, autodeterminação, autossuficiência, autoestima, relacionamentos, e liberdade.

Nós tivemos três revoluções industriais nos últimos 250 anos. No momento estamos às vésperas da quarta e quinta revolução industrial. Todas essas revoluções vieram a ser fundamentalmente baseadas na extração e devastação industrial de nosso ecossistema.

A Primeira Revolução Industrial aconteceu entre 1760 e 1970 quando água e vapor foram usados para mecanizar a produção através da invenção do motor a vapor, que também teve o efeito da “globalização” ou do deslocamento através de ferrovias. A Primeira Revolução Industrial quebrou a relação das pessoas com a natureza, avançando a era das cidades. A Segunda Revolução aconteceu entre 1870 e 1914 e trouxe o poder da eletricidade para o Ocidente, juntamente ao aço, óleo e o motor por combustão, possibilitando a produção em massa e erradicando as pequenas indústrias de artesãs. A Terceira Revolução Industrial começou nos em 1980 quando eletrônicos e tecnologia da informação automatizaram a produção e passaram a descentralizar até que a ascensão da revolução da tecnologia digital eventualmente “democratizou” o computador pessoal e a internet, um evento que ajudou a agravar a já enfraquecida relação entre a humanidade ocidental e o mundo natural, e também entre si, conforme cidadãos se tornaram parte de uma comunidade global ao invés de uma comunidade local, que tem desaparecido rapidamente. A Terceira Revolução Industrial e a insipiente Quarta Revolução tem criado solidão sistemática, isolamento, proliferação de problemas mentais e uma maior dependência do sistema: quando relações humanas e redes familiares já não podem mais ser garantias da nossa sobrevivência, somos levados a crer que a dependência nas máquinas pode.

Essas sucessivas revoluções industriais consolidaram e aprofundaram essa ruptura, não apenas com o mundo natural para boa parte da população mundial, agora urbana e dependente dos mecanismos da cultura civilizada, mas também levou a um aumento no distanciamento ainda maior entre ricos e pobres.

O objetivo da Quarta Revolução Industrial (4RI) é a convergência das tecnologias físicas, biológicas e digitais sob o propósito de uma nova visão da humanidade e do planeta. 4RI, CyberPhysical ou Indústria 4.0 envolve conectividade em massa, inteligência artificial, robótica, acesso de conhecimento via internet, armazenamento, veículos autônomos, poder de processamento massivo via 5-G, impressão 3D, nanotecnologia, biotecnologia, genética, bio-printing (manufatura de células, órgãos e corpos), expansão do tempo de vida, realidade aumentada, ciência de materiais, armazenamento de energia, computação quântica, e Internet das coisas (IoT) como em prédios smart e cidades smart, blockchain e criptomoedas. Essas são tecnologias “disruptivas”, em sentido amplo: administração, finança, logística, sociedade, ontologia humana. Ela também é implementada através do apelo da 4RI para nossa “conveniência, conforto, harmonia e prazer”. É isso que significa um mundo de “tecnologias sem fricção”, um mundo tecnificado.

Nesse mundo novo, o Covid-19 deu a tecno-elite ótimas das oportunidades: Populações globais fisicamente isoladas umas das outras, em alguns países sendo permitido um abate tácito de humanos que até então eram um fardo para um sistema que não precisava deles. Nossa dependência total da tecnologia, para a comunicação, trabalho e entretenimento, o uso dessas tecnologias para instituir vigilância massiva, e experiências de medo e mortes em escala até então inimagináveis. Esse cenário também nos revelou algumas verdades: Apesar de dois séculos de “progresso”, tudo que as elites fizeram foi proteger seus próprios empreendimentos, sistemas públicos de assistência foram destruídos; e a humanidade tem sido “desconectada” da natureza tão completamente que de fato, nós não conseguimos sustentar a nós mesmos durante uma crise, sem o sistema e que as promessas da elite – sejam políticas, econômicas ou tecnológicas – jamais serão cumpridas.

Se a 4RI é a consolidação dos meios – as novas tecnologias em si – que as elites irão tentar usar para confrontar a instabilidade resultante da desigualdade de recursos, colapso climático e a ascensão da computação e do poder pós-industrial, então, a Quinta Revolução Industrial (5RI) começa no momento em que houver aceitação massiva dessas novas tecnologias que convergem com nossos corpos, ambientes e realidades em tal grau que a máquina-mundo será sempre presente, desde a nano escala até o ponto mais distantes que os humanos atingirem no espaço.

