Ilusões de Controle

[tradução do capítulo 04 do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

Diante da incontida natureza selvagem da realidade, os dinossauros caem em febris ilusões de grandeza. Em espasmos de insanidade, eles recriam o mundo a sua própria exagerada imagem, pondo á baixo o que há de selvagem e a substituindo por uma terra devastada que reflete seu próprio vazio. Onde antes existia a incrível e complexa diversidade da natureza, agora resta apenas a simplicidade morta do asfalto e concreto.

Esses hábitos de controle estão profundamente enraizados não apenas nos dinossauros, mas também em todos com quem eles entram em contato, incluindo a maior parte dos autodeclarados revolucionários. Essas ilusões de controle afetam como construímos relacionamentos com outras pessoas, articulamos nossos próprios pensamentos, e vivemos nossas vidas; Se olharmos para a sociedade estadonidense, nós não podemos ignorar os índices de violência doméstica, o egoísmo brutal, e a homofobia institucionalizada, sexismo e racismo. Assim como dinossauros destroem ecossistemas físicos, eles substituem seus relacionamentos sociais por alianças e parcerias baseadas em eficiência, controle, crescimento e a busca pelo lucro. Anarquistas também replicam esse comportamento. O que antes era uma comunidade se torna um movimento; amigos são substituídos por meros aliados. Sonhos se tornam ideologia e revolução se torna trabalho; Revolucionários desesperadamente tentam controlar o mundo ao seu redor; um esforço fútil, já que é o dinossauro de duas cabeças gêmeas o Estadossauro e o Empresas Multinacionalssauros que controlam o mundo atualmente. Abandonando o presente, radicais comumente vivem suas vidas como fantasmas em algum passado ou futuro revolucionário. Não é surpresa que revolucionários que de fato acreditam em sua própria retórica acabam esgotados ou, pior, como teóricos de sofá. É mais fácil ponderar sobre o futuro do que fazer algo sobre o presente.

Do mesmo jeito que é mais fácil teorizar sobre o mundo do que interagir com o mundo, é muito mais fácil teorizar sobre como a Revolução acontecerá do que de fato fazê-la acontecer. Previsões e teorias elaboradas sobre qual grupo é mais revolucionário são ainda mais ridículas. Os teóricos, sendo especialistas consumados, reservam pra si o direito de apontar quem irá criar a revolução no confortável futuro distante. Quem eles vão escolher dessa vez? Os trabalhadores ? O proletariado? Juventude? Pessoas racializadas? Pessoas do Terceiro Mundo? Qualquer um exceto eles mesmos.

Ninguém sabe que cara terá A Revolução, muito menos os desdenhosos, procrastinadores de sofá, que ignoram o que está a seu redor para contemplar a perfeição da dialética. Pessoas que se mantém com os pés fincados no chão instintivamente sentem que nenhum livro de teoria revolucionária consegue capturar cada detalhe do futuro. Muito do que é chamado “revolucionário” é irrelevante para pessoas comuns. As vozes das comunidades reais estão vivas de uma maneira que nenhuma teoria jamais poderia estar mesmo se, por agora, isso tome a forma de pequenos atos de resistência. Quem não sonega impostos, evita policiais, ou mata aula? Esses atos em si podem não ser revolucionários, mas eles começar a desvelar o controle que vem de cima. Abordagens anarquistas devem ser relevantes para o cotidiano e flexíveis o suficiente para servirem a lutas em diferentes situações e contextos. Se nós pudermos alcançar esse ponto, então talvez possamos florescer no mundo de depois dos dinossauros. Nós talvez até tenhamos sorte o suficiente de estar em uma dessas comunidades que participam na derrubada dos dinossauros.