Combatendo racistas em Bristol

Após um homem ter atacado uma aula de dança em Southport, assassinando três crianças, fascistas se aproveitaram do clima de revolta e impulsionados por campanhas de desinformação, realizaram ataques racistas e xenofóbicos por toda Inglaterra. Este é um relato de companheires antifascistes de Bristol, das ações de autodefesa comunitária que executaram.

Publicado orginalmente em FreedomNews.

Combatendo racistas em Bristol: Somente nós podemos proteger nossas comunidades

O sábado nos mostrou a incompetência da polícia, enquanto a resistência antifascista mostrou que somente nós podemos salvarmos uns aos outros.

Chegamos cedo em Castle Park, região central de Bristol, e o lugar já estava movimentado, de acordo com o Bristol Antifascists, haviam cerca de 700 de nós. O boato circulando era de que fascista já haviam tentado começar brigas com moradores locais. Mais ou menos uma hora depois do começo do contraprotesto, percebemos que eles vinham chegando nas bordas do parque. Eles foram vistos se aproximando pelo leste, marchamos para encará-los, cerca de cinquenta metros atrás da linha de policiais montados e oficiais com cassetetes.

Os fascistas não anteciparam quantos de nós apareceriam, mas eles chegaram bêbados, com raiva e procurando briga. Confirmando que os superávamos em números, nós cantamos “We are many, you are few. We are Bristol, who are you?!” (“Nós somos muitos, vocês são poucos. Nós somos Bristol, vocês são quem?!”). Eles eventualmente foram atacados pela polícia montada, mas cerca de 100-200 fascistas se reagruparam na colina. Nós nos mantivemos firmes encarando uma chuva de garrafas de vidro, latas de cerveja e pedras. Um par de vezes eu vi antifascistas impedindo latas de acertarem os policias entre nós.

Nos lançamos em ação, ajudando um homem negro que foi atacado, e percorrendo toda ponte de Bristol para ter certeza que eles não seriam capazes de avançar mais. Eu vi a polícia montada confusa e chocada com a dispersão da multidão, completamente incompetentes em lidar com os fascistas. Nós empurramos os fascistas rua abaixo, pela High Street, St Nicholas Street e ponte de Bristol até acabarem encurralados e sem fôlego. Um pouco depois, nós entendemos que a polícia os manteve exatamente na direção que eles queriam ir — em direção ao Mercure Hotel, que atualmente abriga refugiados.

Com a polícia a caminho, nós, agora com menos da metade do nosso número original, corremos as ruas de Bristol cantando “Bristol é antifascista” enquanto as pessoas nos olhavam, nos restaurantes, ao redor da Queens Square e na ponte de Redcliffe. Camaradas nos entregaram garrafas dágua e barras de cereais no caminho, conferindo se todos estávamos bem, se mantendo próximos conforme costurávamos pelo tráfego.

Eu nunca vou esquecer oque eu vi quando chegamos — depois de ouvir que a polícia planejava proteger o hotel com vans e polícia de choque — uma pequena fila de antifascistas de braço dados enfrente a porta já estava presente. Policias de bicicleta estavam tentando nos alcançar, nenhum outro tipo de polícia a vista. Por cerca de 30 minutos nós festejamos, com refugiados nos agradecendo pelas janelas de seus quartos. Eles estavam muito felizes — crianças e suas famílias acenando, sorrindo e fazendo corações com as mãos. Eu chorei. Nós cantamos, “Refugiados são bem-vindos!”. Nós não tínhamos certeza se os fascistas apareceriam, mas logo, eles vieram subindo a colina em nossa direção.

Nós formamos linhas e nos preparamos, ficando ombro a ombo o mais firme possível para nos certificarmos que eles não conseguiriam passar. Um camarada atrás de mim foi atingido na cabeça por uma lata. Outro levou um soco no rosto. Um fascista, que tinha sangue escorrendo por sua cara já bastante vermelha, liderou o bando da estrada na tentativa de chegar a porta do hotel, mas nunca chegou lá. Nós defendemos o hotel e uns aos outros, e nós teríamos continuado o quanto fosse preciso. Os momentos passam como flashs na minha memória — certamente não pareceram só 15-20 minutos, a sensação é que tudo acabou em minutos depois que a polícia montada apareceu novamente.

Aquele ataque intenso foi a última vez que estivemos em contato com um dos grupos de fascistas, mas ainda precisávamos lidar com a polícia. Depois de horas deixando os fascistas descansar ao lado da estrada, a polícia eventualmente formou um semicírculo ao nosso redor. Porta-vozes locais do Partido Verde negociaram com a polícia para nos dizerem qual o momento seguro para sairmos, que a polícia teria tudo sob controle e empurrado os fascistas de volta até Temple Meads. Mas após a incompetência da resposta policial até então, cerca de 50 de nós permanecemos atentos. Nós negociamos (de mais) com a polícia, deixando eles entrarem para usar o banheiro do hotel para usar o banheiro (apesar de nós mesmos não termos permissão de entrar). Conforme seus números cresciam ao nosso redor, permanecemos ombro a ombro nas portas do hotel até o anoitecer.

