Fascistas, racistas e pedófilos?: A reação contra os protestos antiautoritários nos discursos digitais da extrema direita peruana

Publicado originalmente em 01 de Março de 2023 em Periodico Libertaria.

Faz tempo desde que tivemos oportunidade de escrever sobre um tema pouco abordado nos círculos antifascistas da região (algo que nasceu coletivamente em uma comunidade de discord, recentemente atacada por fascistas espanhóis). É possível que questões geracionais e de inclusão digital tenham sido os principais obstáculos para a criação e difusão de escritos sobre a extrema direita na internet, em específico nos círculos da juventude.

Considerando o texto anterior [leia aqui], acreditamos que precisamos fazer alguns esclarecimentos:

Foi dito que no Peru não haveria tanta repercussão das redes sociais, pelo fracasso das campanhas presidencias no digital. Essa é uma afirmação parcialmente correta, buscando mais informações encontramos um conceito ou uma espécie de metáfora denominada “efeito cascata”, que nos ajuda a entender e desarmar xs fachxs.

Normalmente, quando se analisa a Alt-Right se mede sua repercussão pela efetividade e não por suas consequências posteriores. Ou seja, uma análise dessa natureza subertima a força discursiva fascista e nos cega (como estão cegas hoje, as esquerdas legalistas e eleitorais do Peru).

O “efeito cascata” é uma avalanche invisível, ou seja, se a Alt-Right acusa fraude eleitoral, com teorias absurdas, o objetivo final não é apoiar um candidato nesse exato momento, mas expor um discurso extremo que gere uma corrente de opiniões que facilite a destruição de um bode expiatório em específico. Estamos falando de instituições, adversários políticos, ideologias políticas, pessoas e mesmo outras espécies de animais. Pondo de forma simples… preparar o terreno para impor seu totalitarismo.

Outra correção a ser feita sobre o texto anterior é: a efetividade das redes sociais para contrapor ao establishment midiático em um contexto de repressão cruel por parte do Estado. As redes sociais, para o bem ou para o mal, serviram para expor o verdadeiro rosto da ditadura cívico-militar-econômica e para gerar uma corrente de opinião contrária a do status quo (vide o caso da Primavera Árabe de 2010).

Concluindo, não podemos subestimar nem superestimar a influência das reedes sociais na sociedade peruana.

A tarefa das comunidades digitais de pedófilos no Peru é atuar como uma caixa de ressonância para os influenciadores facínoras.

Há alguns meses, em diferentes plataformas (telegram, twitter, fb, wsp, ytb, reddit, etc.) buscava-se dar maior repercussão a certos posts de certas mobilizações da direita, da extrema direita e neofascistas. Estas mobilizações buscavam pressionar ao parlamento para depor o conservador Pedro Castilho (hoje preso).

Nesse contexto, vimos uma coincidência entre diferentes grupos fascistas, um aumento de suas mobilizações e o uso de discursos inadmissíveis no século XXI (racistas, misóginos e especistas). Eles falharam parcialmente, o corrupto Castillo renunciou, mas aprenderam sobre a importância do algoritmo, do trabalho de coleta de dados e do viral como algo além do militante (o econômico e o “prestigioso”, ou seja, as recompensas para os trolls fascistas mais furiosos).

O uso de bots, trolls e outros recursos que vêm de certos softwares comprados de países “democráticos” como Israel ou E.U.A., formam parte da inteligência peruana e o aproveitamento destas ferramentas estão definidas pelo vai-e-vem da política (um dia serviu a Castillo, no dia seguinte a Dina).

Assim, os fachos se deram conta da importância dos troll centers (uso de trolls e bots para influenciar algoritmos). Por muito tempo, gastando recursos financeiros, a direita foi capaz de tornar viral suas hashtags mais famosas.

Mas o que aconteceu quando o algoritmo foi utilizado pelas pessoas que participaram das manifestações antiautoritárias contra o regime assassino de Dina Boluarte ?

Financeiramente esgotados, os troll centers nada puderam frente a viralização de assassinatos e a indignação nas redes sociais. Refugiados em suas comunidades esperaram pela pesada mão da realidade, a repressão cruel e a perseguição política (a verdadeira, não a que Apra ou Pedro Castillo dizem sofrer).

No Peru, existe um racismo estrutural, um status quo que se aproveita disso continuamente para marginalizar certas regiões e oprimi-las. Entretando também existem certos propagadores de ódio, misoginia e racismo, cuja tarefa é servir como amplificador para os discursos mais retrógrados e torná-los de vanguarda para gerar uma versão peruana da “Noite dos Longos Punhais”. Assim, suas táticas já não eram a mobilização em si mas a reafirmação de uma Lima unida pelo racismo… Uma forma de gerar uma identidade doentia, que no futuro se materialize em mobilizações massivas contra nós indígenas.

