Fascistas, racistas e pedófilos?: A reação contra os protestos antiautoritários nos discursos digitais da extrema direita peruana

Publicado originalmente em 01 de Março de 2023 em Periodico Libertaria.

Faz tempo desde que tivemos oportunidade de escrever sobre um tema pouco abordado nos círculos antifascistas da região (algo que nasceu coletivamente em uma comunidade de discord, recentemente atacada por fascistas espanhóis). É possível que questões geracionais e de inclusão digital tenham sido os principais obstáculos para a criação e difusão de escritos sobre a extrema direita na internet, em específico nos círculos da juventude.

Considerando o texto anterior [leia aqui], acreditamos que precisamos fazer alguns esclarecimentos:

Foi dito que no Peru não haveria tanta repercussão das redes sociais, pelo fracasso das campanhas presidencias no digital. Essa é uma afirmação parcialmente correta, buscando mais informações encontramos um conceito ou uma espécie de metáfora denominada “efeito cascata”, que nos ajuda a entender e desarmar xs fachxs.

Normalmente, quando se analisa a Alt-Right se mede sua repercussão pela efetividade e não por suas consequências posteriores. Ou seja, uma análise dessa natureza subertima a força discursiva fascista e nos cega (como estão cegas hoje, as esquerdas legalistas e eleitorais do Peru).

O “efeito cascata” é uma avalanche invisível, ou seja, se a Alt-Right acusa fraude eleitoral, com teorias absurdas, o objetivo final não é apoiar um candidato nesse exato momento, mas expor um discurso extremo que gere uma corrente de opiniões que facilite a destruição de um bode expiatório em específico. Estamos falando de instituições, adversários políticos, ideologias políticas, pessoas e mesmo outras espécies de animais. Pondo de forma simples… preparar o terreno para impor seu totalitarismo.

Outra correção a ser feita sobre o texto anterior é: a efetividade das redes sociais para contrapor ao establishment midiático em um contexto de repressão cruel por parte do Estado. As redes sociais, para o bem ou para o mal, serviram para expor o verdadeiro rosto da ditadura cívico-militar-econômica e para gerar uma corrente de opinião contrária a do status quo (vide o caso da Primavera Árabe de 2010).

Concluindo, não podemos subestimar nem superestimar a influência das reedes sociais na sociedade peruana.

A tarefa das comunidades digitais de pedófilos no Peru é atuar como uma caixa de ressonância para os influenciadores facínoras.

Há alguns meses, em diferentes plataformas (telegram, twitter, fb, wsp, ytb, reddit, etc.) buscava-se dar maior repercussão a certos posts de certas mobilizações da direita, da extrema direita e neofascistas. Estas mobilizações buscavam pressionar ao parlamento para depor o conservador Pedro Castilho (hoje preso).

Nesse contexto, vimos uma coincidência entre diferentes grupos fascistas, um aumento de suas mobilizações e o uso de discursos inadmissíveis no século XXI (racistas, misóginos e especistas). Eles falharam parcialmente, o corrupto Castillo renunciou, mas aprenderam sobre a importância do algoritmo, do trabalho de coleta de dados e do viral como algo além do militante (o econômico e o “prestigioso”, ou seja, as recompensas para os trolls fascistas mais furiosos).

O uso de bots, trolls e outros recursos que vêm de certos softwares comprados de países “democráticos” como Israel ou E.U.A., formam parte da inteligência peruana e o aproveitamento destas ferramentas estão definidas pelo vai-e-vem da política (um dia serviu a Castillo, no dia seguinte a Dina).

Assim, os fachos se deram conta da importância dos troll centers (uso de trolls e bots para influenciar algoritmos). Por muito tempo, gastando recursos financeiros, a direita foi capaz de tornar viral suas hashtags mais famosas.

Mas o que aconteceu quando o algoritmo foi utilizado pelas pessoas que participaram das manifestações antiautoritárias contra o regime assassino de Dina Boluarte ?

