Grécia: Anarquistas Saudam 2022 com Molotovs e Bomba de Butano

Publicado originalmente em Militant Wire, em 01 de Janeiro de 2022.

A mais nova rede anarquista de guerrilha urbana, a Direct Action Cells (DAC), assumiu autoria de um ataque incendiário aos escritórios de uma empresa de construção em Tessalônica, ocorrido nas primeiras horas de primeiro de Janeiro de 2022. A “Célula Casus Bell” lançou um comunicado no mesmo dia, declarando que o ataque com molotovs contra os escritórios da PRAXIS EE Technical Contractors foi uma retaliação pelo desalojo da manhã anterior, de uma ocupação de 34 anos de idade na Universidade de Biologia Aristóteles. Na mesma data, um ataque separado com explosivos improvisados, teve como alvo a catedral Agios Pavlos em Atenas, o ataque ainda não foi reivindicado, mas carrega todos os indícios dos ataques prévios das operações da DAC.

Como parte das políticas atuais do governo para desalojar okupações de espaços urbanos na Grécia, e reintroduzir as polícias dentro dos campus das universidades, a okupa “Hangout Biological” no campus da Universidade Aristóteles foi desmontado nas primeiras horas da manhã de primeiro de Janeiro. A polícia fez a escolta de trabalhadores, que demoliram uma parede lateral da okupa à marretadas, ganhando acesso a salas de aula e confiscando vários equipamentos, de extintores de incêndio à hastes de madeira com bandeiras anarquistas. O espaço vinha sendo okupado desde 1988. Em resposta ao despejo, uma recém formada célula da DAC, a Casus Bell, atacou os escritórios da PRAXIS, empresa que recebeu milhões para realizar um contrato de revitalização urbana. A nota divulgada acusa o reitor da universidade de colaboração com a administração das políticas de lei-e-ordem da administração Mitsokanis, e vai além.

Trecho da declaração

A comunidade acadêmica oficialmente abre os braços para o militarismo e a repressão, com a reitoria podre emocionadamente agradecendo pessoalmente ao próprio Mitsoutakis. Essa é a Universidade de Tessalônica: uma matriz de colaboradores da repressão onde nascem os oficiais uniformizados da República […] Nós assumimos a responsabilidade pelo ataque incendiário no prédio da empresa de construção Praxis, na Rua Kromnis em Kalamaria, logo após a virada do ano. Praxis é a empresa contratada que demoliu a okupação. Nós atacaremos individualmente, cada um dos que apoiam a repressão contra os territórios libertados.

Nosso ataque é o primeiro reflexo de um movimento de solidariedade prática, com os esforços ao redor do mundo, que defendem até o fim as áreas de resistência, solidariedade e ataque. Uma mensagem de força, apoio e cumplicidade com cada camarada que individualmente insiste na negação, no questionamento, na guerra. Você nos encontrará ao seu lado a todo momento do conflito, em cada barricada, por que nós não terminados por aqui. Nós estamos preparando um novo ciclo de ataques na guerra de atrito, organizando novas células de ação direta. E nessa guerra nós chamamos cada iniciativa insurgente para a ação, afiando os confrontos, quantitativa, qualitativa e operacionalmente. Nós respondemos guerra com guerra. […] – Direct Action Cells – Célula Casus Belli

Anteriormente, a maioria dos ataques da DAC em Tessalônica foram reivindicados pela célula local, Organization of Anarchist Action, que vinha mirando especificamente em membros do alto escalão da polícia.

Em outra notícia. Uma explosão estremeceu a vizinhança de Omonia em Atenas, nas primeiras horas de 1° de Janeiro, quando um dispositivo explosivo improvisado (IED) detonou do lado de fora da catedral Agios Pavlos. Supostamente o dispositivo foi confeccionado com um “botijão de gás”, o que sugeriria, mas não confirma, mais um ataque da DAC, já que tanto células em Atenas quanto em Tessalônica tem frequentemente usado IEDs construídos à partir de botijões de gás butano. Apesar dos métodos semelhantes aos da DAC, é importante perceber que a Igreja Ortodoxa Grega é um alvo popular por uma variedade de grupos que operam na Grécia. Além disso, as células de Atenas da DAC parecem preferir executar múltiplos ataques antes de lançarem um comunicado assumindo a responsabilidade por múltiplos ataques similares, usando IEDs construídos com botijões de butano, ou coquetéis molotovs e geralmente são fotografados e filmados pela célula. Até agora, não há conexão entre o ataque de Agios Pavlos e a célula local da DAC.

2021 foi o ano de estreia das operações da DAC, e seus ataques vêm sendo consistentes em métodos, alvos e retórica dos comunicados. As aspirações estratégicas primárias do grupo é desenvolver uma rede de “violência revolucionária” não apenas na Grécia, mas também ao redor do mundo, encorajando ideologicamente membros alinhados à esquerda radical e movimentos anarquistas a executarem ataques em alvos do “Estado e capital”. Até agora eles vem sendo bem sucedidos em estabelecer uma rede através da Grécia continental, de Atenas até Volos e Tessalônica. Se essa rede vai se espalhar através da Grécia para incluir, por exemplo, comunidades [na ilha de] Creta, ou mesmo avançar para dentro da Europa onde esses grupos têm simpatizantes, como na Itália ou Alemanha, é algo a ser observado, mas até então, não aconteceu.

O Estado é uma Máquina – Contra Especialistas e a Eficiência

[tradução do capítulo 05 do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

Anarquistas estão criando uma cultura que permite que mais e mais pessoas se libertem do reinado dos dinossauros. No momento, nossa agitação e propaganda costumam ser apenas fagulhas para inflamar o coração, não as chamas da revolução de fato. Para alguns isso provocou tanto impaciência quanto cinismo, mas anarquistas devem estar confiantes. Nós estamos criando uma revolução na qual nós não apenas controlamos os meios de produção, mas onde nós controlamos nossas próprias vidas.

Não existe uma ciência da mudança. A Revolução não é científica. Ativistas não deveriam ser especialistas em mudança social do mesmo modo que artistas não deveriam ser especialistas em autoexpressão. A grande mentira de todos os especialistas são é declarar ter acesso ao exclusivo, o intocável, e mesmo o inimaginável. Os especialistas da revolução, em amor ou títulos, exigem muitas coisas além de sua lealdade. Acima de tudo eles demandam eficiência; um lugar na máquina bem lubrificada.

No lugar de hortas de fundo de quintal e transporte público, a eficiência criou comida genéticamente modificada e rodovias de dezesseis vias. Eficiência demanda a ilusão do progresso não importa quão vazio. Nossa negação a eficiência nos levou a muitos projetos incríveis. Food Not Bombs podem não ser o meio mais eficiente de entregar alimento para os que tem fome, mas eles costumam ser mais efetivos em seus objetivos que qualquer programa governamental, doação religiosa, ou corporação eficiente. McDonals nos promete uma versão rápida e eficiente da experiência de um restaurante; não é exatamente o oposto do que queremos que nosso mundo se pareça? Eficiência move muitos projetos e campanhas; ativistas de mais se transformaram em personagens tão superficiais e inacreditáveis quanto aqueles dos comerciais de televisão. Suas buscas por questões eficientes e facilmente comercializáveis os levaram a uma competição contra empresas, governos e outros ativistas pela imaginação do público.

Como a massa, eficiência é uma deidade chave no panteão do pensamento dinossauro. Não tem nada de errado com o desejo de fazer as coisas acontecerem; alguns projetos necessários nunca ficam longe do trabalho pesado e quanto mais rápidos forem realizados, melhor.Porém nossos relacionamentos pessoais e desejo compartilhado por mudança não são coisas a serem apressadas, pré-gravadas e formatadas para a televisão

A aposta segura do ativista eficiente é que uma vez a liberdade nunca é vivida mas apenas discutida, toda mudança deve ser pré planejada e tediosa. Esses especialistas incluem os burocratas chacoalhando dentro de seus tamancos ao pensar no povo se revoltando sem a permissão ou condução do Partido. Essas pessoas arrastaram seus pés ao longo da história revolucionária: hoje elas são as pessoas que temem o caos das manifestações, ou falam sobre a luta de classes sem fazer referência ao que é revolucionário sobre a recusa das amarras da vida cotidiana. Sim, eles são justamente os que carregam cadáveres em suas bocas! Eles se arrepiam com ao pensar que as ideias ou as pessoas que defendem possam sair do controle. Para os autoproclamados especialistas em mudança social, a manifestação mais eficiente é aquela que tem única e nítida mensagem, uma audiência bem definida, e um roteiro pré programado… de preferência um roteiro escrito por eles.

Será que vamos imitar estas máquinas políticas? Será que vamos nos esforçar para nos tornarmos como o estado? A versão Esquerdista da máquina irá uma vez mais moer diferenças para criar um produto final: o Fim da História, Utopia, A Revolução. As máquinas consomem nossa vitalidade e contribuem para o esgotamento tão comum em nossas comunidades. O envio em massa de cartas pelo correio pode ser mais eficiente do que conversar com desconhecidos, ou instalar uma banquinha de limonada em uma praça, mas não é necessariamente mais eficiente. Existe algo a ser dito sobre escolher o caminho mais longo entra aqui e lá.

Toda vez que deixamos nossos problemas para serem resolvidos por especialistas, nós cedemos um pouco mais de nossa autonomia. Os juízes, os professores, os cientistas, os políticos, os policiais, os banqueiros: esses são os engenheiros da eficiência. Suas ferramentas jamais poderão transformar nossos relacionamentos ou nossa sociedade; eles apenas calcificam e enrijecem as que já estão fudidas. Em seu mundo, sempre haverá consumidores e consumidos, prisioneiros e captores, devedores e acionistas. Os pequenos dinossauros que desafiam os maiores talvez queiram mudar o mundo, mas eles farão isso de acordo com um plano escrito, não por eu ou você mas por especialistas de poltrona.

Ilusões de Controle

[tradução do capítulo 04 do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

Diante da incontida natureza selvagem da realidade, os dinossauros caem em febris ilusões de grandeza. Em espasmos de insanidade, eles recriam o mundo a sua própria exagerada imagem, pondo á baixo o que há de selvagem e a substituindo por uma terra devastada que reflete seu próprio vazio. Onde antes existia a incrível e complexa diversidade da natureza, agora resta apenas a simplicidade morta do asfalto e concreto.

Esses hábitos de controle estão profundamente enraizados não apenas nos dinossauros, mas também em todos com quem eles entram em contato, incluindo a maior parte dos autodeclarados revolucionários. Essas ilusões de controle afetam como construímos relacionamentos com outras pessoas, articulamos nossos próprios pensamentos, e vivemos nossas vidas; Se olharmos para a sociedade estadonidense, nós não podemos ignorar os índices de violência doméstica, o egoísmo brutal, e a homofobia institucionalizada, sexismo e racismo. Assim como dinossauros destroem ecossistemas físicos, eles substituem seus relacionamentos sociais por alianças e parcerias baseadas em eficiência, controle, crescimento e a busca pelo lucro. Anarquistas também replicam esse comportamento. O que antes era uma comunidade se torna um movimento; amigos são substituídos por meros aliados. Sonhos se tornam ideologia e revolução se torna trabalho; Revolucionários desesperadamente tentam controlar o mundo ao seu redor; um esforço fútil, já que é o dinossauro de duas cabeças gêmeas o Estadossauro e o Empresas Multinacionalssauros que controlam o mundo atualmente. Abandonando o presente, radicais comumente vivem suas vidas como fantasmas em algum passado ou futuro revolucionário. Não é surpresa que revolucionários que de fato acreditam em sua própria retórica acabam esgotados ou, pior, como teóricos de sofá. É mais fácil ponderar sobre o futuro do que fazer algo sobre o presente.

Do mesmo jeito que é mais fácil teorizar sobre o mundo do que interagir com o mundo, é muito mais fácil teorizar sobre como a Revolução acontecerá do que de fato fazê-la acontecer. Previsões e teorias elaboradas sobre qual grupo é mais revolucionário são ainda mais ridículas. Os teóricos, sendo especialistas consumados, reservam pra si o direito de apontar quem irá criar a revolução no confortável futuro distante. Quem eles vão escolher dessa vez? Os trabalhadores ? O proletariado? Juventude? Pessoas racializadas? Pessoas do Terceiro Mundo? Qualquer um exceto eles mesmos.

Ninguém sabe que cara terá A Revolução, muito menos os desdenhosos, procrastinadores de sofá, que ignoram o que está a seu redor para contemplar a perfeição da dialética. Pessoas que se mantém com os pés fincados no chão instintivamente sentem que nenhum livro de teoria revolucionária consegue capturar cada detalhe do futuro. Muito do que é chamado “revolucionário” é irrelevante para pessoas comuns. As vozes das comunidades reais estão vivas de uma maneira que nenhuma teoria jamais poderia estar mesmo se, por agora, isso tome a forma de pequenos atos de resistência. Quem não sonega impostos, evita policiais, ou mata aula? Esses atos em si podem não ser revolucionários, mas eles começar a desvelar o controle que vem de cima. Abordagens anarquistas devem ser relevantes para o cotidiano e flexíveis o suficiente para servirem a lutas em diferentes situações e contextos. Se nós pudermos alcançar esse ponto, então talvez possamos florescer no mundo de depois dos dinossauros. Nós talvez até tenhamos sorte o suficiente de estar em uma dessas comunidades que participam na derrubada dos dinossauros.

Um Sonho de Massa

[tradução do capítulo 03 do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

A falha mortal do pensamento dinossauro é seu insaciável desejo por massa. As raízes desse impulso histérico podem ser traçadas de volta ao século 19, uma longa noite da qual ainda não saímos. As origens exatas desse desejo em se tornar massa não nos interessa: ao invés disso, nós queremos entender como esse pensamento dinossauro fez seu caminho até nossas culturas de resistência do presente, e o que podemos fazer para substituí-lo.

O desejo de massa dita praticamente tudo que um dinossauro faz. Esse tesão insaciável governa não apenas suas decisões, mas sua própria organização. Organizações de massa, mesmo na sua apresentação para outros (sejam potenciais aliados ou a mídia) engajam em primitivos, estufando o peito para fingir que eles são mais massivos do que realmente são. Assim como os primeiros dinossauros passavam quase todo momento de suas vidas em busca de alimento, os dinossauros da Esquerda gastam a maior parte de seus recursos e tempo perseguindo a quimera da massa: mais corpos no protesto, mais assinaturas, e mais recrutas.

