Apontamentos sobre o Uso de Tecnologias nos Protestos de Hong Kong

Esse texto é uma tradução-adaptação , o original pode ser encontrado aqui.

Consideramos esse texto, por si só, muito interessante para uma breve análise das táticas empregadas na revolta de Hong Kong em 2019, unos oferece uma visão bastante nítida dos potenciais insurrecionais que o uso criativo e difuso de tecnologias cotidianas nos oferecem.

Importante ressaltar, o texto data de 2019, de lá pra cá muita coisa mudou no contexto da guerra social local, e Hong Kong parece uma vez mais, pacificada sob as botas do regime chinês. Enquanto nossoscamaradas de lá aguardam o momento de se rebelaram novamente, nós nos reunimos pra aprender e discutir seus feitos.

Se te instigar a curiosidade sobre esses eventos, te recomendo fortemente conferir o documentário em três partes que o Popular Front fez, sobre esses mesmo conflitos.

Morte ao Estado e que Viva a Anarquia.

Boa leitura.

Os protestos pró democracia em Hong Kong estão entrando em sua décima quarta semana. Mais de mil pessoas já foram presas, e muitos ativistas já foram seriamente feridos pela polícia. A festividade de aniversário de setenta anos da China está chegando em primeiro de Outubro, e o quinto aniversário dos protestos de Occupy Central [1] serão em 29 de Setembro, então o clima é de alta tensão.

Irei explicar brevemente o contexto legal dos protestos, e as ameaças que os manifestantes enfrentam, antes de explicar as maneira que eles tem utilizado redes sociais e aplicativos de mensagem para coordenar protestos.

Contexto Legal

Hong Kong é uma Região Administrativa Especial da China, com altos níveis de autonomia formal . O território foi cedido à China em 1997 sob o modelo “Um País, Dois Sistemas”, criado para preservar seu sistema legal e econômico. Pelo tratado, Hong Kong supostamente desfruta desse status especial até 2047.

Os protestos atuais são uma série de confrontos entre manifestantes e as autoridades em Hong Kong, com pressão de Beijing nos bastidores, mas sem interferência aberta. De um lado do conflito está o Chefe do Executivo e os 30.000 membros da polícia de Hong Kong. Do outro, lado, temos essencialmente, todo o resto da população. Nos protestos de 9 e 16 de Junho foram estimados, respectivamente 1 e 2 milhões de participantes nas manifestações, em uma cidade de 7 milhões. Até agora 1.000 pessoas foram presas e manifestantes tiveram ferimentos graves, alguns sofridos após as pessoas serem levadas sob custódia da polícia.

Apesar de existirem bolsões de Hong Kong que apoiam o continente (como a vizinhança de North Point, que tem laços com a província de Fujian), os protestos gozam de amplo apoio social, em parte por conta da violência policial ter escandalizado uma sociedade onde violência é algo raro.

É compreendido que a polícia de Hong Kong é uma autoridade executiva que responde as diretivas de Beijing, mas o sistema de corte de Hing Kong é genuinamente independente.

Hong Kong está fora do Great Firewall[2], com acesso irrestrito a internet. Isso não é apenas uma escolha política, mas uma realidade física; A infraestrutura não está posta de um modo que facilite a expansão rápida dos controles de internet da China continental sobre Hong Kong.

É importante compreender as restrições da China. Hong Kong é a rota da China para o sistema financeiro global, e esse status depende da continuação da independência o sistema legal de Hong Kong. Tanto investimento financeiro estrangeiro, quanto o sistema bancário internacional dependem de Hong Kong por conta de suas fortes garantias oferecidas por suas cortes. Qualquer violação dessas leis, pela China poderiam ter repercussões catastróficas caso espantassem as empresas internacionais.

O status especial de rota financeira protege Hong Kong. A corrupção nos níveis mais altos do Partido Comunista Chinês oferecem um nível adicional de proteção. Oficiais chineses contam com o funcionamento de Hong Kong para várias formas de lavagem de dinheiro. Não existe maneira fácil de comprar uma vila italiana com renminbi[3] que não passe por Hong Kong.

Beijing tem uma combinação de incentivos “macroeconômicos” e “microeconômicos” para deixar Hong Kong sem interferência. Intervenção direta iria ferir a economia chinesa, e o fim da rota financeira de Hong Kong afetaria pessoal e drasticamente grande parte das elites.

Isso torna boa parte das estratégias chinesas de como lidar com dissidências internas, impossíveis de serem usadas em Hong Kong. Em especial, Blackout de Internet, prisões arbitrárias, extradição para o continente ou o uso direto do Peoples Armed Police, o PLA, seriam todos métodos inaceitáveis para o interesse financeiros internacionais.

O problema com essa proteção é que ela é frágil. Uma vez que a China cruze a linha e espante o capital internacional (impondo restrições de internet, ou atropelando as cortes locais), possivelmente não haverá mais defesas contra outras formas de interferência direta.

Ameaças

A Lei Básica de Hong Kong garante aos seus cidadãos a liberdade de expressão e de imprensa. O ponto fraco é a liberdade de reunião. Se a polícia declarar uma reunião de três ou mais pessoas como ilegal, a pena pode ser de até dez anos de cadeia. Os organizadores dos protestos de 2014 responderam ou estão respondendo à essas penas.

A China também tem posto uma enorme pressão sobre empresas de Hong Kong para que demitam trabalhadores que participam dos protestos, mais publicamente a empresa aérea, Cathay Pacific. Pressão semelhante tem sido observada sobre as escolas, agora que o ano letivo está em andamento.

Então, as maiores ameaças para os manifestantes são serem presos por fazerem assembléias públicas, ou serem identificados individualmente, por fotografias ou outros meios. Além das complicações legais, Hong Kong tem uma cultura de doxxing, que não carrega o mesmo estigma que nos EUA. Essa é uma ameaça, tanto para os manifestantes quanto para a polícia.

Outra ameaça que os manifestantes enfrentam são os ataques físicos, tanto por parte da polícia durante os protestos, quanto por parte dos bandidos afiliados à China continental, que possuem permissão para atacar impunemente. Figuras proeminentes da oposição já foram atacadas em plena luz do dia[4].

E por fim, visitantes e moradores de Hong Kong estão enfrentando repressão na fronteira de Shenzhen, onde guardas revistam aparelhos eletrônicos na busca de qualquer conteúdo relacionado aos protestos. Ao menos uma universidade de medicina retirou seus estudantes dos hospitais do continente para evitar submetê-los a essa intimidação.

Seja lá por qual motivo for, as autoridades de Hong Kong tem se mostrado relutantes em fazer prisões em massa. Eles podem não possuir a capacidade física pra isso, ou ter outras outros razões. A estratégia parece ser a prisão de alguns, para desmotivar os demais. Do lado dos manifestantes, o objetivo é não ser um dos 20 à 150 detidos à cada evento.

A ameaça da vigilância em massa é parte do cenário cataclísmico onde a China está enviando pessoas para campos de reeducação semelhantes aos dos uigure. O que não parece afetar as decisões cotidianas das pessoas, mais do que a ameaça de ser pessoalmente identificado.

Aqui, o sistema de corte de Hong Kong também oferece alguma proteção, a China não pode simplesmente pegar uma quantidade massiva de dados de torres de celular e apresentar nos julgamentos; É necessário que haja algum tipo de construção paralela.

Dito isso, a polícia de Hong Kong pode obter amplos dados de vigilância sem mandato, e a falta de medo da vigilância de massa pode ser mais psicológica, ligadas a falta de prisões em massa. As pessoas estão preocupadas em serem identificadas individualmente, e não que em algum momento do futuro as autoridades possam identificar centenas de manifestantes.

Por isso, manifestantes se concentram nas ameaças que podem enfrentar; Usam guarda chuvas e máscaras para esconder seus rostos, alguns usam cartões MTR descartáveis ao invés do Octopus card [5] que é ligado a sua identidade (já que a polícia pode escanear o cartão para saber que trajetos fizeram).

Quase todos trazem telefones celulares para os protestos, destes, poucos são do tipo descartável

Uso de Tecnologia

É importante enfatizar que os manifestantes de Hong Kong são pessoas jovens, improvisando dentro de um cenário bastante estressante. Eles não são ubernerds como vem sendo retratados em alguns canais da mídia ocidental, mas sim, centenas de milhares de pessoas comuns, preocupadas e corajosas, que vem desafiando a China. Retrata-los como especialmente competentes é um desserviço e desconsidera a coragem que demonstram.

Como lideranças se mostraram uma vulnerabilidade em 2014, os manifestantes de 2019 adotaram uma abordagem descentralizada. Não existem lideranças formais, e a coesão se dá à partir de redes sociais e laços de relacionamentos pessoais. O resultado é processo decisório do tipo “protesto twitch play” (aqueles que são velhos de mais para entender essa referência, podem pensar no processo, como uma decisão por tábua Ouija).

Os manifestantes fazem uso constante de duas ferramentas de software: LIHKG (Li-dan), um fórum de mensagens semelhante ao Reddit, e o aplicativo de mensagens Telegram.

LIHKG

LIHKG é um local para proposição de novas ideias e discussão. Existem duas categorias de usuários, destacados visualmente, baseados em se entraram no site ante ou depois da data limite do começo das manifestações. O site requer um email ISP para ser acessado. As duas medidas existem para impedir trolls.

O site é administrado de forma anônima.

As conversas acontecem em cantonês e ao menos uma vez os usuários adotaram uma forma de escrita de cantonês que é incompreensível para falantes do mandarim, como modo de defesa contra os trolls. Os trolls foram de certa forma, impedidos pelo chauvinismo da China continental que vê o cantonês como um dialeto. Esse chauvinismo impediu a China de mobilizar uma comunidade de falantes de cantonês pró China continental, capaz de influenciar ou desmobilizar as discussões públicas do fórum.

Em 31 de Agosto, LIHKG foi sujeito a um ataque de DDOS que derrubou o site. O fórum mudou seu domínio para Cloudflare e se mantém ativo até o momento.

Telegram

Telegram é o mensageiro favorito entre manifestantes. É usado para mensagem um-pra-um entre indivíduos, entre pequenos grupos de pessoas para coordenação, e entre grupos muito grandes para amplificar e disseminar informações. A ferramente de enquete também é uma maneira de firmar consenso no processo de tomadas de decisão em coletivo.

Muitas ferramentas do Telegram o tornam atrativo para os manifestantes.

· Mensagens que Desaparecem — Se a polícia te forçar a destravar o telefone, você não entrega seus aliados.

· Grupos com um número muito grande de membros (dezenas de centenas ou mesmo centena de milhares). O que permite uma rápida difusão de notícias.

· Enquetes. Já que os protestos são descentralizados, alguns mecanismos de tomada de decisão são necessários. Na prática, enquetes são usadas para confirmar decisões, onde o consenso parece nítido.

· Interface amigável para os usuários.

Em agosto foi revelado, após um cyber ataque, que era possível identificar a quais grupos os usuários do Telegram pertenciam.

O Telegram respondeu com uma atualização que permite aos usuários esconder seus números de telefone. O evento parece não ter afetado o uso do Telegram com o público, o que ajuda a comprovar a tese de que os manifestantes estão mais preocupados em serem identificados pessoalmente do que com a vigilância em massa.

Exemplo — O Modo Hong Kong

Um exemplo pode nos ajudar a demonstrar como essas tecnologias são usadas na prática.

Em 19 de Agosto, alguém postou no fórum LIHKG, dando a ideia de formar uma corrente humana em Hong Kong, no aniversário de 30 anos do protesto de Baltic Way, que aconteceu na antiga União Sovietica. Rapidamente, surgiram grupos organizados no Telegram. Eles apresentavam mapas e a logística de quantas pessoas seriam necessárias, e onde.

Logo, grupos de Telegram foram formados para cada setor da rota, que seria paralela ao sistema de metrô.

No dia dos protestos, voluntários monitoraram m tempo real os mapas e enquetes que informavam para onde as pessoas estavam se dirigindo e quais estações MTR precisavam de mais participantes. Voluntários nas saídas dos metrôs ajudaram na formação, se certificando que quando o protesto começasse às 8 PM, todos estariam em suas posições e não haveriam espaços vagos.