Financeiramente esgotados, os troll centers nada puderam frente a viralização de assassinatos e a indignação nas redes sociais. Refugiados em suas comunidades esperaram pela pesada mão da realidade, a repressão cruel e a perseguição política (a verdadeira, não a que Apra ou Pedro Castillo dizem sofrer).

No Peru, existe um racismo estrutural, um status quo que se aproveita disso continuamente para marginalizar certas regiões e oprimi-las. Entretando também existem certos propagadores de ódio, misoginia e racismo, cuja tarefa é servir como amplificador para os discursos mais retrógrados e torná-los de vanguarda para gerar uma versão peruana da “Noite dos Longos Punhais”. Assim, suas táticas já não eram a mobilização em si mas a reafirmação de uma Lima unida pelo racismo… Uma forma de gerar uma identidade doentia, que no futuro se materialize em mobilizações massivas contra nós indígenas.

Já denunciamos que nas comunidades virtuais de videogames, anime e kpop, onde se encontra a maior quantidade de jovens desta região, vem acontecendo uma infiltração por parte da extrema direita. Ainda é necessário denunciar a infiltração nas universidades, onde certos elementos se lançam na “guerra cultural” e criam seus “think tanks” liberais-libertarianos (espécies de ongs ao estilo neoliberal). E existem outros espaços que ainda não foram denunciados, onde a propaganda é dirigida para crinaças e jovens (nas escolas, através de propaganda religiosa).

Entretanto, em nossas pesquisas e investigações nos deparamos com um repulsivo pacto nas comunidades da Alt-Right peruana… a aliança entre fachos, racistas e pedófilos, o fascismo como identidade que une estes infelizes (em sua maioria homens héteros que se assumem como “mestizos”).

O uso de dox, o ataque a outras comunidades digitais com a infiltração de pedófilos e conteúdos desprezíveis, não são circunstanciais. Anteriormente denunciamos a complacência das redes sociais com aqueles seres repugnantes que viralizam ou fazem dinheiro dentro das plataformas (com hashtags, criando conteúdo, ou se protegendo na “liberdade de conteúdo”), entretanto acreditamos que existe não apenas uma militância de extrema direita, mas também certas questões que sustentam essa militância. Se as tropas de choque do fujimorismo e do aprismo (que têm dinheiro de sobra para financiar estas delinquências), podem protestar de segunda a domingo sem exaurir suas economias familiares, estes fascistas de internet que gastam seus dias propagando merda racista, misógina, etc. Como se autofinanciam ?

Nas comunidades fascitas digitais fazem suas campanhas de dox, e pela derrubada de páginas, vídeos, etc, através de raqueamento, roubo de identidade ou difusão de material repugnante com o propósito de desaparecer com a vítima. Nem todo o dinheiro pode vir dos partidos políticos, também existem recursos de origem mais sinistra, ligados a crimes na internet (golpes, vendas na dpweb, etc.), certamente não representam uma quantia fixa ou um salário mínimo. Nem tudo corresponde as atividades na internet ou ao financiamento de partidos (talvez complementem a renda com ambos, lembrando de que existem trolls centers privados.).

Durante os protestos enquanto as pessoas se manifestavam e eram reprimidas cruelmente, estes neofascistas formaram parte da campanha de viralização do racismo (como pode ser visto no histórico de conversas de suas comunidades) e o tempo que sobrava de suas jornadas dedicavam a pornografia, os crimes violentos e abusos infantis.

Também vimos que certos “influencers” libertarianos continuamente os incentivam a manter campanhas de dox, e assédio digital, ou os convidam a fazer parte de seus novos partidos. A pergunta continua: como se financiam ? De onde vem esse conhecimento de raquemanto ? Por que motivo a polícia não os prende ?

Há quem diga:

  • Não exagere sobre essas coisas!

Eu responderia:

  • Eu encontro essas coisas em partidas online, nos nossos armys de kpop, ou mesmo em discord de fanarts de genshin impact: Por que não poderia denunciá-los ?