A contínua atração por massa é sem dúvidas um sonho vestigial dos dias de revoluções do passado. Toda alma solitária vendendo publicações radicais sob a gigantesca sombra dos brilhantes outdoors capitalistas e sob o olhar de policias bem armados, secretamente sonha acordado com as massas invadindo a Bastilha, as multidões avançando no Palácio de Inverno, ou as fileiras marchando em Havana. Nessas fantasias, um indivíduo insignificante é magicamente transformado em um tsunami de força histórica. O sacrifício de sua individualidade parece ser um preço pequeno pela chance de ser parte de alguma coisa maior que as forças de opressão. Esse sonho é nutrido pela maioria da Esquerda, incluindo muitos anarquistas: a metamorfose de um pequeno, frágil mamífero em um gigante, imparável dinossauro.

O sonho da massa é mantido vivo pela iconografia tradicional da Esquerda: desenhos de imensas multidões anônimas, trabalhadores maiores que a vida representando o crescente poder do proletariado, e fotografias aéreas de legiões de manifestantes enchendo as ruas. Essas imagens tendem a ser atraentes, românticas e empoderadoras: em resumo, propaganda da boa. Entretanto, não importa quão sedutoras sejam, nós não devemos nos deixar enganar em pensar que elas são reais. Essas imagens não são mais reais, ou desejáveis, que a publicidade cinicamente oferecida a nós pelo sistema capitalista.

Tradicionalmente, anarquistas têm sido críticos a homogeneidade que vem com qualquer massa (produção em massa, mídia de massa, destruição em massa) ainda assim muitos de nós parecem incapazes de resistir a imagem do oceano de pessoas inundando as ruas cantando “Solidarity Forever!”. Termos como “Mobilizações de Massa”, “Classe Trabalhadora”, e “Movimento de Massa” ainda dominam nossa propaganda. Sonhos de usurpação e revolução têm sido impressos em nossa visão de lutas do passado: nós compramos um cartão-postal de outros tempos e queremos experencia-lo nós mesmos. Se mudança massiva, global e imediata são nosso único referencial, os esforços de um pequeno coletivo ou grupo de afinidade sempre parecerá destinado ao fracasso. A sociedade de consumo enche nossas cabeças com slogans como “maior é melhor” e “quantidade sobre qualidade”. Não deveria ser surpresa que o sonho de um movimento de massa maior e melhor é tão prevalente entre radicais de todas as espécies. Nós não devemos nos esquecer quanta criatividade, vitalidade e inovação flui daqueles que se recusam a serem assimilados. Muitas vezes é esse pequeno grupo que despreza o maisntream que faz as mais fantásticas descobertas. Sejam campesinos em Chiapas ou uma criança esquisita no ensino médio, essas são as pessoas que se recusam a ser mais um rosto na multidão. O desejo de atingir massa leva a muitos comportamentos e decisões desfuncionais. Talvez o mais insidioso seja o desejo de amenizar nossas políticas para ganhar apoio popular. Essa tendência comum até de mais leva a campanhas homógenas, sem sal, que são o equivalente político aos cartazes profissionalmente impressos que vemos nos protestos e marchas, monotonamente repetindo o dogma da mensagem dos organizadores. Apesar do suposto apoio a lutas e campanhas locais só são úteis para os dinossauros se eles puderem ligar isso a (ser consumido pela) massa. A diversidade de táticas e mensagens que facilmente surgem de grupos heterogêneos deve ser suavizada e comprometido para focar em uma slogan, ou objetivo facilmente digerível. Nesse pesadelo, nossa mensagem e ações simplesmente se tornam meios para aumentar o fluxo de inscrições, adicionar assinaturas ou chamados pra ação: todas medidas de massa. Nós pagamos por esses números com o sufocamento da criatividade e objetivos comprometidos. Ideias que afastem a mídia ou expandam uma mensagem simples para além de um slogan (“No Blood for Oil” ou “Not My President”) são evitadas pois podem vir a provocar discussão e desacordos, e assim reduzir a massa. Os saudáveis debates internos, discordâncias, e variações regionais precisam ser diminuídas. Ainda assim essas são as mesmas diferenças que fazem nossa resistência tão fluída e flexível, elevando as mais ousadas inovações.

Nessas situações tristemente previsíveis, o discurso pronto reina. A todo momento, os olhos permanecem no prêmio: tamanho. O desejo por massa e homogeneidade (que estão sempre de mãos dadas) limita iniciativas não conformistas e radicais daqueles que querem tentar algo novo. Uma reclamação comum sobre criatividade ou ações militantes é que ela não vai soar bem na mídia, que irá apagar nossa mensagem ou que talvez possa alienar um ou outro constituinte. Chamados à conformidade, normalmente no formato de cínicas demonstrações de“unidade”, são ferramentas poderosamente efetivas para censurar a resistência apaixonada daqueles que não se limitam as políticas de massa. O que está faltando em nossos atos de rua e em nossas comunidades não é unidade, mas solidariedade genuína.

Ao assegurar seus próprios objetivos, dinossauros usam medo como uma ferramenta. Eles utilizam os perigos reais que encaramos em nossas vidas cotidianas em nossas comunidades de resistência. Organização de massa nos prometem segurança e força nos números. Se você deixar que suas ideias, desavenças e inciativa sejam consumidas pelo dinossauro, você estará protegido em sua espaçosa barriga. Sem dúvida, muitas pessoas estão dispostas a temporariamente acomodar suas mensagens e formas particulares de resistência por segurança. Porém a promessa de segurança, seja assegurada por permissão para protestar ou uma grande lista de apoiadores, são vazias. O Estado tem uma longa história desmobilizar movimentos de massa: a suposta força de um dinossauro vêm de seu imenso tamanho. Tudo que o Estado precisa fazer é se livrar de qualquer movimento que seja através de prisões, cooptação, pequenas concessões, intimidação, e “assentos na mesa”.

Conforme o movimento é dividido em grupos que podem ser cooptados e uma minoria de radicais, sua força se dissipa, e a moral despenca. Isso tem se provado repetidamente como uma forma efetiva do Estado de se livrar de qualquer movimento buscando por mudança social e política. Existem outros sonhos, sonhos de anarquia, que não são assombrados por imensos proto-dinossauros. Esses não são sonhos d”A Revolução” mas de centenas de revoluções. Esses incluem formas locais e internacionais de resistência que dão conta de serem inventivas e militantes. A monocultura de Um Grande Movimento buscando pela Revolução a experiência vivida por pessoas comuns. Anarquistas na América do Norte estão criando alguma outra coisa. Algumas vezes sem nem saber conscientemente, nós estamos soltando a pele morta da barriga do dinossauro da Esquerda e nos aventurando para criar resistências selvagens e imprevisíveis: uma multiplicidade de lutas, todas elas significativas, todas elas interconectadas. Os sonhos de anarquistas são os pesadelos dos pequenos dinossauros: tomem eles a forma de políticos de Washington, oficiais bem pagos dos sindicatos, ou burocratas de partidos. Com um enxame de indivíduos diversos e pequenos grupos, a resistência pode estar em qualquer lugar a qualquer hora, em todo lugar e a todo tempo. Em uns poucos anos desde o final dos anos 90, a mistura de convergências anti-globalização, ativismo local e campanhas, viajantes, tecnologicistas, e solidariedade com resistências internacionais têm criado algo novo na América do Norte. Nós estamos substituindo o Movimento de Massa com um enxame de movimentos onde não há necessidade de sufocar nossas paixões, esconder nossa criatividade ou acomodar nossa militância. Para os impacientes, parecerá que nós somos muito poucos e ganhando apenas pequenas vitórias. Porém uma vez que deixemos as pretensões da supremacia da massa de lado, nós podemos aprender que pequeneza não é apenas bela, também é poderosa.

Antifascistas suecos expõem DADOS DE CLIENTES DE loja online ligada ao movimento neonazista

publicado originalmente em antifa.se

A Midgard é uma das maiores lojas online de música e merchandise white power da região nórdica. Desde 1990, Midgard tem um papel significante no movimento nazi da Suécia, servindo como infraestrutura para o movimento. Ao longo dos anos Midgard têm ativamente participado e apoiado financeiramente inúmeras organizações nazis, além de estar presente em eventos internos.

A Midgard opera desde a cidade de Alingsås. A empresa por trás da Midgard é Ringhorne AB (556870-8803), os proprietários são Martin Flennfors (19860125-5519) e Martin Engelin (19860630-4957). Ambos têm conexão com o Nordic Resistance Movement (Movimento de Resistência Nórdica), onde Engelin continua sendo um dos membros mais proeminentes da organização.

Assim como anteriormente coletamos e divulgamos as informações de clientes da Kampboden em 2016, Midgard em 2017, White United Shop in 2020, e Greenpilled em 2023, agora também podemos compartilhar os dados de clientes da Midgard, de 2017 a 2022. Os registros incluem aproximadamente 20.000 pedidos de clientes ao redor do globo.

Por algum tempo processamos os dados suecos, que contém cerca de 2500 clientes. Todos esses clientes escolheram ativamente financiar financeiramente o movimento nazista da Suécia ao comprar da Midgard.

Por conta da extensão dos dados, decidimos colocá-los nesta página externa com recursos que facilitam a consulta. Queremos que esses registros sejam um recurso para qualquer um que busque investigar e atacar o movimento nazista.

Com essa publicação, queremos demonstrar que ninguém pode se manter anônimo ao escolher apoiar o movimento nazista. Nós sempre encontraremos vocês! É apenas uma questão de tempo.

Banco de Dados: https://midgard.antifa.se/

Fonte: https://antifa.se/2023/12/04/afa-research-vi-offentliggor-midgards-kundregister/

No Lugar de um Manifesto

[tradução do capítulo 02 do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

Nós vivemos em uma era de dinossauros, Ao nosso redor enormes berremutes sociais, econômicos, e políticos vagam por ambientes destruídos, por todo o planeta lançando sombras que ameaçam a vida. Existe um esforço titânico acontecendo em nossas comunidades conforme Capitalisto-Rex e Estadossaurus lutam para encherem suas barrigas com mais recursos e poder enquanto se defendem das garras de espécies competidoras como o recém descoberto, o selvagem Pterror-dactyls. A batalha entre esses gigantes é terrível, mas não pode durar para sempre. A Evolução está contra esses tiranos condenados. O sol deles já se põe e os olhos brilhantes de outros reluzem nas trevas, exigindo mudança.

Nem todos esses olhos são muito diferentes dos répteis tiranos que atualmente dominam o globo. Eles inspiraram dinossauros menores que aguardam sua vez de dominarem. Esses dinossauros menores são as ideologias fossilizadas da Esquerda. Apesar das promessas sedutoras, eles oferecem apenas uma versão mais confortável do sistema atual, e no final não são mais liberatórios que os mestres maiores, como os governos “socialistas” do Leste Europeu. Suas garras podem ser menores e seus dentes não tão afiados, mas seu apetite e métodos são os mesmos de seus parentes maiores. Anseiam pela massa: o eterno sonho da criança de ser gigante. Eles acreditam que se conseguirem chegar a uma massa suficiente, através de partidos, organizações, e movimentos, então eles poderão desafiar os dinossauros mestres e arrancar o poder deles.

Nas frescas sombras da noite, nas copas das árvores de florestas esquecidas, e nas ruas das cidades devastadas ainda existem outros olhos. Olhos ligeiros e corpos esguios alimentados de esperança, olhos que brilham com a possibilidade da independência. Essas criaturas pequenas vivem na periferia, nas pegadas e sombras de dinossauros. Suas orelhas não respondem aos chamados de dinossauros menores que querem os consumir e criar “um grande dinossauro” para dominar a todos os outros. Essas pequenas criaturas de sangue morno são muitas e variadas, vivendo da abundância descartada que os dinossauros em sua arrogância, pisoteiam. Eles conspiram juntos nas sombras e dançam quando os gigantes dormem exaustos. Eles constroem e criam, encontram novas e redescobrem esquecidas maneiras de viver, confiantes que a tirania terá um fim. Nós sabemos que esse reinado draconiano não irá durar para sempre. Mesmo os dinossauros sabem que sua era deve acabar: o meteoro certamente chegará Seja pelo trabalho das curiosas criaturas de sangue quente, seja por alguma catástrofe desconhecida, os dias ruins de colossais autoridades reptilianas acabará. O monótono uniforme de escamas blindadas será substituído por um traje de penas, pêlos e pele macia em um milhão de tons.

Essa é a anarquia na era dos dinossauros.

ANARQUIA NA ERA DOS DINOSSAUROS

[tradução do capítulo 01 do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

[Nota do Editor: abaixo estão as notas não editadas do diário mais recente do Dr. Errol Falkland; Dr. Falkland é um dos pesquisadores mais renomados em paleopolíticologia e sua pesquisa mais recente foi publicada na Nature, Left Turn, e New England Review of Paleopoliticology. Ele e alguns estudantes da Universidade Ferrer passaram este verão escavando novos sítios na América do Norte. Nós gostaríamos de agradecer a Dr. Falklands e seus estudantes por nos darem acesso as esses achados até então não publicados]

5/1: Nós encontramos um sítio especialmente rico essa semana, nos vales das Apalachias no sudeste da Pennsylvania. Um bom número de espécies foram encontrados em excelentes condições, incluindo o primeiro esqueleto completo de um Proletarius Maximus. Proletarius Maximus é sem sombra de dúvidas o ancestral de inúmeras outras formas menores de Proletarius (por exemplo: Classe-asaurus, Anarcho-communitarius, Syndicalicus e Polysindicalus). O excitante sobre essa descoberta é que podemos facilmente observar os fatores político-ambientais que permitiram tal besta fera sobreviver até a era moderna. Apesar de certo desacordo entre os pesquisadores, há poucas dúvidas de que espécies atualmente isoladas e ameaçadas de extinção como os Wobblienator e sua espécie, são diretamente relacionados a esse berremute do meio do século 19.

As características marcantes desse animal são seu imenso tamanho, seu movimento lento. E sua propensão a atolar em pântanos. Esse espécime em particular, sem dúvida foi abatido por um Federal Rex. Nas décadas passadas, um número de esqueletos parciais de Proletarius Maximus foram descobertos sugerindo que seu movimentos lentos os tornaram presa fácil não apenas para o Federal-Rex mas também para os Pteralpinkertons e outros predadores maiores, e mais perigosos do meio do século 19 e começo do século 20.

