Às Portas da Comunidade Anarquista

[tradução do capítulo 11 do livro Anarchy in the Age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

Às Portas da Comunidade Anarquista

Desde sua infância, o anarquismo (como muitos movimentos sociais internacionais) tem sido definido por suas políticas. Nenhum problema até aí, nós somos seres políticos. Anarquistas possuem uma lista bem definida de inimigos: o Estado, o capitalismo, e as hierarquias. Nós temos uma lista igualmente bem definida de desejos: apoio mútuo, autonomia, e descentralização. Enquanto fazemos apostas de que a anarquia vai oferecer vidas melhores que a dos dinossauros, há pouco impedindo o anarquismo de se transformar em outra ortodoxia: tão ruim quanto o Comunismo, Socialismo, Liberalismo, Reformismo, Capitalismo, Mormonismo, ou qualquer outro “ismo”. Há muito, desenvolvimentos na América do Norte têm mostrado que a uma tendência específica ou tipo restrito de políticas anarquistas não são tão importantes quanto as comunidades compartilhadas que estamos criando por conta destas políticas. Essas comunidades se mantêm unidas através de práticas, táticas, e cultura. Nós não precisamos ser uma monocultura. Invés disso, pense no anarquismo como uma ecologia de culturas (como micróbios em uma placa petri ou como uma manifestação nas ruas) algo que demanda e floresce na diversidade.

Como qualquer grupo de amigos que trabalham e vivem juntos, nós estamos desenvolvendo uma cultura compartilhada apesar das nossas origens diversas. Cada grupo de anarquistas (incluindo pessoas que vivem sob princípios anarquistas sem nunca terem aberto um livro de Kropotkin, Emma, ou CrimethInc.) cria suas próprias práticas e cultura.

Nós estamos fartos de qualquer nova ortodoxia, apesar de ser isso que as pessoas criadas no Ocidente são treinadas para desejarem: a Próxima Grande Parada, seja um autor, programa de TV, movimento, ou qualquer outra coisa que não seja o que estamos fazendo com nossas vidas. Como a cultura pode ser bastante fluida, transferível, e mutável, isso tem funcionado em nossa vantagem. Ao invés da anarquia de cima, ditada pela mídia ou especialistas, existem dúzias de versões da anarquia competindo, divergindo e mutando. Essa é uma construção fundamentalmente boa. A maioria dos anarquistas é feliz com essa fluidez e diversidade. A monocultura dos dinossauros pode ser rejeitada em favor das vibrantes, anarquias folclóricas.

Comunidade é algo que os anarquistas compreendem e aspiram. Ainda que, o que essas comunidades deveriam fazer tem sido a causa de muitos debates ácidos. Dependendo para quem você perguntar pode ser uma estação de rádio pirata que chegue até o vizinho, travar combate em guerrilhas urbanas, uma casa coletiva, incendiar hoteis de luxo, ou uma manifestação gigante. Essas diferenças levam a argumentos banais que raramente ajudam as culturas ou comunidades pelas quais os críticos anseiam. Invés de gastar tempo se exibindo no pódio, todos nós podemos passar mais do nosso tempo criando algo que se pareça com sociedades anarquistas dentro da cultura transtornada na qual vivemos hoje! Essas comunidades de resistência estão acontecendo em todo mundo através da criação de zonas autônomas semi-permanentes como infoshops e hortas comunitárias, clínicas grátis e fazendas orgânicas, casas coletivas, e espaços de performance. Nós vemos lampejos de um mundo melhor em zonas autônomas temporárias como mobilizações e convergências, okupas e tree-sits [NT1], festas de rua e bocas-livres. Por que criar comunidade é uma trabalho duro, nosso trabalho é melhor aplicado manifestando e expressando nossas paixões nessas arenas, não meramente falando sobre elas.


[NT1] “tree sits” – ato de desobediência civil onde a manifestante se mantém em cima de uma árvore, arriscando a própria segurança física para desmotivar a derrubada de uma árvore específica. 

Zonas autônomas são manifestações físicas de ideias que cresceram tanto nos últimos anos, mesmo que elas pareçam ser pequenas fachadas de lojas, bibliotecas em porões, e galpões espalhados ao redor da América do Norte. Esses são os laboratórios e oficinas da anarquia. Conforme nossas redes se expandem, também cresce nossa habilidade de falar uns com os outros. Nossa capacidade de comunicação tem sido extremamente bem sucedida e prolífica: música, escrita, e performance. Dúzias de jornais anarquistas, milhares de zines, e um punhado de livros têm criado um meio de expressão e discórdia. O que temos hoje é mínimo comparado com o maquinário da mídia capitalista, mas nós devemos tentar competir com eles. Rejeição a massa não quer dizer que os anarquistas estão condenados a serem poucos, uma minoria irrelevante para o resto da nossa existência. É possível que centenas de milhares de coletivos e grupos de afinidade trabalhem juntos em solidariedade e respeito por suas diferenças.