Esse é o motivo pelo qual se você fizer qualquer pesquisa básica sobre 5RI, vai encontrar apenas capitalistas usando green-washing sobre o dito “desenvolvimento sustentável” e baboseira pró-mercado sobre uma tecno-utopia que irá “melhorar a vida de todos”. Isso é por que os tecnocratas e as elites não querem que a verdadeira natureza desses desenvolvimentos tecnológicos seja conhecida até que seja tarde de mais para se fazer algo a respeito. Progresso tecnológico, nos foi dito, é “inevitável”. A 5RI irá nos levar a mudanças conceituais tão grandes com relação a como vemos nossos corpos, tecnologias e o “mundo natural” que muitas dessas definições passarão a ter limites menos nítidos. Para “relíquias humanas” como nós, que pensam em próteses apenas como a solução de deficiências, 4RI fornece a tecnologia, e através dos desenvolvimentos da mesma, logo os resultados da 4RI serão melhor que a do membro original. 5RI não é apenas sobre estender e refinar as incursões da 4RI, é sobre vender massivamente essas ideias, alinhando o público com essas tecnologias através de propagandas que apelem para os instintos humanos mais básicos. A 5RI é a aceitação de que os órgãos robóticos-cibernéticos são superiores ao orgânico, e o desejo pelo artificial em detrimento do caos orgânico.

Enquadrado entre uma nova realidade evolutiva de artificialização total, e inteligência artificial miniaturiza, intervindo em tudo ao alcance dos especialistas, o resultado da realidade da 4IR é uma visão de uma nova Terra e de uma nova “humanidade”. Uma “Humanidade +” que vive dentro de um planeta-prisão dependente de “energia verde”, regulada e sancionada por funcionários, cientistas e tecnocratas através de métodos como I.A., bio tecnologia e nanotecnologia. Se a 4RI é o desenvolvimento e convergência dessas novas tecnologias pós-industriais, então a 5RI surge de um grau acelerado de desenvolvimento e aceitação em massa desse mesmo complexo tecno-industrial. A 5RI é caracterizada pela velocidade exponencial sem precedentes (tempo-máquina) em oposição ao linear/não-linear (tempo humano) o que significa que mesmo os designers e engenheiros sociais desse admirável mundo novo admitem que não serão capazes de controlar o resultado dessas novas tecnologias. Isso tende em direção a criação de algo ainda mais horrível que a ficcional Skynet do Exterminador do Futuro. A Singularidade Tecnológica. Ray Kurzweil descreve em The Singularirty is Near que “é difícil pensar em qualquer problema que uma super inteligência não possa resolver ou ao menos nos ajudar a resolver. Doença, pobreza, destruição ambiental, sofrimentos desnecessários de todos os tipos: essas são coisas que uma super inteligência equipada com nano tecnologia será capaz de eliminar.” E completa, “Máquinas conseguem administrar recursos de uma maneira que humanos não conseguem.” Lendo essas declarações, é difícil de pensar em quaisquer problemas que não poderíamos resolver com nossa própria inteligência e através de meios mais simples, determinação, e uma mudança de perspectiva e de comportamento. De todo modo, é óbvio que humanos sempre foram bastante capazes de gerenciar recursos, a questão é que aqueles que detém e lucram com o status atual, através da força, negam o acesso amplo a esses materiais, e a maioria da população é conivente. Escolher não mudar a situação e não lutar contra o “futuro” é uma posição que maioria irá escolher.

Tanto é, que após um século de progresso tecnológico e promessas de erradicar a fome e a poluição, uns poucos são ricos além da compreensão enquanto as massas continuam lutando pelos recursos mais básicos; avanços médicos e mesmo remédios comuns ainda são escassos em muitos países. Para nos manterem quietos, eventualmente nos entregam bugigangas: internet, espertofones, apps, redes sociais, jogos de computador, live streams e podcasts, próteses e promessas de mais por vir. Mas os avanços reais não serão distribuídos de forma mais justa que a riqueza das revoluções industriais anteriores, e os avanços reais terão de ser resistidos por nós: a vigilância total em um mundo sem privacidade, exigências de controle mental absoluto, conformidade total através de condicionamento comportamental do cidadão e da “comunidade”, “moral cívica” e sistemas de benefício como a renda básica universal (mínima).