Evolutivamente, esses animais precisavam de massas cada vez maiores para se protegerem de animais predadores do gênero Capitalismauros. A inabilidade de se adaptarem e falta de confiança de confrontos cara-a-cara com predadores maiores comumente os tornava refeições fáceis para esses terríveis assassinos.

Apenas os menores parecem ter perecido de mortes naturais, aparentemente não foram considerados refeições grandes o suficientes para os predadores e foram deixados nas áreas marginalizadas da America do Norte como os campus de faculdades. Proletarius Maximus Norte Americanus é comumente confundido mesmo por palepolíticologos como sendo o mesmo animal que o Proletarius Maximus European, ou mesmo o híbrido especializado de Proletarius Maximus Espanol das Planícies Ibéricas. Análises taxidermicas (juntamente com novas pesquisas fecais) apontam importantes diferenças e abrem uma longa pesquisa para explicar a falta de crescimento do Proletarius Maximus da América do Norte.

Como eu Esqueci a Guerra Civil Espanhola e Aprendi a Amar a Anarquia

[tradução da introdução do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, Curious George Brigade]

Parece que o Verão finalmente chegou; Eu estive enfurnado neste apartamento trabalhando nesse livro por tempo de mais! Só agora percebi que nós nunca terminamos nossa conversa sobre a Guerra Civil Espanhola: aquele momento revolucionário quando anarquistas estiveram tão perto de criar uma nova sociedade pela qual não valesse a pena somente morrer, mas também viver.

Nossas conversas pareciam durar para sempre. Você me explicava o que tinha acontecido antes, os mínimos detalhes das milícias e coletivos, resistência e solidariedade, tudo. Eu sempre pensei nesse momento como “o mais perto que nós chegamos”, que loucura pensar nas possibilidades que eles tiveram! Como nós poderíamos não mitologizar lutas de lugares distantes como a Espanha e fantasiar como seria lutar em uma revolução de verdade ?

Eu percebo hoje, olhando pras páginas desse livro, que eu não ligo a mínima pra Guerra Civil Espanhola. Não quero dizer que foi um momento pouco importante na história, mas lendas sozinhas não são mais o suficiente pra mim. Eu não penso neles como os “verdadeiros” anarquistas comparados aos “anarquistas de segunda classe” como nós nos vemos. Nós precisamos viver e lutar contra o que enfrentamos hoje. Os anarquistas da Espanha revolucionária provavelmente iriam preferir que nós enfrentassemos nossa própria luta hoje, ao invés de passarmos tanto tempo discutindo a deles! Os anarquistas espanhóis não eram nada mais que gente comum, e eles fizeram exatamente o que nós faremos quando tivermos a oportunidade. Nosso coletivo vem trabalhando nesse livro por mais de um ano, essas são as nossas palavras para anarquia de hoje. Eu espero que você goste.

O que você tem em mãos não é um livro tradicional. Pense nele mais como um DNA de biblioteca ou um par de alicates de cortar arame. Em outras palavras: uma provocação. Livros sobre “política” normalmente tem um propósito específico e ensaios escritos de maneira direta, aos quais é esperado que você rapidamente defenda ou ataque sem piedade alguma. Se eles são bem sucedidos, segundo nos dizem, os autores vão ganhar apoio de uma facção em particular ou ser descreditados por outra que é competidora. Nós queremos algo diferente, abrindo tantas perguntas quanto respostas. Pense nisso mais como uma coleção de observações de campo escritas por um antropologista renegado que pôs fogo em seus diplomas para viver na floresta e escalar arranhacéus. Além de assombar as infoshops da nação, nós temos gravado as profecias resmungadas por vendedores de falafel nas esquinas, escrito poesias de amor disfarçadas de política, e vivendo políticas disfarçadas de amor-poesia. Nós somos anarquistas que cultivamos nossa resistência no coração do império americano. Essa é nossa pequena contribuição das comunidades de resistência que alimentaram nossas esperanças e nutriram nossas ambições.

Quando você fecha um livro, você acabou com ele. Você pode sepultar ele em sua estante ou, se realmente é algo precioso, doa-lo para um amigo. Não deixe esse livro apodrecer em uma estante. Dõe ele, deixo-o em uma parada de ônibus vazia para ser encontrado por um estranho ou use-o para te manter aquecido nas noites frias. A única maneira de se livrar desse livro é o incendiando.

Big brick energy

Publiado originalmenye por Unity and Struggle.

1. Introdução

O levante de George Floyd (2020) foi um evento enorme, independente da medida que se use para calculá-lo. Ele aprofundou a revolta geracional da população negra, ciclo que começou com o Black Lives Matter em 2014. Marcando o mais profundo desafio ao controle capitalista e racista desde a crise financeira de 2008. Vimos a Guarda Nacional sendo acionada em múltiplas cidades dos EUA pela primeira vez desde os anos 60, e numa estimativa informal, podemos considerar a onda de revolta civil mais cara do período pós-guerra. 1 O levante foi rico em lições, e marcou uma geração dos nossos, que tomaram as ruas.

Mas uma análise rigorosa do levante permanece limitada. Muitos de nós não tiveram tempo de refletir profundamente: indivíduos e organizações precisaram contornar a repressão estatal, disputas sectárias internas, violências interpessoais de recorte de gênero e raça, e todo tipo de tragédias derivadas da pandemia ainda em curso. Com frequência, grupos de amigos e camaradas chegaram a conclusões tiradas de experiências locais, e comentaristas à esquerda escreveram editoriais sobre temas específicos do levante, ou os manipularam para corresponder a seus dogmas.

Big Brick Energy dá um passo além das evidências anedóticas e das polêmicas. Por um ano, quadros do Unity and Struggle estudaram o levante entrevistando quinze camaradas em cinco cidades, analisando a cobertura jornalística das mesmas cidades, e monitorando relatórios oficiais de governos locais e departamentos de polícia em quinze cidades espalhadas pelo país.(Para saber mais sobre nossos métodos, veja o Apêndice A). Nós encontramos dinâmicas comuns em diferentes locais, identificamos táticas e estratégias que o movimento e a classe dominante utilizaram, exploramos o que funcionou ou não, e destacamos importantes desafios e questões que um futuro levante possivelmente encontrará.

No geral, o levante envolveu uma sequência comum de momentos se desenrolando em velocidades e intensidades diferentes, baseados em tendências nacionais e pontos de virada locais. Quando a rebelião estourou, ela decisivamente venceu a polícia e paralisou a classe dominante local, normalmente por vários dias. As pessoas se lançaram em ondas de protestos e saques, e táticas improvisadas que foram da autodefesa comunitária a zonas autônomas temporárias. Diferentes facções do estado (assim como vigilantes racistas e fascistas) reagiram de maneira confusa, mas eventualmente se mantiveram entre a repressão e a cooptação que serviu para conter a revolta. O movimento foi conduzido ao protesto não violento e reformas legislativas, o que rendeu ganhos muito mais rasos do que a maioria de nós almejava.

Dentro desta história existem muitas variações e nuances, e lições a serem aprendidas. Abaixo destacamos aspectos do levante que repercutiram em nossas táticas, estratégias, e políticas raciais.

Escritório da Polícia de Portland, Protesto do North Precinct, 23 de Agosto. Foto por David Geitsgey Sierralupe (flickr)

2. Descobertas Táticas

Entre 15 e 26 milhões de pessoas participaram do levante em quase 550 cidades e distritos ao redor dos EUA.2 Apesar da diversidade de experiências envolvidas, um grupo similar de táticas parece ter emergido na maioria das áreas.

a. Com o que se parece a espontaneidade das massas

No auge do levante, no fim de Maio e começo de Junho, as massas foram capazes de evadir e vencer a polícia. Manifestantes preferiram evitar a polícia, mantendo-os afastados com pequenas barricadas e fogo. Mas se provocados, eles respondiam arremessando objetos, praticando de-arrest [NT1], forçando a polícia a abandonar seus veículos e então os destruindo. Imagens de carros de polícia em chamas deram coragem para outros manifestantes, assim como o assalto a terceira delegacia de Minneapolis em 28 de Maio.

Nós descobrimos que autoidentificados esquerdistas raramente lideraram protestos ou marchas nos primeiros dias do levante. Uma publicação nas redes sociais de uns poucos militantes, estudantes, artistas, ou mesmo de um indivíduo já era o suficiente para reunir uma multidão, e uma vez reunida, multidões tendem a tomar iniciativas próprias. Inúmeros camaradas relembram a primeira vez que viram os autointitulados “organizadores” liderando com megafones, uma visão incomum no começo. Um camarada observou que, manifestantes sem ligação com grupos específicos, quando decidiam seguir um megafone era pela clareza da sua mensagem (baseada em política, com uma crítica ao sistema) e quando eles propunham rotas que faziam sentido e mantinham as pessoas seguras.

Participantes gravitaram em torno de papéis intuitivos e replicáveis. Ciclistas escoltaram as marchas, avaliando o terreno e bloqueando o tráfego. Pessoas levaram coolers e distribuíram lanches, ou latas de spray para pichar palavras de ordem. Portland desenvolveu um sistema tático especialmente radical durante os embates da “linha de frente” no Justice Center, após Trump ordenar o envio de agentes federais. Lá, os manifestantes começaram usando bandanas molhadas, mas após encontros com munições de pimenta, flashbangs, e granadas de gás lacrimogêneo “triple chasers” [NT2], adotaram o uso de máscaras de gás e escudos caseiros. Riot Ribs, um grupo mantido através de doações, distribuiu comida grátis e serviu como um lugar onde as multidões noturnas podiam lavar o gás lacrimogênio de seus rostos 3 . Trabalhando ao lado dessa atividade de massa, esquerdistas desempenharam um papel fundamental mantendo infraestruturas especializadas tais como médicos de rua (veja seção 2b). Mais do que grupos puxando marchas e palavras de ordem, as pessoas que disponibilizavam suporte material se tornaram as forças mais confiáveis no local: como disse um camarada, “eles tinham a confiança de todos”.

Os saques também se espalharam de forma indiscriminada, e desenvolveram táticas próprias. Uma vez que a polícia de determinada cidade estivesse ocupada, as comunidades estavam livres para saquear no vácuo de poder. Encontrar um alvo geralmente era tão simples quanto encontrar uma multidão e se unir a ela. Os saques eram noticiados nas redes sociais tanto de esquerdistas quanto públicas. No Bronx, as pessoas podiam seguir a pé os holofotes dos helicópteros da polícia para encontrar os pontos mais ativos. Em Philly, Minneapolis, e muitas outras cidades, surgiram caravanas de saqueadores: pessoas dirigiam até pontos onde saques estavam sendo reportados, encontrando outros e formando grupos com dúzias de veículos que viajavam entre shoppings. Alguns times desenvolveram um método com dois carros, com um dirigindo à frente, esmagando fachadas de lojas, e o outro seguindo atrás, liberando os produtos.

Onde o levante durou mais tempo e mais enfraqueceu o estado, duas táticas que emergiram, nos oferecem um breve olhar sobre o poder dual: ocupações e autodefesa comunitária. Essas táticas sugerem como futuros levantes podem se dar, enquanto também revelam os desafios estratégicos mais amplos que eles podem encontrar (veja seção 3).

As ocupações foram desde acampamentos de sem-teto reivindicando moradia, a acampamentos liderados por ONGs progressistas se opondo as verbas da polícia, até zonas autônomas relativamente espontâneas que floresciam conforme a polícia fugia. Nós vimos três exemplos do último caso, todas formadas em locais de violência policial: George Floyd Square em Minneapolis, no local onde Floyd foi assassinado, CHOP/CHAZ (Capitol Hill Organized Protest/Capitol Hill Autonomous Zone) em Seattle, e em Rayshard Brooks Peace Center ou o Wendy [NT3] ocupado em Atlanta, onde Brooks foi assassinado logo após Floyd.

Todas as ocupações ofereceram oportunidades vibrantes para alimentação, oficinas, apresentações e obras de arte abertas ao público. Ao contrário das assembleias gerais do Occupy ou da comunidade liderada por indígenas em Standing Rock, a liderança nessas ocupações era em grande parte informal, às vezes baseada em pertencimento local ou racial. Todos enfrentaram ataques de direita ou rumores sobre eles (e às vezes, visitas exploratórias de boogaloo boys), bem como a violência que se espalhava dos conflitos em suas comunidades vizinhas. As autoridades usaram tiroteios e mortes nas ocupações para enquadrá-los como ameaças à segurança pública. No entanto, nossos camaradas acreditam que esses incidentes muitas vezes eram consequência de conflitos comunitários preexistentes, do tipo que infelizmente são comuns, mas que geralmente são ignorados.

Em todas as zonas autônomas surgiram dúvidas sobre como e por quem, as decisões seriam tomadas, por exemplo, nos debates sobre entrar na delegacia de polícia abandonada em CHOP/CHAZ. As autodeclaradas equipes de segurança também foram um desafio, às vezes misturando armas com drogas ou álcool, ou tomando suas próprias decisões em conversas com autoridades externas. Na Praça George Floyd, um grupo de segurança chamado Agape colaborou com o governo municipal para desbloquear as ruas para o trânsito. No Wendy ocupado em Atlanta, a liderança informal veio da família e da comunidade de Rayshard, e após boatos de ataques de supremacistas brancos e assédio por repórteres hostis, pessoas não negras e repórteres de todas as raças foram frequentemente impedidos de entrar. Mas quando uma garota negra de oito anos chamada Secoria Turner foi morta por uma bala perdida durante um conflito em um posto de controle próximo, a ocupação começou a desmoronar. Eventualmente todas as zonas autônomas terminaram através de uma mistura de repressão estatal e contradições internas.

Em Minneapolis, onde a polícia sofreu as derrotas mais profundas e abandonou as ruas, grupos de autodefesa comunitária também surgiram em toda a cidade. Estes se formaram por uma variedade de razões com uma gama correspondente de políticas: para defender pequenos comércios, resolver problemas da comunidade e oferecer uma alternativa à polícia, ou manter postos de controle e manter o tráfico de drogas afastado, que haviam sido deslocados do centro para os bairros racializados.4 Alguns eram formados somente por pessoas pretas, outros somente por brancos, e ainda outros multirraciais. Alguns estavam armados e outros não. Enquanto alguns grupos de defesa eram liderados por ativistas de longa data, outros eram formados por punks, grupos de alcoólicos anônimos, veteranos da Guerra do Iraque, ou membros proeminentes da comunidade negra. A formação desses grupos exigia simplesmente coordenar caminhadas noturnas ou barricadas e, se necessário, trazer armas. Mas apoiá-los trazia desafios sobre como abordar questões comunitárias, e como se relacionar com o sistema 911 e o governo municipal.