Enquanto o lixo da extrema direita, através da pornografia gratuita, trata de levar a seus grupos para adolescentes héteros e transformá-los em militantes. Que fazemos nós ? O mínimo deve ser denunciar, mas frente ao descaso das redes socias ou o policial que informa aos pedófilos de certas denúncias para os proteger de incursões de sua “instituição”… Que fazemos nós frente um problema estrutural relacionado com a misoginia e o tecnofeudalismo ?

Discutir o problema na internet é o mínimo. Relacionar o fascismo com esses problemas é expor como o conservadorismo é a porta de entrada para as ideias mais destrutibas como o totalitarismo e a pedofilia, entratanto também é um problema que vai além desta ideologoa de merda (vide o número de denúncias de pedofilia em círculos de esquera, animalistas e mesmo supostos anarquistas em Lima). No momento permanecemos com essa dúvida, com essa coincidência entre as comunidades digitais da extrema direita: pedófilos, racistas e fascistas ?

PS: Como toda investigação deste tipo depende de infiltração nas comunidade de extrema direita, como vemos em trabalhos jornalísticos sérios, expor-se a conteúdos repulsivos tem graves consequências psicológicas (já que não queremos ser em nada semelhante a essa gente, queremos apenas sua destruição). Pedimos para que outras pessoas antifascistas se ocupem de denunciar e expor essa problemática, que a polícia tolera (na maioria de casos de captura de pedófilos é por intervenção da polícia de outros países, e muitas vezes o problema do abuso infantil está associado com o tráfico de pessoas e o narcotráfico, problemas que a polícia e políticos encobrem).

Como os fachos peruanos buscam se reproduzir na internet ?

Publicado originalmente em espanhol, no Periodico Libertaria, site do coletivo anarquista de compas que residem no território hoje dominado pelo Estado do Peru.

É uma feliz surpresa encontrar anarquistas do continente escrevendo sobre as movimentações e tendências fascistas de seus territórios.

Pela defesa e enraizamento de um ecossistema informacional anarquista e antifascista.

Introdução

Antes de nos aprofundarmos no tema, cabem algumas explicações.

1. O uso da internet em nossa região não engloba a totalidade do território e isso se demonstra pelas campanhas políticas fracassadas nas plataformas digitais e o êxito do conservador, corrupto e assassino Castilho sem a necessidade de “influencers”. No entanto, acreditamos que tais plataformas estão aumentando seu raio de influência em nossa região, algo inevitável já que o maquinário de infraestrutura, muitas vezes financiada pelo capital estrangeiro, e o “progresso” que o Estado deseja impor está associado diretamente com o mundo digital.

2. Os quadros que impulsionam este projeto de “progresso” são em sua maioria de direita, é nessa parte do campo político que as plataformas digitais têm prioridade, e onde podemos observar a quantidade de campanhas à favor de projetos de mineração, propaganda política e até o financiamento de periódicos digitais (vale relembrar que a Odebrecht financiou a publicação de um jornalista medíocre que se diz “livre pensador” , que não é mais que apenas outro neoliberal)…[2].

Em síntese, o que vemos atualmente nas plataformas digitais têm um viés diferente do que se via uns anos trás, por exemplo, aumentou o número de trolls de direita, muitos financiados por empresários-políticos e outros que simplesmente acreditam no lixo neoliberal. Outra novidade repugnante é a escalada de “influencers” de extrema direita e fascistas, há alguns anos era raro de se encontrar uma quantidade tão grande de fãs “militantes” de ditadores e genocidas, o lixo monarquista e de livre mercado, etc…

Existe outra novidade: o financiamento de trolls por parte da esquerda. Castillo e suas tropas tem ativado uma máquina de guerra suja em duas frentes: jornais e trolls. O esquerdista, e o chamamos assim em forma de piada, segue a tática de Comitern de “classe contra classe” mas de trolls, assim com um gene autoritário trata de dar contra a mídia de massa da direita neoliberal [3]. Damos ênfase na novidade já que a direita fascista já tem experiência na com trolls e não se envergonham disso, por exemplo, desde o parlamento fujimorista [4] do período anterior se financiava estes trabalhos… Hoje em dia se sabe que esses trolls mudaram de patrões e andam espalhando suas merdas de extrema direita de algum call center de Lima.