A noite terminou violentamente. Outro grupo de fascistas — a polícia — decidiu que o meio de nos dispersar seria através do bully. Eles aleatoriamente atacaram um camarada mascarado, executando a seção 60, isolando ele e o agarrando pelo braço para tirá-lo do grupo. Nó puxamos o camarada de volta, mas a essa altura os policiais decidiram nos tacar indiscriminadamente. Inúmeros policiais dividiram o grupo em dois, empurrando a maioria de nós para mais perto dos fascistas apesar de nos dizerem que nossa saída “segura” estava na direção oposta. A maioria dos policiais agiu igual, sem entender o que havia acontecido, confusos e incertos do que fazer à seguir. Após mais 15 minutos de impasse com a polícia, nós nos espalhamos sabendo que nosso trabalho ali havia sido um sucesso.

Nós, o povo, defendemos nossa cidade no Sábado. Nem policiais, nem políticos. O que parecia uma tentativa de pogrom organizada por fascistas foi impedido pela comunidade de Bristol ombro a ombro. A patética resposta da polícia é outro exemplo de que eles nunca nos ofereceram a segurança ou proteção que alegam. No sábado, nós mostramos o poder da nossa comunidade.

Nós permanecemos prontos e preparados para agir novamente. Vamos mostrar aos fascistas que eles sempre serão superados em números, que nunca vão ser bem-vindo por aqui, e que devem ter medo de dar as caras.

~ Cristian Talbot


Nota do Editor: Para complementar esse relato, incluímos aqui a declaração da Bristol Antifascists:

Ontem (Sábado, 03 de Agosto de 2024), Bristol Antifascists se uniu a grupos antirracistas e antifascistas de Bristol e do sudeste, junto de centenas de moradores de Bristol, para nos opormos ao protesto de extrema direita “Stop the Boats”.

Que ninguém tenha dúvidas: centenas de moradores comuns de Bristol seguraram a linha contra um assalto brutal e contínuo de fascistas tentando atacar o hotel que serve de moradia para famílias em busca de asilo. A polícia falhou completamente em seu dever de proteger essas famílias. 

Desorganizados, incompetentes e em absoluta desvantagem numérica em relação aos fascistas, a polícia de Avon e Somerset e outras forças trazidas de fora da área, se deixadas sozinhas, teriam permitido que um pogrom acontecesse. A essa altura todos sabem dos assassinatos de Bebe, Elsie  Allice em Soutport na segunda-feira (29 de Agosto de 2024). Ficamos de coração partido por essas crianças, suas famílias e amigos. Nós não podemos imaginar a dor que estão sentindo. Nós desejamos uma recuperação rápida para as outras crianças e adultos feridos e traumatizados por este ataque. 

Fascistas e a extrema direita estão usando esta tragédia, e a história completamente falsa de que o atacante era um imigrante ou estava em busca de asilo político e um muçulmano, como desculpa para justificar pogrons contra membros de nossas comunidades ao redor do país. 

Bristol Antifascists e nossos camaradas se juntaram ao contraprotesto estático e pacífico, com cerca de 700 pessoas as 6pm em Castle Park. A todo momento, pequenos grupos de fascistas tentavam provocar ou mesmo atacar a pessoa nas bordas do protesto. Por volta das 7pm um grupo maior, com cerca de 100-200 fascistas se juntaram perto de Castle Park. Os fascistas nitidamente haviam passado o dia todo bebendo, cheios de coragem líquida, procurando por violência, tentando marchar diretamente até o contraprotesto estático próximo da Igreja de São Nicolau.

O que se seguiu foi uma série de ataques contra o protesto estático, conforme os fascistas repetidamente quebravam as fracas barreiras policiais. Nós encaramos latas cheias de cerveja e cidra, garrafas de vidro e pedras grandes sendo arremessadas, e uma série de assaltos físicos diretos por grupos de homens que gostariam de ser durões, bêbados e cheios de cocaína, que repetidamente foram repelidos por contramanifestantes e antifascistas muito melhores organizados. Mesmo com os cavalos e cães de ataque, a polícia estava em grave desvantagem numérica e desorganizada de mais para efetivamente controlar os fascistas, e a autodefesa coletiva era a única coisa mantendo todos a salvo. 

Eventualmente os fascistas recuaram até a ponte de Bristol. Sabendo que eles provavelmente iriam para Redcliff Hill, onde o Mercure Hotel fica, uma decisão rápida foi tomada entre cerca de 200-250 contramanifestante para nos dirigirmos via Queen Square até o hotel, para protegê-lo.