Se uma revolução industrial não consegue satisfazer suficientemente as necessidades da humanidade, para ser plenamente aceita, ela apaga essas necessidades ou se impõe através da força. No contexto da 4RI e da 5RI, as características que as máquinas atualmente não possuem – empatia, amor, intimidade, por exemplo – são danificadas no ser humano pelo próprio complexo tecno-industrial – do medo da intimidade e de relacionamentos em “tempo real” que resultam do uso das redes sociais, à falta de empatia que sabemos que é induzida por fármacos como paracetamol, venenos em nossa comida e no sistemas de água – então dirão que essa tecnologia de fato sacia nossas (agora modificadas) necessidades. Domesticados, escravos brutalizados de um sistema mecanizado de materialismo, ganância e egoísmo.

Isso é parte do domínio do mundo-máquina: discursos sobre reparar deficiências e curar doenças escondem a mecanização do corpo; falas sobre a extensão da vida significam que as elites reinarão para sempre. Enquanto os tecnopadres entoam cantos sobre libertação de nossos corpos orgânicos, a prisão biológica, através do upload de nossas consciências, conquistando imortalidade, e sendo capazes de considerar nossos corpos como meras “capas” a serem trocadas a qualquer momento que quisermos ou precisarmos, o que está acontecendo é que os corpos da maioria tem sido transformados em prisões por uns poucos que de fato se beneficiam dos avanços sobre extensão da vida e controle de doenças (sistemas públicos de saúde sem investimento, equipados com as tecnologias mais antigas e baratas, e para muitos, se quer esses sistemas estão disponíveis). Mas essas novas tecnologias transhumanistas não pretendem libertar a todos.

Apesar das mentiras dos futuristas a implementação dessastecnologias irão aumentar a distância entre os incluídos e excluídos. Os poderosos criarão cidadelas, que os afastarão mais que nunca, da fúria dos de baixo. Conforme o corpo se torna matéria bruta para um novo setor da biociência, em um mundo onde máquinas farão a maior parte do trabalho, e o corpo humano em si se tornará mais um repositório para o Capital, e, novas formas de exploração e indústria. De fato, isso já está acontecendo. Com a pesquisa de células de estamina, edição de genes, bio enhancers, novos produtos farmacêuticos, próteses, análise e mapeamento em massa de células e DNA. O Eu soberano e o privado entrarão em um novo reino de valoração, mercantilização, ajustamentos e divisão social sem fim, á serviço do Capital, da bio-vigilância, da vaidade e da desigualdade. Na 4RI, a sociedade de consumo vai por caminhos muito mais profundos e sombrios que a compra de objetos. O objetivo final da 4RI é nos “desconectar” de nossos corpos e do nosso entendimento de nós mesmo como parte da biosfera e do bio ritmo, assim eles também podem ser vistos como algo a ser comprado, melhorado e “consertado”, uma série de partes mecanisticas, substituíveis, que podem ser artificialmente produzidas á um certo preço, e promovidas como possuindo melhores qualidades que as bases orgânicas originais. Um ser artificial que, uma vez que tenha entrado no templo da tecnologia é para sempre dependente e sustentado por fármacos, cirurgias e tecno-psiquiatricas, “updates”, dispositivos e corporações.

O futuro tecnológico do corpo humano talvez não seja a morte (para os poucos que podem se dar ao luxo de pagar pela imortalidade), mas será a mortificação, a existência fria e faminta de uma existência escravizada.

 

Enquanto isso, a Terra continua morrendo e desenvolvimentos tecnológicos, longe de prover as soluções que propagandeiam, estão a destruíndo, em uma velocidade exponencial, famintos por materiais, eletricidade e minerais raros. Apenas os minerais raros necessários para a fabricação dos espertofones, causam um dano incalculável para a saúde humana e do planeta

Baotou, interior da Mongólia, é o principal centro de extração de minerais raros, suas minas estão cercadas de resíduos tóxicos (subproduto da mineração), a maioria de thorium radioativo. No Congo, a extração de Coltan é conhecida por ter devastado e causado sofrimento imensurável para a terra, humanos, comunidades e vida selvagem. A corporação de mineração Molycorp, gosta de apresentar a si mesma como uma empresa de mineração ética, mas sua extração de neodymium para auto falantes, europium para criar as cores nas telas do iPhone e cerium que é usado como solvente para polir telas, continuam sendo pilhados em uma escala insustentável, que deveria ser mantido na Terra e requer grandes quantidades da natureza para depositar os substratos da criação das minas. Atualmente, não existe escapatória da simples realidade: tecnologia é dependente da destruição de ecossistemas, incluindo os últimos animais selvagens e comunidades indígenas, com populações humanas civilizadas cada vez mais confinadas em seus “habitats” tecnológicos – “smart” megalópoles.