Assim os trolls fazem suas campanhas de propaganda, de “doxx” de seus oponentes, o cyberbulling e infiltração de comunidades digitais. Este último é o ponto ao qual queremos dedicar mais tempo.

O T A K U P E R O N U N C A F A C H O!

Sobre as comunidades digitais peruanas, a infiltração fascista e os jovens militantes.

Exposta a face mais conhecida dos fachos peruanos da internet, passaremos por alguns lugares não tão visíveis para os imigrantes digitais (quer dizer, aqueles que ainda não manejam bem o uso da internet devido a sua idade ou questões econômicas).

Antes, é preciso indicar que ser nativo digital não necessariamente te torna alguém imune a propaganda fascista… Pelo contrário, como nos E.U.A., podes ser até hacker e cair nas redes dessa ideologia lixo (existem casos de ataques de hackers a portais anarquistas e de esquerda, todos com autoria fascista).

Um sociólogo francês do fim do século passado já nos esclarecia sobre as novas formas de socialização dos jovens das chamadas tribos urbanas, não falava de forma pejorativa como alguns idiotas pensam, mas se tratava de analisar e esclarecer o motivo da união dessas pessoas e os valores que os moviam – bons, maus, o que for – por exemplo, são conhecidos os trabalhos sobre punks, metaleitos, torcidas organizadas de futebol, etc.

E por qual motivo falar disso ?

Imagine tudo o que dissemos no parágrafo à cima, acontecendo na internet… É isso!

Sim. Agora falamos de tribos digitais (fãs de memes, otakus, kpopers, gamers, etc.) e de outros subgrupos, com coisas mais específicas (seguidores do moe, jogadores de dota, fãs de vtubers, tiktokers de asmr e o que mais pudermos imaginar).

Dado o panorama, a propaganda fascista no Peru tem maior ressonância em alguns subgrupos, mas antes disso, deve ter quadros que ocupem o papel de formadores de opinião, ou “Influencers”.

Com a chegada da internet o “faça você mesmo” se tornou algo de direita e capitalista. A televisão que nos oferecia lixo, foi a base para as futuras tendências mais utilizadas ndas redes sociais… Se nos primeiros momentos da internet existia uma busca utópica que buscava a socialização total do conhecimento da cultura humana, isso se degradou na busca por lucrar com nossos clicks e a imposição da ditadura do “algoritmo” das grandes empresas (compare a denúncia de pirataria que Metallica fez ao site Napster, com a atual competição do Spotify e YouTube para oferecer música com copyright, os tempos mudaram!).

Retomando, o conteúdo oferecido em nossa região é muito precário, mesmo que haja boas intenções. Por exemplo, existe um youtuber de nossa região que fala sobre “história peruana” e que veio a ser um dos primeiros influencers desse tipo de conteúdo. Até aqui, nenhum problema… Mas acontece que esse tal influencer nunca cita as obras de “história” que ele “lê” para fazer seu conteúdo. Muitas pessoas confundem o “academicismo” ou os “direitos do autor” com a verdadeira natureza das notas e citações, que servem para a ampliação de nossos conhecimentos sobre tópicos que estejam sendo expostos. Assim, este influencer pode nos enganar ou simplesmente estar lendo a Wikipedia (portal não tão seguro pois é modificável por qualquer um) e nós o tornamos popular e no processo enchemos sua carteira (o mesmo pode acontece com os que criam conteúdo de “react” que são simplesmente uma sequência de elogios a um certo país, em busca de views, likes e dinheiro).

E por qual motivo falamos disso ? Somos haters ? É inveja ? NÃO!

