Uma mensagem anárquica vinda do território peruano [24.01.23]

Considerando as distorções de informação que as esquerdas e direitas fazem sobre a rebelião peruana, desejamos compartilhar nossa percepção anarquista do que acontece nas mesmas entranhas desse corrupto e apodrecido estado chamado “Peru”.

Os protestos tem como vanguarda o campesinato, os primeiros a se mobilizarem. Ainda que as exigências sejam de caráter político (novas eleições, assembleia constituinte, etc.) estas passaram para o social e pouco a pouco vão se aderindo diversas reivindicações (que tanto a mídia de massas como a esquerda trata de maquiar como sendo políticas). No início os protestos foram esvaziados mas a repressão indignou o povo a ponto de acontecer um levante geral; o sentido de identidade unificou a nós andinos para lutarmos contra o opressor (quechuas, wanks, aymaras, chankas, etc.)

E agora estamos na etapa onde à força se fará cair a autoritária Dina Boluarte, que está escondida no castelo da extrema direita do Peru: Lima (a capital).

Essa crise desmascarou o que sempre foi maquiado com algo chamado: “democracia representativa”. Assim, a pobreza e a violência estatal extrema nas alturas dos andes, deliberadamente ignoradas pelas instituições do ESTADO e do CAPITAL, têm sido explícitas. O genocídio de Dina Boluarte e seu açougueiro Otarola, são uma pequena mostra do que historicamente se viveu e do que experimentaram nossas famílias e/ou etnias.

Xs assassinados pelas forças repressoras do Estado do PERU não deixam de aumentar, no exato momento em que nos encontramos escrevendo, os policiais e milicos mataram mais de 60 pessoas; crianças ou idosxs todxs faleceram frente os disparos a seus torços e cabeças… enchendo necrotérios e hospitais dos andes e do território do altiplano. Os feridos, detidos e torturados aumentam, a perseguição se aprofunda a ponto de censurar textos e perseguir editoriais e livrarias. Se mete bala ao transeunte e se paga bônus a polícia por seu trabalho de açougueiro.

Em 21 de janeiro a polícia fez operações em espaços autônomos como as universidades (as quais abrigavam manifestantes das províncias dessa região), casa de gente que deu guarida a seus conterrâneos de província, associações e coletivos que oferecem primeiros socorros. A polícia se sente empoderada pela presidenta assassina e apela para a violência para calar a boca de qualquer crítico (não se salva nem o pacifista, o legalista, todxs levam pau por serem “bocones”). E eis que a democracia peruano deu seus frutos, e nos faz viver o “agradável” caráter “legal” dos ESTADOS DE EMERGÊNCIA… momentos no qual as forças repressoras têm total liberdade de assassinar sem nenhuma responsabilidade penal. Enquanto os endinheirados das cidades celebram, aplaudem e beijam os assassinos. Outros são encarceradxs, perseguidxs, torturadxs ou assassinadxs.

Os ESTADOS DE EMERGÊNCIA também significam corrupção, algo que é da genética destas instituições repressoras, já que têm total liberdade de gasto e toda boa vontade do Ministério da Economia (o qual se caracteriza por ser dos mais tecnocratas e discriminatórios, quase um quarto poder).

Saem de Lima: Helicópteros, caminhonetes, ônibus, aviões de guerra, munição, e pessoal (desde a velha polícia de trânsito até o iniciante inexperiente do primeiro ano da escola de policiais). E logo, de acordo com que planejaram os açougueiros, distribuem a polícia nas zonas de bloqueios. As Forças Armadas, graças ao apoio dos EUA, se encontram empoderadas e mandam seus soldados matar na altura dos andes e infiltram suas equipes nas manifestações com o objetivo de ter caguetas, voyueristas e sabotadores.

Ao perceber que a resistência persiste e suas munições estão por acabar, mandam seus lambe-botas a loja de doces com 661 mil 530 dólares para adquirir todo tipo de guloseimas pelas quais são viciados (balas de borracha, gás lacrimogênio, sprays de pimenta, munição, etc.), dão bônus aos policiais e lhes prometem mais dinheiro por sua efetividade (até se financia contramarchas de fascistas, se compra líderes comunitários, etc.). Buscam todo tipo de apoio que seja… mobilizam pessoas dos círculos mais ilógicos (desde udex, trânsito, turismo), disfarçam carros de guerra dos milicos para os tornar democracy friendly, usam a mobilidade e a equipe de serenazgo (espécie de segurança municipal) e logo celebram (O PODER ECONÔMICO-POLÍTICO SEMPRE RECOMPENSA AO AÇOUGUEIRO)

Assim chegamos a uma encruzilhada onde fazer frente a esta loucura sangrenta significa ser um número a mais no necrotério. Onde o limenho racista te considera sub-humano por protestares. Onde te assassinar não trás problemas éticos ou religiosos (ao contrário as forças religiosas o celebram).

Também expomos que a luta que se observa nesta região é diversa, não acreditamos nos meios de comunicação ou influencers que expõem os protestos como “pacíficos”, “civilizados” ou “pela assembleia constituinte”, ou mesmo o delírio de serem “pela liberdade de Pedro Castilho”, não se deixem enganar. Tão pouco se deve dar atenção a propaganda de direita que superdimensiona a atividade de esquerda nos protestos, ao ponto e quererem levar o Peru a uma guerra com a Bolívia (por uma suposta “ingerência política”) ou de forçar uma guerra civil nesta região.

Para concluir; nós, mulheres, trans, machonas, maricones, lesbianas, trakas, não bináries, qhariwarmis, cabrxs, bissexuais e diversidades anarcas marrones, andines, aymaras, precarizadas que não sabemos de “justiça” aqui ou no exterior e sofremos o racismo continuamente… manifestamos que nunca estivemos fora dessa crise, jamais seremos indiferentes ao abuso de quem tem poder. Jamais esqueceremos os assassinatos, balas, golpes e agressões, e vamos devolvê-los. E a toda esquerda conservadora que quer se apropriar da luta como veículo político (Perú Libre, Antauristas, UPP, etc.) e que desejam que nos desapareçam, lhes dizemos: resistiremos e lutaremos pela libertação total!

SAÚDE Y ANARQUIA.

[DE ALGUMA PARTE DOS ANDES DO ESTADO GENOCIDA PERUANO]