Um grupo no Telegram organizou a ação final da noite, com cada manifestante tapando um de seus olhos e cantando “give back the eye” às 9 PM (uma referência ao fato que um dos partcipantes que cegado por uma munição menos letal, disparada por um policial).

Essa grande ação, que seria impressionante em qualquer contexto organizativo, foi feita em quatro dias por voluntários que eram completos estranhos uns aos outros. Imagens dos manifestantes foram então usadas em artes de fãs, posters, materiais de publicidade, e também compartilhadas via KIHKG e Telegram.

HKmap.live

HKmap.live é um mapa mantido por trabalho voluntário, que acompanha protestos em tempo real, incluindo marcadores para presença policial, unidades de elite da polícia, gás lacrimogênio, e alertas sobre a presença da polícia em vias públicas. As informações no mapa são alimentadas por dados através do Telegram. Entrou no ar em Agosto.

Outros Serviços

Manifestantes em Hong Kong compreenderam que o Twitter tem um impacto desproporcional na cobertura da mídia, e que muitos jornalistas ocidentais utilizam o site. Nas últimas semanas tem acontecido um esforço de aumentar a presença de Hong Kong no Twitter, mas relatos mostram que as pessoas tem tido dificuldade de se adaptar ao site.

Alguns hong konguers usam Whatsapp, mas a limitação de tamanho dos grupos o torna menos atrativo que o Telegram. A relativa preferência pelo Telegram também tenha ha ver com desconfiança com relação as políticas de privacidade do Facebook.

O Facebook possui uma relação financeira com Xinhua, a agência de notícias do estado chinês. Xinhua se referiu aos manifestantes como “baratas” em um infame post de facebook (deletado).

Enquanto o Twitter impediu Xinhua de comprar espaço publicitário, Facebook e YouTube continuam vendendo espaço para a estatal mesmo depois de terem dito que iriam dar menos prioridade para esse tipo de conteúdo em seu algoritmo. Na prática, significa que Facebook e YouTube estão tornando o conteúdo da Xinhua menos popular, para que a Xinhua pague mais.

Esse relacionamento não contribui para criar um público cativo do Facebook e WhatsApp entre hong konguers.

[1] Occupy Central; O equivalente ao Occupy Wallstreet e toda aquela onda de eventos que se desenrolaram pelo mundo por 2013

[2] Great Firewall;

[3] Renminbi; Moeda oficial do governo chinês

[4] Alguns casos de violência contra opositores do governo chinês.

[5] Octopus Card e MTR, são cartões pré-pagos que podem ser utilizados para pagar por transporte e compras em pequenos estabelecimentos, a vantagem do Octopus, é que ele não é ligado aos documentos de identidade do usuário

Borboletas, Duques Mortos, a Roda Cigana e o Ministério da Estranheza

[tradução do capítulo 08 do livro Anarchy in the Age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

Anarquistas, no mínimo desde os dias de Kropotkin, têm conscientemente se distanciado da ideia de caos. Lendas foram sussurradas, que um misterioso A dentro de um círculo representa a ordem dentro do caos. Nos últimos anos, praticamente todo escrito anarquista “sério” tentou distanciar o anarquismo do caos. Ainda assim, para a maioria das pessoas comuns, caos e anarquia estarão ligados para sempre. A conexão entre caos e anarquismo deveria ser repensada e acolhida, invés de ser minimizada e reprimida. Caos é o pesadelo dos governantes, estados, e capitalistas. Por essa e outras razões o caos é um aliado natural em nossas lutas. Nós não deveríamos polir a imagem do anarquismo apagando o caos. Invés disso, devíamos relembrar que o caos não é apenas incendiar ruínas mas também asas de borboletas

“Predição é poder.”

— Auguste Comte, pai da sociologia

Desde o Iluminismo, políticos têm tentado usar princípios científicos na política e economia para controlar a população. A arrogância de sociólogos, economistas, e outros ditos especialistas é evidente na crença que o desejo humano pode ser quantificado, organizado, e assim controlado. As tentativas de prever e controlar todas as possibilidades há muito são o sonho molhado de totalitários e executivos da publicidade ao redor do mundo. Desde Marx que se considerava um “cientista do comportamento das massas”, revolucionários vanguardistas de todo tipo tem acreditado que eles descobriram a equação perfeita para a revolução: uma abordagem matemática para a mudança social. Tanto políticos quanto revolucionários profissionais lutam para se tornarem especialistas absolutos na administração da máquina política; os políticos de verdade casualmente são melhores nisso que seus primos, os ativistas. Não é novidade que os sociólogos da revolução, universitários marxistas sinceros, e os anarco-literários são apaixonados por plataformas, políticas, história, e teorias áridas. Infelizmente para eles, e felizmente para nós, o caos se recusa a respeitar quaisquer regras.


Um Pouqinho Rende Muito

O bater de asas de uma única borboleta hoje, produz uma pequena mudança no estado da atmosfera. Ao longo de um período de tempo, o que a atmosfera faz diverge do que ela teria feito. Então em um mês, um tornado que teria devastado a costa da Indonésia não acontece. Ou talvez, um que não iria acontecer, de fato acontece.”

— Edward Lorenz, meteorologista, 1963

A menor mudança nas condições iniciais de um sistema podem mudar drasticamente seu comportamento a longo prazo. Esse fenômeno, comum à teoria do caos, é conhecido como “sensibilidade às condições iniciais”. Uma pequena diferença em uma medida pode ser considerado ruído experimental, estática de fundo, ou uma pequena imprecisão. Mudanças tão facilmente ignoráveis podem crescer exponencialmente e se acumular de formas inesperadas para criar resultados igualmente inesperados maiores do que qualquer um poderia imaginar.

Esses glitches e fantasmas na máquina são aleatórios demais para serem previstos por qualquer supercomputador governamental. Portanto, anarquistas podem tomar vantagem de estranhos acontecimentos, usando o caos como uma arma secreta contra regimes de controle. Quem sabe se uma mulher se recusando a dar seu lugar no ônibus vai dar origem ao movimento pelos Direitos Civis, ou se um um pequeno mas furioso grupo de adolescentes reunidos na barraquinha de cachorro quente local, em algum momento vão dar início a uma insurreição? O Caos é capaz de virar o jogo mesmo contra o mais estabelecido dinossauro. Em situações fluidas tais como manifestações, ações aparentemente sem consequências podem mudar o tom ou a direção de todo o “sistema”, levando ao caos no melhor sentido possível.

Os políticos do mundo dificilmente anteviram o assassinato do Arquiduque Ferdinando no interior do Império Austro-húngaro levaria ao rompimento de três dos maiores impérios do mundo em menos de uma década. Obviamente, as tensões políticas daqueles dias existiam independentes do duque morto, mas seu assassinato acendeu um pavio cuja explosão destruiu as realidade políticas e econômica dos impérios. Da mesma maneira, uma borboleta batendo suas asas em uma oficina na área rural de West Virgina tem potencial para criar um furacão; ou uma revolução na Argentina.

Surfando as Ondas Fractais da Revolução


Caos é na verdade, mais real que um mundo facilmente dividido entre objetos distintos e equações lineares. Esses objetos fantásticos são perfeitos demais para serem reais em qualquer lugar que não livros de matemática. O mundo real é bagunçado, animado, e sujeito a mudanças constantes além da compreensão de qualquer humano. Abstrações podem ser úteis às vezes, quando se planeja confrontos com a polícia, quando rascunhamos planos para o ano seguinte, e ao lermos mapas em cidades onde nunca pisamos. Ainda assim, a maioria das abstrações fazem um desserviço ao mundo real por negligenciarem os pequenos detalhes. O mundo é caótico e cada vez que alguém acredita que pode controlá-lo, o mundo encontra uma maneira nova de lhe passar uma rasteira.

A teoria fractal demonstrou que o mundo real é menos “real” do que imaginamos a princípio. Em um muito discutido ensaio sobre a costa da Inglaterra, foi demonstrado que a forma e tamanho da unidade de medida afetava dramaticamente o resultado final. Se usarmos uma régua rígida de um metro, vamos medir uma costa mais curta do que se usarmos uma fita milimétrica curva. A costa da Inglaterra, goste ou não, é infinitamente flexível. Mesmo que você tivesse um mapa de escala um para um de uma cidade, ele nunca poderia representar a totalidade da cidade. Existem muitas “cidades” em qualquer cidade e nossa visão disso depende de como observamos nosso entorno, e o que escolhemos dar ênfase. A vantagem dessas realidades borgesianas é que anarquistas têm acesso a múltiplas lentes para usar e entender o mundo. No campo político, as autoridades concordam em se limitarem para uma única representação “verdadeira”, enquanto nós mantemos nossos olhos abertos para possibilidades caóticas. Anarquistas podem usar diferentes perspectivas e escalas para determinar quais projetos valem o esforço. Na medida linear e grandiosa da régua da Revolução Global, os detalhes saem de foco, e muitos projetos essenciais parecem menos importantes. Nós podemos utilizar essa flexibilidade em nossas réguas para nossa vantagem. Dever e Prazer são apenas parte do alcance de nossas motivações. Libertação pessoal, guerra de classes, ambientalismo global, e lutas por autonomias políticas são todas diferentes fórmulas de medir o valor de uma ação ou projeto. Quando aplicados a uma situação, cada um terá um resultado diferente.


A Sorte é Amiga dos Rebeldes

Nós devemos nos tornarmos aliados da sorte se quisermos superar as chances que estão contra nossas empreitadas. Nós não podemos entrar no cassino da revolução política e não perceber que a Casa (o status quo) está contra nós. Nós podemos buscar a sorte onde outros a perderam. Sorte é a combinação de coincidências espontâneas que nós podemos reconhecer e usar em nossa vantagem. Esses eventos não podem ser planejados ou fabricados. Por sorte nossa, esse mundo complexo está transbordando de coincidências potencialmente críticas que estão disponíveis para qualquer rebelde intrépido o bastante para buscá-la. Isso significa tornar nossos planos flexíveis e sermos capazes de lidar com essas possibilidades a qualquer momento. Encontrar uma lixeira esquecida fora da rota de uma manifestação pode facilmente ser a diferença entre conseguir atravessar uma barreira da polícia ou ser bloqueado, especialmente se a lixeira for usada como um aríete!

Como podemos usar o caos em nossa vantagem em nossas resistências diárias? Quando situações são imprevisíveis e os resultados são imprevisíveis, como podemos ter esperança de usar um amigo tão inconstante como aliado? Essas são perguntas para cúpulas anarquistas e think-tanks ao redor do mundo. Nós podemos aprender com toda experiência e não nos tornarmos tão arrogantes a ponto de pré planejar cada evento com antecedência. Sistemas hierárquicos rígidos temem o caos, rejeitam os fractais, e rejeitam a sorte. A arrogância do dinossauro é uma grande vantagem para a nossa resistência. Resistência fractal não pode ser adequadamente contida por estratégias pré programadas de gerenciamento e estratégias de controle de multidões. É importante compreender que nós não somos os primeiros a usar o caos como tática. O caos está integrado a várias culturas ancestrais e outras não tão ancestrais, dos Hopi aos mateiros San. Inúmeras comunidades não só encontraram conforto com o inerente caos do mundo como encontraram formas efetivas de usá-lo.

Culturas de Caos

Os nômades Rom; também conhecidos como Ciganos, têm sido um “problema” para antropologistas por mais de um século. Relativamente pequeno em números e sem nada que se pareça com um exército, ou poder político, eles têm resistido a assimilação por mais de 600 anos. Os ciganos possuem um caótico e fascinante sistema de apoio mútuo baseado no mito da “Roda Cigana”. A ajuda material é livremente oferecida para outros viajantes com a ideia que vai retornar para o indivíduo em algum momento no futuro, quando for necessária. Apoio mútuo é dado livremente aos que pedem, somente na estrada (tradicionalmente um espaço liminar). Essa forma de apoio mútuo depende de uma complexa e sempre mutante constelação de sinais que acontecem naturalmente, que pessoas de fora consideram superstições bobas. Como esses presságios aparecem aleatoriamente, nenhum indivíduo consegue os manipular conscientemente. Observadores externos apenas começaram a ver isso como uma estratégia fundamental que as pessoas Rom têm usado contra sociedades que desejam assimilá-los ou destruí-los. Essa abordagem não-linear à princípio pode parecer aleatória demais para funcionar para toda uma sociedade, mas ela tem se mantido como um dos pilares da cultura Rom. Nossas próprias interações e generosidade com estranhos hoje comumente nos trazem benefícios inesperados maiores que qualquer medida quantitativa, e sempre na hora certa.