Se atacaremos aos influencers fachos também devemos atacar essa atitude que nos fecha num pensamento ignorante onde o conhecimento é recebido por simples auto complacência (“eu consumo isso e me torno melhor que você” ou “me faz formar parte de certa comunidade”).

Assim, o “faça você mesmo” se misturou com a bobagem neoliberal do “empreendedorismo” jogando com as ideias repugnantes de Tv-lixo que assistimos desde pequenos… Só falta adicionar a “liberdade” e o “livre mercado” e teremos a influencer fachos de nossa região; se adicionar “negócio” tens um Coach.

É através desse “economização” da busca do conhecimento (em palavras simples, supostamente saber mais ou de se esforçar para saber mais), que é graças a educação de merda que o estado nos oferece, isto faz da gente de nossa região o público indicado para irradiar lixo de todo tipo. Um exemplo ?

Uma vez, em uma kombi, ia cansada de trabalhar rumo minha casa, quando de repente uma pessoa “xis” subiu, e já com o volume alto se pôs a ver um vídeo no Facebook. Nesse vídeo se falava do “socialismo que mata de fome”, sobre o melhor do “livre mercado”, etc. E logo vieram outros três vídeos mais, um deles sobre os Incas terminou a fascista de Beto Ortizz [5] Sem ser grosseira,pedi para que ele usasse fones de ouvido. Essa pessoa está em busca de conhecimento que nunca pode ter por conta da precariedade econômica e lamnetavelmente o “algoritmo” o devorou, e talvez seja um facho a mais, desses que existem aos montes em Lima.

Esta auto complacência e “economização” da bisca do saber no beneficia apenas a extrema direita, mas também há certos esquerdistas conservadores e xenofóbicos que vomitando seus discursos ultranacionalistas tem repercursão nas redes sociais.

Assim, vemos que é transversal esse fenômeno pois nativos e imigrantes digitais caem nas redes destes medíocres “influencers” e da ditadura do “algoritmo”. Esta seria a forma mais explícita de como as ideias de extrema direita tratam de posicionarem-se na internet, óbvio que também há investimento de dinheiro… Também há o sensacionalismo, também pagam pelo clickbait automatizado (em especial em páginas populares no país).

De gamers a fascistas

Nos protestos fascistas de Lima [leia nosso editorial de emergência] apareceu um certo personagem que transmitiu ao vivo, para um grupo “xis” de gamers, tudo o que aconteceu, pedindo doações e narrando com uma espécie de “humor negro” o que via.

Cobrir protestos fascistas de forma militante é algo que se vê em diferentes partes de nosso planeta, mas o que esse personagem fez foi uma transmissão em busca de algo mórbido. Essa busca de gerar algo politicamente mórbido, seja com haters ou trolls, é a primeira missão para maquiar a propaganda da extrema direita. Tática que é importada do conteúdo mais lixo da internet, vide todos aqueles influencers que através de atos viscerais querem criar tendência.

É conhecida a postura antifeminista e antifuna[NT1] que impregnou parte das comunidades gamers, justificando essas posturas com o rótulo de “humor negro”, este é o contexto em que se germinam mentes autoritárias.

No Peru, devido ao aumento exponencial do uso da internet, a comunidade gamer se ampliou muito, integrando até os chamados “normies” (gente que não é tão interessada em jogos como a comunidade, jogadores casuais).

No Peru, existem comunidades tóxicas conhecidas e emergentes[6], não citaremos o nome, pois o deixariam orgulhosos mas indicaremos sobre qual jogo falam (o mais popular no Peru), os tópicos nos quais engajam e como estão relacionados com a extrema direita.

Todo o chorume antifeminista dessas comunidades serviu como plataforma de “anti progressismo”, um delírio da nova direita ocidental que já está se alastrando pela América Latina.

No Peru, essa postura era minoritária no espaço público e na internet, há alguns anos atrás. Mas agora temos comunidades de gente tóxica, trolls e haters, estes têm servido para transformar em tendência certas posturas dessa extrema direita.