  • Principais Descobertas
  • As revoltas envolvem um leque de campos táticos, incluindo marchas ou saques, conflitos contínuos da “linha de frente” com a polícia e barricadas ou acampamentos. Podemos assumir uma série de papéis nestes cenários, sempre com o objetivo básico de defender uns aos outros do estado ou dos fascistas e potencializar a ação de outros.

  • Os comícios, os cartazes, as palavras de ordem e as marchas não serão importantes no início de uma revolta, mas podem se tornar mais comuns. Liderar estes tipos de ações envolve demonstrar uma compreensão da causa e do propósito do movimento, e propor alvos significativos, sem esquecer de avaliar os riscos.
  • Em revoltas futuras, os movimentos podem novamente assumir o controle de pequenos territórios libertos. Estes provavelmente se tornarão alvos para reacionários, bem como centros de mediação de conflitos sociais em nossas comunidades. Os desafios táticos mais urgentes serão protegê-los de ataques, resolver conflitos que se desdobram no local e como as decisões serão tomadas e estabelecer critérios de participação.

  • A segurança armada ou autodefesa pode ser inevitável, dadas as ameaças que as revoltas enfrentam. Para evitar a deslegitimação do Estado e a cooptação, e evitar a violência interna, será necessário definir uma conduta aceitável para estes papéis e a quem eles devem prestar contas.

b. Contribuições da esquerda

No auge da revolta, alguns esquerdistas tentaram se organizar com comícios, cartazes e megafones. Estes métodos foram em grande parte perdidos com o aumento da espontaneidade. Mas outros procuraram formas de apoiar materialmente a ação de rua. Algumas vezes isso envolvia simplesmente a distribuição de suprimentos, como lasers para dificultar a vigilância policial, ou a popularização de princípios de lutas internacionais, como o slogan dos protestos de Hong Kong, “seja água”. Em Nova York, os camaradas compartilharam táticas defensivas, como encorajar as pessoas a não filmarem umas as outras, ou mover equipes de ciclistas para proteger as marchas. Pessoas que se envolveram em ondas de conflito anteriores foram capazes de detectar e disseminar táticas emergentes rapidamente, assim, difundindo entre a multidão, práticas que de outro modo permaneceriam entre um pequeno grupo.

Manifestantes de esquerda também mantiveram infraestruturas especializadas que outros poderiam usar ou aderir. Camaradas em muitas cidades forneceram a localização em tempo real de marchas ou viaturas policiais para audiências no Twitter ou Telegram, ajudando as multidões a se agruparem e evitando as barreiras policiais. Na Filadélfia, os organizadores criaram “casas seguras” onde amigos podiam descansar, receber notícias e monitorar os canais da polícia. Em muitas cidades, os fundos de fiança preexistentes também foram inundados com doações e voluntários, transformando-se em grandes organizações que pagando por fianças, enviando itens básicos, e dando apoio jurídico às pessoas libertas. Em Portland, os médicos de rua eventualmente adquiriram sua própria ambulância, abastecida por profissionais da saúde que expropriaram materiais no trabalho. Infraestruturas como estas permitiram que manifestantes cansados ou feridos apoiassem outras formas e ajudaram a sustentar a revolta ao longo do tempo. Mas eles também poderiam cair sobre um núcleo isolado de esquerdistas se não conseguissem incorporar rapidamente novos participantes.

Organizações beneficentes e partidos de vanguarda apoiaram-se em táticas familiares, como die-ins [NT4], reuniões com políticos, comícios com oradores e marchas para renderem boas fotos. Estas ações poderiam levar a cenas dramáticas, como quando o prefeito de Minneapolis Jacob Frey foi vaiado e precisou abandonar uma assembleia, por se opor a abolição da polícia. Mas elas também poderiam prejudicar a capacidade do povo de enfrentar o Estado. Na Filadélfia, o Party for Socialism and Liberation (Partido pelo Socialismo e Liberdade) repetidamente conduziu as multidões para longe da polícia para impedir confrontos, enquanto brigavam com os manifestantes para posicionar suas bandeiras sempre à frente das ações. Inócuas no início, essas táticas ganharam força à medida que a revolta atingiu os limites e organizações e pessoas menos radicais começaram a dirigir os eventos (ver seção 3).

Organizações reformistas também apresentaram propostas de políticas que diminuíram a escala da exigência de “abolição da polícia” para “redução de verbas”, enquanto em diálogo com o estado para cortar orçamentos em X por cento, fechar X prisões, contratação emergencial de conselheiros de saúde mental, e assim por diante 5 A esquerda teve dificuldade em avançar por essa frente e pressionar por mudanças mais radicais durante o auge da revolta.Em Nova York, quando o VOCAL-NY convocou um acampamento na prefeitura, exigindo um corte de US$ 1 bilhão no orçamento da polícia, os abolicionistas e socialistas que participaram lideraram suas próprias assembleias para compartilhar experiências e exigir cortes mais profundos. Fazer exigências ao Estado, foi compreendido por alguns manifestantes como uma forma de assegurar ganhos concretos de suas ações. Mas isso também poderia deslegitimar a militância de rua e reforçar as narrativas liberais de progresso.

  • Descobertas Chave
  • No auge de uma revolta, há pouca necessidade de organizar comícios e marchas. Em vez disso, devemos trabalhar para popularizar métodos práticos de luta que possam ser adotados de forma autônoma em escala massiva, e identificar novos métodos à medida que eles surgirem.
  • Infraestruturas especializadas podem proporcionar “consciência situacional” nas ruas, cuidados médicos ou apoio através do sistema carcerário. Elas ajudam a manter as revoltas, mas também podem reforçar o isolamento dos grupos de esquerda. Devemos usar esses momentos para acolher novas pessoas e fazer crescer nossas infraestruturas de forma sustentável.
  • Quando a ação de rua está em alta, as forças vigentes são paralisadas. À medida que a atividade de rua morre, as versões menos radicais de nossas demandas e objetivos ganham uma audiência. Isto sugere que devemos gerar demandas de massa quando uma revolta está em seu auge, e fazê-las circular para estabelecer um polo político se e quando a atividade se extinguir.  

c. Como a polícia respondeu

Relatórios oficiais confirmam o que todos nós vimos: os números, o alcance geográfico, a combatividade, a flexibilidade e a relativa falta de liderança da revolta dominaram quase todos os departamentos policiais do país durante cerca de uma semana (ver Anexo B). Examinando como a polícia foi superada, identificamos vulnerabilidades que podemos explorar em futuros levantes. Muitos departamentos de polícia utilizam um procedimento padrão para gerenciar protestos não violentos e outro para deter a criminalidade, e a revolta tornou ambos impraticáveis. Sem líderes destacados, a polícia não tinha pontos de contato para fazer cooptação preventiva. Quando se aproximaram de grupos na rua para identificar ligações, foram recebidos com hostilidade. Quando tentaram prender participantes individuais da revolta, encontraram uma mistura confusa de câmeras, palavras de ordem, e autodefesa violenta. Quando as unidades foram invadidas ou cercadas, a SWAT foi enviada para libertá-las. Os veículos deixados para trás foram saqueados e queimados. (Multidões em Cleveland, Los Angeles, e muitas outras cidades saquearam armas de mão de veículos da polícia. Em Chicago, algumas pessoas encontraram armas longas, e levaram somente a munição). Ao recusar a divisão entre protestos pacíficos legítimos e atos criminosos ilegítimos, a revolta confundiu o livro de regras da polícia.

A polícia também sofreu falhas operacionais devido à escala da revolta. Muitos departamentos colocaram em campo toda sua força, muito além das equipes especializadas que normalmente gerenciam os protestos, e unidades combinadas que raramente colaboravam e não possuíam treinamento de controle de multidões. Sem nenhum plano para sustentar destacamentos 24/7, os policiais foram levados à exaustão em turnos sem fim. Quando a polícia chamou as agências estatais ou a Guarda Nacional para apoio, os problemas se multiplicaram. Muitas agências não tinham acordos permanentes para compartilhar munições e equipamentos, o que atrasava o recebimento de gás lacrimogêneo e equipamentos de choque. Faltava também o uso comum de diretrizes de força, levando a esforços desarticulados que minavam uns aos outros.

Centros de comando de emergência foram criados para coordenar a repressão, gerando seus próprios problemas. O fluxo intenso de informação acabou confundindo as viaturas nas ruas. Muitas vezes os comandos não processavam informações recebidas, levando os outros agentes a serem inundados com informações irrelevantes, ou então deixados no escuro. Em Los Angeles, os oficiais à paisana normalmente passam informações para os comandantes no local: agora eles enviavam informações para um centro de comando responsável por toda a cidade e essas informações se perdiam, não eram reenviadas para os policiais próximos. E, sem líderes de protesto com os quais estabelecer contato, os comandos muitas vezes dependiam de redes sociais para saber dos próximos protestos e identificar suspeitos.6 (As jurisdições em centros de informações já estabelecidos eram mais eficazes).

Os próprios centros de comando acabaram por se tornarem uma desvantagem. Em Santa Mônica, a polícia montou um centro de comando dentro de um prédio normal da polícia, local para onde as manifestações da cidade acabaram por convergir. Um tijolo quebrou a janela da sala de onde se coordenava as atividades policiais, o departamento foi forçado a realocar toda sua coordenação de operações para uma cidade vizinha. Abastecer os oficiais em campo com alimento, água e munição também exigiu a preparação de espaços e linhas de abastecimento, e entregas em veículos do tipo “carro de golfe”. Mas como os comandos não tinham “consciência situacional” de onde ocorreriam os protestos, muitas vezes estabeleceram estas infraestruturas em locais vulneráveis. Em muitas cidades, as marchas ou barricadas desencorajaram o reabastecimento e impediram os oficiais de se deslocarem para cumprir suas ordens.

No decorrer dos dias a polícia conseguiu se adaptar e recuperar certa efetividade tática. Em Minneapolis, os manifestantes marcharam até a delegacia do quinto distrito na noite seguinte à queima da delegacia do terceiro distrito, mas a esta altura o Centro de Comando Multi-Agências do estado estava operacional, e uma mistura de oficiais locais e estaduais e tropas da Guarda Nacional conseguiram deter uma multidão hesitante. Em muitas cidades, o toque de recolher permitiu à polícia aumentar a repressão, e reimpor violentamente a distinção entre protesto sancionado e protesto ilegítimo. Em áreas que não haviam presenciado nenhum saque, o toque de recolher também serviu para uma função de propaganda ao espalhar o medo de que “os desordeiros estavam chegando”. Conforme a polícia ganhava a vantagem tática, os atores do estado e da classe dominante podiam começar a experimentar estratégias de longo prazo para dividir e cooptar a revolta.

  • Descobertas Chave
  • Para controlar os movimentos, a polícia precisa fazer distinções práticas entre manifestantes legítimos e ilegítimos. Para evitarmos que isso aconteça, devemos recusar a nos comunicarmos com representantes da polícia e os impedir de prenderem os manifestantes mais militantes.
  • Entre revoltas, devemos lutar para impedir ou anular acordos entre agências de inteligência, centros de fusão ou outras colaborações entre agências de repressão. Isto prejudicará a capacidade do Estado de reprimir futuros levantes e criminalizar comunidades racializadas.
  • Quando as revoltas estão no auge, devemos identificar e divulgar a localização dos centros de comando policial, áreas logísticas sensíveis e veículos de abastecimento. Protestos nesses espaços podem manter o estado taticamente desequilibrado. 

Manifestantes confrontam a polícia em frente a um supermercado Target, em Midway, St Paul, Minessotta. foto por Lorie Shaull (flickr)

3. Descobertas Estratégicas

a. Como saber quando as coisas vão pegar fogo

É crucial reconhecer quando as pessoas começam a se mover de uma maneira nova. Isto nos permite avaliar com precisão o potencial do momento e contribuir de forma significativa. Mas pode ser difícil saber quando algo está prestes a emergir. Constantemente vemos injustiças e protestos: por que um assassinato específico causado pela polícia provoca tanta revolta, e outros não? Aprendemos também a subestimar os acontecimentos. Quanto mais vemos os abusos passarem sem uma resposta, mais recuos e derrotas sofremos, mais inclinados estamos a observar tudo com cinismo.

Os primeiros dias do levante nos mostraram sinais pelos quais devemos estar atentos, sinais que podem nos indicar que uma ruptura maior está surgindo. Quase todos os nossos camaradas perceberam que 2020 seria diferente quando viram as pessoas responderem a táticas comuns de controle de multidões com uma combatividade extraordinária. Se tornava óbvio quando viaturas ou delegacias eram incendiadas. Mas já era visível mesmo nas primeiras manifestações em protesto ao assassinato de Floyd, ou nas semanas anteriores. Em Nova York, centenas de jovens haviam participado de campanhas de protestos “FTP” (“Fuck the police”, Foda-se a polícia) durante os meses anteriores, e camaradas também notaram uma inquietação crescente durante a pandemia: as pessoas se percebiam como essenciais e com direito a proteções, mas perderam a confiança nos serviços estatais, e ocasionalmente lançaram pequenas greves no local de trabalho contra condições inseguras.

Vários camaradas argumentaram que esta nova combatividade seria o reflexo de uma nova consciência. Os manifestantes chegaram há 2020 com o entendimento de que a polícia era um inimigo e que uma maior militância era justificada. Em Minneapolis, este senso comum foi construído em protestos anteriores contra assassinatos cometidos pela polícia (Jamar Clark, Philando Castile): as pessoas haviam observado ondas anteriores e absorvido suas normas e expectativas. À medida que os protestos proliferavam, também sentiam que ações distantes estavam criando oportunidades para eles próprios agirem, e vice-versa. Havia a sensação geral de que “esta é nossa oportunidade”.

