[tradução do capítulo 12 do livro Anarchy in the Age of Dinosaurs, por Curious George Brigade]
A anarquia se baseia na premissa que líderes não são nem necessários, nem desejáveis, ainda assim essa máxima tem tido pouco impacto na ala autoritária do movimento antiautoritário! Certos indivíduos (quase sempre homens velhos barbudos) desenvolveram cultos de seguidores que seguiram em um contexto histórico completamente diferente, muito depois da morte deles. É triste que muitos anarquistas se identifiquem com um ou outro clique, leiam somente certas revistas, tentam em vão convencer a todos que sua versão particular de anarco-purismo é o Único Caminho Correto™. Se nos insultamos mutuamente por causa de questões teóricas grandiosas, é claro que menos pessoas fora do círculo anarquista levarão nossas ideias a sério. Anarquistas não deveriam ler uns aos outros como competidores em algum campo cultural ou político, mas como potenciais amigos e camaradas desesperadamente precisando de pessoas com diferentes ideias e estratégias.
Nós não somos perfeitos, e assim como qualquer um escapando de uma experiência traumática como a sociedade ocidental moderna, a maioria de nós ainda carrega maus hábitos como dogmatismo, sexismo, e paternalismo. Um pouco de paciência entre nós, faria toda diferença. A última coisa com que nossas comunidades deveriam se parecer é com partidos políticos com expurgos e jogos de poder; melhor que nos tornemos uma tribo que cuida dos seus. Sobrevivência seja nas savanas da África ou nos shopping centers dos Estado Unidos, significa cuidar uns dos outros. Antes de nos obcecarmos sobre entrarmos em contato com organizações externas, as massas despolitizadas da classe trabalhadora, ou qualquer um fora das nossas comunidades, nós devemos primeiro aprender a nos relacionarmos uns com os outros baseados em solidariedade, apoio mútuo, compreensão e respeito. A empatia usada quando cuidamos uns dos outros é a ferramenta mais criativa que temos para nos envolvermos com o resto do mundo.
Picuinhas intelectuais nos dizem que essas facções competindo jamais poderiam ter um debate tranquilo enquanto tomam café, muito menos trabalharem juntos em um projeto prático, certo? Entretanto, trabalhar em projetos em comum é exatamente o que anarquistas de diferentes históricos mais têm feito. Nós não precisamos de unidade teórica, nós precisamos de solidariedade prática. Uma vez que nós reconheçamos e abracemos nossas diferenças coletivas, seremos capazes de espalhar a prática da anarquia por nossas comunidades e pelo mundo. Ir além das posições políticas caricatas (coloque uma faixa verde na sua estrela negra, e de repente o anarquismo está reduzido a salvar árvores; coloque uma faixa vermelha na sua estrela negra, e o anarquismo agora é apenas sobre guerra de classes) é absolutamente vital. Sectarismo leva diretamente ao autoritarismo, assim que você se identifica com o anarco-séquito correto, todas outras pessoas estão erradas. O fundador da ideologia correta inevitavelmente ganha mais poder do que seus seguidores, e o séquito reúne suas forças para travar uma guerra santa contra todas as outras espécies do arco-íris anarquista. Não precisamos repetir os erros de outros grupos de esquerda. É muito mais fácil para nós atacarmos uns aos outros do que destruir o Estado. Pessoas têm diferentes visões de libertação e qualquer sociedade anarquista terá uma diversidade de táticas e projetos. Hoje, nós precisamos de sindicatos anarquistas radicais capazes de pararem as máquinas, escritores radicais que inspirem e espalhem conhecimento, militantes para lutar contra os policiais nas ruas, e tree-sitter para salvar o que sobrou da natureza: em outras palavras, nós precisamos de mais anarquia!