Outro exemplo, de uma comunidade bem maior em uma outra época: por mais de mil anos o império chinês consultava um “Ministério da Estranheza” para conselhos quando os planos imperiais falhavam ou produziam resultados inesperados. Tradicionalmente o Ministério da Estranheza era mantido ignorante sobre os planos originais. O ministério então consultava o I-Ching (aleatoriamente jogando gravetos de mil-folhas) para criar novos planos. Essa prática efetiva foi interrompida quando o conquistador orientado pela ciência Genghis Khan tomou o poder. Ironicamente Kublai Khan reintroduziu e expandiu o Ministério da Estranheza. Invés de servilmente replicar modelos e projetos que não dão resultados, nós devemos ter medo de tentar esquemas absurdos e ainda não testados.

No ramo especificamente revolucionário, o caos é uma ferramenta que pode derrubar mesmo o mais poderoso dos gigantes. Sabotadores sabem que os itens mais simples (por ex: um tamanco de madeira) podem ser usados para causar disrupção no mais eficiente e complicado dos sistemas. Na verdade, quanto mais complexo um sistema é, mais fácil é sabotá-lo. O equivalente econômico da vulnerabilidade do Estado é que conforme Capitalistas se tornam mais e mais dependentes de tecnologias e burocracias, eles aumentam sua vulnerabilidade a formas caóticas de resistência como o hacking.

Vamos reconhecer o caos como uma parte importante da mudança política e social. Nós podemos integrá-lo como um fator em nossas vidas cotidianas. Caos é a carta selvagem que permite que uma pequena comunidade como a nossa tenha um impacto muito maior do que o esperado por especialistas. De fato, grupos maiores tendem a ter mais inércia e raramente tomam vantagem das marés do mundo. Desde que não estejamos amarrados em táticas rígidas e modelos frágeis, seremos capazes de nos adaptar em ambientes em constante mudança. Com uma dose saudável de desconfiança dos vanguardistas e especialistas que têm a visão, plataforma ou política certa para a mudança, nós sempre podemos manter nossos olhos abertos para as inesperadas possibilidades do caos.

O que é Solarpunk ?

Tradução da fala do pensador anarquista youtuber, Saint Andrew .

O vídeo original pode ser encontrado no final da publicação.

Introdução

Solarpunk é tudo que envolve a imaginação positiva do nosso futuro coletivo e a sua criação. Seu nome deriva do gênero cyberpunk, e de todos os outros punks que vieram dele.

Existe o steampunk, que tem como foco a Revolução Industrial e tecnologias movidas a vapor. É um dos mais populares depois do cyberpunk. Existe o dieselpunk, que foca nas criações do período do entreguerras. Existe o atompunk, que foca na energia atômica. Steelpunk, focado em objetos do fim do século 20. Stonepunk, que é do neolítico. Existe até mesmo o nowpunk, que se passa… nos dias de hoje. Solarpunk é uma visão positiva de um futuro possível, baseada no nosso mundo, que enfatiza a necessidade da sustentabilidade ambiental, auto determinação, e justiça social. É um movimento dedicado a fins humano-cêntricos e eco-cêntricos. Ele olha para além das limitações do capitalismo e para além da atual divisão entre a humanidade e a natureza. É um futurismo que foca no que devemos esperançar mais do que o que devemos evitar.

Solarpunk reconhece que as mudanças climáticas, as consequências de séculos de danos, não foram totalmente evitadas no futuro. Ainda assim, ele nos tras esperança. Um futuro onde temos muito trabalho a ser feito, mas onde estamos nos saindo melhor. Onde estamos usando tecnologias para fins melhores. Como drones carregando bombas de sementes e fornos solares. Solarpunk enfatiza aplicações no mundo real. É tudo sobre o que podemos fazer aqui e agora, de projetos de faça você mesmo a organizações maiores. Solarpunk também é bastante estético, como você deve ter percebido. Ele usa muitos elementos da natureza e tem a art noveau como inspiração, upcycling, e estilos de design e movimentos artísticos asiáticos e africanos.

Nota: Deixe eu falar rapidinho sobre o que solarpunk não é. Não é sobre colocar flores e árvores em prédios de concreto ou arranhacéus de aço com um pouquinho de grama. Isso é greenwashing, que é ter a aparência de sustentabilidade, mas na realidade ser prejudicial ao meio ambiente. Muita água é usada na manutenção desses prédios “verdes” e eles geralmente não são construídos com materiais sustentáveis ou duráveis. Não seja tapeado.

No curto tempo desde que foi concebido, solarpunk encontrou seu lugar na mídia contemporânea. É um gênero literário que vem sendo retroativamente dado a diferentes coisas, desde que o termo ficou realmente popular em 2014. Solarpunk, por exemplo, inclui filmes como Princesa Mononoke de Miyazaki, ou literatura, como The Fifth Sacred Thing de Starhawk.

Cyberpunk pode ser sombrio e deprimente, explorando um mundo onde o poder darscorporações não encontra limites, mas o solarpunk rejeita isso inteiramente. Ele enfatiza a vida coletiva e a realização tanto da natureza quanto da humanidade em uma relação mutuamente benéfica.

Uma Breve História do Solarpunk

Por volta de 2008 um blog chamado Republic of the Bees publicou, “From Steampunk to Solarpunk”, onde conceituava solarpunk como um gênero literário inspirado pelo steampunk. Houveram alguns artigos e um ou dois outros textos, mas o que ganhou mais popularidade foi o post no tumblr Miss Olivia Louise em 2014, estabelecendo algumas das estéticas do solarpunk. Quote:


“Um mundo no qual crianças crescem sendo ensinadas sobre como construir eletrônicos tão bem quanto manejar hortas e outras habilidades, e as pessoas voltaram a apreciar artesanatos e artesãs, de pedreiros e ferreiros, a costureiros e ourives.”

O post dela depois serviu de referência para Adam Flynn, em seu Notes Towards a Manifesto no fim de 2014. Ele descreve a dificuldade de ser um futurista com menos de 30, observando o mundo mergulhar rumo ao cyberpunk, com a sempre presente ameaça existencial das mudanças climáticas. Solarpunk para ele, é a única alternativa contra a negação ou o desespero. Ele rejeita a abordagem individualista e insustentável de alguns futuristas, que se recusam a considerar o limite de energia da Terra. Solarpunk é sobre “inventividade, pedagogia, independência e comunidade”. Leva o sufixo punk pois se opõe ao nosso mundo como ele existe hoje. Ele cria resiliência local, dos telhados com painéis solares a jardinagem de guerrilha, as autoridades que se fodam. E finalmente, um grupo chamado The Solarpunk Community publicou Un Manifiesto Solarpunk em 2019. É um artigo curto, escrito em espanhol, que basicamente reitera algumas das ideias anteriores, em mais detalhes.

Sobre meu relacionamento com solapunk, eu estou nessa há bastante tempo. Não consigo lembrar exatamente quando ouvi sobre pela primeira vez, mas provavelmente foi no Tumblr. Também foi no Tumblr onde eu fui introduzido aos conceitos básicos de políticas progressistas e revolucionárias.

Política & Arte Solarpunk

Por mais que solarpunk nunca tenha se ligado a uma ideologia política específica, ele foi abraçado por políticas liberatórias de todos os tipos. De ecologistas sociais a anarquistas pós civ, a socialistas verdes. A filosofia do solarpunk e as políticas do anarquismo são particularmente feitas uma para a outra. O anarquismo enfatiza liberdade pessoal e libertação coletiva de hierarquias, autoritarismo, e exploração. Ele busca, como projeto contínuo, posse comum, cooperação voluntária, organização horizontal, e apoio mútuo. O anarquismo tem estado a frente de seu tempo em várias questões políticas, da libertação feminina e queer, e sua abordagem com relação a ecologia não tem sido diferente.

Solarpunk pode ser facilmente sintetizado com o anarquismo, e com muitas de suas várias vertentes conforme ele explora as possibilidades de tecnologias liberatórias, a localização da produção, um fim para o consumo destrutivo e cheio de desperdícios, e uma reorientação da nossa relação com o trabalho, a natureza e nós mesmos.


Tudo isso soa muito bonito e inalcançável. Mas eu quero falar para aqueles que perderam a esperança em um mundo melhor. Que estão paralisados pensando que onde estamos hoje, é o melhor que nós podemos fazer. Existe essa ideia na política contemporânea que imaginação não tem lugar no nosso mundo “pragmático”. O que é simplesmente falso. Humanos são criaturas flexíveis, capazes de um imenso espectro de estruturas sociais. Se todos limitassem a si mesmos aos limites do que está dado, nós não estaríamos aqui hoje. É hora de dar alguns passos adiante, com táticas variadas em mãos.

Uma delas é a arte. Arte tem uma influência tremenda em nós. Música, livros, pinturas, programas de televisão, filmes, etc, eles moldam nossas ideias do que a humanidade pode ser. Ainda não temos grandes exemplos de arte e entretenimento solarpunk, acredito que nós podemos mudar isso. Existem histórias interessantes há serem exploradas e debates a serem feitos através da arte. Imagine uma livro que explore os diferentes lados e dimensões do debate do consumo da carne em um mundo solarpunk ou um gibi que segue a jornada de uma comunidade que busca repovoar e ressuscitar a ecologia ao seu redor.

Ou imagine isso. Talvez ao junto com um jogo que imagina um final horrendo que mantém o capitalismo, como Cyberpunk 2077, nós imaginemos um jogo inspirador, ainda que desafiador que exercite nossa habilidade de balancear as necessidades do nosso ecossistema e lide com decisões difíceis, e conflitos que surgem conforme nós reorientamos nosso lugar no mundo. Pode chamar de Solarpunk 2033 ou algo assim. Essa é uma ideia grátis.

Conclusão

Existem inúmeras maneiras de incorporar solarpunk em sua vida e em seus coletivos. É bastante compatível com prefiguração. Solarpunk é realmente algo que você pode criar no mundo real e praticar, e espalhar. Solarpunks podem ajudar a criar o futuro que eles querem de várias maneiras, do faça você mesmo básico de workshops de cultura maker a criação e expanção de maneiras ecológicas de se viver e autonomia local em nossas cidades. Solarpunk é uma peça importante em um mosáico de possibilidades que centram a adaptabilidade humana e a proteção da natureza, que nosso mundo atual está organizado para destruir, mas que nosso mundo futuro deve priorizar.

“Solarpunk é um futuro com um rosto humano e sujeira atrás das orelhas.”

Psicologia do Colapso

Texto original disponível na Anarchist Library.

Saint Andrew, Jan 20, 2021

Introdução

Honestamente, tem sido exaustivo lidar com o mundo e tudo que vem acontecendo. Tento relaxar com regularidade, mas não é como se eu pudesse ignorar o fato de que tudo está desmoronando. Não posso mentir pra mim mesmo e dizer “Tá tudo bem”, quando a verdade é que, nada está bem.

E eu não estou sozinho. Meus pares e camaradas todos estão lidando com sentimentos parecidos, de exaustão e desesperança com relação ao mundo e ao futuro. Isso me botou pra pensar, e pesquisar, sobre como as pessoas estão lidando com esses tempos tão estressantes, como têm respondido, e como podemos lidar com tudo isso. Eu usei fontes variadas, assim como trouxe minhas próprias experiências, para criar uma espécie de teoria self sobre como eu e meus camaradas humanos temos lidado com esse… colapso.

