Um olhar Anarquista sobre o Grito dos Excluídos & Um Caminho para Anarquistas do Interior (2022)

Essa é uma análise, individual e localizada, sobre os eventos do Sete de Setembro (2022). Espero que essas palavras cheguem, em especial a toda gente anarquista e de compromisso antifascista, do interior dos territórios hoje ocupados pelo estado do Brasil. 

Nota: Algumas informações sobre pessoas e locais serão comunicadas de forma vaga, por questões éticas e de segurança. 

O Grito dos Excluídos de 2022

Esse é um evento organizado e protagonizado por lideranças religiosas. Dentro de uma luta que se fortalece numa frente de oprimidos, é importante entender que lideranças espirituais tem em si, uma autoridade que é dada pela própria comunidade, e que precisa ser respeitada, não devemos arriscar repercutir preconceitos coloniais, especialmente contra religiões de matriz africana ou vertentes indígenas. 

O local e o método escolhido para a execução do ato foram bastante felizes. Tudo se deu na volta de um único gazebo, com um microfone aberto. Considerando que os carros de som dominam o imaginário dos militantes social democratas, estar cara a cara com quem fala, ajuda bastante a romper a lógica dos “produtores” e “consumidores” de discurso, que domestica os atos de rua. Infelizmente, anos de incentivo de uma cultura de rua totalmente engessada e nada imaginativa, não se dissolve com um ou dois acenos; algo pôde ser percebido pelo fato de que, apesar do microfone aberto, as únicas pessoas que se sentiram confortáveis para fazer qualquer intervenção, foram os suspeitos de sempre (todos ligados a institucionalidade). 

Uma questão especialmente desconcertante foi a constante defesa do nacionalismo, e a execução do hino em português e em um idioma indígena. Defender um nacionalismo que respeita o meio ambiente, os povos originários e as diferentes classes sociais, é defender um projeto totalmente contraditório com o que presenciamos todos os dias. O Brasil é uma máquina genocida que precisamos queimar e destruir, se queremos que haja um futuro habitável. É compreensível que a social democracia não compartilhe do mesmo ódio que eu (e tantes mais), mas a essa altura, uma defesa acrítica dos “valores nacionais” e falas vagas sobre democracia, mostram como essas figuras estão presas dentro de sua própria retórica, incapazes ou sem interesse de absorver novas informações. 

Não tenho nenhuma inimizade ou crítica a pessoas específicas que participaram, mas é preciso ser direto quando se identifica os limites da social democracia. É sintomático que no Grito dos Excluídos se falasse tanto de amor, democracia e união, enquanto no centro da cidade, caminhonetes da polícia militar passeavam, com agentes ostentando fuzis, carregando as crianças dos participantes da micareta fascista dedicada ao atual presidente.  

Nosso amor uns pelos outros é o que nos move, mas sem ação e pensamento afiado, os fuzis vão ganhar todas as batalhas. 

Um Caminho para os Anarquistas do Interior

Nem tudo é apatia. 

Defendo sempre que, não devemos deixar de ir as ruas, mas conforme avança o período eleitoral, sugiro uma retirada estratégica; os atos de massa vão seguir na sua lógica eleitoreira, e é improvável que qualquer posicionamento ou atividade autônoma seja bem-vinda. É melhor que nos voltemos ao nosso chão, nos nossos bairros e demais locais de atuação. 

A falta de fôlego da esquerda eleitoral prova que existe um imenso espaço para colocarmos nossas reivindicações e práticas radicais. Acredito que devemos buscar mais espaços onde possamos demonstrar como reorganizamos o mundo a nossa volta. Não esperem por ninguém, não sonhem com multidões, onde existirem três ou quatro anarquistas dispostos e entrosados, já temos tudo que precisamos. Busquem alianças com outros coletivos autônomos, se insiram nos problemas de suas comunidades, estejam atentos, mas não tenham medo de errar. Agindo aprendemos a agir, esperando só aprendemos a esperar. 

Se essas palavras te soam óbvias, esse é um sinal de que você e os seus já estão no caminho certo. Registrem sua história, escrevam suas próprias teorias, entrem em contatos com grupos de outras regiões. 

A revolta somos nós.

[caso
alguém queira mandar alguma contribuição sobre o Grito dos Excluídos ou
o que for, escreva para librosparaninxslibres@riseup.net]