  • Principais Descobertas
  • Quando as pessoas exibem um aumento drástico em ações militantes contra ações ordinárias de repressão, demonstram um novo senso comum construído por experiências anteriores, e alinham suas chances de sucesso com pessoas agindo em outros locais, uma ruptura pode estar em andamento.
  • A melhor maneira de perceber isso é participarmos (no mínimo) como observadores nos primeiros eventos, e ter relacionamentos com o maior número possível de diferentes comunidades. Assim podemos avaliar o ânimo do povo e projetar o quanto a revolta irá se ampliar.

b. Como o estado se partiu


Nós derrotamos o Estado não apenas fisicamente, mas também politicamente. Enquanto em algumas áreas os policiais eram atacados abertamente, mais frequentemente eles se retiravam para evitar confrontos. Onde a Guarda Nacional foi destacada, ela assumiu uma postura de suporte / defesa e tentou evitar confrontos diretos. O toque de recolher facilitou a repressão, mas também foi aplicado de forma inconsistente, e desencadeou violência policial que foi então denunciada por outras autoridades. Estas respostas contraditórias refletiram a paralisia de governadores, prefeitos e conselhos municipais, que hesitaram ao enfrentar uma situação impossível de se vencer. Se eles permitissem que os protestos continuassem, poderiam sofrer perdas, mas se optassem por reprimir todo tipo de protesto, poderiam desencadear uma reação imprevisível. No espaço aberto pela indecisão e recuo da classe dominante, o movimento conseguiu avançar: controlando território, expropriando bens, popularizando a abolição.

Postos na defensiva, diferentes partes do estado improvisaram respostas contraditórias entre si, e o próprio estado começou a se fraturar. Alguns políticos ecoaram a ameaça de Trump de declarar estado de emergência, enquanto outros tentaram se posicionar como aliados do movimento. Os departamentos de polícia em muitas cidades tiveram que parar de postar nas redes sociais; não apenas por causa dos trolls, mas também, de forma crucial, porque sua narrativa colidiu com a dos políticos liberais locais. Algumas cidades contiveram a polícia mesmo quando ordenaram que ela reprimisse. Em Portland, o conselho municipal proibiu o gás lacrimogênio, o que dificultou a capacidade da polícia de dispersar multidões sem se expor a ataques físicos. Em Minneapolis, os membros do conselho municipal prometeram desativar o departamento de polícia.

Ao mesmo tempo, as fileiras da polícia estavam de “sem coleira”. O vigilantismo mais difundido envolvia a retirada das patrulhas das ruas e a aplicação de explosões de extrema violência. Em Minneapolis, os policiais abandonaram as ruas e rondaram em furgões sem identificação, disparando spray de pimenta ao acaso e raptando ao menos uma pessoa.

Em Nova York, a polícia realizou uma manifestação contra saques, com aliados da comunidade dominicana em Washington Heights, que perseguiram suspeitos de participarem dos protestos de George Floyd pelas ruas com bastões de beisebol. A Polícia de Nova York também convidou o Homeland Security (agência responsável pela segurança nacional) a se instalar em várias delegacias sem o conhecimento do prefeito (os detalhes do acordo permanecem desconhecidos), e transportou detentos pela cidade enquanto se recusavam a colaborar ou se comunicar com a assistência jurídica, efetivamente desaparecendo pessoas sob custódia.7

Tudo isso sugere que quando as lutas em massa dividem o estado, elas podem criar oportunidades para recuperar riquezas e forçar concessões que de outra forma seriam difíceis de se alcançar. Também revela tendências que podem amadurecer em revoltas futuras: paralisia das instituições, mudanças súbitas na legislação, e vigilantismo fascista por parte da polícia.

  • Principais Descobertas
  • Nosso poder não vem apenas da força física nas ruas (embora isto seja importante). Ele também deriva de nossa capacidade de colocar a classe dominante na defensiva, provocar divisões dentro do estado e tirar proveito das aberturas que surgirem.
  • Revoltas dividem o estado, fazendo com que as facções entrem em conflito e minando a eficiência e a legitimidade oficial. Estas fraturas nos permitem impor vitórias que de outra forma pareceriam improváveis ou impossíveis.
  • Levantes prolongados desencadearão ações independentes por parte das fileiras policiais, tais como táticas de “guerra suja” e coordenação com agências federais ou fascistas. Não podemos confiar em regras ou leis burguesas para conter esta repressão.

c. Como estratos de classe e constituintes se articularam

Ao pesquisar os grupos que compuseram a revolta e as formas como se moveram, conseguimos inferir tendências que podem se repetir em revoltas futuras, ou variar de acordo com as condições locais. A revolta de 2020 foi liderada por uma massa vanguardista de jovens racializados da classe trabalhadora, mas esse é apenas o começo da história.

Em todas cidades que estudamos, assim como em 2014, a ação mais militante foi liderada pelo que os camaradas descreveram como “proletários negros” ou “molecada do bairro”: majoritariamente jovens negros de origem pobre e operária, de todos os gêneros, com poucos vínculos aparentes com a esquerda institucional, que participaram de protestos e escalaram para saques e combate direto a polícia. Algumas vezes fizeram isso com a ajuda de esquerdistas insurrecionários, outras vezes não. Na Filadélfia, no centro da cidade de Brooklyn, e no Parque Centenário de Atlanta, essas lideranças de base foram responsáveis por dar início ao levante.

O levante pôde acontecer porque diferentes raças e intersecções de classe se uniram em torno deste núcleo, apoiando a luta do povo preto e a conectando com suas próprias reivindicações sobre policiamento e criminalização. As juventudes somali, de nativos indígenas e de pessoas brancas apareceram em Minneapolis, por exemplo, enquanto os meninos de rua brancos se lançaram sobre a polícia e as vitrines de lojas em Seattle. As políticas comunitárias e familiares de cada local, podem ter moldado a forma como os diferentes grupos sociais responderam. Um camarada supôs que proporcionalmente menos jovens latinos saíram em Minneapolis, devido à rigorosa supervisão familiar, enquanto muito poucos jovens Hmong [NT5] participaram, talvez por causa do recente recrutamento da polícia na comunidade Hmong. (Um policial que ajudou a matar Floyd é Hmong, o ex-oficial Derek Chauvin, sua ex-mulher, também é Hmong).


As economias locais ditaram a proporção e os tipos de lumpem nas ruas, como trabalhadores precarizados, ou estudantes e jovens trabalhadores. Camaradas viram grupos de membros de gangues protestando, e alguns testemunharam desacertos em que armas foram sacadas e mesmo alguns tiroteios, mas geralmente a unidade na luta prevalecia. Os profissionais liberais também participaram de protestos e até do levante, incluindo trabalhadores de ongs, funcionários de serviços jurídicos e professores. Um camarada usou o auxílio desemprego e o auxílio do governo para participar da revolta em tempo integral, enquanto outro “deu log out do trabalho” durante algumas semanas. Geralmente, quanto mais “alto” o status de classe de um grupo, mais multirracial e não-preto ele era, e mais autoconscientemente ativista.

Quando os saques se espalharam para além das marchas em direção aos bairros ou regiões periféricas, permitiu que a revolta desse um salto em escala. Isto foi quase sempre iniciado por comunidades negras ou latinas pobres e trabalhadoras; dos bairros e subúrbios. Os saques eram frequentemente mais intergeracionais e comunitários do que os protestos. Os jovens geralmente se posicionavam quebrando o que fosse preciso, enquanto mães e filhas expropriavam juntas as mercadorias. Um camarada do Bronx viu jovens arremessando mercadorias “para as abuelas nas janelas do segundo andar”. Vários camaradas observaram que o saque também tinha uma lógica: as pessoas priorizavam os negócios parasíticos onde os pagamentos e a riqueza da classe trabalhadora desaparecem, como lojas de bebidas e lojas de penhores. A prioridade seguinte tendia a ser franquias de marcas e cadeias de lojas de luxo, e depois qualquer outra coisa.

À medida que a revolta encontrava repressão e cooptação, diferentes partes desta massa começaram a tensionar em diferentes direções. Ativistas de ongs e quadros de partido usaram ações para exigir reformas e recrutar novos membros. No processo, eles frequentemente se opunham à militância de rua, e a deslegitimavam: “é assim que fazemos a diferença, não através de tumultos”. Os círculos que permaneceram nas ruas persistiram por mais tempo com motins e saques (ver seção 4c) e às vezes se voltaram para ações direcionadas.Alguns eram explicitamente ilegais, como uma ousada série de explosões a caixas eletrônicos na Filadélfia, que durou um ano. Outros combinavam expropriações com demandas políticas: notadamente, pessoas sem teto em várias cidades aproveitaram a oportunidade para erguer acampamentos em parques da cidade e até mesmo em um hotel abandonado. Na Filadélfia e Minneapolis, estes acampamentos duraram até o outono, pois os residentes negociaram com as autoridades pela instalação de alojamentos e mudanças na legislação, muitas vezes em colaboração a esquerda.8

Pelo que podemos constatar, sindicatos não desempenharam um papel de destaque na revolta. Isto pode estar ligado a relativamente alta velocidade do levante de George Floyd, enquanto revoltas que duraram meses como a do Chile, levaram os sindicatos a convocar greves nacionais ou a negociar com o governo. No entanto, em alguns casos, ações autônomas forçaram as burocracias sindicais a apoiar a revolta. Na cidade de Nova York, um motorista de ônibus se recusou transportar manifestantes presos pela polícia, enquanto camaradas no lado de fora puxavam palavras de ordem, o que acabou forçando a TWU Local 100 a tomar uma posição de não oferecer seus serviços para a polícia. Em Minneapolis, os militantes sindicais conseguiram que seus sindicatos expulsassem a Guarda Nacional do Centro de Trabalho de St.Paul, que vinha sendo usado como infraestrutura logística.9

Os pequenos empresários e os proprietários de imóveis mudavam de discurso baseados em quem estava ganhando. Algumas vezes, estes grupos sociais apoiaram a revolta. Em Minneapolis, muitas empresas se protegeram convidando coletivos para fazerem artes políticas em suas faxadas, o que transformou visualmente a cidade. Algumas serviram como palco de protestos, ou se adaptaram para vender alimentos na George Floyd Square.

Os proprietários de imóveis, especialmente em comunidades racializadas, podiam até se opor aos saques, mas apoiavam os protestos. Um camarada da Filadélfia viu um proprietário tentar impedir a juventude de “destruir nossa própria vizinhança”, mas uma vez que a revolta se mostrou irreversível, juntar-se no confronto contra a polícia. Mas em momentos chave, estes grupos começaram a se abster da revolta. Em Minneapolis, incêndios descontrolados causaram profundo mal-estar entre os proprietários e as empresas. Saques indiscriminados também podiam afastar comunidades que estavam intimamente identificadas com seus pequenos empresários. Quando empresas de imigrantes latinos ao longo da rua Lake Street foram saqueadas em Minneapolis, um camarada sentiu que para muitos, seria um sinal de que “isso não é para nós”.

Finalmente, os trabalhadores brancos e os pequenos burgueses também mobilizaram protestos reacionários contra a revolta. Na Filadélfia, homens brancos apareceram em Fishtown com cerveja e tacos de basebal para defender as pequenas empresas, e mais tarde marcharam com armas para defender sua estátua de Cristóvão Colombo. 10 Os contraprotestos nestes locais desencadearam o que um camarada chamou de “uma guerra civil” entre pessoas brancas. Em várias cidades, fascistas organizados realizaram marchas ou patrulhas armadas (em Atlanta, na mansão do governador) com o apoio tácito da polícia. Estas ações poderiam levar à violência, como em Kenosha. Mas elas também desencadearam um golpe político em cidades como Kalamazoo, Michigan, depois que a polícia foi exposta no noticiário escoltando as marchas fascistas.

  • Principais Descobertas
  • As revoltas ganham impulso quando diferentes grupos sociais alinham suas exigências às do grupo protagonista e se juntam a ele em ação. Conforme os diferentes grupos se movimentam, eles contribuem com seus próprios repertórios de protesto, expandindo a participação da revolta, o alcance geográfico e seu significado. Devemos trabalhar para ampliar continuamente a base das revoltas.
  • A coação e a cooptação da classe dominante canaliza a resistência para a política institucional, e impõe uma nova separação. Nesses pontos de virada, ativistas profissionais e agentes políticos das ruas tenderão a seguir caminhos diferentes. Para sustentar uma revolta, temos que ajudar essas lutas a se coordenarem para que se apoiem mutuamente e para que se defendam, e não deslegitimem, a militância da classe trabalhadora negra nas ruas.
  • Os sindicatos podem ser estimulados a dar apoio prático a revolta, se os membros da classe trabalhadora negra participarem dela e levarem suas preocupações para o campo sindical.
  • Os proprietários de imóveis e pequenos empresários podem moldar a visão de uma comunidade sobre uma revolta, especialmente aqueles que compartilham laços étnicos com a classe trabalhadora da vizinhança. Em futuras revoltas, teremos que identificar quais pequenos burgueses podem influenciar partes da classe trabalhadora e considerar se, e como, devemos influenciar a ação de massa para atingir alguns bens capitalistas enquanto poupamos outros. 

d. Os limites internos encontrados pelo levante

Várias semanas após o início da revolta, o movimento começou a diminuir e ter dificuldades de encontrar caminhos para avançar. Alguns pensadores comunistas chamam isto de “limite interno”: o ponto em que os métodos, as reivindicações e os objetivos que permitiram que um movimento se elevasse não são mais adequados para sustentá-lo, e o movimento deve desenvolver novos objetivos e meios, ou então recuar.

Uma série de limites era de ordem prática. Nas cidades de todo o país, a escala da insurreição sobrecarregou a polícia. Mas a certa altura, a escala também apresentou desafios para reproduzir e sustentar a revolta. Em Nova York, cada ação normalmente coordena seu próprio apoio a eventuais prisioneiros, em um ou dois locais onde as prisões são processadas. Mas uma vez que as ações começaram a atrair centenas de pessoas e as prisões foram espalhadas pela cidade, este modelo se mostrou difícil de ser ampliado. Os ativistas agora tinham que improvisar o apoio carcerário em toda a cidade com poucas relações preexistentes. Pequenas redes de confiança lutaram para rastrear um grande número de detenções, e os locais de apoio carcerário atraíam grupos de apoiadores sem que eles fossem treinados para desempenhar papéis voluntários, ou previamente aprovados por pessoas mais experientes.