Não acredito que preciso me aprofundar muito pra definir o que chamo de colapso. Estou me referindo a degradação da sociedade através dos mercados e Estados, a destruição dos nossos ambientes naturais, e a devastação de nosso potencial humano. A consequência final de todas os problemas interdependentes que assolam nossa vida moderna. A aceleração dos processos que irão levar ao fim do mundo como NÓS conhecemos.

Vamos olhar para os estágios de percepção individuais, e como as pessoas têm respondido ao que enfrentamos. E se possível, encontrar alguma resposta de como podemos fazer para arrancar a nós e outros da apatia. Vou dividir esse ensaio em duas seções, para manter as ideias organizadas e compreensíveis: Primeiro, estágios de Percepção, que eu retirei majoritariamente do Climbing The Ladder of Awareness de Paul Chefurka. Vou usar o Morty como exemplo para nos localizarmos nos estágios. Depois disso, vamos olhar às respostas que surgem para o colapso, uma vez que as pessoas o percebem.

Estágios de Percepção

Estágio 01 – Sono Profundo

Nessa fase, Morty tá só curtindo. Claro, ele consegue ver que existem alguns problemas no mundo, aqui e acolá, mas nada que não possa ser consertado, né ? Tudo que precisamos fazer é nos organizarmos melhor, mudar um pouco nosso comportamento, e reformar algumas leis, aí vai ficar tudo bem. Certo… ? Certo ?

Estágio 02 – Percepção de um Problema Fundamental

Ok, parece que não é tudo preto no branco. Morty acabou de ficar sabendo da existência do racismo estrutural, ou imperialismo, ou pesca predatóia ou a morte das tartarugas marinhas ou poluição por plástico ou das grandes mineradoras. Ele tá apavorado. Ele está em pânico e se mobilizando, ou ao menos discutindo o problema. Ele está tentando chamar a atenção das pessoas. Assim elas vão saber, “EI, TEM UMA PARADA ERRADA! VAMOS CONSERTAR ISSO!” Esse problema parece consumi-lo totalmente. Ele continua aprendendo. E então…

Estágio 03 – Percepção de Muitos Problemas

Quanto mais Morty aprende, mais ele se preocupa. Ele consome todo tipo de informação, e começa a perceber quão complexos e multifacetados são os problemas do mundo. Agora ele sente dificuldade até de priorizar qual questão precisa ser solucionada primeiro. De fato, ele está tão sobrecarregado que talvez até se torne relutante em reconhecer novos problemas. Por exemplo, se Morty tomou conhecimento sobre e está lutando contra a mudança climática, ele pode relutar em reconhecer a opressão que indígenas sofrem e o racismo ambiental. Ele sente que, “Aw geez Rick, eu já tô lidando com um monte de coisa, sabe ? Eu não quero me distrair com tantas coisas!”. Ainda assim, Morty não vai poder ignorar os outros problemas para sempre. A menos que ele queira ficar correndo em círculos.

Estágio 04 – Percepção da Interconexão Entre Muitos Problemas

O coitado do Morty começa a entender que não existe solução que não traga novos problemas. A desativação de fábricas pode deixar milhões sem emprego e deixar centenas de milhões sem uma refeição completa. Nossos esforços de aumentar a qualidade de vida geral nos países desenvolvidos através da industrialização está apenas acelerando a destruição da Terra e o enriquecendo uns poucos. De certa forma, Morty começou a… Ascender. Talvez não exista apenas uma solução ? Talvez as consequências dessas soluções sejam um fardo pesado de mais ? A essa altura Morty se recolheu para discutir essas questões com indivíduos que pensem de forma parecida, como pequenas rodas de conversa, assim eles podem explorar os problemas com maior profundidade.

Estágio 05 – Percepção de que a Crise Engloba Todos Aspectos da Vida

Morty está mais que ciente agora. Ele deve até sentir falta da ignorância, confome percebe que essa série de problemas, ou melhor, essa Crise COM C MAIÚSCULO engloba tudo, incluindo tudo que fazemos, como fazemos o que fazermos, como nos relacionamos, e como afetamos todo o planeta. A Crise é tão imensa, ele percebe, que pode não existir Resposta COM R MAIÚSCULO para essa Crise COM C MAIÚSCULO… Sem uma resposta fácil, sem saída rápida, ele não consegue fazer isso sozinho. E agora ?

Chefurka acreditava que cada estágio contém aproximadamente um décimo do número de pessoas do estágio anterior. Por exemplo, 90% da humanidade deve estar no Estágio 1 mas apenas dez mil pessoas devem estar no estágio 5. Eu não encontrei nenhuma evidência disso, e pessoalmente, discordo. Ele deixa nítido que isso é uma observação pessoal, então tire suas próprias conclusões.

Agora vamos ver as diferentes respostas que as pessoas dão ao colapso, novamente considerando minhas pesquisas e experiências pessoais.

Respostas ao Colapso

Sono Profundo

Eu diria que boa parte das pessoas estão nessa categoria. Pode ser que elas tenham começado a entender o que está acontecendo e só resolveram seguir dormindo. Para conscientemente seguir na ignorância, e evitar qualquer entendimento do que acontece. Talvez eles estejam protegendo sua frágil sanidade mental, o que é compreensível. Mas, não precisamos encarar esses problemas, pois eles não está indo a lugar algum. O que nós precisamos é de coragem.

Negação

Quando as pessoas encaram a realidade, e a rejeitam, para construir sua própria versão. Ou quando elas buscam por informações, não pela verdade, mas para que as conforte. Elas constroem uma bolha midiática que as protege, ou um círculo social que pode protege-las e reafirmar suas crenças. Todos são capazes de rejeitar a realidade, mas é algo que se tornou bastante prevalente na era da informação, onde podemos facilmente evitar qualquer verdade que nos deixe desconfortáveis, como, por exemplo, a derrota em uma eleição ou a realidade da mudança climática causada por ação humana.

Apatia

Para essas pessoas, não faz diferença pra qual direção o vento sopra. Sem motivação. Sem sentimentos. Entregues ao cinza absoluto. Assim como Sono Profundo e na Negação, as pessoas respondem com apatia para de algum modo, se protegerem. Afinal, se nada importa, não há motivo para mudar nada. Sem necessidade de pensar. Sendo constantemente bombardeado pela mídia, é mais fácil apenas se desconectar. Se recolher na própria concha, ou

Preocupação


Isso é mais culpa do nossos sistema, as pessoas hoje em dia estão realmente ocupadas. Nem todo mundo pode se dedicar a explorar e entender os problemas do mundo, mesmo que a ameaça seja tão existencial que suas infinitas tarefas no escritório ou sua escravidão no varejo possa ser reduzida a nada. Mas não estou falando dessas pessoas. Estou falando das que respondem distraindo a si mesmas dos problemas do mundo, se enterrando em trabalho, construindo uma desculpa conveniente para não desafiar as estruturas de privilégios sob as quais estão, ou sustentam. Esses, estão fugindo da Crise. Mas a Crise chega pra todos nós, cedo ou tarde.

Hedonismo

Em oposição aos que se mantém ocupados com trabalho estão os que mergulham em consumismo cego. O que pode se conectar com a Apatia até certo nível. Se nada importa e tudo está desmoronando, você pode muito bem simplesmente… consumir. Se satisfazer. Distrair a si mesmo com jogos, música, festas, drogas, e bebidas. É como o Sono Profundo, exceto que você está ciente da realidade e está conscientemente tapando os ouvidos. Ao menos, os que tapam seus ouvidos não precisam encarar a…

Sobrecarga

A Crise que é o colapso, é bastante complexa e multifacetada. Algumas pessoas respondem tentando compreender todas essas facetas e acabam perdendo o contato com a realidade. Não existe mente humana capaz de consumir e compreender cada detalhe dos problemas que nós enfrentamos. É por isso que somos uma espécie social. Nós devemos trabalhar juntos para compreender o colapso. Como indivíduos, pode ser difícil interagir com algo tão complexo, abstrato, distante, e assustador. Nós vamos precisar nos unir, não nos submetermos a um tipo de auto-tortura via isolamento mental das ameaças a existência humana.

Esperança Cega

Muitos de nós caem nessa armadilha, quase que naturalmente. Humanos são biologicamente predispostos ao otimismo, a atitude ou crença que uma empreitada ou resultado específico será positivo e desejável. Nós tendemos a ter esperança em um resultado futuro que simplesmente… Vai dar certo. Por isso eu digo que é cega. Ela não consegue se adequar às mudanças constantes da realidade. Não é apenas ver o mundo “por lentes cor-de-rosa”, e praticamente um headset de realidade virtual. ..

Nós perdemos nossa habilidade de ver nitidamente e de tomar ações realistas e necessárias. Nós abrimos mão de nossa agência e deixamos as coisas nas mãos de líderes e especialistas. Nós permanecemos… Passivos. Nós perdemos tempo, tempo precioso que poderia ser investido em redução de dano real. Com esperança cega deixamos de ter conversas necessárias quando nos fixamos tanto sobre SE podemos, COMO podemos consertar o mundo, sem considerar o que precisamos fazer se não pudermos consertar esse mundo. O que acontece então?

Fé Cega inevitavelmente leva a frustração. Esperar para sempre por um futuro que não vai vir. Que existe apenas na sua mente, alheio a realidade. É, em suma, um tipo de negação, mas é um tipo progressista de negação. É preciso uma certa jornada para se deslocar para para um nível mais alto de maturidade emocional. Mas uma vez que nós nos livremos das falsas esperanças, como a ideia de que de alguma forma vamos reverter os danos que foram feitos ao planeta, e sairmos ilesos. Bem, à partir daí nós podemos fortalecer nossa vontade e nos preparamos para o que já está em curso. Para agir com o conhecimento que, não, nossos líderes não vão fazer nada relevante o suficiente, e o que precisamos vai muito além de quaisquer reformas. É algo duro de se encarar, mas se você conseguir, estará numa posição melhor para resistir. Nós não precisamos de fé cega.

Mudança Individual

Essas são as pessoas com fé cega, mas com umas poucas diferenças aqui e ali, pra elas, nós podemos continuar nosso crescimento infinito, sem problemas. Tudo que temos que fazer é virarmos veganos, reciclar, deixar o carro na garagem e pegar carona uma vez ou outra, pra que os males do mundo sumam. Eles tem fé, e culpam apenas os indivíduos, ignorando as estruturas da nossa sociedade.

Culto ao Progresso

Nossa visão atual sobre o progresso é quase religiosa. Como se todo e qualquer progresso fosse bom. Como se não importasse as consequências na nossa Terra finita, e nós pudéssemos apenas expandir e expandir. Eternamente. Pessoas que cultuam o progresso confiam cegamente em gente como Elon Musk e outros supostos gênios da tecnologia, pra simplesmente… resolverem todos nossos problemas como sociedade. Eles possuem um nível absurdo de tecno-otimismo, acreditando que com um pouco de inovação, nós podemos resolver qualquer problema do planeta, sem levarem em conta os riscos e consequências da tecnologia, atual ou futura. Eles tendem a cair na armadilha do Realismo Capitalista, perdendo qualquer senso de alternativas que não estejam dentro da atual ordem social, destrutiva social e economicamente. Eles também tendem a se sentir privilegiados pelos estado atual das coisas, ou no mínimo confortáveis o suficiente para não querer o ameaçar.

Culto ao Líder
Existem muitas pessoas que simplesmente têm uma fé inabalável em nossos líderes. Que acreditam que, uma vez que a gente coloque a pessoa certa no cargo, as coisas vão funcionar. Mas como Michael Jackson disse, eles não se importam com a gente. A verdade é que, o sistema corrompe mesmo as melhores intenções. Políticos são em si uma classe, e suas ações refletem, em essêcia, seus prórios interesses.

Estados nação, governos, líderes… É parte do trabalho deles manter estruturas que prejudicam a humanidade. Não há muito que eles possam fazer para afetar os status quo. Deixar nossa salvação nas mãos deles é um exercício de futilidade. Investir seu futuro no eleitoralismo é um desperdício. Mas também demonstra quão efetivamente o sistema de ensino e as mídias de massa destruíram e limitaram nossa imaginação. Você pode chamar isso de Realismo Estatista… a ideia que não existe alternativa há hierarquia dos governantes e governados. Que as pessoas precisam apenas ser submetidas a vontades e caprichos de outros, ao invés de se organizarem, através de consenso democrático, por elas mesmas e por suas comunidades.