Já denunciamos que nas comunidades virtuais de videogames, anime e kpop, onde se encontra a maior quantidade de jovens desta região, vem acontecendo uma infiltração por parte da extrema direita. Ainda é necessário denunciar a infiltração nas universidades, onde certos elementos se lançam na “guerra cultural” e criam seus “think tanks” liberais-libertarianos (espécies de ongs ao estilo neoliberal). E existem outros espaços que ainda não foram denunciados, onde a propaganda é dirigida para crinaças e jovens (nas escolas, através de propaganda religiosa).

Entretanto, em nossas pesquisas e investigações nos deparamos com um repulsivo pacto nas comunidades da Alt-Right peruana… a aliança entre fachos, racistas e pedófilos, o fascismo como identidade que une estes infelizes (em sua maioria homens héteros que se assumem como “mestizos”).

O uso de dox, o ataque a outras comunidades digitais com a infiltração de pedófilos e conteúdos desprezíveis, não são circunstanciais. Anteriormente denunciamos a complacência das redes sociais com aqueles seres repugnantes que viralizam ou fazem dinheiro dentro das plataformas (com hashtags, criando conteúdo, ou se protegendo na “liberdade de conteúdo”), entretanto acreditamos que existe não apenas uma militância de extrema direita, mas também certas questões que sustentam essa militância. Se as tropas de choque do fujimorismo e do aprismo (que têm dinheiro de sobra para financiar estas delinquências), podem protestar de segunda a domingo sem exaurir suas economias familiares, estes fascistas de internet que gastam seus dias propagando merda racista, misógina, etc. Como se autofinanciam ?

Nas comunidades fascitas digitais fazem suas campanhas de dox, e pela derrubada de páginas, vídeos, etc, através de raqueamento, roubo de identidade ou difusão de material repugnante com o propósito de desaparecer com a vítima. Nem todo o dinheiro pode vir dos partidos políticos, também existem recursos de origem mais sinistra, ligados a crimes na internet (golpes, vendas na dpweb, etc.), certamente não representam uma quantia fixa ou um salário mínimo. Nem tudo corresponde as atividades na internet ou ao financiamento de partidos (talvez complementem a renda com ambos, lembrando de que existem trolls centers privados.).

Durante os protestos enquanto as pessoas se manifestavam e eram reprimidas cruelmente, estes neofascistas formaram parte da campanha de viralização do racismo (como pode ser visto no histórico de conversas de suas comunidades) e o tempo que sobrava de suas jornadas dedicavam a pornografia, os crimes violentos e abusos infantis.

Também vimos que certos “influencers” libertarianos continuamente os incentivam a manter campanhas de dox, e assédio digital, ou os convidam a fazer parte de seus novos partidos. A pergunta continua: como se financiam ? De onde vem esse conhecimento de raquemanto ? Por que motivo a polícia não os prende ?

Há quem diga:

  • Não exagere sobre essas coisas!

Eu responderia:

  • Eu encontro essas coisas em partidas online, nos nossos armys de kpop, ou mesmo em discord de fanarts de genshin impact: Por que não poderia denunciá-los ?

Enquanto o lixo da extrema direita, através da pornografia gratuita, trata de levar a seus grupos para adolescentes héteros e transformá-los em militantes. Que fazemos nós ? O mínimo deve ser denunciar, mas frente ao descaso das redes socias ou o policial que informa aos pedófilos de certas denúncias para os proteger de incursões de sua “instituição”… Que fazemos nós frente um problema estrutural relacionado com a misoginia e o tecnofeudalismo ?

Discutir o problema na internet é o mínimo. Relacionar o fascismo com esses problemas é expor como o conservadorismo é a porta de entrada para as ideias mais destrutibas como o totalitarismo e a pedofilia, entratanto também é um problema que vai além desta ideologoa de merda (vide o número de denúncias de pedofilia em círculos de esquera, animalistas e mesmo supostos anarquistas em Lima). No momento permanecemos com essa dúvida, com essa coincidência entre as comunidades digitais da extrema direita: pedófilos, racistas e fascistas ?

PS: Como toda investigação deste tipo depende de infiltração nas comunidade de extrema direita, como vemos em trabalhos jornalísticos sérios, expor-se a conteúdos repulsivos tem graves consequências psicológicas (já que não queremos ser em nada semelhante a essa gente, queremos apenas sua destruição). Pedimos para que outras pessoas antifascistas se ocupem de denunciar e expor essa problemática, que a polícia tolera (na maioria de casos de captura de pedófilos é por intervenção da polícia de outros países, e muitas vezes o problema do abuso infantil está associado com o tráfico de pessoas e o narcotráfico, problemas que a polícia e políticos encobrem).