Como Minneapolis viu a maior agitação do país, ela revelou muitos desafios que grandes revoltas enfrentarão. Lá, bairros inteiros foram fechados e tiveram suas lojas saqueadas, criando enormes desertos alimentares do dia para a noite. As comunidades responderam com uma explosão de projetos de apoio mútuo e com a redistribuição de mercadorias saqueadas. Mas esses esforços ainda encontravam dificuldades para fornecer alimentos na escala necessária. Aproveitando a oportunidade, igrejas e organizações sem fins lucrativos entraram em cena; possivelmente com financiamento do governo; para circular caminhões carregados de alimentos gratuitos pela cidade durante meses. Da mesma forma, quando a polícia se retirou das ruas, grupos comunitários de autodefesa brotaram pela cidade, representando um potencial desafio de poder dual ao estado local. Mas era difícil para eles saberem da existência uns dos outros, quanto mais se coordenarem. Isto os deixou vulneráveis à paranoia e às investidas dos políticos locais. Um grupo chamado “Panteras Negras Originais” convocou uma reunião de grupos de defesa comunitária, mas esta reunião não produziu uma estrutura organizacional ou orientação comum para os políticos, a polícia e assim por diante. Estas experiências sugerem os tipos de mobilização de massa necessárias para a sustentação do poder dual: redes de distribuição de alimentos e outros auxílios (por exemplo, de áreas agrícolas vizinhas) e uma plataforma comum para a defesa comunitária autônoma.

Um segundo conjunto de limites era político. Como a revolta encontrou repressão e críticas, os participantes tiveram que justificar por que estavam lutando e esclarecer o que queriam: qual o objetivo de toda esta agitação? Para alguns, um senso de direção também diminuiu após as vitórias iniciais da revolta. Depois de fazer a polícia recuar e expropriar bens, os participantes começaram a perguntar o que viria em seguida, e que mudanças duradouras poderiam facilitar nossas vidas e dificultar a dos governantes. Como disse um camarada, “estamos marchando através de outra ponte, mas é difícil ver para onde estamos construindo”. Neste ponto, na ausência de objetivos e princípios comuns, os políticos podiam experimentar na cooptação e os oportunistas estavam livres para lançar novas iniciativas. Nesta altura a ausência de assembleias para resolver estas questões era visível: se manifestou em lugares como Seattle, onde manifestantes ocuparam o Cal Anderson Park no Capitólio, mas tiveram dificuldades para estabelecer um consenso sobre entrar ou não na delegacia abandonada, ou para que propósito o prédio seria utilizado.


Os participantes também precisaram descobrir como se relacionar uns com os outros à medida que suas diferenças se tornaram mais evidentes. Entre a esquerda organizada, divergências táticas e estratégicas poderiam levar a disputas por liderança ou desentendimento. Nas bases, desentendimentos podiam crescer a ponto de incluir intimidações com armas de fogo, o que fez com que locais como o Wendy em Atlanta se tornassem isolados e perigosos. Como os diferentes grupos sociais geralmente destacavam as questões que entendiam mais urgentes, os diferentes níveis de compromisso e riscos assumidos por diferentes participantes se tornaram nítidos, o que poderia levar a desconfiança. Um camarada, observando a desconexão entre os espectadores do bairro e os professores socialistas em marcha, e o ceticismo local em relação aos levantes multirraciais acontecendo no centro da cidade, observou: “nos fez sentir como se de repente, já não soubéssemos, com certeza, quem era o inimigo”. Estes limites sugerem a necessidade de um propósito, objetivos e princípios comuns para sustentar uma revolta, dentro da qual uma variedade de abordagens pode ser experimentada.

  • Principais Descobertas
  • Conforme um levante fratura e desloca do Estado, ele enfrentará o desafio de manter apoio médico e jurídico, de alimentos e autodefesa coletiva para se reproduzir. É neste momento em que surge o poder dual. Podemos nos preparar para estes momentos cultivando relações de colaboração, políticas comuns e métodos para envolver novos participantes, na escala de uma área metropolitana.
  • No auge de uma revolta, quando novas iniciativas estão se formando diariamente, é fundamental conectar os projetos mutuamente e ajudá-los a estabelecer organizações e orientações políticas compartilhadas.
  • Os levantes exigem meios próprios para discutir coletivamente seu significado e direção. Isto inclui decidir como responder aos movimentos da classe dominante, situar preocupações individuais ao coletivo e estabelecer objetivos comuns que enfraquecerão a classe dominante e fortalecerão nossa autonomia. Devemos criar espaços para estas discussões e oferecer nossas próprias ideias. 

e. Como a classe dominante e o estado cooptaram e contiveram o levante

A repressão só teve sucesso porque a classe dominante também convenceu algumas pessoas de que suas preocupações poderiam ser representadas e resolvidas através do Estado. Os políticos, especialmente as elites da institucionalidade em comunidades racializadas, fizeram isso ao rotular a militância como inaceitável e repreendendo os jovens de suas comunidades. Ao mesmo tempo, experimentaram maneiras de ganharem a audiência dos participantes e serem aceitos como representantes dos sentimentos da população.

Políticos surgiram ao lado da pequena burguesia organizada ou outros grupos cujo apoio poderia representar toda a comunidade: empresas, projetos distritais, igrejas, ongs locais, celebridades, e assim por diante. Várias prefeituras organizaram “mutirões de limpeza” com proprietários de pequenas empresas. Em Atlanta, o prefeito chamou um entrevista coletiva com T.I. e Killer Mike para condenar o levante.

Como observado por uma camarada, residentes geralmente aceitavam estes movimentos pois vinham de organizações que eram conhecidas na comunidade. Onde essas não existiam, políticos também ofereciam salários para elementos do lumpem, criando novas parcerias: Agape, o grupo formado por ex-membros dos Vice Lords que abriu a George Floyd Square para o tráfego de carros foi beneficiado com contratos para lidar com programas sociais para a juventude.

Políticos também propuseram reformas, que transferiram o controle sobre o ritmo dos eventos das ruas para os conselhos municipais, e ganharam tempo enquanto a militância diminuía. A proposta para diminuição dos investimentos em policiamento foram introduzidos e constantemente diluídos no início de Julho. No outono, foi introduzido uma legislação limitando as táticas policiais, ou estabelecendo conselhos civis de fiscalização. Estes projetos de lei se arrastaram por meses à medida que eram debatidos, estudados e emendados em várias audiências. O efeito foi produzir uma imagem de consulta democrática, na qual a militância poderia recuar e vozes conservadoras poderiam ganhar destaque, por exemplo, em preocupações com a violência armada. Uma emenda da Carta de Minneapolis para desmantelar a polícia foi derrotada desta forma por referendo, em novembro de 2021. Para os locais mais militantes, como grupos de autodefesa em Minneapolis ou a ocupação do Wendy em Atlanta, os políticos negociaram às portas fechadas, manipulando os participantes longe dos olhos do público. As autoridades também promoveram várias mudanças simbólicas, como a remoção de estátuas e a nomeação de mulheres racializadas como chefes de polícia.

As organizações sem fins lucrativos desempenharam um papel fundamental facilitando este processo. Enquanto algumas foram diretamente contratadas pelas prefeituras, outras simplesmente se dedicaram a repertórios familiares, usando o “calor da rua” para alcançar mudanças legislativas progressistas. Por exemplo, Black Visions em Minneapolis, liderou as primeiras reuniões que forçaram o conselho municipal a se comprometer a desarticular a polícia, dando origem a um ano de uma fracassada luta pela emenda de um estatuto. Para conduzir estas campanhas, as ongs muitas vezes tiveram que minar a militância que, de outra forma, poderia ter ajudado a forçar concessões significativas. Geralmente o faziam, apresentando-se como representantes da comunidade e apontando militantes como forasteiros, que colocariam em perigo os habitantes locais. No acampamento da VOCAL-NY na prefeitura de Nova York, os participantes saíram às ruas quando um orçamento meramente simbólico foi aprovado. Mas os funcionários da VOCAL convenceram a multidão a dispersar, alegando que as pessoas estariam “desrespeitando as mulheres negras” caso se recusassem a sair. Quase todos os camaradas tinham uma história semelhante de “policiamento pacifista” de funcionários ou membros de organizações sem fins lucrativos.

  • Principais Descobertas
  • Para evitar a formação de uma coalizão do tipo “lei e ordem”, é importante impedir que os pequenos burgueses e políticos locais se posicionem e conquistem o consenso das comunidades locais. Isto destaca a necessidade de organizações autônomas de esquerda em comunidades pobres, racializadas e da classe trabalhadora, que sejam bem conhecidas localmente, para desafiar o discurso oficial em momentos-chave.
  • Reformas desmobilizam os movimentos, controlando o ritmo dos eventos e estabelecendo os termos da participação popular. Isto sugere que temos mais chances de conquistar vitórias quando são os movimentos populares que tomam a iniciativa, impondo urgência sobre o Estado e facilitando a participação democrática de massa.
  • As organizações sem fins lucrativos ganham influência atuando como representantes das comunidades, e pressionando os políticos enquanto mantêm relações de trabalho com eles. Em contraste, devemos ajudar as pessoas a formular e expressar suas reivindicações diretamente, e reverter as relações de clientela com as elites. 

Nono dia do protesto por George Floyd, em Miami. Por Mike Shaheen (flickr)

4. Descobertas nas Políticas Raciais

A revolta por George Floyd foi tanto uma continuação quanto um salto adiante na resistência protagonizada por pessoas pretas contra violência policial e racista durante os últimos quinze anos.


A rebelião de Oscar Grant, em Oakland (2009) prefigurou muitas das características vistas em 2020, desde revoltas de jovens desafiando as elites políticas negras até o papel de contrainsurgência desempenhado por organizações sem fins lucrativos. Os protestos não violentos contra assassinatos racistas passaram a atingir uma escala nacional desde 2012, após o assassinato de Trayvon Martin. Quando o assassinato de Michael Brown em Ferguson desencadeou o movimento Black Lives Matter em 2014, os protestos saltaram em nível nacional e global, e também desencadearam revoltas em cidades americanas como Baltimore, embora estes tenham sido menos comuns. A revolta de 2020 tornou-se novamente nacional e global, de protestos na França a #EndSARS na Nigéria. 11 No entanto, neste caso, protestos violentos nos EUA também foram imediatos e generalizados.

Nós acreditamos que esta tendência reflete um senso ainda mais profundo e frequente da ilegitimidade do Estado, do enraizamento do racismo na sociedade americana, e da escala de resistência necessária para mudá-lo. A luta negra está evoluindo, e impõe desafios mais profundos ao capital. Os últimos momentos de 2020 sugerem como a prática da unidade multirracial pode surgir e as vulnerabilidades que ela terá que enfrentar, bem como as formas que a autonomia negra pode assumir e os desafios que ela, por sua vez, enfrentará.

a. O que tornou possível a unidade multirracial

Os primeiros dias da revolta foram caracterizados pela ação conjunta de uma ampla unidade multirracial. Parte disto se deve a um súbito colapso de hegemonia: com a polícia e as elites políticas incapazes de criminalizar e dividir os manifestantes, e o movimento unido contra um inimigo comum, as ruas se tornaram campo de testes para novas formas de solidariedade racial.

Essas experiências levaram a momentos engraçados. Um camarada lembrou que, quando uma multidão multirracial arrebentou janelas do CNN Center em Atlanta, um manifestante branco se juntou e os participantes começaram a cantar “go white boy, go white boy” (“vai, garoto branco, vai”) em apoio. Durante os saques na Filadélfia, um camarada branco foi abordado por vários manifestantes negros, um declarando “esta noite, somos todos cr******!” e outro anunciando “ok, todas as vidas são importantes”.

Isto foi mais fluido do que em muitas marchas anteriores, onde participantes poderiam ser moralmente encorajados a assumir papéis distintos e níveis de risco de acordo com sua posição racial (“os brancos para a frente/lados”). No auge da revolta, a solidariedade era informada por riscos mútuos em ações ilegais: aqueles dispostos a combater a polícia e saquear propriedades compartilhavam um novo tipo de pertencimento, no qual as posições raciais poderiam ser simultaneamente reconhecidas e a uniformidade entre elas, celebradas.

Unidade multirracial também pode ter sido construída com base na vida cotidiana. Um camarada de Minneapolis supôs que a solidariedade entre os jovens nas ruas pode ter sido construída por colaborações prévias dos jovens nas escolas e vizinhança, como os clubes de futebol que aproximam a juventude somali e mexicana no lado sul da cidade. A experiência das pessoas em cenários multirraciais certamente moldou como elas poderiam imaginar as potências e limites desses vínculos de solidariedade.

  • Principais Descobertas  
  • As revoltas criam espaços onde podemos simultaneamente reconhecer nossas diferentes posições raciais e práticas que as transcendem. Uma condição-chave para isso é que tomemos ações conjuntas contra o capitalismo racial e compartilhemos os riscos e responsabilidades de fazê-lo, inclusive em ações ilegais contra a polícia ou propriedade.

b. Como a divisão racial reemergiu

Por mais poderosa que fosse, a aliança multirracial era igualmente frágil. Uma vez que a classe dominante recuperou sua estabilidade, as elites políticas frequentemente usaram o espectro do branco agitador infiltrado (às vezes descrito como anarquista, às vezes fascista) para marcar a militância como uma ameaça às comunidades racializadas. Ongs frequentemente ecoavam esta retórica para se apresentarem como os verdadeiros representantes das comunidades racializadas, e únicos capazes de produzir mudanças reais. Vários camaradas observaram que este discurso distorcia a maneira como as pessoas entendiam sua própria revolta, por exemplo, chegando a acreditar que os tumultos foram iniciados por provocadores brancos.

Estas manobras influenciaram a desconfiança sobre as intenções das pessoas brancas dentro do levante. As comunidades racializadas têm um ceticismo racional quanto à confiabilidade dos brancos e uma profunda experiência com a repressão do estado baseada em gerações sob a supremacia branca. No Brooklyn, um camarada negro observou que seus vizinhos temiam que a polícia se irritasse com os manifestantes brancos no centro da cidade e se vingassem na sua comunidade após o toque de recolher. E em muitas cidades, a violência branca também era uma ameaça palpável. Uma vez que fascistas ou reacionários estivessem em movimento (ou que se acreditasse que estivessem), simplesmente não valia a pena o risco de ter pessoas brancas por perto.

Reformistas não negros, rapidamente voltaram aos protestos pacíficos e dentro da legalidade conforme o estado se mostrou mais repressivo, deixando militantes negros para lutarem sozinhos (ver seção 4c). Ansiosos para se posicionarem como aliados da população negra, eles seguiram as ongs que pediam por reformas e denunciavam ilegalidades. Esquerdistas brancos também exitaram em propor ações e ideias, as vezes cedendo espaço para reformistas oportunistas. Todas essas dinâmicas apontam para a importância de grupos revolucionários autônomos em comunidades racializadas, que estão melhor posicionadas para liderar ações militantes contra supremacistas brancos e reformistas racializados, e são capazes da guiar os termos da solidariedade vinda de pessoas brancas.