Há comunidades, em específico do dota2, que em seus grupos, passa a ter uma postura mórbida e de “humor negro”, até mesmo uma apologia anti-direitos e delírios fascistas. O impulso da suposta “rebeldia” de direita tomou conta dessa comunidade, onde tradicionalmente se fazia “zuera”[7] do seu streamer favorito (uma espécie de amor e ódio tóxico).

Incentivam o cyberbulling contra pessoas LGBTQ e feministas, racismo, assediam kpopers e por vezes são seduzidos pela esquerda conservadora (as pessoas do Ágora[8] lhes dão uma atenção especial). São pintados como vigilantes ao “desmarcarar” figuras da televisão-lixo mas no fundo o público não chega a compreender o que realmente são.

Nestes grupos e seus anexos, se compartilha material de conteúdo ilegal, se faz apologia à violência de gênero, a pedofilia, se faz doxx (pagando el padrón de la reniec) e sem justifica tudo como sendo “zueira”.

Seus “ídolos” são streamers que desde muito toleram a existência destes grupos de gente tóxica pelo simples fato que conseguem monetizar os chamados “olinhos” (ou seja, a quantidade de pessoas que vê seu conteúdo)

Por serem uma comunidade “zueira” compartilhar conteúdo para polemizar ou gerar sentimentos mórbidos, assim a propaganda política foi entrando fortemente. Houve mesmo candidatos que queriam financiar campanhas publicitárias com streamers.

O político da esquerda conservadora, irmão do corrupto Acuña (empresário amigo de Vargas Llosa) e adorador do facho Antaurro Humala (irmão do ex presidente que está preso e criador de uma ideologia fascista chamada Etnocacerismo e seus membros, em sua maioria ex-soldados, militares inativos, etc.) não teve tanto êxito, diferente do candidato López Aliada, fascista da opus dei (seita católica ultra conservadora), que teve certa recepção nas comunidades gamer mais tóxicas da internet.

Após um princípio de sedução com a esquerda conservadora, os antifeministas, acabaram por aderir à extrema direita. Em seus grupos compartilham conteúdo de “libertários”[9], supostos “debates” onde derrotam a esquerda, vídeos de doutrinamento neoliberal e piadas sobre a “izmierda”. Na prática, essa comunidade aceita ser a caixa amplificadora do lixo que vem dos novos influencers fachos.

Mas também se observam grandes contradições nestas comunidades (durante a campanha de 2021, dentro delas houveram debates intensos entre fujimoristas e antifujimoristas) o que predomina é uma aposta no fascismo, única plataforma que legitima suas ações antifeministas, anti direitos e a total “liberdade” de desfrutar o conteúdo mais criminoso e repugnante da internet.

Com os questionamentos ao Facebook por vender dados a Putin e a chegada das denúncias internacionais sobre o conteúdo ilegal que se compartilhava no Facebook, a resposta de Zuckerberg foi implantar monitoramentos mais intensos em sua rede (obviamente por gente terceirizada do terceiro mundo e mal paga para ver toda essa porcaria), isso afetou as comunidades tóxicas peruanas e as fez migrar para redes mais “seguras” como o telegram.

Os novos militantes da extrema direita se alimentam assim, de uma rota onde se tolera conteúdos fascista: educação peruana militarizada, sociedade decadente e misoginia, exploração neoliberal, comunidades gamers tóxicas e finalmente replicam a propaganda das tendências e dos influencers fascistas peruanos, para terminarem por se tornarem fascistas.

Ainda há tempo de combater essa praga, a internet ainda não é de uso generalizado na nossa região, o que favorece a luta nas ruas. E o fascismo está circunstrito a Lima, o que faz com que a propaganda de nossos compas de outras regiões sejam muito importantes: escutemos!

Nota do tradutor

[NT1] “Funa” é semelhante a “doxx” ou “exposed”, quando alguém, geralmente uma vítima de abuso, conta sua história e dá informações sobre seu suposto abusador, como fotos, telefone, perfil de redes sociais, etc.