Culto ao Apocalipse

Isso vai parecer um pouco esquisito, mas os que aguardam ansiosamente o apocalipse também estão demonstrando um tipo de fé cega. Aceleracionistas, preppers do fim do mundo, cultistas, sobrevivencialistas extremos, fãs de videogame de zumbis, ou os que crêem no Fim dos Tempos (pensa nas Gandes Atribulações, o Arrebatamento, e outras crenças fundamentalistas). Parece que existem um monte de gente quase… Empolgada pelo apocalipse ? Ou realmente aficcionados com suas projeções de um fim do mundo ideal. É como se, eles não aguentassem mais esperar pelo fim do mundo. Seja pra que Jesus possa finalmente voltar para a Terra, ou para os pecadores poderem ser purificados ou eles possam finalmente ser vindicados aos olhos daqueles que menosprezaram seus bunker do fim do mundo.

Sinceramente, pessoas que reagem dessa maneira me dão calafrios. Quem olha pra tudo que está acontecendo e… invés de resistir ou tentar mudar as circunstâncias, apenas aceita como se estivesse tudo indo de acordo com o plano/profecia… ou tentan tornar as coisa piores. Por exemplo, você já parou pra pensar por que tantos evangélicos apoiam o estado de Israel, e fazem um lobby tão pesado em apoio, apesar da brutal violência com que tratam os palestinos ? É por que de acordo com a ideologia que seguem, o povo judeu precisa voltar para Israel, pra que Jesus posso retornar, e os palestinos que se danem. Literalmente.

Desespero

Essas são as pessoas que tendem a ficar sentadas lamentando nosso destino. Eles provavelmente falam igual o Bisonho também. Elas são pior que as apáticas, por que elas fazem peso nos nossos esforços com seu pessimismo. Elas só enxergam o pior, só esperam o pior, e vivem em absoluta derrota. De acordo com os em desespero, nada que fizermos tem poder de afetar nosso futuro. Honestamente o pessoal da doomer pill estão desnoreados com alguém que se encheu de ópio.

E Existe uma Saída ?

Como dito antes, nós não precisamos de fé cega. Também fica nítido, que não precisamos de desespero. Essa é uma dicotomia completamente falsa. E como respondemos a essa Crise ?

Precisamos de sobriedade. Clareza. Lucidez. Existem mais duas respostas. Paul Chefurka aponta em seu artigo que aqueles no Estágio 5 de Percepção, que veem que a Crise Engloba Todos Aspectos da Vida, olham pra um desses caminhos. Existe um terceiro, a rejeição dos dois caminhos, mas pra essas pessoas, ele recomenda aconselhamento profissional.

Os Dois Caminhos

O Caminho Interno: Auto-Cura

Para alguns, o caminho interno parace o mais viável. É uma manifestação daquela fresa falasamente atribuída a Gandhi: Seja a mudança que você quer ver no mundo. É um caminho profundo e pessoal, olhar o colapso e se voltar para dentro de si para desenvolver seu autoconhecimento. Para curar o mundo, primeiro cure a si mesmo, é um velho clichê espiritualista, mas ainda carrega alguma verdade.

Algumas pessoas acreditam que isso significa algum tido de pensamento hiper individualista, mas se você fizer um esforço, consegue enxergar isso por outra perspectiva. Não quer dizer se tornar um monge ou um asceta. Não sognifica negar sistemas ou ignorar verdades doloridas. É sobre considerar a gravidade do que estamos lidando. Um prblema de escala monumental, e enquadra-lo em um contexto pessoal. Usando suas ideias para se comunicarem e se modificarem com as ideias de outros. É assim que eu vejo ao menos. Mas eu também não vejo esse caminho como satisfatório pra mim. O que me move é…

O Caminho Exterior: Realismo Equilibrado
Realismos equilibrado é, bem, difícil de se equilibrar. Muitas pessoas confundem realismo com pessimismo. Pessoas amargas que pensam que realismo é quando tudo vai mal. Ignore elas. Felizmente, tomar o caminho do realismo equilibrado significa se livrar do fardo e das vendas do pessimismo e do otimismo. Afastando o alarmismo, o negacionismo, fatalismo, hedonismo, e tudo que nos atrapalha. Libertando você de seus medo e esperanças. Aqueles que andam pelo caminho exterior reconhecem e aceitam qualquer número possível de resultados. Frente a tamanha Crise, mater o realismo é difícl, mas necessário. Você faz agitação pensando no melhor, e se prepara para o pior.

No caminho exterior você se livra da ingenuidade e da passividade. Você está se movendo. Agindo. Fazendo. Adaptando. Pernse nos movimentos de permacultura, Rojava, Transition Network, Resilience.org, Post Carbon Institute, Cooperations Jackson, e todos os outros projetos e movimentos, perceba que nenhum deles é perfeito, nenhum vai salvar o mundo sozinho, mas estão olahndo para seus próprios locais e fazendo diferença. Pare de perder tempo com partidos políticos, estamos agindo agora mesmo. Realistas do caminho exterior estão construíndo comunidade, construíndo sustentabilidade. Bravo.

Conclusão

Você reconhece esses estágios de percepção e essas respostas ? Em você e nas pessoas ao seu redor ? Como eu sempre digo, nós precisamos uns dos outros, então, entre em contato se você perceber que alguém não está bem e tem andado por um caminho negativo. Eu vou deixar alguns materiais para quem tem se movido na direção do Realismo Equilibrado, para quem busca o caminho exterior e mais informações e apoio. Para os que escolhem o caminho interior para auto-cura, não tenho tantos materiais, então por favor, compartilhem nos comentários. Vamos manter esse diálogo vivo. Todos vocês, se cuidem.

Paz.

Materiais & Referências:

https://www.collapsewiki.com/overview…

https://www.permaculturenews.org/2012…

https://www.resilience.org/learn-reso…

https://cooperationjackson.org/

https://blacksocialists.us/our-strategy

https://iww.org/resources/

https://blackrosefed.org/

https://usa.anarchistlibraries.net/li…

https://usa.anarchistlibraries.net/li…

https://anarchy.works

Além do dever e do prazer

[tradução do capítulo 07 do livro Anarchy in the Age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

Muitas amizades, coletivos e projetos afundaram desnecessariamente por desavenças sobre quais motivos nos levaram ao trabalho político. Essas divisões sobre nossas motivações fundamentais ameaçam mesmo os projetos ou coletivos mais idelogiamente “puros”. Esse obstáculo é insidioso e destrutivo que o sectarianismo do Green vs Red Scare ou a divisão anterior sobre Pacifismo vs Ação Direta. Eles também têm a infeliz habilidade de destruir amizades e deixar as pessoas se perguntando oquê deu errado. Apesar dos aspectos perenes e perniciosos das motivações destes conflitos, muito pouco tem sido escrito sobre a questão, de uma perpectiva anarquista.

Então, o que exatamente é esta ameça implícita ao trabalho coletivo ? A resposta pode ser encotrada nas motivações básicas que levam as pessoas a participarem de projetos. Como todos sabemos, muito do trabalho que fazemos não tem glamour e demanda muita energia e recursos. Não é raro que nossas ações falhem em alcançar nossas nobres expectativas e as vezes podem nos por grave perigo. Exaustão é um problema incrivelmente comum entre ativistas que puseram enormes quantidades de tempo e energia em seus projetos. Por conta dessas armadilhas, compreender as motivações das pessoas com as quais escolhemos trabalhar é tão importante quanto conhecer os posicionamentos políticos delas. Projetar suas próprias motivações sobre outros em um coletivo é uma receita certa para o desastre e o ressentimento.

Tradicionalemnte, existem duas vertentes principais de motivações (ou o que são compreendidas como motivações) nas políticas anarquistas. Dever e Prazer. Como qualquer dualidade, é fácil cair na armadilha de rótulos simplistas de preto no branco, ignorando os mais realistas nuances de cinza. Ao invés disso, pense nessas duas motivações como os pontos finais de um continuum, iluminando tudo entre os dois pontos.

Motivações não podem ser separadas das expectativas. Nos sentimos movidos a participar de projetos específicos por que nós temos expectativas positivas com relação ao nosso compromisso.

Expectativas que não são compartilhadas ou mesmo expressas coletivamente, podem acabar prejudicando a tomada de decisão sobre os rumos dos projetos. Como a satisfação das nossas expectativas é a principal forma que usamos para avaliar a eficácia de qualquer trabalho ou projeto, diferentes expectativas irão resultar em diferentes avaliações. Essas diferenças podem acabar com a habilidade de um coletivo de aprender com os erros do passado, uma vez que diferentes réguas estão sendo usadas. Assim como Dever e Prazer são motivações inerentemente diferentes, as expectativas também serão divergentes, o que por sua vez levam a evaliações conflitantes e análises do que seria o sucesso de um projeto ou coletivo.

Orientações motivacionais fundamentais, como Dever e Prazer, são mais persistentes que outras desavenças políticas porque muitas vezes são o resultado de traços básicos de personalidade. Motivações que residem no subconsciente ou no inconsciente são resistentes a maioria dos argumentos intelectuais, precedentes históricos, manipulações lógicas, e outros mecanismos conscientes. Em resumo, o que nos motiva a participar de certos projetos não pode ser explicado intelectualmente. Esses traços motivacionais conflitantes são potencialmente o elemento mais divisivo que encontramos em nosso trabalho coletivo diário. Para encontrar nosso caminho para fora desse campo minado da psicologia motivacional, nós precisamos entender como esses dois tipos polarizantes manifestam a si mesmos e buscar por novas formas de agir para ambos se complementarem.

Dever tem sido um motivo tradicional para projetos radicais; até recentemente, era a tendência predominante nas comunidades anarquistas. Isso sem dúvidas é por causa da nossa trágica história. As lutas anarquistas, em sua maioria, têm sido uma série de derrotas amargas, repressões e ostracismos. Então o que motivou camaradas a trabalharem de forma tão dura e altruísta em tantos períodos sombrios? A resposta parece ser um forte senso de Dever, baseado em um elevado senso de justiça, combinado com a crença em um mundo melhor. O modelo do Dever criou um culto de mártires, aqueles que deram tudo pela Causa. Os que trabalham dentro do modelo do Dever esperam que o trabalho seja duro e não reconhecido mas ainda sentem que ele deve ser feito. Anarquistas motivados pelo Dever não se preocupam se seu trabalho é prazeroso ou gratificante. Trabalho político dirigido pelo Dever tendem a ser caracterizados por reuniões sem fim, conflito, trabalhos de merda, e longas horas. O comprometimento da pessoa é medido por uma simples fórmula de hora-trabalho dedicadas a desagradáveis tarefas para as quais se voluntariou. Sacrifício se torna um ideal constante e reificado pelo anarquista motivado pelo Dever. Devido à quantidade de energia e trabalho insatisfatório, existe uma profunda preocupação sobre a longevidade dos projetos e avaliações sobre a sua eficácia na promoção da causa. O Dever tende a por ênfase em manter projetos. É comum que uma quantidade considerável de energia seja usada para manter projetos que talvez já tenham perdido sua função original ou que nunca acalçaram seu potencial.

As expectativas dos que trabalham num modelo de Dever tendem a ser externalizadas. A avaliação de sucesso e falha é baseada em fatores externos. Esses fatores normalmente incluem exposição midiática, impacto na comunidade, recrutamento, levantamento de verbas ou longevidade. Muitas dessas expectativas são facilmente quantificáveis e por isso análises empíricas são a principal forma de avaliação. Essa ênfase em quantidade e empiricismo leva a um desejo de aumentar os resultados quantificáveis. A abordagem do Dever é similar (em motivações, expactativas, e avaliações) a tendências históricas e atuais da Esquerda.