  • Principais Descobertas
  • A classe dominante mantém sua posição não somente alimentando a violência de supremacistas brancos, mas também cultivando apoio de social-democratas brancos a elites reformistas de populações racializadas, e um senso de fraqueza e isolamento entre a classe trabalhadora negra. Essas dinâmicas se baseiam em experiências reais, e exigem prática massiva de longo prazo para ser modificada.  
  • Futuras revoltas podem vir a serem fortalecidas pela construção de uma pequena mas consistente tendência de apoio de populações não negras para a militância negra, e o desenvolvimento de organizações autônomas revolucionárias em comunidades racializadas que são capazes de lutar dentro dos nossos próprios termos.

c. Protestos de Segunda Onda como autonomia racial

O enfraquecimento da unidade multirracial não significou a paralisação da militância. Em vez disso, o espírito do levante se manteve de forma mais autônoma, liderado por pessoas negras da classe trabalhadora e camadas lumpem, com apoiadores não negros em menor número e/ou mais distantes, e enfrentando maior repressão pela polícia. Vimos isso nitidamente no que chamamos “protestos de segunda onda”: predominantemente resistências negras que surgiram quando o levante se enfraquecia.

Enquanto a primeira leva de protestos ao redor do país surge em resposta a Minneapolis, algumas cidades que nós estudamos viram uma segunda rodada de protestos motivados por assassinatos cometidos pela polícia local. Em Atlanta, a polícia assassinou Rayshard Brooks três semanas após George Floyd, dando início a ocupação do Wendy. No fim de Agosto em Minneapolis, Eddie Sole cometeu suicídio enquanto fugia da polícia, e inicialmente as suspeitas eram de que ele teria sido alvejado pela polícia, o que levou a uma nova onda de saques. Em Outubro em Philly, a polícia assassinou Walter Wallace, também resultando em uma nova onda de saques.

A maioria dos participantes destes protestos eram pessoas negras, já que a maioria dos manifestantes não negros haviam retornado a formas tradicionais de protesto. Os próprios manifestantes passaram a ter menos confiança na participação de pessoas não negras. Em Atlanta, em certos momentos pessoas não negras foram convidadas a deixarem a ocupação no Wendy. Em Philly, pessoas brancas que apareceram para observar os saques sem participar, foram perseguidas ou recebidas a socos. A sensação de isolamento e desconfiança para com participantes não negros não era mera paranoia. A cobertura jornalística local da ocupação do Wendy em Atlanta, por exemplo, era frequentemente racista e classista, e haviam rumores de ataques de branco racistas na área. Em Philly, a polícia agia de forma bem mais violenta a esses protestos do que aos de Maio, buscando vingança por suas derrotas anteriores e a eliminação de qualquer resistência negra.

Apesar das limitações dos protestos de segunda onda, eles se mostraram um importante desafio tanto para os reacionários brancos quanto para as elites racializadas, destacando as formas que a luta negra autônoma pode vir a tomar em futuras revoltas. Espaços como o Wendy em Atlanta expõem questões que todas as lutas negras são levadas a resolverem quando lutando de forma independente: como lidar com conflitos dentro da comunidade, como responder a aberturas e repreensões vindas da elite negra, e como se relacionar com pessoas não negras que querem prestar solidariedade.

Os protestos de segunda onda também destacam a necessidade de revolucionários não negros de encontrar formas de apoiar a autonomia negra enquanto não participam diretamente destes espaços. Um camarada em Philly apontou que táticas não violentas como impedir a polícia de se aproximar de quem estava saqueando era uma maneira simples mas prática de apoiar a militância de rua. Outro camarada apontou que os acampamentos criados para sem tetos durante os protestos (outro tipo de ação que surgiu conforme o levante esfriava) como um local onde esquerdistas podiam oferecer apoio contínuo para lideranças predominantemente negras.

  • Principais Descobertas
  • Após o pico de um levante, unidade multirracial espontânea pode dar lugar a um recuo reformista e a protestos de segunda onda em comunidades racializadas, motivados por injustiças cotidianas.
  • Em momentos de protestos de segunda onda, aqueles entre nós que se organizam de forma autônoma em comunidades trabalhadoras negras devem definir quais tipos de alianças com esquerdistas não negros são estratégicas, além de nos movermos independentemente das elites negras. Esquerdistas não negros devem encontrar maneiras de apoiar materialmente a militância negra da classe trabalhadora, mesmo quando nossas atividades e organizações venham a se afastar.

Manifestante em cima de um carro da polícia (Seattle, Washington) By Hongao Xu (flickr)

5. Conclusão

Dois anos após 2020, muitos se perguntam o que mudou. Reformistas agora reprovam a retórica do “não financie a polícia” enquanto a direita redobra sua guerra contra a “cultura woke”. Administrações do tipo “lei e ordem” estão rotulando crises de saúde mental e violência nas comunidades como histeria, e recuando nas reformas do sistema judicial a mando dos capitalistas locais. No entanto, houve uma mudança profunda no terreno político no qual as próximas lutas ocorrerão. Grandes rupturas tendem a se dispersar em uma teia de conflitos menores com relação a preocupações locais, como um rio se transforma em múltiplos cursos. Encontrando estes cursos, podemos encontrar locais para manter pequenas, mas significantes vitórias; e criar o alicerce para o próximo levante.

As maiores reivindicações do levante não foram alcançadas. Poucas cidades reduziram seus investimentos na polícia e passaram a financiar programas sociais. Esses cortes variaram entre 1-2%, geralmente se dando através de truques fiscais, e todos têm sido revertidos. Mas as reformas no sistema judicial tem acelerado: algumas cidades passaram a dirigir chamadas ligadas a saúde mental para serviços alternativos, criado novos comitês para fiscalizar a polícia, eleito defensores públicos progressistas, e limitado ou proibido que a polícia use manobras de estrangulamento, ou incursões a domicílio sem aviso. Muitos departamentos policiais também sofreram ondas de renúncias e aposentadorias prematuras. Alguns precisaram criar programas para o “bem-estar das tropas” para lidar com os inúmeros casos de depressão, e operar com força reduzida. Nossas descobertas sugerem que precisamos de poder autônomo para combater o reagrupamento da classe dominante, ou nossos ganhos serão aplicados nos termos das elites, e rapidamente desfeitos.

Para além das políticas públicas, os impactos da revolta continuam a serem sentidos cultural e institucionalmente. Em uma questão de semanas, o tema da “abolição” saiu dos círculos esquerdistas e ganhou o discurso público, e grandes empresas se apressaram em abraçar a retórica da “justiça radical”. Universidades e empresas lançaram inúmeras iniciativas de justiça, transformando suas governanças internas. Conforme estudantes retornaram para aulas presenciais, muitos lideraram manifestações contra administradores racistas e sexistas. A onda atual de trabalhadores em busca de organização pode ser influenciada pelas experiências de trabalhadores em 2020, incluindo a revolta. Em Minneapolis, pessoas da cena do hip-hop e do metal, e mesmo do stand-up, foram forçadas a encarar o racismo, patriarcado e homofobia. Em várias cidades comemorações do orgulho lgbtqia+ expulsaram a polícia, iniciando conflitos entre a polícia e participantes radicais. Nestes meios onde nós temos vantagens estratégicas, táticas e numéricas, podemos lutar para consolidar vitórias duradouras.

Conforme o fazemos, podemos também passar a aplicar as lições táticas, estratégicas e raciais de 2020. Popularizando táticas, mantendo infraestruturas que sustentam a resistência, e dificultando a capacidade de coordenação das forças policiais, estamos preparando o terreno para futuras vitórias táticas. Mantendo as facções do estado em cheque, cultivando parcerias entre diferentes comunidades e camadas de classe, e defendendo a legitimidade da militância de rua negra, nós construímos a fundação para vitórias estratégicas. E praticando solidariedade multirracial que partilha os riscos, compromissos de longo prazo e constrói organizações autônomas de esquerda em comunidades racializadas, nós preparamos o terreno para uma unidade que tem como princípio a luta contra o capitalismo racial.

Nós podemos aplicar essas lições agora, em síntese ou miniatura. Assim, nós tornamos mais provável que um próximo levante surgirá no futuro, e que será capaz de superar os limites internos e externos, e que nós sairemos vencedores.

BLM at Monroe Park, Eugene, Oregon. June 11, 2020. By David Geitgey Sierralupe (flickr)

Notas da Tradução

[NT1] de-arrest; manobras para “resgatar” manifestantes capturados pela polícia, envolvem distrair policiais, abrir algemas e portas de viaturas.

[NT2] triple chasers; tipo de bomba de gás lacrimogênio com três cargas que se ativam separadamente.

[NT3] Wendy; franquia de restaurantes fastfood nos EUA.

[NT4] die-in; tipo de manifestação onde os participantes se deitam no chão, simulando estarem mortos, bloqueando a passagem.

[NT5] hmong; etnia indígena da região leste e sudoeste do Oriente, hoje muitos vivem no Vietnam, Laos, Mianmar e Tailândia.

Notas

1. Thomas Johansmeyer, “How 2020 protests changed insurance forever,” World Economic Forum (February 22, 2021)

2. Buchanan, Larry, et. al, “Black Lives Matter May Be the Largest Movement in U.S. History,” The New York Times (July 3, 2020)

3. As told to Tuck Woodstock, “No Matter How Many Meals We Serve, They’re Still Going to Attack Us,” Bon Appétit (July 29,2020)

4. See Ostfield, Gili, “‘We Can Solve Our Own Problems’: A Vision of Minneapolis Without Police,” The New Yorker (August 31, 2020); Fadel, Leila, “Armed Neighborhood Groups Form In The Absence Of Police Protection,” NPR (June 2, 2020); and Mack, Truck and Slick, “Behind the Barricades at 18th Avenue,” Twin Cities Workers Defense Alliance (February 20, 2021)

5. J, Dylan, “Defund the Police And…,” Unity and Struggle (June 16, 2020)

6. @ATLFireRescue used Twitter to encourage Atlantans to snitch on militants at the occupied Wendy’s. Social media intelligence may have contributed to the police attack on the high-profile FTP4 march in the Bronx. See Human Rights Watch, “Kettling” Protesters in the BronxSystemic Police Brutality and Its Costs in the United States (September 30, 2020).

7. For examples of exceptional violence, see Vera, Amir, “2 Atlanta officers fired after video shows them tasing man and using ‘excessive force’ on woman, mayor says,” CNN (June 4, 2020); McDaniel,Justine et. al, “Philadelphia protesters gassed on I-676, leading to ‘pandemonium’ as they tried to flee,” Philadelphia Enquirer (June 1, 2020); and Human Rights Watch, “Kettling” Protesters in the BronxSystemic Police Brutality and Its Costs in the United States (September 30, 2020). Police appear to have resorted to van snatches in multiple cities, including Minneapolis, New York City, and most publicly, Portland. See Winter, Deena, “Jaleel Stallings shot at the MPD; a jury acquitted him of wrongdoing,” Minnesota Reformer (September 1, 2021); CBS News, “Video of plainclothes New York City police bundling teen into unmarked van called ‘terrifying,’” CBS News (July 29, 2020); and Nuyen, Suzanne, “Federal Officers Use Unmarked Vehicles To Grab People In Portland, DHS Confirms,” All Things Considered (July 17, 2020). On the NYPD, see Senzamici, Peter, “Anger and Demand for Answers as Cops Seem to ‘Deputize’ Inwood Anti-Looting Posse,” The City (June 12, 2020); and Siegelbaum, Max, “NYPD Says ICE HSI Agents Protecting Precincts,” Documented (June 10, 2020).

8. On Philly, see Dorfman, Brandon, “The protest encampments — and the housing crisis they represent — aren’t going away,” Generocity (August 19, 2020). On Minneapolis, see Brey, Jarrod, “The Story Behind the Minneapolis ‘Sanctuary Hotel,’” Next City (June 23, 2020); and Omastaik, Rebecca et al, “MPRB clears remaining tents at Powderhorn Park encampment,” KTSP (August 14, 2020).

9. Kuntzman, Gersh, “MTA Bus Driver Refuses to Help Cops Haul off Anti-Brutality Protesters,” Streets Blog NYC (May 29, 2020);  Melo, Frederick, “Union activists boot MN National Guard from St. Paul Labor Center. Walz says this is ‘unacceptable,’” Twin Cities (April 16, 2021).

10. See Orso, Anna et. al, “Philly police stood by as men with baseball bats ‘protected’ Fishtown. Some residents were assaulted and threatened,” Philadelphia Inquirer (June 2, 2020); and Gammage, Jeff et. al, “For second day, group ‘protects’ Christopher Columbus statue in South Philadelphia; mayor denounces ‘vigilantism,’” Philadelphia Inquirer (June 14, 2020).

11. See Francois, Miriyam, “Adame Traore: How George Floyd’s Death energised French protests,” BBC (May 19, 2021) and Obaji Jr., Philip, “Nigeria’s #EndSARS protesters draw inspiration from Black Lives Matter movement,” USA Today (October 26, 2020).

12. Student walkouts have taken place in both large urban and small suburban school districts. For one example, see Pena, Mauricio, “Chicago students walk out of South Side school over racial slurs: ‘We will not be silenced,’” Chalkbeat (December 14, 2021). On union organizing, see Hogan, Gwynne, “Amazon, Starbucks and REI: A new crop of NYC union organizers may be having a moment,” Gothamist (March 10, 2022). On Pride, see Hajela, Deepti, “NYC Pride ban on uniformed police reflects a deeper tension,” ABC News (June 25, 2021).

Apêncice A: Métodos

Big Brick Energy foi liderado por um time de três autores do Unity and Struggle, com a ajuda de outros quadros que realizaram entrevistas, revisaram, e às vezes participaram como entrevistados. Ao longo de doze meses, nós entrevistamos quinze camaradas em cinco cidades (Nova York, Philly, Atlant, Minneapolis, Portland). Um de nós também teve um jantar com um camarada de Seattle cujos relatos foram introduzidos no texto. Entrevistados foram desde anarquistas classistas a comunistas insurrecionários, à abolicionistas no Democratic Socialists of America. Eles foram de Gen X à Gen Z, mas a maioria eram millenials com experiências políticas nos últimos dez ou quinze anos. Seis eram negros, seis brancos e o restante latinxs e asiáticos (com alguns camaradas afro-latinxs). Quase dois terços eram mulheres ou dissidências.