[1] Na última campanha eleitoral presidencial (2021) aconteceu algo estranho para os limenhos; um candidato nada conhecido chegou a segundo turno e isso se deu graças a incredulidade da maioria e de uma campanha da esquerda ainda apostando em formatos tradicionais (rádio, tv). Isso pode ser ilustrado por aquela cena no canal de televisão da capital onde o candidato com a maior intenção de voto, aparecia sem foto na divulgação das pesquisas. Além disso, no segundo turno houve um gasto milionário em uma campanha suja contra o presidente, atitudes típicas da direita neoliberal. A indiferença em regiões frente as campanhas políticas digitais também está relacionada com a ausência da internet, tanto em infraestrutura como serviços, e o afastamento do tal “progresso” que o capital trata de impor.

[2] Existem empresas especialistas em áudio visual e marketing que são as favoritas da direita neoliberal. Estas empresas limpam a reputação dos projetos mais vis, e o fazem em meio aos escândalos, ou quando acontecem ações diretas da população em oposição ao empresariado, sobretudo quando se trata dos relacionados a mineradora: Mina Tia Maria (Argentina), Arequipa para os arequipeños, Plus Petrol-Repsol (2022), Empresa de lacteos Gloria, etc. Esta empresa ou conjunto de empresas de marketing tem uma trabalho nas redes sociais e bombardeiam a tv, em busca de anular as opiniões de quem protesta.

[3] A direita peruana, cuja maioria abraçou o fascismo, acusa o atual presidente de ser comunista, chavista, castrista, etc. O usaram inicialmente para evitar que ganhasse as eleições e agora o usam para pedir seu impedimento. O irônico é que o atual presidente é um completo principiante ideológico, é um convidado de um partido corrupto chamado Peru Libre (que diz ser Marxista, Leninista, etc. e no fundo é mais uma corrupção chavista). O estranho é a aparição de jornais amantes de Castillo e Peru Libre, após ele ter chego ao poder, assim como a aparição de trolls nas redes sociais, defendendo a esquerda conservadora.

[4] Fujimorismo; é uma força política encabeçada por Keiko, a filha do ditador e genocida Alberto Fujimori; O uso de trolls foi uma de suas contribuições a política peruana, tanto que, do parlamento financiava pessoas para comandar trolls contra todos aqueles que eram seus antagonistas. Essa forma de fazer política vem de seu pai, que junto de seu assessor Montesinos, que em plena ditadura comprava a oposição ou a destruía nos jornais que criou.

[5] Jornalista fascista que compartilha fake news, ataca aos opositores da extrema direita. Trabalha para o canal mais fascista da televisão peruana: Willax. Esse canal é de um empresário que financiou todas as marchas contra o atual presidente e onde se expõem uma grande quantidade de gente de extrema direita, protofascistas, fascistas, etc. (hispanistas, libertários-ancaps, pór vidas, ultracatólicos, etc.) O mesmo jornalista vive no México pois recebeu denuncias por difamação e publicamente, ainda se discute sua acusação de pedofilia, que até agora não está bem explicado mas há indícios de que tenha usado seu poder pata destruir o caso.

[6] Modelos parecidos com 4chan, LegiònHolk, etc.

[7] A origem do grupo virtual mais tóxico do país, vem de um streamer de dota2 que permitia que as pessoas fizessem bully com ele pois isso lhe dava visibilidade e dinheiro. A “zuera” escapou de seu controle e agora o grupo age de maneira independente a ela. Tanto que roubaram a identidade deste streamer e agora está sendo levado aos tribunais por acusações de fraude e roubo.

[8] O Ágora é um grupo político da esquerda conservadora que reivindica o nacionalismo xenofóbico, suas atividades se limitam a uma praça da capital e também fazem lives através do Facebook. É através dessa plataforma digital que buscam seduzir aos membros dessa comunidade tóxica.

[9] Gente anarcocapitalistas (que grande idiotice) e todo esse lixo ultra neoliberal que vêm dos EUA.