Haverão pequenas brechas para se viver, e nossas redes e vidas individuais estarão sobre um escrutínio ainda maior, com ainda mais invasão em nossa autonomia, mas isso será mais ou menos terrível do que seria para um camponês, expulso de sua terra e forçado trabalhar nas fábricas nas novas cidades ? Ou a luta que os povos indígenas tem lutado ao redor do mundo ?

Nossa missão é tentar preservar o que pudermos de uma vida selvagem, cada vez menor e mais frágil, enquanto organizamos e fazemos ataques que atinjam não apenas a infraestrutura, mas também os símbolos e representantes do Estado, da Tecnologia e do Capital.

Nós precisamos pensar e nos preparar agora, adquirindo as habilidades e meios que nós e outros irão precisar para navegar nesse novo mundo e refletir sobre o que significa ser anarquista. Nós devemos tentar limitar o dano feito pela civilizações predatória, manter a memória combativa viva e relembrar por que e pelo que estamos lutando. Nós estamos encarando nada menos que a tentativa de apagamento de toda vida selvagem não domesticada, e o fim de maneiras de ser e pensar através do condicionamento social, repressão, coerção e participação voluntária. As estruturas irão se manter as mesmas: desigualdade, escravização, privilégio e opressão , autoritarismo, destruição, mediação e alienação.

Vão existir brechas neste sistema, sempre existirão. E assim, anarquia, a pulsão de liberdade e autonomia, também crescerá, através de cada brecha e fissura. A continuidade da luta está na questão da liberdade, da autonomia pessoal, da escravidão, do controle e da vigilância de muitos, por poucos, de acordo com sua própria agenda. Essas coisas não mudam, não importa se estamos falando da Primeira Revolução Industrial ou das próximas.

Expondo Fascistas – Um Manual de Boas Práticas

Publicado originalmente pelo coletivo Colorado Springs Antifa.

Expondo Fascistas: Um Guia de Boas Práticas

 

Esse documento surge do debate entre antifascistas de todo o país. Entre nós e nossas camaradas, é recorrente a preocupação com uma cultura dentro do ativismo antifascista que enxerga a exposição de fascistas na internet como o começo e o fim da organização antifascista. Exposição na internet é uma das muitas ferramentas que antifascistas usam para desmobilizar materialmente mobilizações fascistas em nossas comunidades. A exposição de um nazi por si só, não significa nada, se não impacta materialmente esse nazi, sua organização, ou as comunidades que eles ameaçam.

Aqui nós abordamos algumas dificuldades comuns e boas práticas para expor nazis de uma maneira que fortaleça nossos movimentos, proteja nossas comunidades e, impacte materialmente as mobilizações fascistas.

Em resumo: Priorize a segurança da comunidade a longo prazo e não engajamento no Twitter.

Deixe Nítido Seus Objetivos

 
  • Por que você está expondo esse nazi ? Você está informando militantes locais ? Tentando convencer os social democratas a contatarem o local de trabalho do fascistas pra que ele perca o emprego ? Está expondo a ideologia de algum grupo de direita ? Tentando chamar atenção da polícia para agir contar um nazi em específico ? (se sim, veja: “Não trabalhe com a polícia”).
  • Expor nazis é uma tática que pode ser usada para ganhar certas vantagens materiais, e esses resultados vão se diferenciar baseados no alvo e como a exposição é escrita e difundida.
  • Ter uma mensagem que explique nitidamente seus objetivos, vai te ajudar a alcança-los.
  • As vezes tudo que nós podemos fazer é informar a comunidade sobre um certo fascista ou grupo fascista, mas lembre-se que quando você expõe um nazi, você está deixando ele saber que está sendo observado, e você provavelmente vai captar significativamente menos informação sobre eles.
  • Com poucas exceções, geralmente é melhor aguardar até você ter mais informações e capacidade de impactar materialmente o fascista, e não difundir algo vago (por ex: um fio no Twitter sobre um Proud Boy, que só inclui uma localização vaga, nome e uma foto).
Twitter avatar for @FrontRangeAFA