No começo de nossa pesquisa, nós do Unity and Struggle, elaboramos uma série de questões sobre o levante, focados quase exclusivamente em táticas e papéis especializados nas ruas. Quando convidamos camaradas para participal do diálogo, fomos aconselhados a focar mais nas questões estratégicas, e assim refinamos nossas perguntas. Então fizemos as entrevistas (às vezes individuais, às vezes em pequenos grupos) e usamos perguntas abertas para encorajar camaradas a contarem suas histórias no levante, conforme os tocava. Isso permitiu que certos tópicos que não cabiam em ideias preconcebidas emergissem. Usamos notas anônimas escritas à mão e as compilamos em um drive criptografado.

Nós complementamos as entrevistas reconstruindo uma linha do tempo da cobertura jornalística em casa cidade. Isso nos permitiu confirmar nomes e datas, e completar parte das memórias das camaradas. (Muitos conseguiam descrever os primeiros dias do levante com muita precisão, mas os meses seguintes eram mais vagos.) Nós também lemos vinte e um relatórios oficiais de dezessete cidades, produzidos pela polícia e outras agências da cidade. Eles nos mostraram que o levante do ponto de vista de nossos inimigos, e revelaram falhas e fraquezas que não eram visíveis nas ruas.

Finalmente, nós refletimos sobre nosso próprio material. Primeiro, identificamos surpreendentes padrões emergindo organicamente dos relatos dos camaradas. Segundo, analisamos e respondemos às perguntas específicas que havíamos feito no início. Terceiro, nós circulamos um formulário entre quadros do Unity and Struggle e participantes, e o discutimos em uma sessão de feedback antes de finalizar a versão para difusão pública.

Big Brick Energy ainda apresenta lacunas. Nossas redes político-sociais renderam entrevistas em grandes cidades da costa leste, exceto por umas poucas no meio-oeste e no extremo sul, enquanto tivemos dificuldades de nos conectar com a costa oeste e o sudoeste. Também não fomos capazes de realizar entrevistas em cidades menores como Kenosha ou Louisville, ou os “interiores” suburbanos que alguns argumentam serem locais de lutas nos EUA de hoje. Perder Louisville foi especialmente infeliz, pois nos impediu de ter relatos diretos sobre manifestações pelo assassinato de Breonna Taylor, e as marchas armadas liderados pelo Not Fucking Around Coalition. Nós encorajamos camaradas destas áreas para refletirem sobre esse texto e escreverem seus próprios relatos.

Nós acreditamos que relatos devem se tornar um recurso do movimento revolucionário. A classe dominante tem think tanks e universidades para os ajudar a governar: nós precisamos pensar por nós mesmos, chegando a conclusões e propondo investigações para lutas ainda por vir. Sermos mais organizados vai nos ajudar. Cultivando relações de colaboração através de diferentes regiões e causas, nós seremos capazes de construir uma imagem de um momento político mais rapidamente. Ao construir organizações maiores, alguns de nós serão capazes de ir às ruas e descansar enquanto outros reúnem informações. Nós encorajamos camaradas a se unirem para este tipo de trabalho no futuro.

Apêndice B: Relatórios Oficiais

21CP Solutions, After-Action Recommendations for the Raleigh Police Department (November 2020)

Citizen Review Committee, Portland Protests 2020

City Comptroller, Independent Investigation into the City of Philadelphia’s Response to Civil Unrest (January 2021)

City of Cleveland, May 30 Civil Unrest After-Action Review 

City of Kalamazoo, Independent Review of Kalamazoo Department of Public Safety in Two 2020 Critical Incidents (August 2021)

City of La Mesa, An Independent After-Action Report for the Civil Unrest on May 30, 2020 (January 2021)

City of Santa Monica, Independent After Action and Evaluation Regarding the Events Leading to, During, and Following May 31, 2020 (May 2021)

Dallas Police Department, After Action Report

Human Rights Watch, “Kettling” Protesters in the Bronx (September 30, 2020)

Independent Council, An Independent Examination of the Los Angeles Police Department 2020 Protest Response

Independent Council, Report to the Huntsville Police Citizens Advisory Council (April 2021)

Independent Review Panel, Final Report Regarding the Reponse of the Indiana Metropolitan Police Department 

John Glenn College of Public Affairs, Ohio State University, Research Evaluation of the City of Columbus’ Response to the 2020 Summer Protests

Los Angeles Police Department, Safe LA Civil Unrest After Action Report

Minnesota Senate Transportation and Public Safety Committees, Written Testimony of Commander Scott Gerlicher (August 2020)

National Police Foundation, A Crisis of Trust

New York City Department of Investigation, Investigation into NYPD Response to the George Floyd Protests (December 2020)

Office of Inspector General, Report on Chicago’s Response to George Floyd Protests and Unrest (February 2021)

Office of the Independent Monitor, The Police Response to the 2020 George Floyd Protests in Denver

Portland Police Bureau, 2020 Portland Civil Unrest After Action and Recommendations

Seattle Office of the Inspector General, Sentinel Event Review of Police Response to 2020 Protests in Seattle

The Armed Conflict Location & Event Data Project, Key Trends in Demonstrations Supporting the BLM Movement (May 2021)

Fascistas, racistas e pedófilos?: A reação contra os protestos antiautoritários nos discursos digitais da extrema direita peruana

Publicado originalmente em 01 de Março de 2023 em Periodico Libertaria.

Faz tempo desde que tivemos oportunidade de escrever sobre um tema pouco abordado nos círculos antifascistas da região (algo que nasceu coletivamente em uma comunidade de discord, recentemente atacada por fascistas espanhóis). É possível que questões geracionais e de inclusão digital tenham sido os principais obstáculos para a criação e difusão de escritos sobre a extrema direita na internet, em específico nos círculos da juventude.

Considerando o texto anterior [leia aqui], acreditamos que precisamos fazer alguns esclarecimentos:

Foi dito que no Peru não haveria tanta repercussão das redes sociais, pelo fracasso das campanhas presidencias no digital. Essa é uma afirmação parcialmente correta, buscando mais informações encontramos um conceito ou uma espécie de metáfora denominada “efeito cascata”, que nos ajuda a entender e desarmar xs fachxs.

Normalmente, quando se analisa a Alt-Right se mede sua repercussão pela efetividade e não por suas consequências posteriores. Ou seja, uma análise dessa natureza subertima a força discursiva fascista e nos cega (como estão cegas hoje, as esquerdas legalistas e eleitorais do Peru).

O “efeito cascata” é uma avalanche invisível, ou seja, se a Alt-Right acusa fraude eleitoral, com teorias absurdas, o objetivo final não é apoiar um candidato nesse exato momento, mas expor um discurso extremo que gere uma corrente de opiniões que facilite a destruição de um bode expiatório em específico. Estamos falando de instituições, adversários políticos, ideologias políticas, pessoas e mesmo outras espécies de animais. Pondo de forma simples… preparar o terreno para impor seu totalitarismo.

Outra correção a ser feita sobre o texto anterior é: a efetividade das redes sociais para contrapor ao establishment midiático em um contexto de repressão cruel por parte do Estado. As redes sociais, para o bem ou para o mal, serviram para expor o verdadeiro rosto da ditadura cívico-militar-econômica e para gerar uma corrente de opinião contrária a do status quo (vide o caso da Primavera Árabe de 2010).

Concluindo, não podemos subestimar nem superestimar a influência das reedes sociais na sociedade peruana.

A tarefa das comunidades digitais de pedófilos no Peru é atuar como uma caixa de ressonância para os influenciadores facínoras.

Há alguns meses, em diferentes plataformas (telegram, twitter, fb, wsp, ytb, reddit, etc.) buscava-se dar maior repercussão a certos posts de certas mobilizações da direita, da extrema direita e neofascistas. Estas mobilizações buscavam pressionar ao parlamento para depor o conservador Pedro Castilho (hoje preso).

Nesse contexto, vimos uma coincidência entre diferentes grupos fascistas, um aumento de suas mobilizações e o uso de discursos inadmissíveis no século XXI (racistas, misóginos e especistas). Eles falharam parcialmente, o corrupto Castillo renunciou, mas aprenderam sobre a importância do algoritmo, do trabalho de coleta de dados e do viral como algo além do militante (o econômico e o “prestigioso”, ou seja, as recompensas para os trolls fascistas mais furiosos).

O uso de bots, trolls e outros recursos que vêm de certos softwares comprados de países “democráticos” como Israel ou E.U.A., formam parte da inteligência peruana e o aproveitamento destas ferramentas estão definidas pelo vai-e-vem da política (um dia serviu a Castillo, no dia seguinte a Dina).

Assim, os fachos se deram conta da importância dos troll centers (uso de trolls e bots para influenciar algoritmos). Por muito tempo, gastando recursos financeiros, a direita foi capaz de tornar viral suas hashtags mais famosas.

Mas o que aconteceu quando o algoritmo foi utilizado pelas pessoas que participaram das manifestações antiautoritárias contra o regime assassino de Dina Boluarte ?

Financeiramente esgotados, os troll centers nada puderam frente a viralização de assassinatos e a indignação nas redes sociais. Refugiados em suas comunidades esperaram pela pesada mão da realidade, a repressão cruel e a perseguição política (a verdadeira, não a que Apra ou Pedro Castillo dizem sofrer).

No Peru, existe um racismo estrutural, um status quo que se aproveita disso continuamente para marginalizar certas regiões e oprimi-las. Entretando também existem certos propagadores de ódio, misoginia e racismo, cuja tarefa é servir como amplificador para os discursos mais retrógrados e torná-los de vanguarda para gerar uma versão peruana da “Noite dos Longos Punhais”. Assim, suas táticas já não eram a mobilização em si mas a reafirmação de uma Lima unida pelo racismo… Uma forma de gerar uma identidade doentia, que no futuro se materialize em mobilizações massivas contra nós indígenas.

Já denunciamos que nas comunidades virtuais de videogames, anime e kpop, onde se encontra a maior quantidade de jovens desta região, vem acontecendo uma infiltração por parte da extrema direita. Ainda é necessário denunciar a infiltração nas universidades, onde certos elementos se lançam na “guerra cultural” e criam seus “think tanks” liberais-libertarianos (espécies de ongs ao estilo neoliberal). E existem outros espaços que ainda não foram denunciados, onde a propaganda é dirigida para crinaças e jovens (nas escolas, através de propaganda religiosa).

Entretanto, em nossas pesquisas e investigações nos deparamos com um repulsivo pacto nas comunidades da Alt-Right peruana… a aliança entre fachos, racistas e pedófilos, o fascismo como identidade que une estes infelizes (em sua maioria homens héteros que se assumem como “mestizos”).

O uso de dox, o ataque a outras comunidades digitais com a infiltração de pedófilos e conteúdos desprezíveis, não são circunstanciais. Anteriormente denunciamos a complacência das redes sociais com aqueles seres repugnantes que viralizam ou fazem dinheiro dentro das plataformas (com hashtags, criando conteúdo, ou se protegendo na “liberdade de conteúdo”), entretanto acreditamos que existe não apenas uma militância de extrema direita, mas também certas questões que sustentam essa militância. Se as tropas de choque do fujimorismo e do aprismo (que têm dinheiro de sobra para financiar estas delinquências), podem protestar de segunda a domingo sem exaurir suas economias familiares, estes fascistas de internet que gastam seus dias propagando merda racista, misógina, etc. Como se autofinanciam ?

Nas comunidades fascitas digitais fazem suas campanhas de dox, e pela derrubada de páginas, vídeos, etc, através de raqueamento, roubo de identidade ou difusão de material repugnante com o propósito de desaparecer com a vítima. Nem todo o dinheiro pode vir dos partidos políticos, também existem recursos de origem mais sinistra, ligados a crimes na internet (golpes, vendas na dpweb, etc.), certamente não representam uma quantia fixa ou um salário mínimo. Nem tudo corresponde as atividades na internet ou ao financiamento de partidos (talvez complementem a renda com ambos, lembrando de que existem trolls centers privados.).

Durante os protestos enquanto as pessoas se manifestavam e eram reprimidas cruelmente, estes neofascistas formaram parte da campanha de viralização do racismo (como pode ser visto no histórico de conversas de suas comunidades) e o tempo que sobrava de suas jornadas dedicavam a pornografia, os crimes violentos e abusos infantis.

Também vimos que certos “influencers” libertarianos continuamente os incentivam a manter campanhas de dox, e assédio digital, ou os convidam a fazer parte de seus novos partidos. A pergunta continua: como se financiam ? De onde vem esse conhecimento de raquemanto ? Por que motivo a polícia não os prende ?

Há quem diga:

  • Não exagere sobre essas coisas!

Eu responderia:

  • Eu encontro essas coisas em partidas online, nos nossos armys de kpop, ou mesmo em discord de fanarts de genshin impact: Por que não poderia denunciá-los ?

Enquanto o lixo da extrema direita, através da pornografia gratuita, trata de levar a seus grupos para adolescentes héteros e transformá-los em militantes. Que fazemos nós ? O mínimo deve ser denunciar, mas frente ao descaso das redes socias ou o policial que informa aos pedófilos de certas denúncias para os proteger de incursões de sua “instituição”… Que fazemos nós frente um problema estrutural relacionado com a misoginia e o tecnofeudalismo ?

Discutir o problema na internet é o mínimo. Relacionar o fascismo com esses problemas é expor como o conservadorismo é a porta de entrada para as ideias mais destrutibas como o totalitarismo e a pedofilia, entratanto também é um problema que vai além desta ideologoa de merda (vide o número de denúncias de pedofilia em círculos de esquera, animalistas e mesmo supostos anarquistas em Lima). No momento permanecemos com essa dúvida, com essa coincidência entre as comunidades digitais da extrema direita: pedófilos, racistas e fascistas ?

PS: Como toda investigação deste tipo depende de infiltração nas comunidade de extrema direita, como vemos em trabalhos jornalísticos sérios, expor-se a conteúdos repulsivos tem graves consequências psicológicas (já que não queremos ser em nada semelhante a essa gente, queremos apenas sua destruição). Pedimos para que outras pessoas antifascistas se ocupem de denunciar e expor essa problemática, que a polícia tolera (na maioria de casos de captura de pedófilos é por intervenção da polícia de outros países, e muitas vezes o problema do abuso infantil está associado com o tráfico de pessoas e o narcotráfico, problemas que a polícia e políticos encobrem).