Quando nós chegamos não havia polícia, exceto por uns policias de bicicleta que nos seguiram. Conscientes da nossa aparência potencialmente assustadora para os residentes do hotel, nós fizemos questão de demonstrar nossa solidariedade e amor por eles, com antifascistas e residentes do hotel trocando acenos, sinais de jóia e fazendo corações com as mãos. Foi realmente impressionante ver quantos dos residentes eram muito jovens, crianças com idade de escola primária. As janelas das escadas do lobby estavam cobertas por desenhos de crianças.

Um grupo de contramanifestantes formou uma linha e entrecruzaram os braços ao longo de toda entrada do hotel. Após uns 30 minutos, um grupo de 80-100 fascistas, que haviam escapado da polícia na ponte de Bristol, marcharam Redcliff Hill acima e imediatamente começaram a nos atacar. Novamente, a polícia estava em imensa desvantagem numérica e incapaz de efetivamente defender a si mesma, menos ainda defender outros. 

Por cerca de 15-20 minutos, antifascistas permaneceram firmes, nos defendendo coletivamente de constantes e intensas ondas de socos, chutes, garrafas e pedras arremessadas por fascistas que queriam atacar o hotel e seus residentes. O punhado de policiais presentes falharam, usando seus cassetetes para bater em pessoas aleatórias, e eventualmente usando spray de pimenta em grupos de pessoas.

Quando o reforço da polícia finalmente chegou, na forma de cães de ataque, cavalos e mais oficiais, os fascistas recuaram para o outro lado de Redcliff Hill. Eles permaneceram lá rapidamente perdendo números, ocasionalmente lançando um insulto ou garrafa aos contramanifestantes, mas incapazes de formar mais um ataque contra o hotel. 

A maioria dos 200-250 contramanifestantes permaneceram fora do hotel, para o protegerem até cerca de 9pm quando os porta-vozes do Partido Verde de Bristol começou a incentivar as pessoas a irem embora dizendo a elas que agora a polícia tinha a situação sob controle. Como Bristol Antifascists queremos que fique dito: isso foi errado da parte deles. A polícia havia demonstrado total inabilidade em defender as pessoas abrigadas no Mecury Hotel ou em conter a ameaça fascista em nossa cidade. Ainda havia potencial para os fascistas reagruparem e tentarem novamente atacarem o hotel. Cerca de 50-60 pessoas escolheram ficar no hotel conforme escurecia. Nós recebemos um pedido dos pais dentro do hotel, para mantermos algum silêncio já que eles estavam pondo as crianças menores para dormir, e nós alegremente concordamos. 

Próximo das 10pm, conforme mais polícia chegava no hotel, nós decidimos que era o melhor momento de silenciosamente sairmos em grupo e então dispersarmos em uma área segura. Entretanto, isso foi depois da polícia decidir reafirmar sua autoridade após um dia honestamente humilhante pra eles. Enquanto a as pessoas estavam quietas, sentadas na grama ou conversando em grupos em frente a entrada do hotel, um grupo de policiais com uniforme do choque de repente se deslocou até a frente do hotel, empurrando, batendo, e gritando com contramanifestantes sem nenhum motivo aparente. Tudo bem. Deixe que eles acreditem que estão no comando. Qualquer coisa que os mantenha quietos. 

Apesar da óbvia confusão e falta de comunicação entre diferentes grupos de policiais tentando nos mandar para direções opostas, nós eventualmente deixamos a área de Redcliff Hill, e dispersamos silenciosamente, nos misturando a agora quieta noite da cidade em que vivemos e tanto amamos. 

Não queremos deixar dúvidas aqui: a mídia e os políticos e a polícia vão falar sobre “manifestantes” e “o público” como se eles fossem dois grupos mutuamente excludentes. Nós somos o público. Essa cidade é nossa casa, e as pessoas que vivem aqui, de todas as raças, etnias e religiões são nossos vizinhos e amigos. Assim como os residentes do Mercure Hotel. Bristol recebe imigrantes e refugiados de braços abertos, e se precisarmos, vamos lutar por eles. 

Ontem vimos o poder e a importância da autodefesa comunitária. Residentes normais de Bristol botaram a si mesmos em risco para proteger vizinhos no Mercure Hotel, e impedimos que uma multidão de racistas violentos fizessem mal as famílias de lá. A polícia foi mais que inútil, e foi a solidariedade coletiva, a coragem e a convicção moral de contramanifestantes antifascistas que mantiveram os fascistas afastados. 

Novamente, nós somos o público. Fora daqui somos pessoas comuns, com vidas entediantes comuns, e empregos entediantes comuns. Antifascismo é e deve ser um esforço coletivo, e conforme este pico de violência da extrema direita continua, nó vamos precisar que todos compareçam e façam sua parte para manter nossas comunidades seguras ao redor do país. 

Todo dia é uma batalha de Cable Street. 
Continuem lutando. 
Sempre Antifascista. No Pasaran. 

Amor e Solidariedade Sempre. 
Bristol Antifascists.