Como eu Esqueci a Guerra Civil Espanhola e Aprendi a Amar a Anarquia

[tradução da introdução do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, Curious George Brigade]

Parece que o Verão finalmente chegou; Eu estive enfurnado neste apartamento trabalhando nesse livro por tempo de mais! Só agora percebi que nós nunca terminamos nossa conversa sobre a Guerra Civil Espanhola: aquele momento revolucionário quando anarquistas estiveram tão perto de criar uma nova sociedade pela qual não valesse a pena somente morrer, mas também viver.

Nossas conversas pareciam durar para sempre. Você me explicava o que tinha acontecido antes, os mínimos detalhes das milícias e coletivos, resistência e solidariedade, tudo. Eu sempre pensei nesse momento como “o mais perto que nós chegamos”, que loucura pensar nas possibilidades que eles tiveram! Como nós poderíamos não mitologizar lutas de lugares distantes como a Espanha e fantasiar como seria lutar em uma revolução de verdade ?

Eu percebo hoje, olhando pras páginas desse livro, que eu não ligo a mínima pra Guerra Civil Espanhola. Não quero dizer que foi um momento pouco importante na história, mas lendas sozinhas não são mais o suficiente pra mim. Eu não penso neles como os “verdadeiros” anarquistas comparados aos “anarquistas de segunda classe” como nós nos vemos. Nós precisamos viver e lutar contra o que enfrentamos hoje. Os anarquistas da Espanha revolucionária provavelmente iriam preferir que nós enfrentassemos nossa própria luta hoje, ao invés de passarmos tanto tempo discutindo a deles! Os anarquistas espanhóis não eram nada mais que gente comum, e eles fizeram exatamente o que nós faremos quando tivermos a oportunidade. Nosso coletivo vem trabalhando nesse livro por mais de um ano, essas são as nossas palavras para anarquia de hoje. Eu espero que você goste.

O que você tem em mãos não é um livro tradicional. Pense nele mais como um DNA de biblioteca ou um par de alicates de cortar arame. Em outras palavras: uma provocação. Livros sobre “política” normalmente tem um propósito específico e ensaios escritos de maneira direta, aos quais é esperado que você rapidamente defenda ou ataque sem piedade alguma. Se eles são bem sucedidos, segundo nos dizem, os autores vão ganhar apoio de uma facção em particular ou ser descreditados por outra que é competidora. Nós queremos algo diferente, abrindo tantas perguntas quanto respostas. Pense nisso mais como uma coleção de observações de campo escritas por um antropologista renegado que pôs fogo em seus diplomas para viver na floresta e escalar arranhacéus. Além de assombar as infoshops da nação, nós temos gravado as profecias resmungadas por vendedores de falafel nas esquinas, escrito poesias de amor disfarçadas de política, e vivendo políticas disfarçadas de amor-poesia. Nós somos anarquistas que cultivamos nossa resistência no coração do império americano. Essa é nossa pequena contribuição das comunidades de resistência que alimentaram nossas esperanças e nutriram nossas ambições.

Quando você fecha um livro, você acabou com ele. Você pode sepultar ele em sua estante ou, se realmente é algo precioso, doa-lo para um amigo. Não deixe esse livro apodrecer em uma estante. Dõe ele, deixo-o em uma parada de ônibus vazia para ser encontrado por um estranho ou use-o para te manter aquecido nas noites frias. A única maneira de se livrar desse livro é o incendiando.