Prazer é uma força opositora relativamente nova no anarquismo, embora nós sempre tenhamos dado importância, ao menos da boca pra fora, ao Prazer no pensamento anarquista. Isso é exemplificado pela famosa frase de Emma Goldman “Se não posso dançar, não é minha revolução.” O mais novo modelo do Prazer no anarquismo vem das culturas punk, pagã e viajante do fim dos anos 1980 e é uma herança direta dos hippies e da Nova Esquerda dos anos 1960. Suas motivações são baseadas no princípio da satisfação. O Prazer busca transformar o trabalho político em brincadeira. Ele rejeita os clichês de sacrifício e martírio da velha Esquerda e os substitui com carnaval e metáforas festivas. O Prazer avalia o trabalho político não em horas de trabalho ou sacrifício, mas em quão excitante e empoderador um projeto pode vir a ser pessoal e coletivamente. Dada a necessidade do ativismo ser excitante e empoderador, projetos motivados pelo Prazer geralmente são temporários, se desfazendo logo depois da empolgação inicial diminuir. Eles geralmente não levam em consideração o impacto a longo prazo dos projetos em suas comunidades. Anarquistas motivados pelo Prazer também tendem a ser mais céticos com os projetos históricos que anarquistas movidos pelo Dever reverenciam.

Assim como o Dever, ativistas motivados pelo Prazer têm expectativas moldadas por suas motivações. As expectativas do trabalho tendem a ser internalizadas. É dada importância para experiências subjetivas e foco em mudanças qualitativas em opsição a medidas quantitativas. As expectativas geralmente incuem diversão, capacitação dos participantes, conscientização, empolgação, criatividade, e novidade. Projetos que falhem em alcançar essas medidas qualitativas são vistos como insuficientes e os que alcançarem ao menos alguns desses objetivos, como sucessos, independente de qualquer impacto exterior. A ênfase nas necessidades individuais, experências subjetivas, e no empoderamento são mais típicas em certas vertentes de hippies hedonistas e subculturas punk do que da Esquerda tradicional.

Uma vez que poucos projetos se enquadram perfeitamente nos moldes do Prazer e do Dever, especialmente no início, estas personalidades se encontram trabalhando em conjunto. A princípio, isso pode levar a uma tensão e subsquentemente ao ressentimento e expulsão. Isso aconteceu tantas vezes nos últimos anos que levou ao debate completamente irrelevante sobre “”Anarquismo Social vs Anarquismo por estilo de Vida”, que falha em produzir qualquer coisa exceto alienar e criar espantalhos de ambas as motivações. Nós entendemos a discussão sobre o Dever e do Prazer pode criar uma divisão semalhante, e esse fosse nosso objetivo, seria hipocrisia. Em vez disso, nós deveríamos tentar compreender todo o espectro das motivações sem buscar criar uma falsa “unidade” nas motivações, ou por outro lado, dar início a mais uma rusga sectária. Buscar Significado nos estilos do Dever e Prazer pode ser comparado com o processo de busca de concenso.

O reflexo imediato dos dois fins do contínuo têm sido atacar um ao outro sem jogar luz sobre as reais diferenças motivacionais que afetam seus níveis compromisso. O que cria mais um caminho que leva a atomização dos anarquistas.

Esse ensaio não é um chamado para que todos se unam; esse objetivo é altamente improvável e nem é necessariamente desejavel. Existem sérias limitações em ambas abordagens motivacionais (claramente apontados pelos dois lados) e por tanto outras abordagens motivacionais são necessárias. Para obter sucesso, uma abordagem nova deve compelmentar as forças tanto do Prazer quando do Dever para maximizar a solidariedade dentro de coletivos trabalhando em projetos anarquistas e minimizar a tensão existente entre pessoas que encarnam um. ou outro estilo.

A boa notícia é que um número considerável de anarquistas trabalhando e engajados em projetos não estão nos extremos do contínuo Dever-Prazer. Nós gostaríamos de sugerir uma abordagem motivacional baseada no Significado. Esperamos que a articulação do Significado não só alivie a tensão que sufoca a maioria dos projetos como também dê fôlego para projetos novos e bem sucedidos.

Motivações baseadas primariamente em Significado sempre foram parte do anarquismo; de fato, Significado tem sido usado tanto pelo campo do Prazer quanto pelo do Dever para justificar suas abordagens enquanto atacam um ao outro. Já que a palavra Significado foi reivindicada pelos dois estilos, é importante explicar oque seria uma motivação baseada em Significado. Erich Fromm descreveu motivações baseadas em Significado como “contendo o meio objetivo [Dever] e o subjetivo [Prazer] de compreensão”. O Significado é determinado ao analisar os efeitos externos e os testar contra os sentimentos internos. Um anarquista motivado pelo Significado busca tanto o impacto pessoal (internalizado) quanto o público (externalizado) de seus esforços.

Projetos vistos a luz de seu Significado podem ser avaliados de maneira mais completa e melhor apreciados por sua perpectiva do que pelas outras duas abordagens limitadas, exatamente por que ele considera os desejos quantitativos quanto qualitativos. Agora nosso esforços podem ser julgados por eixos múltiplos. Não é mais apenas uma simpels questão de quantas horas uma pessoa trabalha mas também a satisfação que ela pode manifestar em sua atividade. Um projeto não precisa ser avaliado somente por quão empolgante e divertido é mas também quão efetivo ele é em atingir seu objetivo. Nenhum lado do contínuo é superior ao outro. Ao invés disso, cultiva-se a harmonia para se criar Significado. A aplicação de ambas expectativas cria uma análise mais rica e com mais nuances. Significado também fornece uma ferramenta útil para decidir quais projetos são válidos de utilizarmos nossos limitados recursos e energias. A abordagem Significativa tem a vantagem de retomar toda a história das lutas e projetos anarquistas vitoriosos. Ele também se torna um meio para camaradas ligados aos extremos do contínuo de trabalharem juntos sem descartarem ou reprimirem suas motivações. Quando nós buscamos Significado nos nossos projetos, nós exigimos a realização completa dos nossos esforços e recursos. Nós não vamos mais nos conformar com qualquer um dos fins do contínuo mas bucar o nexo todo. A ênfase no Significado limita o efeito destrutivo de outro obstáculo perene ao trabalho anarquista: a exaustão. A exaustão surge quando muito do nosso tempo e recursos desperdiçãdos em projetos sem sentido. Na prática, iniciativas significativas criam energia e talentos. Eles dão mais fôlego para continuarmos nossas lutas, alcançando projetos de longo prazo. Projetos baseados no Significado nos dão oportunidades excitantes e novas experiências que satisfazem pessoas de toda parte do espectro Dever-Prazer. Em uma cultura que produz em massa, tanto a expectativa do Dever do trabalho intensivo quanto produtos de hedonismo Prazeroso, o Significado justifica o preço de nosso trabalho, recursos e vida. O capitalismo prospera nos extremos do contínuo do Dever-Prazer criando relacionamentos sem significado que nos dividem em trabalhadores e consumidores. A anarquia oferece uma solução para essa absurda sociedade dualista. Projetos significativos vão se tão importantes para anarquistas experientes quanto para recém chegados. Somente projetos que tentem honestamente balancear tanto necessidades externas quanto necessidades internas podem vão ter qualquer experança de oferecer resistência contínua ao incessante miasma da falta de sentido da cultura de consumo cotidiana. Nem o Dever nem o Prazer podem se desenvolver novas e melhores formas de viver em comunidades de resistência vibrantes. Outro mundo é de fato possível, mas precisa ser significativo.

A Organização que Anarquista vem travando uma Guerra contra a Polícia em Thessaloniki [2021]

Publicado originalmente em seis de dezembro de 2021, por WannabeWonk.

Em Thessaloniki, Grécia, Direct Action Cells (DAC) atacou a residência de oficiais da polícia após declarar guerra a Polícia Helênica [1]. A Organização de Ação Anarquista (OAA), como é conhecida a célula da DAC de Thessaloniki, publicou o nome e endereço de 21 oficiais ativos. Em 21 de Novembro, OAA publicou comunicados assumindo o ataque contra a casa de dois agentes, na manhã de 15 de Novembro, onde se descreve um “ataque explosivo de baixa potência” – os mesmos IID [2] utilizados pela DAC em ações anteriores.

(IDD deixado fora da casa de um policial em Thessaloniki).

O comunicado cita Nikos Sampanalis, o homem de 20 anos, de etnia romani, assassinado pela polícia em 22 de Outubro, após ser perseguido por supostamente dirigir um carro roubado.

(22 de Outubro, após os 22 disparos contra Sampanis)

O ataque veio logo após o mais recente escândalo envolvendo policiais locais, com crimes de abuso sexual e tráfico de pessoas. Em Novembro, um policial de 29 anos foi acusado de abusar de sua filha de quatro anos, meses antes outro policial foi acusado de prostituir sua filha adolescente e mante-la em cárcere privado.

O comunicado cita que em Julho, a OOA publicou o nome e endereços de policiais, os quais chama de “cafetões” e “assassinos uniformizados”, linguagem que aparece novamente no comunicado mais recente:

Em Julho, nós efetuamos um ataque expondo ao público 21 policias gregos […]. Meses atrás, nossos atos encontraram nossas palavras. A História nos mostra, assassinos e torturadores sempre irão sofrer na mão da violência revolucionária, a verdadeira justiça. É por isso que atacamos aos descendentes políticos dos torturadores do golpe, poucas horas após o aniversário da massacre de 73, como um tributo pela memória dos mortos na Politécnica.

Essa última frase se refere ao massacre de dezenas de pessoas durante protestos estudantis contra o Regime dos Coronéis, 17 de Novembro de 1973, que todos os anos é relembrado na Grécia e geralmente termina com conflitos violentos entre a polícia e os revoltosos.

(Danos na estação policial de Nea Iona, após ataque armado)

Curiosamente, por ter começado a mirar diretamente a polícia, no comunicado a OAA cita uma infame ataque armado contra uma estação da polícia em Nea Iona, realizado pela geração anterior de grupos de guerrilhas urbana anarquista, em 2007.

“…Para todos aqueles que defendem a normalidade social e a paz entre as classes, que, em toda revolta social, grande ou pequena, tenta marginalizar a parcela dos mais dinâmicos e politicamente ousados, que para eles são sempre “uma minoria” e “agem contra uma maioria pacifista”, nós devemos lembrar que a história das lutas sociais e de classe é escrita por pessoas determinadas a combater por seus ideias. Por pessoas que, mesmo que poucos em números, conseguem conectar, inspirar e mobilizar muitos mais, que conseguem ditar os termos da luta e criar legados para novos, maiores e mais decisivos esforços.” – Revolutionary Struggle – Ataque armado na estação de Perissos.

Revolutionary Struggle foi formado em 2003 e quase imediatamente pisou nos calos da infame organização terrorista vermelha, 17 de Novembro, após essa ter se desarticulado em 2002.

O comunicado da OAA conclui por reafirmar o chamado para a criação de uma rede de violência revoluocinária, apesar dos riscos cada vez maiores:

… esse conflito será violento, ilegal, militante e radical, sem compaixão por nenhum deles, usando de todos os meios para a punição adequada à tirania.

Camaradas lutadores, nós chamamos pelo seu apoio na prática da guerra revolucionária que travamos. Ergam as ferramentas que desafiam na prática a dominação do inimigo. Crie novos grupos, organizações, células de formação radical e violência revolucionária. Reenergizem o diálogo público unindo nossas resistências militantes e apoio ativo as redes de violência revolucionária que estão travando batalhas com suas forças, grandes e pequenas. Com memória insurgente por cada um dos mortos pelas mãos da polícia e por todo prisioneiro da guerra social e de classe. Nós convidamos você a seguir pelo caminho da guerra. Onde a vida se torna verdadeiramente significativa, encontrando a responsabilidade pelo dever histórico. A tarefa da subversão e da revolução.

(D. Chatzivasileiadis em custódia, Agosto 2021)

O comunicado reitera a indignação dos autores ao assassinato de Sampanis pela polícia, e a morte do imigrante grego que estava sob custódia da polícia Alemã no começo do ano.