Front Range Antifascists @FrontRangeAFA
A second round of flyers were distributed in former Colorado KKK Grand Wizard Fred Wilkins’ Superior neighborhood. He has installed security cameras on his garage since we last paid him a visit.
A flyer with photos of former Colorado KKK Grand Wizard Fred Wilkins that reads: KKK Leader in your Neighborhood
Fred Wilkins is a longtime white supremacist organizer in Colorado, having served as the leader of the Colorado Ku Klux Klan through the 1970's. On June 2nd, 2021, Fred stole a number of Pride flags from a display in Louisville, Colorado, and placed a Confederate flag in their place.
Fred Morris Wilkins
Superior
White Kia Soul
Learn more and send tips:
FrontRangeAntifa.NoBlogs.org
Twitter avatar for @FrontRangeAFA

Front Range Antifascists @FrontRangeAFA

🧵 NEW RELEASE: Fred Wilkins of Superior, Colorado, former Grand Wizard of the Colorado Knights of the Ku Klux Klan, identified as man who vandalized Pride display in Louisville. More on the blog 👇 https://t.co/YuPDfob8RD https://t.co/9a77D4HMzi

Campanhas com panfletos e posters são ótimas para causar consequências materiais para fascistas.

Certifique-se que toda a informação pública seja 100% verificada

 
  • Você não quer que algo aconteça a uma pessoa inocente que se mudou para o antigo endereço de um nazi.
  • Publicar informação falsa fere sua reputação, e a reputação do movimento antifascista como um todo.
  • Para verificar um endereço, veja se eles postaram alguma foto em casa recentemente, faça que eles ou um amigo conte qual é o endereço, encontre uma desculpa para bater na porta e veja quem atende, etc.
  • O mesmo vale para números de telefone: use um telefone descartável ou um aplicativo que simule essa opção, para ligar para o nazi, e então aja como se estivesse vendendo algo, para que ele não desconfie.
  • Para verificar o local de trabalho, você pode ligar para a empresa e pedir para falar com o nazi. Você também pode tentar localizar o veículo dele no local de trabalho.
  • Se você não pode verificar 100% essas informações, nas as publique.

Trabalhe com as Antifascistas Locais

 
  • O Antifascismo deve estar enraizado na autodefesa comunitária. Antifascistas geralmente serão os mais bem preparados para lidar com os fascistas de sua área.
  • Se você localizou um fascista em outra área, contate os círculos antifascistas locais e pergunte como você pode ajudar.
  • Círculos antifascistas estão sempre muito ocupados e normalmente tem muito trabalho acumulado. Quanto mais trabalho você puder fazer pra ajudar esse grupo, mais rápido eles podem usa-lo.
  • Escrever um documento completo para o grupo antifa local usar é a maneira mais rápida de ter seu trabalho usado de maneira efetiva.
  • Por mais que haja boa intenção, expor publicamente um fascista que não viva na sua área pode resultar em inúmeros problemas que podem dificultar a vida de organizações antifascistas naquela área.
  • Antifascistas locais talvez já estejam monitorando esse fascista e estejam propositalmente esperando algo como:
    • Estão seguindo o fascista até que ele vá a algum encontro, o que não vai ser mais seguro de ser feito, uma vez que o fascista descubra que antifascistas o estão observando.
    • Eles estão trabalhando com outros líderes comunitários para se assegurarem que a exposição não cause nenhum dano colateral.
    • Eles estão envolvidos em um processo de desradicalização com o fascista, o que não vai ser mais efetivo após uma exposição ser publicada, que pode resultar em um fim do fluxo de informações entre o fascista e seus camaradas.
    • O fascista vive em uma área que não é segura para antifascistas. Deixar os fascistas em alerta antes quem algum trabalho territorial seja feito, como distribuição de panfletos, confirmação de endereço, ou ação direta, podem acabar impedindo essas ações, ou tornar sua execução muito mais perigosas.
    • Membros da comunidade e antifascistas locais geralmente usam os sites de suas organizações para receber informações sobre fascistas locais e tendem a não confiar em algo que venha de uma pessoa ou grupo que eles não conheçam.
  • Se você não encontrou um coletivo antifascista com quem trabalhar junto, você ainda pode publicar suas descobertas, será mais difícil de verificar as informações e/ou criar um impacto material. O elemento de autodefesa comunitária é importante, por isso considere enviar panfletos para os vizinhos do fascista se você puder confirmar o endereço dele.