No que está se tornando uma onda entre os anarquistas gregos, os autores também mencionam a morte de George Floyd sob a custódia da polícia de Minneapolis, no ano passado, uma comoção pública que foi a centelha para meses de protestos violentos por todos EUA em 2020. No último Outono, o anarquista e até então fugitivo Dimitris Chatzivasileiadis, repetidamente invocou o assassinato de George Floyd em um comunicado ondechamava por uma “semana de vingança” após o antifascista Michael Reinoehl[3] ser assassinado por uma força tarefa da polícia federal dos EUA, em meio os protestos de 2020. Chatzivasileiadis foi preso em Agosto, após meses foragido.

Nós temos o direito à revolta e a sermos determinados. E isso nos basta. Em Pireau seu nome era Nikos Sampanis; em Wuppertal, Gorgos Zantiotis; em Minneapolis, George Floyd. Em tantos outros lugares, ele nem nome tem, é apenas sangue nas mãos dos policias. Em centros de detenção, prisões e hospitais psiquiatricos, em bordas e cercas em Belarus, no Mar Egeu… Por essa sangrenta lista de vítimas da República, que cresce dia após dia de abusos, torturas e execução, uma só palavra ecoa: VINGANÇA!

Ataque sem misericórdia as forças de seguranças

Fogo as casas, estações de polícia e ministérios

(Kevin Fernández, 2018)

No que já é um elemento bem estabelecido entre anarquistas gregos, o comunicado encerra com uma nota em homenagem ao anarquista chileno Kevin Garrido Fernadez, que foi assassinado esfaqueado enquanto estava sob a custódia da polícia , em 2 de novembro de 2018.

Notas de Tradução

[1] – 17 Julho 2021.

[2] – Improvised Incendiary Devices

[3] Michael Reinoehl foi uma ativista antifacista, assassinado pela polícia de Portland em Agosto de 2020.

EUA: Janes Revenge – Grupo reivindica ataque incendiário contra organização anti-aborto em primeiro comunicado [10.05.2022]

“Nós estamos na sua cidade. Nós estamos em todas as cidades.”

Nos Estado Unidos o fascismo avança a passos largos. Nas últimas semanas, mulheres e a juventude trans, têm sofrido duros ataques em forma de manobras legais, que não tem outro objetivo além de perseguir e facilitar o extermínio, judicial ou extra judicial, de todes que resistam ao projeto de poder do cristofascismo.

Nesse cenário, com a extrema direita se preparando para revogar o direito ao aborto em vários estados, e o acirramento da violência contra clínicas e profissionais de saúde, um grupo chamado Janes Revenge surge reivindicando o ataque incendiário contra a sede de um grupo anti-aborto de Ohio.

“Se os abortos não estão seguros, então vocês também não estão”

“Primeiro Comunicado.

Essa não é uma declaração de guerra. A guerra está sob nossas cabeças há décadas. Uma guerra que nós não queremos, e não provocamos. Há muito temos sido atacadas por reivindicar o mais básico tratamento médico. Há muito temos sido alvo de balas e bombas, forçadas a parir.

Isso foi apenas um aviso. Nós exigimos o desmantelamento de todos os estabelecimentos anti-escolha, as clínicas falsas [1], e os violentos grupos anti-escolha dentro dos próximos trinta dias. Essa não é uma mera “diferença de opinião” como alguns tem dito. Nós estamos literalmente lutando por nossas vidas. Nós não vamos aguardar sentadas enquanto somos assassinadas e forçadas a servidão. Nos sobra pouca paciência ou misericórdia por aqueles que querem nos arrancar o pouco de autonomia que nos resta. Enquanto vocês seguirem bombardeando clínicas e assassinando médicos impunemente, nós também devemos adotar táticas mais extremas para manter a liberdade de nossos corpos.

Nós somos forçados a adotar uma condição militar mínima para a luta política. Novamente, esse foi apenas um aviso. Na próxima vez a infraestrutura dos escravagistas será posta abaixo. O imperialismo médico não vai encontrar um inimigo passivo. Wisconsin é o ponto de partida, mas nós estamos em todos os cantos dos Estados Unidos, e não haverá mais avisos.

E nós não iremos parar, nós não vamos recuar, nem vamos hesitar em atacar até que o inalienável direito de decidir sobre nossa própria saúde nos tenha retornado.

Nós não somos um grupo, mas muitos. Nós estamos na sua cidade. Nós estamos em todas as cidades. Sua repressão apenas fortalece nossa cumplicidade e nossa vontade.

– Janes Revenge”

[1] Diversos grupos anti-aborto tem criado clínicas que cooptam a linguagem das clínicas de planejamento familiar, para confundir as mulheres e convence-las a não abortar.

A História de Jane – O nome do grupo militante, é uma referência direta ao Janes Collective, um grupo clandestino de mulheres que aturaram em Chicago, nos anos 70, quando o aborto ainda era ilegal. Elas ajudavam outras mulheres, especialmente as mais pobres, que precisassem interromper a gestação. Tinham uma infraestrutura de apoio emocional para as pacientes e familiares. Foram 11.000 mulheres atendidas e apenas uma morte, de uma moça que já havia chego até elas, após tentar métodos abortivos em casa. Para saber mais sobre a história do Coletivo, ouça o Cool People Who Did Cool Stuff.

Um olhar Anarquista sobre o Grito dos Excluídos & Um Caminho para Anarquistas do Interior (2022)

Essa é uma análise, individual e localizada, sobre os eventos do Sete de Setembro (2022). Espero que essas palavras cheguem, em especial a toda gente anarquista e de compromisso antifascista, do interior dos territórios hoje ocupados pelo estado do Brasil. 

Nota: Algumas informações sobre pessoas e locais serão comunicadas de forma vaga, por questões éticas e de segurança. 

O Grito dos Excluídos de 2022

Esse é um evento organizado e protagonizado por lideranças religiosas. Dentro de uma luta que se fortalece numa frente de oprimidos, é importante entender que lideranças espirituais tem em si, uma autoridade que é dada pela própria comunidade, e que precisa ser respeitada, não devemos arriscar repercutir preconceitos coloniais, especialmente contra religiões de matriz africana ou vertentes indígenas. 

O local e o método escolhido para a execução do ato foram bastante felizes. Tudo se deu na volta de um único gazebo, com um microfone aberto. Considerando que os carros de som dominam o imaginário dos militantes social democratas, estar cara a cara com quem fala, ajuda bastante a romper a lógica dos “produtores” e “consumidores” de discurso, que domestica os atos de rua. Infelizmente, anos de incentivo de uma cultura de rua totalmente engessada e nada imaginativa, não se dissolve com um ou dois acenos; algo pôde ser percebido pelo fato de que, apesar do microfone aberto, as únicas pessoas que se sentiram confortáveis para fazer qualquer intervenção, foram os suspeitos de sempre (todos ligados a institucionalidade). 

Uma questão especialmente desconcertante foi a constante defesa do nacionalismo, e a execução do hino em português e em um idioma indígena. Defender um nacionalismo que respeita o meio ambiente, os povos originários e as diferentes classes sociais, é defender um projeto totalmente contraditório com o que presenciamos todos os dias. O Brasil é uma máquina genocida que precisamos queimar e destruir, se queremos que haja um futuro habitável. É compreensível que a social democracia não compartilhe do mesmo ódio que eu (e tantes mais), mas a essa altura, uma defesa acrítica dos “valores nacionais” e falas vagas sobre democracia, mostram como essas figuras estão presas dentro de sua própria retórica, incapazes ou sem interesse de absorver novas informações. 

Não tenho nenhuma inimizade ou crítica a pessoas específicas que participaram, mas é preciso ser direto quando se identifica os limites da social democracia. É sintomático que no Grito dos Excluídos se falasse tanto de amor, democracia e união, enquanto no centro da cidade, caminhonetes da polícia militar passeavam, com agentes ostentando fuzis, carregando as crianças dos participantes da micareta fascista dedicada ao atual presidente.  

Nosso amor uns pelos outros é o que nos move, mas sem ação e pensamento afiado, os fuzis vão ganhar todas as batalhas. 

Um Caminho para os Anarquistas do Interior

Nem tudo é apatia. 

Defendo sempre que, não devemos deixar de ir as ruas, mas conforme avança o período eleitoral, sugiro uma retirada estratégica; os atos de massa vão seguir na sua lógica eleitoreira, e é improvável que qualquer posicionamento ou atividade autônoma seja bem-vinda. É melhor que nos voltemos ao nosso chão, nos nossos bairros e demais locais de atuação. 

A falta de fôlego da esquerda eleitoral prova que existe um imenso espaço para colocarmos nossas reivindicações e práticas radicais. Acredito que devemos buscar mais espaços onde possamos demonstrar como reorganizamos o mundo a nossa volta. Não esperem por ninguém, não sonhem com multidões, onde existirem três ou quatro anarquistas dispostos e entrosados, já temos tudo que precisamos. Busquem alianças com outros coletivos autônomos, se insiram nos problemas de suas comunidades, estejam atentos, mas não tenham medo de errar. Agindo aprendemos a agir, esperando só aprendemos a esperar. 

Se essas palavras te soam óbvias, esse é um sinal de que você e os seus já estão no caminho certo. Registrem sua história, escrevam suas próprias teorias, entrem em contatos com grupos de outras regiões. 

A revolta somos nós.

[caso
alguém queira mandar alguma contribuição sobre o Grito dos Excluídos ou
o que for, escreva para librosparaninxslibres@riseup.net]

Espalhando memes

[tradução do capítulo 06 do livro Anarchy in the age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]

O Próximo Trem

“Eles são preguiçosos”. “Eles são sujos”. “Eles roubam e não são de confiança”. “São parasitas sugando nossos recursos”.

Todos nós já sacamos eles. Todos nós temos opiniões sobre eles. E a maior parte de nós já os deixou dormirem em nossos sofás. Nós sabemos tudos sobre os viajantes.

Essas são algumas das reclamações comuns que anarquistas vivendo em comunidades sedentárias têm contra seus parentes viajantes. Quando olhamos pra essas reclamações, elas infelizmente ecoam reclamações de outros lugares e outras pessoas. Esses são os mesmos chingamentos e esterotipos que pessoas do Leste Europeu têm contra Ciganos, suburbanos têm contra periféricos, que sindicalistas têm contra trabalhadores imigrantes mexicanos, ou que alemães têm contra trabalhadores vindos da Turquia.

Ao longo da história registada tem havido animosidade entre as pessoas em comunidades assentadas e os seus vizinhos nômades. Parte desse conflito sem dúvidas vem da crença de que quando recursos são escassos, nômades sem raízes irão roubar o que pessoas em comunidades assentadas trabalharam para conquistar. Alguns argumentam que essa tensão tem origem na inveja que pessoas assentadas têm por aqueles que parecem possuir mais liberdades e menos responsabilidades. Idependente das raízes desse conflito, o resultado final é o mesmo: desconfiança e hostilidade. Infelizmente muitos anarquistas caíram nas mesmas armadilhas de estereotipar e demonizar viajantes. Os anarquistas sempre foram viajantes!

Fosse Bakunin (talvez a primeira “criança viajante”) organizando a Primeira Internacional Negra, ou Emma Goldman agitando os celeiros ao redor dos EUA, anarquistas há muito tem levado seus projetos e ideias para a estrada. Hoje, continuamos a levar nossos projetos para estrada. Hoje continuamos levando nossas políticas e projetos como e onde quer que se vá: pulando de trem em trem em pequenos grupos, em bandos de bicicleta, em vans abarrotadas de instrumentos de alguma banda, esperando vôos, em tours de lançamento de livros em vans de soccer moms, ou simplements no dedão. Existem inúmeras razões para se viajar que existem para além do campo do puro hedonismo individual. Viagens tem potencial político e cultural que pode fortalecer nossas comunidades, fazendo polinização cruzada de ideias e oferecer apoio mútuo.

Espalhando Memes

Contato cara a cara é mais significativo que a comunicação através da televisão, telefone, internet, revistas, ou livros como esse aqui. Existe algo maravilhoso sobre encontrar uma pessoa de outra comunidade e compreender que vocês compartilham projetos e paixões parecidos. Viagens nos unem. Agora que anarquia não é somente o domínio de áridas feiras de livro e campus de universidades, um dedicado segmento de nossas comunidades tem espalhado ideias ao longo do país e do mundo. Essas ideias, as vezes chamadas de “memes” passam por mutações e mudam, aparecendo em lugares e contextos inesperados.

O Reclaim The Streets (RTS) surgiu dos protestos anti-estradas no Reino Unido, era uma tentativa de salvar os bosques nativos, incluindo as batalhas por Twyford Down. Conforme mais e mais ativistas urbanos se envolviam, o escopo dos protestos lentamente se transformaram de serem contra estradas especificas e passaram a ser sobre a cultura do automóvel em geral. Tripods e outras táticas que vinham sendo efetivas para paralisar a construção das estradas foram utilizadas para bloquear pistas no meio de Londres. O que começou como um protesto comum se tornou algo especial. Festas de rua foram improvisadas, com música, teatro de fantoches e a ação direta se espalhou pela Inglaterra por um ano, e em dois anos, a ideia havia se espalhado até a Finlândia. Dentro de quatro anos o RTS se transformou no Global Day of Action (você estava nas ruas em 30 de Novembro de 1999 ? Foi um Global Day of Action também) com mais de dez mil pessoas na capital do petróleo da Nigéria, Port Harcourt tomando as ruas, cantando e dançando, paralisando os agentes do conglomerado assassino Shell. Mutando conforme cruzava o Atlântico até os Estados Unidos, o fenômeno RTS se espalhou das rodovias de Londres para as estações de metrô de Nova York e os subúrbios de Naperville, Illinois. Uma parte significativa desse fenômeno era transmitido por pessoas transmitindo suas experiências com outras através de suas viagens. O meme da RTS transcendeu seu contexto inicial para se tornar significativo para pessoas ao redor de todo o mundo.

As viagens abrem a possibilidade de não apenas aprender sobre pessoas, projetos e resistências em uma comunidade geográfica específica, mas permite aos viajantes que se envolvam ativamente naquela comunidade. Uma das primeiras coisas que viajantes podem oferecer a seus anfitrioes é a realização de tarefas domésticas (como lavar pratos!) mas eles podem fazer muitos mais. A viajante traz com ela conhecimentos, a paixões, e habilidades: uma vida inteira de experiências e relatos de outros lugares. Sem trabalhos formais e outras restrições de tempo tradicionais, viajantes podem ser “reforços” políticos e culturais para a guerrilha na qual estamos atualmente engajados na América do Norte. No lugar de ser um recipiente passivo de informação, encontros cara a cara nos tornam parceiros ativos em um diálogo cultural. Essa é a premissa básica de conferências, convergências, e encuentros. Eventos de sucesso como a conferência da Zona Autônoma Permanente de Louisville (PAZ) reuniu pessoas de todos os cantos do país (e de fora) para compartilharem ideias, ofercer treinamentos e oficinas, trocar patches e stencils, fazer contatos e; sim; até passar um tempo de qualidade.

Nessas trocas, diversidade é importante: não apenas variedades racial ou étnica, mas também geográfica. Anarquistas no Kansas têm sua própria versão de anarquia, que tem algo em comum com a anarquia no Maine. Em vários níveis, elas devem ter algo ha ver com a anarquia boliviana ou coreana. Todas essas comunidades geográficas adaptam práticas anarquistas ao seu próprio ambiente local. Enquanto similaridades são certamente importantes, as diferenças são de onde a maioria dos projetos interesantes surgem. Variação local é o que mantém a cultura viva e imediata, assim uma visão única não sufoca inovações. Como dialéticas de uma só linguagem, as variantes regionais da anarquia nos tornam mais ricos e coloridos. No lugar de uma ideologia hogênea, de livros, a anarquia fez morada em milhares de comunidades, baseadas na sobreposição de culturas, políticas e práticas compartilhadas. Essas diferentes anarquias não precisam estar unificadas, ou terem um visual uniforme. Quando um viajando originalmente de Chicago trás experiências para um acampamento em defesa das florestas da Cascadia ou uma fazenda ocupada do Brasil, eles espalham suas próprias varaiações do meme anarquista. Só o tempo dirá o que acontece depois.

Quanto mais, melhor

Receber uma pessoa vinda de outro lugar para a sua cidade, aumenta a moral. Quando anarquistas saídos de meia dúzia de lugares chegaram em bandos em uma reversa de Nativos Americanos no norte do estado de Nova York, para ajudar a proteger famílias Oneida de serem desalojadas de suas casas, isso só foi possível pois a cultura da viagem carrega em si o desejo de oferecer apoio mútuo. As famílias foram surpreendidas ainda que tenham gostado de receber a ajuda de estranhos, ao messmo tempo em que os anarquistas ficaram contentes de se fazarem parte da luta comunitária, mesmo que temporariamente. Nesse caso, a luta por autonomia teria sido impossível sem a dedicação dos membros da comunidade assentada. Os viajantes usaram de sua “liberdade”(tempo livre e flexibilidade) para assegurar o sucesso da luta. Em um local bastante diferente, as hortas comunitários do sul do Bronx, incluindo o amado Cabo Rojo, foram mantidos por meses por viajantes e anarquistas de outros locais que construíram uma micro comunidade junto de seus camaradas em território okupado. Convergências, manifestações, e conferências ofereceram oportunidades para que pessoas de diferentes comunidades geográficas compartilharem e aprender uns com os outros. viajantes também permitir que grupos em conflitos locais pudessem contar com ajuda de improváveis aliados apesar do siolamento geográfico. Se a cultura anarquista do território nacional ou internacional pode em algum momento ser observada, é provável que seja durante esse tipo de interação.

As autoridades se preocupem, com razão, com a nossa habilidade de mobilizar companheiros de outras comunidades geográficas. Em um particularmente infame momento do Reclaim the Streets em Durham, Carolina do Norte, o sargento da polícia foi ouvido dizendo que centenas dos anarquistas lá eram de Eugene e São Francisco, mesmo o evento tendo sido feito majoritariamente por pessoas locais. A polícia estava justificadamente chocada pela habilidade dos participantes de se unirem e fazer o que quer que quisessem. Para a polícia, a única explicação era que a “garotada de Seattle” teria vindo para ameaçar o distrito, eles estavam completamente ignorantes ao fato de que haviam anarquistas vivendo no território. Parte do sucesso específico deste evento foi o fato de os locais se reuniram com outros anarquistas da Carolina do Norte, ativistas universitários, crianças de rua, e algums viajantes experientes. Enquanto poucas comunidades locais são capazes de promover eventos em que eles não seja sobrepojudados pela polícia, viajar nos permite mobilizar números inesperados de pessoas e abalar as autoridades. Invés de contar com uma massa humana homogena para superar nossos inimigos, nos beneficiamos dos nossos talentos e diferenças individuais. Essa é a força básica do movimento antiglobalização e é uma tática que pode ser útil em uma variedade de circustãncias e lutas.

“Paciência, Fortalece o Andarilho” – Pixo em uma estação de trem em Waycross, Georgia

As fronteiras não são apenas físicas, elas também são mentais. Enquanto acreditarmos que somos cidadãos de países específicos, ou limitados a uma só comunidade, vamos estar perdendo. Todos nós devíamos viajar! Seja de um lado pro outro do país para uma manifestação contra o FMI, ou cruzar a cidade para encontrar um grupo com quem nós acabamos de começar um projeto, viajar é uma maneira bastante real de conectar as pessoas. Nossa solidariedade não deve ser limitada as pessoas que casualmente vivem no nosso bairro ou cidade.

Amizade é uma grande mídia para paixão: melhor que livros, zines, ou mesmo a Internet. Infelimente, muitos anarquistas vivem em locais distantes das cenas que apoiam seus sonhos e projetos. Viagens e viajantes podem ser um potencial catalizador para permitir que pessoas isoladas pelo acaso da geografia possam ver seus projetos crescer e prosperar sem precisarem se realocarem. Se os anarquistas sonham em ser mais que uma força marginal nos EUA, nós precisamos chegar mesmo nos cantos mais solitários desse imenso país. Ironicamente, ao invés de “arruinar” comunidades, viajantes podem ser a melhor chance que temos de construir comunidades locais de resistências através da troca de ideias, recursos, e trabalho de diferentes locais.

Alguns pessimistas vão argumentar que viagem em si não é algo radical. E isso é verdade: um milionário pode pular em um avião para Barbados e ter todo um hotel só pra si, do mesmo modo que um anarcopunk nos EUA pode pular de trem em trem por puro escapismo. O potencial da viagem está em suas liberdades relativas: tempo para se dedicar a projetos, a habilidade de transportar materiais e informação, flexibilidade em por energia em novos projetos, apoiar camaradas de locais distantes, a lista é longa. Viagens também podem ser usadas para combater o isolamento e nos dar esperança em um mundo hostil. Como qualquer viajante sabe, chegar a um lugar que você nunca foi antes, exige paciência e dedicação: que nossas estradas coletivas todas levem a anarquia.

Célula de Janes Revenge lança comunicado reivindicando ataque a clínica anti-aborto em Olympia (2022)

Publicado em 10 de Junho de 2022 por Yellow Peril Tactics.

Noite passada nós vandalizamos quatro igrejas anti-aborto em Olympia. Todas essas igrejas têm ligações com clínicas anti-aborto, falsas clínicas onde religiosos manipulam em especial pessoas pobres, a dar a luz e manter filhos que elas não querem, as coagem a se casarem seja lá quem foi que as engravidou, estejam ou não em um relacionamento saudável ou seguro. As clínicas anti-aborto são baseadas na exploração e servem ao objetivo de preservar a família patriarcal, o primeiro local de violência contra mulheres, queers, e crianças.

Uma igreja Mormon, a igreja de Calvary, a igreja do Porto e St Michaels, todas passaram por um facelift nas primeiras horas do Domingo. Nós derramamos tinta vermelha nas portas da frente e deixamos uma mensagens de que “se os abortos não estão seguros, nenhum de vocês está”, “Aborte a Igreja”, e “Deus ama abortos”.

Mesmo com a possibilidade de que abortos sigam protegidos por lei em Washington após roe v wade for revogada, ainda existem inimigos locais que tem feito tudo que podem para torna-lo o mais difícil e inacessível possível. Essas igrejas estão horrorizadas com a ideia de pessoas exercendo sua autonomia corporal – seja abortando gestações indesejadas ou fazendo cirurgia/tomando hormônios para transição de gênero ou fodendo com quem nós quisermos – porque eles precisam darígida hierarquia da família como a unidade básica do controle. Não é nem mesmo conspiratório dizer que a igreja Mormon, a igreja Católica, e todas as outras que punem aborto e recompensam casamentos, são cultos patriarcais de abuso sexual. Desde o começo da igreja buscou controlar e destruir cada impulso de prazer e auto determinação.

Pichações podem parecer um gesto pequeno em uma guerra contra o controle religioso patriarcal, nós gostaríamos de deixar nítido que atacar, é fácil e divertido. Nossos inimigos são vulneráveis e fáceis de achar. Ao agir, nós aprendemos a agir, esprando, nó só aprendemos a esperar. O segredo é começar. Há uma clínica anti-aborto em Olympia na 135 Lilly Road, chamada “Options Pregnancy Clinic”. Seu website lista seus apoiadores financeiros incluindo Guild Mortgage, Molina Healthcare, Howards Cleaners, Shocking Difference Lectrical Contractor, Interstate Batteries, Tumwater Automotive, Timberland Bank, Nichols Trucking, Olympia Federal Savings Bank, e Kiley Juergens Wealth Manegement. Cada um desses negócios deve ser considerado responsável pela violência dos partos forçados.

Nós ecoamos as palavras de umas vadias malucas de uma década atrás quando dizemos que nós não estamos pedindo pelo direito de escolher, nós estamos estamos tomando em nossas mãos as habilidades necessárias para abortar. Nós não estamos apelando para o poder estatal por um fim na violência patriarcal, mas estamos ameaçando:

“Se os abortos não estão seguros, nenhum de vocês está”.

Pela alegria, pelo prazer, e auto determinação

Janes Revenge

Bo Brown Memorial Cell