Publique Anonimamente

 

Anonimato é sua melhor defesa, tanto contra os fascistas quanto do revide do Estado, então não publique com seu nome, e não use seus meios usuais de publicação, nem qualquer informação que possa ser usada para te identificar. Por mais que você não tenha receio de ser confrontado pelos fascistas, é cada vez mais comum que fascistas processem antifascistas, assim como o Estado perseguir militantes antifascistas. Você também pode acabar pondo seus camaradas em risco, ao expor um perfil de rede social que os fascistas podem captar informações. Você se surpreenderia se soubesse o tanto de informações de fascistas que nós conseguimos através de seus amigos e familiares.

Não Busque Engajamento or Carreira

 
  • O propósito desse trabalho não é a autopromoção, se tornar celebridade ou construir uma carreira, e sim proteger nossas comunidades e derrotar o o fascismo.
  • Evite cair em armadilhas como buscar engajamento na internet e uma carreira ao invés de focar na autodefesa.
  • Seja cético quanto a quem faz trabalho antifascista por fama ou por dinheiro.

Não Publique Apenas em Redes Sociais

 

Se você está num círculo de esquerda do Twitter, você certamente já viu exposições de fascistas na plataforma. Por mais que plataformas de redes sociais convencionais sejam uma boa maneira de entregar informações para uma audiência maior, esse público provavelmente não está na área do fascista. Publicar somente nas redes sociais também significa que seu conteúdo está sujeito aos caprichos de corporações imensas que não tem nenhum interesse em combater o fascismo.

Nós recomendamos que se use um website resiliente para hospedar seu trabalho. NoBlogs e BlackBlogs são instâncias grátis do WordPress, mantidas por anarquistas. Para ambos, você vai precisar de um email RiseUp para se registrar, algo que você pode conseguir com uma camarada.

Exposições que são postadas em um blog geralmente tem mais acessos em mecanismo de busca do que as que existem apenas nas mídias sociais como Twitter, e vão sobreviver mesmo depois de sua conta do Twitter ser suspensa. Exposições postadas no Instagram e Facebook vão estar acessíveis apenas por usuárias dessas plataformas.

Considere fazer uma lista de email, como a Atlanta Antifascist usa. Essa pode ser uma excelente maneira de se comunicar diretamente com membros da comunidade e militantes, que talvez não estejam nas redes sociais ou que não tem tempo de ficar olhando o seu feed.
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Atlanta Antifascists @afainatl
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Não Trabalhe com Policias

 

Assim como os fascistas, a polícia é nossa inimiga, e tende a proteger as atividades fascistas mais comumente do que impedi-las. Por mais as forças da lei reprimam em algum grau as atividades fascistas, eles reprimem com muito mais força e frequência, organizações de esquerda, anticapitalistas, anticolonais, e autônomas. Quaisquer benefícios de curto prazo ganhos por reportar o comportamentos ilegal de fascistas para a polícia, legítima e aumenta a eficácia institucional de nossos inimigos nas forças repressivas estatais.

Não Trabalhe Com Abusadores

 
  • Mesmo que eles façam um bom trabalho, você está expondo a si e a seus camaradas a um risco imenso ao trabalhar com pessoas abusivas. Misóginos são ótimos informantes e vão te caguetar no segundo que você se tornar um inconveniente para eles.
  • Aliados e amigos da vítima do seu amigo abusivo não vão confiar em você ou no seu trabalho, enfraquecendo a efetividade do seu trabalho.
  • Mais importante, ao legitimar e compartilhar espaços com abusadores, você está sendo conivente que eles abusem de mais pessoas, potencialmente, até você mesmo.

Considere as Implicações da sua Linguagem e Ações

 
  • Não use de hierarquias opressivas para tirar sarro de fascistas. Nós queremos nos libertar do capacitismo, homofobia, racismo, classimos colonialismo e misoginia.
  • Usar insultos baseados nessas opressões vai impactar muito mais as pessoas que já sofrem essas opressões do que os fascistas e seus aliados.